Em junho de 2013, o país foi tomado por manifestações de grande vulto. O estopim de tais manifestações foi o aumento de R$ 0,20 na passagem do transporte coletivo no município de São Paulo. O Movimento Passe Livre (MPL) que luta pela tarifa zero para estudantes, por meio de chamadas no Facebook e de mensagens de WhatsApp, organizou e chamou manifestação e, as pessoas que pretendiam participar, chamaram mais gente. É importante que se diga que as lideranças do MPL tinham naquele momento uma bandeira definida: a revogação do reajuste do transporte coletivo. No entanto, sua iniciativa e manifestações foram cooptadas por indivíduos e grupos com bandeiras que eram as mais diversas, muitas incongruentes. Não havia uma unidade ideológica nas manifestações, todo mundo estava aproveitando para surfar aquela onda, sejam pessoas ligadas à ideologias/partidos da extrema direita, até a extrema esquerda com objetivos diversos, pois, até manifestantes "da direita" hipocritamente pediam mais Estado (melhoria dos serviços públicos) a fim de conquistar apoio popular e causar desgaste no governo Dilma (PT).
A grande mídia demorou a entender o significado dos protestos que possuíam bandeiras tão diversas e, por seus hábitos reacionários, sem pensar muito, os atacou. A TV Globo (cujo caráter reacionário é desnecessário apresentar) fez um papel ridículo ante o olhar do mundo, pois, em 72 horas passou da forte crítica às manifestações ao apoio declarado como estratégia de desgastar o Governo Federal. Fez isso visando influir nas eleições majoritárias do ano seguinte, inclusive chamando panelaços no horário nobre do Jornal Nacional, os quais transmitia ao vivo em rede nacional. É importante que se diga, que os governos de Lula e Dilma não realizaram as transformações estruturais necessárias para o país. Dilma errou ao tomar medidas de aprofundamento neoliberal em seu governo. No entanto, nenhum governo na história nacional fez mais pela população pobre desse país do que os capitaneados pelo Partido dos Trabalhadores. E isso não pode ser esquecido. É verdade que os governos de Lula e Dilma, deram continuidade ao neoliberalismo, nem por isso, foram traidores. O PT é um partido de centro-esquerda (social democrata), nunca espere que ele vá capitanear uma guinada rumo ao socialismo.
Enfim, no que concerne, ao apoio de parte da esquerda à Copa do Mundo de 2014 e a atual posição de contrariedade da mesma à realização da Copa América 2021, não há, nenhuma contradição. Basta retomar Marx (1818-1883) quando disse que "a ciência seria desnecessária se a aparência coincidisse com a essência" e não ficar na aparência das coisas. O contexto é totalmente diverso. O Brasil foi um país que encantava o mundo e o mundo o queria ouvir. A CIA em seu relatório decenal, projetava a ascensão do país ao status de potência intermediária em 2020 e confirmou isso em seu documento para 2025 (mas, infelizmente os ventos mudaram). O Brasil chegou a ser a 6ª economia mundial (hoje é a 12ª), houve a ascensão socioeconômica de 40 milhões de brasileiros (infelizmente, boa parte deles, voltaram para os níveis de pobreza anteriores) e a sociedade do pleno emprego deu lugar a uma multidão de desempregados cujo índice chega a assombrosos 14%. O Brasil, à época, aumentou os investimentos em educação e saúde. Na educação (criou várias universidades federais e escolas técnicas) e na saúde, construiu hospitais, criou o SAMU e aumentou enormemente o número de leitos em UTI's.
O país que contava com uma infra-estrutura sem grandes investimentos desde o período militar e que passou pelo apagão energético do período FHC, construiu novas usinas e fez a transposição do Rio São Francisco, além de inúmeras obras de infra-estrutura. Havia um projeto de alçar o Brasil ao palco seleto das grandes nações. A construção de estádios, foi feita por meio de incentivos (renúncias fiscais) e de empréstimos dos clubes junto ao BNDES, que estão retornando ao mesmo (com juros) o capital emprestado, ou seja, não foram investimentos a fundo perdido. Nas construções de tais obras, a economia foi estimulada e houve a geração de milhares de empregos. A conjuntura atual, no entanto, é de um apequenamento do país que foi alçado à condição de pária mundial. O neoliberalismo reina absoluto no Planalto. O tímido Estado de Bem-Estar Social está sendo desmontado. Os serviços públicos (saúde e educação) são precarizados e seus recursos para manutenção, reduzidos a cada ano. A precarização é uma estratégia para a implantação do Estado Mínimo para o povo e do Estado Máximo para o Grande Capital. Enfim, São contextos totalmente diferentes e, além disso, atualmente, há o forte agravante da pandemia. Desconsiderar as diferentes conjunturas de cada momento histórico é fazer uma análise rasa, é ficar na aparência das coisas, pois, nem o conhecimento, nem a verdade, se encontram aí.
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