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domingo, 27 de junho de 2021

Paris é uma festa! Uma reflexão acerca das eleições majoritárias no Brasil em 2018

                 O leitor acostumado a ler livros clássicos certamente lembrou de "Paris é uma festa" do famoso escritor Ernest Hemingway (1899-1961), informo-o que aqui não há, nenhuma correspondência entre a obra citada (ainda não lida por este escriba) e as linhas aqui escritas. É importante que ao iniciar esta reflexão, eu diga que considero o pré-candidato Ciro Gomes (PDT) à Presidência da República (2022) um grande quadro, pois, é portador de uma sólida formação intelectual e tem uma ampla experiência nos meandros da política e na administração pública. Também é importante deixar claro que, apesar das críticas que tenho para com o pré-candidato, eu o apoiaria no segundo turno contra Bolsonaro ou qualquer outro candidato da direita. Quem acompanha meus artigos, sabe que considero os posicionamentos de caráter público de personalidades (de interesse da sociedade) como objetos de análise, cujas críticas, quando por mim publicadas, ocorrem sempre no "mundo das ideias" e, jamais constituem ataques de caráter pessoal.

             A primeira parte do título é uma ironia à atitude do candidato Ciro Gomes que, derrotado no primeiro turno da eleição presidencial de 2018, não se engajou na campanha de Fernando Haddad (PT), o candidato da esquerda na disputa do segundo turno contra o candidato da extrema-direita Jair Bolsonaro (PSL). O que me incomoda¹ (falo como cidadão que sempre teve Ciro Gomes como plano B) é a decepção que tive quando ele viajou para a capital francesa, apesar dos riscos e dos fortes atrasos sociais e econômicos que a vitória de Bolsonaro poderiam trazer ao país e ao povo brasileiro. Eu senti¹ como se ele, em revanche por não ter sido levado ao segundo turno, desse as costas para o país e consequentemente para o povo. Embora não seja filiado a nenhum partido, nunca escondi de ninguém e, inversamente, sempre fiz questão de deixar claro o meu posicionamento ideológico de esquerda. Não é apenas como um militante da esquerda que me senti¹ ferido, mas, como cidadão. Não consigo digerir tal atitude anti-solidária de Ciro com a esquerda e, acima de tudo com grande parcela do povo brasileiro.

            Em sua defesa, integrantes da "equipe Ciro Gomes" afirmam que Lula e o PT nunca foram solidários com o candidato pedetista. Penso que faz parte do jogo político, no primeiro turno, apoiar candidatos cujo projeto se considera o mais próximo (ou menos distante) do ideal almejado, mas esta não é a realidade do segundo turno. No segundo turno, deve haver a união de forças em favor do projeto de linha ideológica minimamente palatável (ou menos nefasta) sobrevivente. Ciro para receber a solidariedade, o apoio que tanto deseja de Lula, do Partido dos Trabalhadores (PT) e dos demais segmentos da esquerda, precisa fazer-se viável e chegar ao segundo turno (algo que até aqui não fez, pois não ultrapassa nas votações a marca de 12%). Quanto ao segundo turno de 2018, caso Ciro (o tivesse alcançado e) fosse o candidato opositor a Bolsonaro, não tenho dúvidas de que teria o apoio maciço da esquerda, a qual se esforçou em evitar a catastrófica eleição de Bolsonaro. O que fez Ciro Gomes? Foi a Paris, dando a impressão de dar "uma banana" para os petistas e, para o povo que não o levou ao segundo turno. É difícil dizer se o engajamento de Ciro Gomes na campanha da esquerda poderia ter evitado a trágica ascensão de Bolsonaro ao Planalto, possivelmente não, porém, Ciro teria tido uma atitude digna e ganho pontos perante os eleitores opositores à extrema-direita bolsonarista.

            Ciro Gomes e seus apoiadores também alegaram que a atitude de neutralidade ante a disputa Haddad  e Bolsonaro seria a mais coerente, tendo em vista as críticas que tinha às gestões dos petistas enquanto no poder estiveram, em especial, ao governo de Dilma. Penso que não há como considerar coerente uma postura de neutralidade quando a disputa ocorria entre Haddad e Bolsonaro. É importante frisar: a disputa era Haddad x Bolsonaro, ou seja, contra Bolsonaro e todo o atraso socioeconômico que ele representava. Como cidadão, digo que Ciro falhou não apenas com a esquerda, mas, com parcela expressiva do povo brasileiro que temia pela eleição de Bolsonaro e, hoje paga um elevado custo com a política de destruição do Estado de Bem-Estar Social levado a cabo pelo Governo Bolsonaro que precariza as condições de vida dos trabalhadores e no plano internacional, destrói a imagem do país perante as nações.

