Foi
por meio de artigos motivacionais sobre a vida da personagem histórica Abraham
Lincoln (1809-1865), que tive aguçada a curiosidade, o que me levou a adquirir
a biografia que deu origem ao filme. A leitura, finalmente realizada dois anos
após a aquisição, ofereceu-me um sabor agridoce. A obra centrou-se demais na
presidência (de 1861 a 1865) e pecou por lacunas históricas e pela falta de
mapas das batalhas da Guerra Civil. Descobri, com certa frustração, que a
versão brasileira foi sintetizada, enquanto a original nos EUA esmiúça os fatos
com muito mais riqueza.
Essa busca por detalhes me levou a
redescobrir a trajetória extraordinária daquele extraordinário homem. Sua
infância foi marcada pela pobreza extrema, pela perda da mãe ainda menino e por
uma luta constante pela sobrevivência. O jovem Lincoln, alto e magérrimo,
trabalhou como lenhador e condutor de barcaças. Sua educação formal não chegou
a dois anos, mas sua sede de conhecimento era insaciável. Tornou-se um
autodidata obstinado, devorando livros que carregava para todo lado.
A vida o testou incessantemente:
reprovado no exame para o ingresso na faculdade de Direito, estudou por conta
própria até ser aprovado na prova da ordem. Como advogado, era temido por sua
inteligência afiada em apontar contradições. Fracassou como empresário e em
quase todas as tentativas políticas, além de carregar a dor da perda de dois
filhos.
Em 1860, contra todos os
prognósticos e com o que muitos consideravam o pior currículo dentre os
postulantes, esse homem de origens humildes foi eleito presidente. Sua grandeza
se revelou na humildade e sagacidade, pois convidou seus rivais derrotados para
compor seu gabinete, formando uma equipe de feras que ele sabia liderar com mão
firme.
Quando a guerra civil (1861-1865)
estourou, ele não a desejou, mas enfrentou seu fardo com uma determinação
solene. Após quatro anos e 600 mil mortos, sua perseverança manteve a União
intacta e libertou os escravos. No entanto, ao ousar defender o direito ao voto
para os negros, atraiu o ódio mortal daqueles que não aceitavam a nova era. Sua
vida foi tragicamente ceifada no Teatro Ford, um de seus poucos refúgios de
paz, mas seu legado como um dos maiores líderes dos Estados Unidos permanece
eterno. Sua história é um testamento pungente de que a força do caráter supera
qualquer currículo.
Sugestão de boa leitura:
Título: Lincoln
Autor: Doris Kearns Goodwin
Editora: Record, 2013, 322 p.
