Há alguns dias, o
apresentador Ratinho dirigiu fortes críticas a algumas celebridades, tais como
o músico multi-instrumentista Júnior Lima, que se posicionou contra a anistia
aos criminosos golpistas. Sobre Júnior, disse que ele não tem o talento da irmã
Sandy, da qual teria resultado o sucesso da dupla. Penso que ser
multi-instrumentista é uma mostra de enorme talento, Ratinho, talvez não pense
assim. No entanto, sobre um dos componentes de uma dupla ou banda dominar os
vocais é algo comum. Mick Jagger é a voz dos Rolling Stones, mas, ninguém
afirma que os demais Stones não tenham talento e contribuído para o sucesso da
banda, a menos que eles venham a fazer falas contra a anistia e afirmem ser de
esquerda.
Penso ser infeliz e também
ingênua a afirmação de que "para ser de esquerda, tem que ser aquele pobre
que não acredita mais na vida". Essa ideia é desmontada com um exemplo
histórico contundente: Friedrich Engels (1820-1895), um homem muito rico, foi
co-autor intelectual da obra de Karl Marx (1818-1883). Juntos, buscaram
instrumentalizar a classe trabalhadora para construir uma sociedade mais justa.
A luta por justiça social, portanto, não é uma questão financeira, mas de
consciência social e filosófica. O pensamento de Ratinho é invertido, pois se
alguém pobre é de esquerda, é justamente porque acredita profundamente na vida
e na possibilidade de torná-la melhor, recusando-se a se contentar com as
migalhas do sistema.
Quanto a sua fala de que os artistas "globais"
serem todos de esquerda, isso é um equívoco, pois nem todos têm a consciência
de seu tempo, mas assim deveria ser, porque como os Titãs já cantaram, "a
fome não é só de comida, mas de arte e de uma vida que vale a pena ser
vivida", para além de meras peças da engrenagem do sistema capitalista. O
artista imprescindível (ler "Sobre o artista e a consciência de seu
tempo" publicado neste espaço em 04/10/2025) tem uma sensibilidade, que
pessoas comuns não têm, pois "não fazem seu público de tonto" fazendo
discursos embasados no senso comum.
Encerro afirmando que ser de esquerda, rico ou pobre, é
difícil, exige muito estudo, reflexão e uma vida de árdua luta contra as
injustiças. Para o rico, especificamente, é um desafio ainda maior, pois
significa nadar contra a maré de seus pares, resistir ao status e ao conforto "para
manter a solidariedade acima do egoísmo", como definiu o ex-presidente
uruguaio Pepe Mujica (1935-2025).
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