1. Leia-se: Sentimento correspondente ao de grande parcela dos eleitores da esquerda opositores a Bolsonaro.

domingo, 20 de junho de 2021

Todo dia

 

      

 Nestes tristes e obscuros tempos que vivemos, nunca antes a palavra empatia foi tão citada como a necessidade mais premente na sociedade brasileira. Além de todos os problemas que perfazem o cotidiano da população de um dos países mais injustos do mundo no que concerne à distribuição de renda, ainda temos o agravante da pandemia de Covid 19. Nunca a empatia foi tão necessária como agora. Em nosso país, não foi por mero acaso que o discurso do ódio elegeu seu atual presidente, mas, por evidenciar nossas raízes históricas que remontam ao período escravocrata. O ano de 1888 ficou para trás no tempo, porém, o preconceito e a desigualdade de oportunidades foram cuidadosamente acondicionados na bagagem a ser enviada para o futuro e, aos dias atuais chegaram, pois, ao longo da história, sempre que algum governante ou grupo político tentou mudar nossa triste sina, teve a oposição das elites no afã de proteger seus injustos privilégios alegando de forma falsa e perversa serem frutos de seus  supostos méritos.

            É a população negra (juntamente com a indígena), a mais pobre e discriminada deste país. Aos preconceitos étnicos, se somam vários outros contra as pessoas que ousam pensar e/ou agir de forma diferenciada daquela considerada padrão, portanto aceitável para a mentalidade alienada de parcela expressiva da população. Escrevo estas linhas, refletindo sobre o chão onde meus pés pisam, mas, sei que o que escrevo, também se aplica de forma parcial, a uma importante parcela da humanidade. Afinal, esta, em todos os países, deu tristes mostras ao longo da história, de sua forma doentia/perversa de pensar e, muitas vezes de conduzir a sociedade. O genocídio contra o povo judeu, mas, também contra os povos originários (indígenas) do continente americano, do povo negro nas colônias implantadas no continente africano e além-mar são mostras disso.

            A palavra empatia talvez seja desconhecida de muitas pessoas, mas, não seu significado, afinal, nossos avós já diziam que "uma pessoa não pode julgar a outra, sem colocar-se no lugar dela". Este é o significado de empatia, que numa busca ao dicionário, encontra-se assim definida: 1. Psicol. Habilidade de imaginar-se no lugar de outra pessoa. 2. Psicol. Compreensão dos sentimentos, desejos, ideias e ações de outrem. 3, Qualquer ato de envolvimento emocional em relação a uma pessoa, a um grupo e a uma cultura. Também há a referência a três características da empatia: 1. Cognitiva: Entender o ponto de vista do outro; 2. Emocional: Compartilhar os sentimentos do outro; 3. Compassiva: Perceber que o outro precisa de ajuda e colocar-se à disposição.

            Neste sentido, o escritor estadunidense David Levithan (1972 - ) publicou uma obra com uma premissa original. No livro "todo dia", a personagem "A" não tem um nome definido, sequer um gênero definido, ou ainda, um corpo definido. Todo dia "A" acorda num corpo diferente, independentemente de sua condição de gênero, etnia, classe social, saúde, etc. Penso que a personagem "A" pode ser entendida como uma entidade ou, uma alma/espírito, nessa condição, sente as alegrias e as tristezas inerentes a cada pessoa cujo corpo ocupa durante 24 horas e, ao dormir acorda em outro corpo. "A" nunca teve um corpo próprio ou uma família própria e ao ocupar os corpos de diferentes indivíduos, pode entender as pessoas de uma forma não possível aos indivíduos comuns, pois, é capaz de verdadeiramente se colocar no lugar destes. Afinal, ter empatia com os negros, os indígenas, os pobres, doentes (depressivos), os homossexuais, os que sofrem perseguição ideológica, étnica ou religiosa, etc. é um esforço de abstração e, apesar das boas intenções, jamais sentiremos com a intensidade devida o que é "estar na pele do outro". David Levithan escreveu esta obra primeva, com a qual auxilia os leitores na reflexão e na prática da empatia. A obra não é perfeita, o que é perdoável, dada a dificuldade do tema e de como explicar tal poder/dom da personagem "A" que embora "viva" de forma surreal, apenas passa a desejar uma forma de vida comum com direito a um corpo, família e história de vida simples, quando se apaixona por Rhiannon. Esse livro é direcionado às pessoas jovens e/ou de mentalidade aberta e, principalmente, àquelas que têm ou procuram desenvolver a empatia. Se não é o seu caso,  a leitura desse livro pode lhe trazer dissabores.

P.S. A obra foi adaptada para o cinema com o mesmo título. Fica a dica!

