Várias décadas se passaram e o ideal de Monteiro Lobato, realizado. A despeito do que afirmavam na época autoridades do setor, estrangeiras (cujas motivações hoje sabemos) ou não (cujas motivações supomos), o Brasil está mostrando ao mundo o que recentes relatórios americanos já afirmavam: figuramos entre os países que mais reservas de petróleo encontraram em seus territórios nos últimos anos.
Monteiro Lobato tão amado por nossas crianças também o deveria ser por qualquer pessoa que se julgue patriota, a campanha liderada por ele e que lhe rendeu a seu tempo dores de cabeça com autoridades nem tão patriotas assim, foi o embrião de uma empresa que nos enche de orgulho, com seus recordes de exploração marítima em alta profundidade, pelo desenvolvimento de tecnologia própria e por sua competitividade num ramo extremamente difícil como o é o setor petrolífero.
A Petrobras, empresa que é orgulho dos brasileiros, conhecida e admirada mundialmente, teve que passar por um sem número de obstáculos para chegar a tão sonhada auto-suficiência em petróleo e engana-se quem pensa que tais obstáculos foram criados por países ou empresas estrangeiras, embora estas participassem em alguns momentos. Todos devem lembrar dos constantes acidentes que a Petrobras sofreu e que eram notícia semanal nos meios de comunicação enquanto rolava no país a onda privatista do governo anterior, muitas dessas privatizações foram péssimas para o país a ponto de serem chamadas de privatarias. Afinal, o estado não teria condições de gerir uma empresa que tantos estragos ao meio ambiente causava e que tantos recursos precisava. Questiono-me: tratava-se de má administração? Seria então o caso de aplaudirmos e parabenizarmos a administração atual da empresa? Ou tratava-se de descaso, ou, pior ainda, sabotagens com o objetivo de diminuir a resistência popular à sua total privatização? Estavam preparando a opinião pública para a desestatização da empresa? Se sabotagens ocorreram é algo que nunca saberemos, porém, má administração houve e é possível que não tenha sido despropositada, pois os acidentes como o ocorrido com a plataforma P-36 derrubaram o valor das ações da empresa e arranharam a sua imagem, abrindo caminho para a venda do controle da mesma. Acredito que se a onda privatista não tivesse cessado com a descontinuidade do governo anterior, a Petrobras não seria mais uma empresa de controle estatal e quem hoje reclama do preço da gasolina certamente voltaria a usar a bicicleta.
No governo anterior foi quebrado o monopólio do petróleo, há no país empresas estrangeiras que se apossaram dos estudos (dos lotes mais promissores em petróleo) que a Petrobras desenvolveu a um custo altíssimo por todo o território e que a empresa foi obrigada pelo governo anterior a entregar às mesmas antes de um leilão de lotes para exploração petrolífera, leilão que a própria empresa teve que participar para ter direito à exploração. Ocorre que algumas destas empresas estão extraindo petróleo brasileiro e exportando para outros países e isto de forma legal, não há nada de errado na operação, porém, não contribuem para a auto-suficiência brasileira, pois obtém maiores lucros exportando. E viva a quebra do monopólio! A quebra do monopólio quase rendeu uma CPI, houve denúncias de que empresas estrangeiras do setor petrolífero estavam oferecendo bons “argumentos” a alguns congressistas para o voto sim à quebra do monopólio, mas à esta época o governo tinha maioria e esta e outras CPIs tão necessárias ao sistema democrático acabaram não ocorrendo.
