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sexta-feira, 2 de novembro de 2012

100 anos de escuridão! Parte 2

        No dia 22 de Outubro de 1912, teve início no Irani (atual Santa Catarina) a Guerra do Contestado, nesta ocasião, forças de segurança do Estado do Paraná que, até a época tinha suas divisas através do Rio Uruguai com o Estado do Rio Grande do Sul, se confrontaram com os posseiros, as tropas paranaenses foram à região para expulsar aquele ajuntamento de posseiros das terras paranaenses, e na primeira batalha (ganha pelos posseiros) morreram o Coronel João Gualberto das forças paranaenses e o Monge José Maria, líder dos posseiros. 
    As tropas paranaenses buscavam atacar de surpresa quando foram surpreendidas. A esta desmoralização, veio nas tropas oficiais o desejo da vingança, e a intervenção federal se fez com a participação de grande parte do efetivo do exército nacional e o que este tinha de mais moderno em armamentos, aviões foram utilizados (em General Carneiro houve o primeiro acidente aéreo militar) contra posseiros, ex-trabalhadores da estrada de ferro desempregados, etc. que tinham como principal arma, o conhecimento do terreno, a necessidade de resistir e muita fé, chegando a ser liderados pela virgem Maria Rosa, conhecida como a Joana D’Arc do sertão. 
        A Guerra durou de 1912 à 1916, milhares de pessoas foram mortas, conta-se que haviam rios, cujas águas eram vermelhas, devido aos cadáveres caídos. Para evitar que animais consumissem os corpos, que doenças se propagassem e, por que não, para apagar as marcas do genocídio que se produziu, vários fornos crematórios feitos de taipa foram utilizados para incinerar os corpos de homens, mulheres e crianças mortos nas batalhas. 
     Ainda hoje, há quem ao visitar os sítios onde as batalhas ocorreram, ao passar a mão na terra encontre cartuchos utilizados, tamanha fora a violência dos encontros das tropas legais contra os posseiros. Os posseiros sobreviventes, expulsos pelas tropas oficiais e pelos jagunços fortemente armados pela Lumber tiveram que sair das terras e seus descendentes em grande parte encontram-se nas favelas de municípios diversos da região. 
        Tinham uma revolta contra a República, porque a Monarquia se nada fazia pelos mesmos, ao menos não os importunava e permitia que vivessem sua modesta vida naquelas paragens. Houve um tratado assinado entre Paraná e Santa Catarina, intermediado pela Presidência da República em que a maior parte das terras contestadas coube ao estado catarinense, porém, a justiça nunca chegou para as maiores vítimas, um povo pouco interessado se fazia parte de Paraná ou de Santa Catarina e que queria apenas e simplesmente viver, ou melhor, sobreviver nas suas terras.
     A Região do Contestado é tal como o resto do Brasil, uma área de grande desigualdade socioeconômica, riqueza e pobreza, latifúndios explorando pinus e trabalhadores rurais sem terras, capitalistas e desempregados e subempregados convivendo numa área de solo manchado de sangue, esquecidos pela história oficial deste país e diga-se um esquecimento proposital, pois se no passado as armas de fogo das tropas oficiais transformavam a escuridão em dia, após o fim da trágica guerra para acobertar o genocídio produzido, a estratégia utilizada foi silenciar, nada escrever, nada publicar, nada filmar.
         Isso até  meados dos anos 1980, quando a história passou a ser desenterrada, apesar do muito que se perdeu com o tempo, por bravos pesquisadores que não se contentam com versões oficiais e buscam tirar do fundo do solo contestado, a verdade de um povo esquecido e que somente foi lembrado pelo Estado para lançá-lo uma vez mais à escuridão, de 100 anos de escuridão. 

SUGESTÃO DE BOA LEITURA:
 
Título: Contestado, o território silenciado. 
Autor: Nilson Cesar Fraga (Org.).
Editora:  Insular. 2017, 302p.

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