Sugestão de boa leitura:

 

Título da obra: todo dia

Autor: David Levithan

Editora/Ano: Galera Record: 2020, 13ª ed.; 279 p.

domingo, 13 de junho de 2021

Copa do Mundo 2014 x Copa América 2021 e a mudança da conjuntura

 

            Em junho de 2013, o país foi tomado por manifestações de grande vulto. O estopim de tais manifestações foi o aumento de R$ 0,20 na passagem do transporte coletivo no município de São Paulo. O Movimento Passe Livre (MPL) que luta pela tarifa zero para estudantes, por meio de chamadas no Facebook e de mensagens de WhatsApp, organizou e chamou  manifestação e, as pessoas que pretendiam participar, chamaram mais gente. É importante que se diga que as lideranças do MPL tinham naquele momento uma bandeira definida: a revogação do reajuste do transporte coletivo. No entanto, sua iniciativa e manifestações foram cooptadas por indivíduos e grupos com bandeiras que eram as mais diversas, muitas incongruentes. Não havia uma unidade ideológica nas manifestações, todo mundo estava aproveitando para surfar aquela onda, sejam pessoas ligadas à ideologias/partidos da extrema direita, até a extrema esquerda com objetivos diversos, pois,  até manifestantes "da direita" hipocritamente pediam mais Estado (melhoria dos serviços públicos) a fim de conquistar apoio popular e causar desgaste no governo Dilma (PT).

            A grande mídia demorou a entender o significado dos protestos que possuíam bandeiras tão diversas e, por seus hábitos reacionários, sem pensar muito, os atacou. A TV Globo (cujo caráter reacionário é desnecessário apresentar) fez um papel ridículo ante o olhar do mundo, pois, em 72 horas passou da forte crítica às manifestações ao apoio declarado como estratégia de desgastar o Governo Federal. Fez isso visando influir nas eleições majoritárias do ano seguinte, inclusive chamando panelaços no horário nobre do Jornal Nacional, os quais transmitia ao vivo em rede nacional. É importante que se diga, que os governos de Lula e Dilma não realizaram as transformações estruturais necessárias para o país. Dilma errou ao tomar medidas de aprofundamento neoliberal em seu governo. No entanto, nenhum governo na história nacional fez mais pela população pobre desse país do que os capitaneados pelo Partido dos Trabalhadores. E isso não pode ser esquecido. É verdade que os governos de Lula e Dilma, deram continuidade ao neoliberalismo, nem por isso, foram traidores. O PT é um partido de centro-esquerda (social democrata), nunca espere que ele vá capitanear uma guinada rumo ao socialismo.

            Enfim, no que concerne, ao apoio de parte da esquerda à Copa do Mundo de 2014 e a atual posição de contrariedade da mesma à realização da Copa América 2021, não há, nenhuma contradição. Basta retomar Marx (1818-1883) quando disse que "a ciência seria desnecessária se a aparência coincidisse com a essência" e não ficar na aparência das coisas. O contexto é totalmente diverso. O Brasil foi um país que encantava o mundo e o mundo o queria ouvir. A CIA em seu relatório decenal, projetava a ascensão do país ao status de potência intermediária em 2020 e confirmou isso em seu documento para 2025 (mas, infelizmente os ventos mudaram). O Brasil chegou a ser a 6ª economia mundial (hoje é a 12ª), houve a ascensão socioeconômica de 40 milhões de brasileiros (infelizmente, boa parte deles, voltaram para os níveis de pobreza anteriores) e a sociedade do pleno emprego deu lugar a uma multidão de desempregados cujo índice chega a assombrosos 14%. O Brasil, à época, aumentou os investimentos em educação e saúde. Na educação (criou várias universidades federais e escolas técnicas) e na saúde, construiu hospitais, criou o SAMU e aumentou enormemente o número de leitos em UTI's.

             O país que contava com uma infra-estrutura sem grandes investimentos desde o período militar e que passou pelo apagão energético do período FHC, construiu novas usinas e fez a transposição do Rio São Francisco, além de inúmeras obras de infra-estrutura. Havia um projeto de alçar o Brasil ao palco seleto das grandes nações. A construção de estádios, foi feita por meio de incentivos (renúncias fiscais) e de empréstimos dos clubes junto ao BNDES, que estão retornando ao mesmo (com juros) o capital emprestado, ou seja, não foram investimentos a fundo perdido. Nas construções de tais obras, a economia foi estimulada e houve a geração de milhares de empregos. A conjuntura atual, no entanto, é de um apequenamento do país que foi alçado à condição de pária mundial. O neoliberalismo reina absoluto no Planalto. O tímido Estado de Bem-Estar Social está sendo desmontado. Os serviços públicos (saúde e educação) são precarizados e seus recursos para manutenção, reduzidos a cada ano. A precarização é uma estratégia para a implantação do Estado Mínimo para o povo e do Estado Máximo para o Grande Capital. Enfim, São contextos totalmente diferentes e, além disso, atualmente, há o forte agravante da pandemia. Desconsiderar as diferentes conjunturas de cada momento histórico é fazer uma análise rasa, é ficar na aparência das coisas, pois, nem o conhecimento, nem a verdade, se encontram aí.