A Petrobras é hoje uma empresa que possui ações no mercado e estas são vendidas tanto na Bolsa de São Paulo quanto em Nova Iorque , dependendo do que ocorre no cenário internacional e nacional as ações se valorizam ou não. A empresa para se manter competitiva necessita de recursos monumentais, a pesquisa, exploração, refino, transporte consomem muitos recursos dos que esta capta. Os lucros da empresa são altos como de fato costumam ser de todas as empresas deste ramo e ela segue preços de mercado para não fazer concorrência desleal às empresas estrangeiras (tudo previsto na quebra do monopólio estatal e aplaudido por alguns políticos e por parte da população). Sendo a Petrobras uma empresa de mercado, que não se espere dela gasolina a centavos o litro, como disse é uma empresa de mercado, não é uma mãe. A era do petróleo deve durar mais 30 ou 40 anos no máximo, enquanto for possível às grandes empresas de energia lucrar com tal combustível, os alternativos serão sempre segundo plano. O Oriente Médio detentor de 60% das reservas sempre às voltas com guerras e intervenções norte-americanas e a futura exaustão das reservas farão com que os preços se tornem sucessivamente mais caros, pensar num cenário futuro de gasolina barata é extremamente utópico.
Além destes fatores citados, a Petrobras tem outro problema, a maior parte do petróleo encontrado no país é um óleo denso, pesado e que é exportado para outros países e importado um óleo leve, do tipo arábico, de mais fácil refino, pois nos últimos 20 anos não houveram investimentos e novas e necessárias refinarias não foram construídas, apenas em 2005 foram acertadas a construção de duas novas refinarias, uma no nordeste ( Pernambuco) e outra no Sudeste (se não estou enganado no Espírito Santo). Acontece que o óleo exportado pela Petrobras é mais barato que o importado. Também devido ao comércio internacional de que o Brasil participa no qual é muito comum se fazer trocas, continuaremos a importar petróleo, porém com a segurança de que em tempos difíceis “seguraremos as pontas” por aqui mesmo.
A recente polêmica envolvendo a Petrobras e a Bolívia nos colocou numa posição incomum, a nacionalização do gás feita por Evo Morales presidente boliviano ante empresas multinacionais (entre elas a Petrobras) e criticada pelos meios de comunicação nacionais. Como brasileiros nos indignamos com a atitude, afinal, sentimos que a Petrobras é um pouquinho de cada um, nela estão investidos parte dos nossos impostos e nos vimos como os investidores do Primeiro Mundo com receio dos rumores políticos dos países terceiro mundistas. Mas a verdade é que se Lula tivesse feito algo semelhante desfazendo algumas das privatarias nocivas ao país o aplaudiríamos! Evo fez o que Lula não teve coragem, talvez até porque se comprometeu em campanha a respeitar contratos. Talvez, devido a uma certa nostalgia, foi ameno, excessivamente diplomático. Como cidadão latino-americano admiro a postura de Evo Morales ao defender os interesses de sua pátria, porém, como brasileiro espero que o presidente Lula tenha uma atitude firme nas negociações visando indenização à Petrobras, pois, no mundo atual, globalizado, deve-se escolher entre ser país globalizado ou globalizante, não há lugar para muita camaradagem. Essa polêmica serviu também para aprendermos que a dependência do gás boliviano não pode perdurar e a Petrobras já trabalha neste sentido com a regaseificação de GLP e com a exploração de algumas de suas reservas em território nacional o que em futuro próximo irá diminuir a nossa dependência em relação à Bolívia que tem todo o direito de ter o seu “o gás é nosso”!
Brasileiro que sou, acredito que toda a conquista do país deve ser comemorada! Muito se criticou a ida ao espaço do astronauta Marcos Pontes por causa do custo de 10 milhões de dólares mas pouco se falou dos mais de 20 bilhões de dólares para pagar as dívidas dos banqueiros que mandaram o dinheiro para o exterior falindo os bancos e prejudicando clientes no governo anterior. Mais importante do que mandar ao espaço um brasileiro é o conhecimento por ele adquirido e que será útil na continuidade do programa espacial brasileiro (leia-se Alcântara), Assim, a auto-suficiência em petróleo deve ser comemorada, porque chega em boa hora.
Em tempo, cerca de 45% do custo de um litro de gasolina é de impostos, países que desoneram de impostos o combustível o têm mais barato.
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