É a população negra (juntamente com a indígena), a mais
pobre e discriminada deste país. Aos preconceitos étnicos, se somam vários
outros contra as pessoas que ousam pensar e/ou agir de forma diferenciada
daquela considerada padrão, portanto aceitável para a mentalidade alienada de
parcela expressiva da população. Escrevo estas linhas, refletindo sobre o chão
onde meus pés pisam, mas, sei que o que escrevo, também se aplica de forma
parcial, a uma importante parcela da humanidade. Afinal, esta, em todos os
países, deu tristes mostras ao longo da história, de sua forma doentia/perversa
de pensar e, muitas vezes de conduzir a sociedade. O genocídio contra o povo
judeu, mas, também contra os povos originários (indígenas) do continente
americano, do povo negro nas colônias implantadas no continente africano e
além-mar são mostras disso.
A palavra empatia talvez seja desconhecida de muitas
pessoas, mas, não seu significado, afinal, nossos avós já diziam que "uma
pessoa não pode julgar a outra, sem colocar-se no lugar dela". Este é o
significado de empatia, que numa busca ao dicionário, encontra-se assim
definida: 1. Psicol. Habilidade de imaginar-se no lugar de outra pessoa. 2.
Psicol. Compreensão dos sentimentos, desejos, ideias e ações de outrem. 3,
Qualquer ato de envolvimento emocional em relação a uma pessoa, a um grupo e a
uma cultura. Também há a referência a três características da empatia: 1.
Cognitiva: Entender o ponto de vista do outro; 2. Emocional: Compartilhar os sentimentos
do outro; 3. Compassiva: Perceber que o outro precisa de ajuda e colocar-se à
disposição.
Neste sentido, o escritor estadunidense David Levithan
(1972 - ) publicou uma obra com uma premissa original. No livro "todo dia",
a personagem "A" não tem um nome definido, sequer um gênero definido,
ou ainda, um corpo definido. Todo dia "A" acorda num corpo diferente,
independentemente de sua condição de gênero, etnia, classe social, saúde, etc. Penso
que a personagem "A" pode ser entendida como uma entidade ou, uma
alma/espírito, nessa condição, sente as alegrias e as tristezas inerentes a
cada pessoa cujo corpo ocupa durante 24 horas e, ao dormir acorda em outro
corpo. "A" nunca teve um corpo próprio ou uma família própria e ao
ocupar os corpos de diferentes indivíduos, pode entender as pessoas de uma
forma não possível aos indivíduos comuns, pois, é capaz de verdadeiramente se
colocar no lugar destes. Afinal, ter empatia com os negros, os indígenas, os
pobres, doentes (depressivos), os homossexuais, os que sofrem perseguição
ideológica, étnica ou religiosa, etc. é um esforço de abstração e, apesar das
boas intenções, jamais sentiremos com a intensidade devida o que é "estar
na pele do outro". David Levithan escreveu esta obra primeva, com a qual
auxilia os leitores na reflexão e na prática da empatia. A obra não é perfeita,
o que é perdoável, dada a dificuldade do tema e de como explicar tal poder/dom
da personagem "A" que embora "viva" de forma surreal,
apenas passa a desejar uma forma de vida comum com direito a um corpo, família
e história de vida simples, quando se apaixona por Rhiannon. Esse livro é
direcionado às pessoas jovens e/ou de mentalidade aberta e, principalmente, àquelas
que têm ou procuram desenvolver a empatia. Se não é o seu caso, a leitura desse livro pode lhe trazer
dissabores.
P.S. A
obra foi adaptada para o cinema com o mesmo título. Fica a dica!
Sugestão de boa
leitura:
Título
da obra: todo dia
Autor:
David
Levithan
Editora/Ano:
Galera
Record: 2020, 13ª ed.; 279 p.
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