sábado, 5 de junho de 2021

A importância de colocar o livro em sua vida e em seu devido lugar

            Há uma frase do ativista, escritor, diretor e produtor José Bento Renato Monteiro Lobato (1882-1948), popularmente conhecido como Monteiro Lobato, autor (dentre outras obras) de "Sítio do Pica-pau Amarelo". A frase: "Quem mal lê, mal ouve, mal fala, mal vê". Monteiro Lobato foi certeiro em sua constatação. A leitura é um ato indissociável da escrita elegante e da boa fala, além disso, a leitura abre os olhos da alma e, assim, as pessoas tornam-se capazes de entender a essência de um texto, de uma obra audiovisual, da vida em sociedade no âmbito local, nacional ou global. Todas as pessoas possuem cultura e esta não é obtida apenas pela posse de um ou vários diplomas, pois, conforme um colega professor costuma afirmar: "diploma não encurta orelhas". Apesar dos esforços na universalização da educação pública, o país ainda apresenta uma multidão de onze milhões de pessoas analfabetas (6,6%), o que equivale a população do Estado do Paraná. Vários de nossos países vizinhos (com economias menores) possuem índices praticamente zerados e, isso é a demonstração de um dos efeitos da monstruosa desigualdade social brasileira (8ª nação mais injusta do planeta).

          Se ao elevado número de pessoas analfabetas acrescermos os números referentes ao analfabetismo funcional (29%), a situação torna-se ainda mais grave. Os analfabetos funcionais são a parcela da população que tendo cursado a Educação Básica completa e, até mesmo a Universidade, apesar de saberem ler, não conseguem ou têm grandes dificuldades na interpretação de textos simples e na identificação da ideia central destes. Também são incapazes de fazer operações matemáticas simples ou elaboradas. Os professores da Educação Básica têm grande dificuldade em fazer com que os estudantes leiam obras de literatura. Essa dificuldade também é encontrada na Universidade. Embora se fale que as pessoas estão lendo mais por causa da Internet, estas muitas vezes acessam redes sociais e sites nem sempre confiáveis, enfim,  a qualidade do que se lê é fundamental para a elevação do nível cultural da população. E o livro é fundamental para isso. Infelizmente, não raramente, ouvimos e/ou lemos comentários de pessoas que afirmam nunca mais terem lido livros após deixar os bancos escolares ou universitários.

        Monteiro Lobato, já citado, também cunhou outra frase emblemática acerca da importância da leitura de livros, disse ele: "Uma nação se faz com homens e livros". Também aqui acertou, a mudança que queremos para o Brasil, começa em nosso íntimo e, precisamos estar à altura do país que queremos ser. Um país se faz com cidadãos melhores, conscientes, críticos, solidários e honestos. Lembro de um estimado professor das séries finais do Ensino de 1º Grau (atual Ensino Fundamental) que nos dizia sempre: "Para cada coisa, um lugar e,  cada coisa em seu lugar". É necessário que as pessoas entendam que colocar o livro em suas vidas e, em suas casas, não dói, o que dói é  viver e não conseguir "ler" o mundo em que se vive.

            Foi ao lembrar a frase de meu professor que surgiu a ideia desse artigo. Tenho amigos que vivem com o dilema sobre como organizar a estante de livros,  sempre se questionando se devem fazê-lo por ordem alfabética (autor) ou, por área do conhecimento. Visando a praticidade, criei dois arquivos no computador: um por ordem alfabética (com o devido número de registro do livro) e outro arquivo com a ordem numérica. Mandei fazer um carimbo no qual há o número de registro do livro e com o qual carimbo cada livro. Os livros são organizados na estante de acordo com a ordem numérica e sempre com o mesmo sentido do título na lombada (mas não é TOC, viu!?). E quando preciso, consulto o arquivo alfabético para saber se tenho determinada obra de um autor e vejo sua ordem numérica para localizá-lo na estante. Não é necessário registrar duas vezes, pois, o arquivo numérico gera o arquivo alfabético. Na verdade, cada arquivo digital possui as duas informações, o que muda é o modo de busca, numérica ou alfabética. Tenho cópia do arquivo alfabético no celular, isso evita que eu compre livros que já possuo, como no passado ocorreu. Nesses arquivos, registro também os livros lidos (mês/ano) e os não lidos (em negrito). Simples assim. Penso que só precisa ser funcional para mim. E meus livros, embora tenham argumentações diferentes, convivem bem na estante, não preciso separá-los por afinidades, entre eles, não há inimizades.