O ano era 1992, o Brasil era centro das atenções mundiais, o Rio de Janeiro era palco da ECO 92 ou Rio 92, a mega-conferência sobre meio ambiente e desenvolvimento sustentável promovida pela Organização das Nações Unidas (ONU), participavam os representantes de mais de uma centena de países, artistas, intelectuais e a novidade daquele momento, as Organizações Não Governamentais (ONGS). Apesar de não estar no script, a organização do evento acolheu as ONGS que participaram do debate e exigiram atitudes concretas para salvar o planeta. Foram dias acalorados, muitas discussões, polêmicas e a inevitável oposição entre países ricos e pobres. Os países ricos cobravam dos países pobres atitudes para a preservação do meio ambiente, principalmente quanto à devastação de florestas tropicais e a perda de biodiversidade, por sua vez, os países pobres condenavam os países ricos pelo buraco na camada de ozônio, o aquecimento global e por desejarem frear o desenvolvimento econômico dos países subdesenvolvidos sem dar qualquer compensação em troca. Muita discussão, pouco resultado. Não foram assinados por oposição de alguns países tendo a liderança dos Estados Unidos da América representado na figura de George Bush, o pai do atual presidente americano, os tratados de preservação permanente da Antártida como área de preservação internacional, nem os acordos de pagamentos de royalties sobre produtos desenvolvidos com a utilização da biodiversidade e que interessava, sobretudo ao Brasil, também, não passaram acordos para a redução da emissão da poluição do ar. Mas houve avanços, a Agenda 21, a eliminação gradual do CFC (vilão da camada de ozônio) e a abertura do diálogo para discussões posteriores, leia-se Kyoto e Rio+10 em Johannesburgo. Durante a realização da ECO 92, indignado com as acusações americanas e de outros países desenvolvidos, escrevi um artigo para o Jornal O Independente com o título: “Afinal, a quem pertence a Amazônia”? No texto afirmava que o Brasil deveria preservar a Amazônia, mas que cabia ao país decidir a forma como isto seria feito, sem esquecer as pessoas que na Amazônia viviam e que deveriam ter uma fonte de renda alternativa. Também afirmava que países que nunca preservaram a natureza e que eram grandes poluidores do planeta e que até mesmo fizeram uso da força contra as suas tribos indígenas não tinham moral para fazer acusações ao Brasil. Alertava para a cobiça internacional sobre a Amazônia, pois, já naquela época tive contato na Universidade com bibliografias que tratavam dos riscos da internacionalização da mesma. Apesar da satisfação em externar a minha indignação, um comerciante, velho conhecido, afirmou que concordava com as minhas colocações, mas, achava o título inocente, afinal, não havia até então nenhum questionamento sobre a posse da Amazônia, várias vezes se referiu ao título quando nos encontrávamos! Sem querer ter sempre razão, penso que o mesmo não deve mais achar o título inocente, o qual nunca esteve tão atual como hoje. De 1992 para cá, muita água rolou debaixo da ponte, infelizmente, poluída! Os problemas ambientais se agravaram, o aquecimento global é uma polêmica que parece não ter fim, as alterações climáticas colocam o Brasil no centro do tiroteio e dele não há como fugir, precisamos salvar a Amazônia e sobre ela manter a soberania, explorando-a de forma sustentável, dando alternativa de renda para a população local e dar uma satisfação para aqueles que de fato desejam a sua preservação, pois, sabemos que grande parte do discurso sobre a Amazônia é de fato econômico travestido de ecológico. O Governo não pode mais ficar “deitado em berço esplêndido” enquanto os piratas do século XXI agem na floresta! Não há mais tempo para a retórica!
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