Karl Marx (1818-1883), afirmou que “precisamos entender a sociedade como se estivéssemos escalando uma montanha”, e, poucos no mundo levaram tão a sério a busca desse entendimento quanto Oscar Niemeyer (1907-2012). Filho de família abastada, jamais deixou o status herdado de berço lhe impor uma mentalidade burguesa e esnobe.
Estudou muito, trabalhou mais ainda, a sua genialidade por muitos é considerada um dom divino, apesar deste se considerar ateu, tem na natureza, nas montanhas e mulheres do Rio de Janeiro, a inspiração para as famosas e maravilhosas curvas que tanto prestígio lhe deu.
Oscar escreveu: “Não é o ângulo reto que me atrai, nem a linha reta, dura, inflexível criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual. A curva que encontra no curso sinuoso dos nossos rios, nas nuvens do céu, no corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o Universo. O Universo curvo de Einstein”.
A arquitetura mundial e não apenas a brasileira ficou mais pobre com sua partida na semana passada. Definir Oscar Niemeyer é fácil, bastam duas palavras “vida e trabalho”, e como viveu! Foram quase 105 anos, mas gostaríamos que fosse eterno e enquanto viveu, foi.
Não vamos aqui falar de sua partida, mas de sua obra e principalmente do brasileiro solidário que demonstrou ser. Algumas pessoas são insubstituíveis, e nunca “morrem”, pois se imortalizam nas suas obras.
Oscar Niemeyer é dessa classe de pessoas que assombram o mundo com tanto talento e generosidade. Generosidade para em sendo grande usar da sua notoriedade para chamar atenção às causas sociais, e, oprimido, denunciar a opressão mesmo com isso tendo que se exilar fora do país natal por conta da ditadura militar (1964 a 1985).
Há uma direita com vocação totalitarista, cujos representantes na grande mídia, por ocasião de sua passagem, se sentiram incomodados pelo fato do genial arquiteto ser comunista e, mesmo assim, terem que passar flashes de sua obra e pensamento na programação.
Houve até um representante dessa direita raivosa que o considerou metade gênio e metade idiota. Ora, o totalitarismo que tal ícone do “pensamento pequeno” burguês tanto diz combater se manifesta justamente no combate raivoso a todo intelectual e/ou artista que ciente de sua liberdade de pensamento e expressão, abre mão de seguir a “mesmice” das ovelhinhas branquinhas guiadas pelo lobo e segue seu próprio caminho, porque embora seja mais fácil ir até onde os outros vão e ver as mesmas coisas, somente quem trilha caminhos diferentes e vai aonde os outros não vão é que faz a diferença e vê o que outros são incapazes. Afirmar que Oscar “é metade gênio e metade idiota” somente demonstra que a pessoa que escreveu/disse isso é “totalmente idiota”.
Certa vez, assisti uma reportagem sobre um arquiteto estrangeiro mundialmente famoso, que veio ao Brasil especialmente para conhecer Niemeyer e, estava num estado de êxtase por estar ao seu lado.
O que me incomoda é haver em nosso país um segmento político que, de posse da grande mídia, manipula, omite, distorce as informações e parece ter vergonha de o país estar seguindo num bom caminho, de as coisas estarem dando certo, e de haver brasileiros reconhecidos internacionalmente e que para assim o serem considerados, subiram a montanha a partir de um primeiro passo e seguiram em frente sem se abaterem com as dificuldades.
Niemeyer escalou a montanha e viu a sociedade, de seus patamares mais baixos até o topo, e dessa forma, constatou a realidade crua e cruel deste país. É essa sensibilidade perante a vida e a sociedade que o faz genial e insubstituível.