Powered By Blogger

domingo, 24 de agosto de 2025

A Rússia na Guerra Fria 2.0 - Parte 6

 

            O presidente Donald Trump (1946) e o seu homônimo russo Vladimir Putin (1952) realizaram no dia 15 de agosto de 2025, um encontro carregado de simbolismo na base americana Elmendorf-Richardson em Anchorage, no Alaska (EUA). O Ministro das Relações Exteriores russo Sergey Lavrov chegou ao território americano com uma camiseta com as iniciais da União Soviética como que a dizer: "a URSS e seu poder militar ainda habita na pátria russa".

            A reunião tinha como pauta, mas não obviamente a única e, para Putin, talvez, nem mesmo a principal, a questão da guerra entre Ucrânia e Rússia, embora essa pauta fosse importante para Trump, que adoraria encontrar uma solução para tirar os EUA e a OTAN da enrascada de apoiar uma guerra cara e, cuja possibilidade de vitória é inexistente (pois, traria a hecatombe nuclear) e, de quebra, quem sabe, ganhar um prêmio Nobel da Paz, algo em nosso ver, absurdo, mas, que Obama provou não ser impossível.

            Na pauta de Putin, além dos termos já conhecidos para a paz, considerados inaceitáveis pela Ucrânia, certamente está a redução ou o fim das sanções econômicas e políticas contra a Rússia, a reintegração da Rússia no G-8, o início do esboço ou redesenho da Ordem Mundial, na qual os papeis de cada potência precisam ser delimitados para evitar embates perigosos, sendo que na visão de Trump, os EUA não podem enfrentar russos e chineses ao mesmo tempo, como pensavam os democratas da gestão Biden, para Trump, a China representa o maior perigo para os Estados Unidos.

            A frase na camiseta de Lavrov é justificada com o desenrolar atual da referida guerra que, em seu início, acreditava-se que a vitória russa seria questão de poucas semanas, porém com a forte entrada da OTAN (liderada pelos EUA) fornecendo equipamento bélico, inteligência e, a imposição de fortíssimas sanções econômicas e políticas do ocidente contra a Rússia, o prognóstico passou a ser de que a Rússia desabaria economicamente, a guerra perderia apoio interno e Putin seria derrubado.

            Ledo engano, a Rússia resistiu, avança na tomada de territórios ucranianos e sua economia cresceu estimulada pelo esforço de guerra, Putin tem apoio popular, pois a população entende que o ocidente faz uma cruzada (via OTAN) para cercá-la e enfraquecê-la e o espírito russo é conhecido: o de lutar até o último homem e, a Rússia tem mais população para defender sua pátria do que a Ucrânia.

            Os líderes das nações se encontraram e, enquanto Putin, um ex-agente da KGB e talvez, o mais brilhante estrategista geopolítico dentre os líderes das grandes nações, caminhava no tapete vermelho com seu característico "andar do pistoleiro" ao lado do magnata e apresentador de reality shows Donald Trump, agora no papel de presidente da nação mais rica do planeta, numa demonstração de força pensada para o evento, um bombardeiro B-2 escoltado por quatro f-35, todos com capacidade stealth, fizeram um voo baixo nesse exato momento.

            Os Estados Unidos mostravam seus músculos, visando intimidar, mas, o oponente pareceu estar, à vontade no encontro, falou de tempos de união contra o inimigo nazista, da preservação de nomes russos em lugares do  Alaska e elogiou a escolha do local, pois, as nações distam apenas quatro quilômetros (limites entre ilhas no Estreito de Bering). Putin pisou firme em solo estadunidense, Trump é que não parecia estar à vontade, afirmou que não houve acordo, que se tratavam de conversas iniciais e de que outras deverão ser feitas com o presidente da Ucrânia e com os líderes da OTAN.

            O caminho para a paz é sempre longo e envolve muitas negociações. Um bom acordo de paz é aquele que as partes envolvidas, saem com alguma frustração, pois não podem ter tudo, afinal, é necessário também ceder alguma coisa. Os EUA e a Europa erraram ao não envidar maiores esforços para evitar a guerra na Ucrânia e, ante a resistência heróica do povo ucraniano, se iludiram com a possibilidade de levar a Rússia à derrocada e assim enfraquecer a tentativa sino-russa da construção de uma Nova Ordem Mundial Multipolar. Essa Nova Ordem é algo inevitável, salvo uma guerra direta, cujo resultado mais previsível é apocalíptico.

            O estrategista prussiano Carl Von Clausewitz (1780-1831) afirmou: "A guerra é a continuidade da política por outros meios". Há uma frase na geopolítica que diz "é fácil prever como uma guerra iniciará, mas, jamais como terminará". O tarifaço de Trump, a mudança de parcerias comerciais entre os países, a desglobalização, a contestação à Ordem Mundial Unipolar, as questões geoestratégicas mundiais, o petróleo do Oriente Médio e da Venezuela, a cobiça estadunidense pelas terras raras groenlandesas (Dinamarca/União Europeia), chinesas e brasileiras, as guerras regionais pelo mundo, o genocídio em Gaza levado à cabo pelo segregacionista Estado de Israel, etc. Enquanto houver espaço para diálogo, a esperança persiste, no entanto, existem muitos atritos regionais no planeta e, o risco de uma faísca incendiar o mundo nunca foi tão grande.

             

 

 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário