Alguém já disse que para escrever algo, basta ter uma idéia e fazê-lo, e muitos jornalistas têm levado essa frase a sério, tanto que após as polêmicas geradas pelas suas divagações nem sempre sensatas, abrem suas baterias contra os críticos, quando estes os qualificam como sendo desta ou aquela ala da política brasileira.
A palavra uma vez proferida tem um alcance incontrolável, ela fere, marca para sempre e as retratações não conseguem reparar o estrago feito. A palavra uma vez divulgada passa a ter ar de verdade inquestionável, mas a prática tem demonstrado que isso não é bem assim.
É natural de quem faz oposição esquecer os pontos positivos e se concentrar nos pontos negativos, reforçando-os. Vimos isto na atual crise da aviação civil, que sendo gerada pela quase absoluta falta de investimentos no setor há aproximadamente 25 anos, apareceu na imprensa como fruto exclusivo do Governo Lula, como se o caos aéreo não tivesse seu embrião nos governos anteriores. Aproveitando-se da emoção que o desastre aéreo de 17 de julho causou, houve alguns jornalistas e políticos que, antes mesmo das perícias, já acusavam o Governo de assassinato e manifestantes pediam a saída do presidente.
A culpa do atual governo é a mesma dos que lhe antecederam, ou seja, a inexistência de um projeto de país. É necessário pensar com antecedência que país seremos daqui a 20 anos, para planejar e desenvolver a infraestrutura necessária, para não termos surpresas desagradáveis.
No Governo FHC tivemos o apagão energético, blackouts fizeram parte dos noticiários, tivemos a rotina do racionamento elétrico, num momento em que as ações do Governo estavam mais voltadas para a privatização das unidades geradoras existentes do que para a construção de novas unidades. Para evitar um novo apagão elétrico, duas grandes usinas serão construídas no Rio Madeira, Angra 3 e várias pequenas usinas hidrelétricas para dar conta de um crescimento econômico de 4 a 5%, crescer mais pode ser um sério complicador. As Rodovias Federais, sem conservação, cheias de buracos, ou seja, o apagão rodoviário em gestação até os dias atuais, em que apenas manutenção não é suficiente, novas pavimentações asfálticas e duplicações são necessárias, mas basicamente a receita seguida tem sido privatizações e manutenção básica, isso quando ocorre.
O Governo FHC seguia a cartilha do FMI, privatizando e recebendo moedas podres, para poder renegociar a dívida externa. A verdade é que os juros da dívida externa levaram todo o montante dos recursos gerados pelas privatizações, algumas das quais ficaram conhecidas como privatarias, alvos de investigações e mesmo assim a dívida externa aumentou. O Brasil tinha saldo desfavorável na balança comercial e o país, exceção feita aos três primeiros anos do Plano Real não se desenvolvia. No Governo Lula as privatizações cessaram, o país tem cerca de US$ 130 bilhões de reservas, o que o torna mais seguro para enfrentar crises internacionais, independente, não segue mais os ditames do FMI, sendo que a dívida externa foi reduzida em cerca de 40%. O país cresce cerca de 4% ao ano, menos do que alguns países vizinhos, mas dentro do que o país suporta para um crescimento sustentável desde que seguidas de ações de médio e longo prazo quanto à infraestrutura.
Inúmeras CPI’s foram barradas pela maioria que o governo FHC dispunha no Congresso Nacional, havia a figura do “engavetador geral”. Atualmente continuam as denúncias de corrupção e CPI’s são implantadas, a Polícia Federal que no Governo anterior recebeu muitas viaturas, mas não tinha recursos suficientes para combustível, trabalha como nunca e é muito respeitada. Políticos são indiciados e começa a dar a impressão e eu disse isso mesmo impressão de que alguma coisa começa a mudar quanto aos crimes de colarinho branco.
No Governo FHC, grande parte do contingente de soldados foi mandada para casa antes da metade do ano, por falta de recursos para a alimentação dos mesmos. Na Força Aérea faltavam recursos para as missões de treinamento, assim o combustível gasto pelas aeronaves era para as missões realmente muito essenciais. Estas são situações que não ocorreram no Governo Lula.
Mas não podemos afirmar que não houve pontos positivos no Governo FHC, a estabilidade econômica é o principal deles, o Plano Real criado no Governo de Itamar Franco, tendo FHC como Ministro da Fazenda e as ações nos anos seguintes para seu fortalecimento foi o seu principal legado. Lula ao assumir a presidência preservou e fortaleceu a estabilidade econômica, herança boa de FHC.
FHC estragou sua biografia ao fazer aprovar em benefício próprio a reeleição, alterando a Constituição para tal. Teria feito melhor se deixasse o cargo e retornasse 4 anos depois, quando teria grandes chances de reeleição. Mas como o que estava em jogo era o projeto de poder, e havia o sentimento de que ninguém dentro dos quadros da situação seria páreo para Lula, manchou-se a biografia. O preço pago por tal manobra foi a reeleição de Lula, que se aproveitou da alteração constitucional aprovada no Governo FHC para se manter mais quatro anos no cargo, sendo que políticos que aprovaram a reeleição para manter FHC no poder, hoje se dizem contrários à mesma.
Não vou tentar esgotar o assunto, pois sei que quem o tenta, acaba por esgotar a paciência do ouvinte ou leitor. A verdade é que cada um de nós tem uma diferente percepção do país e que corresponde aos seus próprios anseios e dificuldades. Apesar de meu poder aquisitivo como professor ter caído durante a vigência do Plano Real, minha reflexão me leva a crer que o país no geral está melhorando, lentamente, mas de forma continuada, ao contrário do que pregam aqueles a quem chamo de “cavaleiros do apocalipse” que torcem pela ruína do país. Precisamos, no entanto, avançar mais rapidamente, mas não a passos maiores do que nossas pernas podem suportar, crescer 9% ao ano é para a China e sabe-se lá até quando!
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