Há uma ideia que me toca
profundamente: a de que o artista carrega a missão de ter a consciência do seu
tempo. Não basta o talento bruto, a técnica apurada. Para ser verdadeiramente
imprescindível, ele precisa ler o mundo ao seu redor, sintonizar-se com os
anseios da sua gente e transformar a arte em um instrumento de reflexão e
mudança.
Esse artista necessário não é um alienado, um mero negociante
de suas obras. É um ser que medita sobre as agruras e os sonhos da sociedade.
Através da sua criação, ele afina nossa percepção, aguça nossos sentidos e nos
guia em um reencontro conosco mesmos e com o coletivo. E no Brasil, nomes como
Caetano Veloso, Gilberto Gil e Chico Buarque personificam esse ideal. Eles já
seriam eternos apenas pela imensa beleza que trouxeram à nossa MPB, mas sua
grandeza vai além das notas e versos.
Recentemente, vimos essa trinca de gigantes, mais uma
vez, usando suas vozes e sua inabalável consciência política. Uniram-se para
mobilizar a população contra a impunidade que historicamente protege criminosos
golpistas e em repúdio a projetos que visam blindar parlamentares. A cena é
poderosa: os mesmos jovens que um dia enfrentaram a ditadura militar, agora
idosos mas incansáveis, seguem na linha de frente, defendendo a democracia com
a mesma chama. A frase "da luta ninguém se cansa" parece ecoar em
suas existências.
Ficamos pensando que deveriam ser imortais, mas sabemos
que a imortalidade pertence apenas à sua obra. Eles se tornam gigantes não só
pelas canções que compuseram, mas por terem usado, durante toda a vida, seu
lugar de fala para oferecer um farol a um povo tão castigado pela realidade, um
povo que, na labuta diária, por vezes esquece de sonhar. Eles nos lembram que
podemos e devemos acreditar em dias melhores.
Não sou poeta para homenageá-los como merecem, mas como
um brasileiro que ama este país, deixo meu tributo: Caetano, Gil e Chico, vocês
são, de fato, imprescindíveis. A vocês, nossa eterna gratidão.
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