O presidente Donald Trump (1946) e o
seu homônimo russo Vladimir Putin (1952) realizaram no dia 15 de agosto de
2025, um encontro carregado de simbolismo na base americana Elmendorf-Richardson
em Anchorage, no Alaska (EUA). O Ministro das Relações Exteriores russo Sergey
Lavrov chegou ao território americano com uma camiseta com as iniciais da União
Soviética como que a dizer: "a URSS e seu poder militar ainda habita na
pátria russa".
A
reunião tinha como pauta, mas não obviamente a única e, para Putin, talvez, nem
mesmo a principal, a questão da guerra entre Ucrânia e Rússia, embora essa
pauta fosse importante para Trump, que adoraria encontrar uma solução para
tirar os EUA e a OTAN da enrascada de apoiar uma guerra cara e, cuja possibilidade
de vitória é inexistente (pois, traria a hecatombe nuclear) e, de quebra, quem
sabe, ganhar um prêmio Nobel da Paz, algo em nosso ver, absurdo, mas, que Obama
provou não ser impossível.
Na
pauta de Putin, além dos termos já conhecidos para a paz, considerados
inaceitáveis pela Ucrânia, certamente está a redução ou o fim das sanções
econômicas e políticas contra a Rússia, a reintegração da Rússia no G-8, o
início do esboço ou redesenho da Ordem Mundial, na qual os papeis de cada
potência precisam ser delimitados para evitar embates perigosos, sendo que na
visão de Trump, os EUA não podem enfrentar russos e chineses ao mesmo tempo,
como pensavam os democratas da gestão Biden, para Trump, a China representa o
maior perigo para os Estados Unidos.
A
frase na camiseta de Lavrov é justificada com o desenrolar atual da referida
guerra que, em seu início, acreditava-se que a vitória russa seria questão de
poucas semanas, porém com a forte entrada da OTAN (liderada pelos EUA) fornecendo
equipamento bélico, inteligência e, a imposição de fortíssimas sanções
econômicas e políticas do ocidente contra a Rússia, o prognóstico passou a ser
de que a Rússia desabaria economicamente, a guerra perderia apoio interno e
Putin seria derrubado.
Ledo
engano, a Rússia resistiu, avança na tomada de territórios ucranianos e sua
economia cresceu estimulada pelo esforço de guerra, Putin tem apoio popular,
pois a população entende que o ocidente faz uma cruzada (via OTAN) para
cercá-la e enfraquecê-la e o espírito russo é conhecido: o de lutar até o
último homem e, a Rússia tem mais população para defender sua pátria do que a
Ucrânia.
Os
líderes das nações se encontraram e, enquanto Putin, um ex-agente da KGB e
talvez, o mais brilhante estrategista geopolítico dentre os líderes das grandes
nações, caminhava no tapete vermelho com seu característico "andar do
pistoleiro" ao lado do magnata e apresentador de reality shows Donald
Trump, agora no papel de presidente da nação mais rica do planeta, numa
demonstração de força pensada para o evento, um bombardeiro B-2 escoltado por
quatro f-35, todos com capacidade stealth, fizeram um voo baixo nesse exato
momento.
Os
Estados Unidos mostravam seus músculos, visando intimidar, mas, o oponente
pareceu estar, à vontade no encontro, falou de tempos de união contra o inimigo
nazista, da preservação de nomes russos em lugares do Alaska e elogiou a escolha do local, pois, as
nações distam apenas quatro quilômetros (limites entre ilhas no Estreito de
Bering). Putin pisou firme em solo estadunidense, Trump é que não parecia estar
à vontade, afirmou que não houve acordo, que se tratavam de conversas iniciais
e de que outras deverão ser feitas com o presidente da Ucrânia e com os líderes
da OTAN.
O
caminho para a paz é sempre longo e envolve muitas negociações. Um bom acordo
de paz é aquele que as partes envolvidas, saem com alguma frustração, pois não
podem ter tudo, afinal, é necessário também ceder alguma coisa. Os EUA e a
Europa erraram ao não envidar maiores esforços para evitar a guerra na Ucrânia
e, ante a resistência heróica do povo ucraniano, se iludiram com a
possibilidade de levar a Rússia à derrocada e assim enfraquecer a tentativa
sino-russa da construção de uma Nova Ordem Mundial Multipolar. Essa Nova Ordem
é algo inevitável, salvo uma guerra direta, cujo resultado mais previsível é
apocalíptico.
O estrategista
prussiano Carl Von Clausewitz (1780-1831) afirmou: "A guerra
é a continuidade da política por outros meios". Há uma frase na
geopolítica que diz "é fácil prever como uma guerra iniciará, mas, jamais
como terminará". O tarifaço de Trump, a mudança de parcerias comerciais
entre os países, a desglobalização, a contestação à Ordem Mundial Unipolar, as
questões geoestratégicas mundiais, o petróleo do Oriente Médio e da Venezuela,
a cobiça estadunidense pelas terras raras groenlandesas (Dinamarca/União Europeia),
chinesas e brasileiras, as guerras regionais pelo mundo, o genocídio em Gaza
levado à cabo pelo segregacionista Estado de Israel, etc. Enquanto houver
espaço para diálogo, a esperança persiste, no entanto, existem muitos atritos
regionais no planeta e, o risco de uma faísca incendiar o mundo nunca foi tão
grande.
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