Iniciamos nossa modesta reflexão com uma frase de um artigo anterior (“A educação como alavanca para o conhecimento”) por achá-la muito oportuna: “Vivemos na assim chamada sociedade da informação, muito embora dela façam parte menos que um terço da humanidade, pois a grande maioria da população mundial encontra-se excluída dos avanços tecnológicos cada vez mais céleres da Terceira Revolução Técnico-Científica ora em curso”. A sociedade mundial, essa da onipresença dos meios de comunicação e da toda poderosa globalização ainda o é uma sociedade atrasada e que não conseguiu dar à maioria dos seres humanos o essencial para uma vida digna, entenda-se alimentação e saúde. Que falar então em Educação, quando ainda temos no planeta inúmeros países com ampla maioria de analfabetos? E que falar então da multidão de analfabetos funcionais que a estes se somam devido à precarização e/ou improvisações nos sistemas educacionais públicos visando gastos menores com tal “peso orçamentário” (no entender de alguns políticos) delegado aos Estados?
A Educação não pode ser entendida como gasto, mas como investimento para a melhoria da sociedade local, regional e mundial. Não se trata apenas de construir bases para a qualidade de vida, mas de um alavancamento cultural e civilizacional rumo a uma sociedade mais humana e isso pressupõe um contraponto ao modelo econômico atual, individualizador e despersonalizador do principal agente produtivo, o trabalhador. Não se trata de vestir camisas de “Che Guevara” e sair às ruas fazer protestos, mas trabalhar com a meta da formação do ser humano integral e não mero homo sapiens laborum, peça de reposição barata do sistema.
Afirma-se que a escola está passando por uma crise e que esta decorre da estagnação do processo ensino-aprendizagem, pois segundo dizem: a escola perdeu o encanto e deveria seguir o exemplo dos meios de comunicação, entre os quais a TV e o Computador com acesso à internet. Analisemos primeiramente o caso da TV, se ela por si só bastasse para o sucesso e o tão esperado “encantamento” dos alunos, bastaria tirar os professores da classe e gravar aulas para que os mesmos assistissem, mas a realidade não é esta, pois têm raízes culturais, poucos são os canais de TV que possuem grandes audiências, a maioria deles não consegue sequer alcançar um ponto de audiência. A situação piora quando a programação não está “afinada” com os anseios do público e isto nada tem a ver com qualidade programática.
A Televisão precisa ter uma função social educativa e para isso deve ter sua programação voltada para a formação integral do ser humano, ou seja, após assistir à televisão a pessoa deve adquirir subsídios para se tornar um alguém melhor. E isso ocorre? Sim, mas nos programas que apresentam menor audiência, pois, por uma questão cultural, de forma geral, o povo prefere programas de péssima qualidade, com palavrões, violência, muito sexo e pouca informação útil. A futilidade é receita para o sucesso, afinal para que assistir aos telejornais e ficar sabendo dos problemas do município, estado, país ou do planeta? É muito melhor se isolar na redoma de vidro que a programação da TV possibilita e assistir aos “BBB’s”, Pânico na TV, etc.
A assim chamada crise da Educação nada mais é do que uma crise da sociedade que tem sua origem na crise da família, pois, muitas estão desestruturadas, os pais trabalhando fora não dão a atenção necessária à educação dos filhos criados sem limites e são educados pela Televisão, quando estes chegam à escola esta se torna um palco de embates, afinal busca-se dar limites e bons valores para quem não tem em sua casa limites e cujos valores aprendidos sejam no seio familiar ou ao assistir a TV não são os mais adequados.
Muito se acusa e com razão os meios de comunicação por manipular a população, mas também ocorre o contrário, ou seja, a população também manipula os meios de comunicação, em especial a TV, pois, se o canal de TV não der ao público o que este deseja na programação, certamente não terá audiência e conseqüentemente não terá a sua permanência no ar assegurada. O sucesso de programas como o “BBB” e o “Pânico na TV” é assegurado por excelentes profissionais que conferem à mesma àquilo que o povo quer, ou seja, futilidade, sensualidade, vulgaridade, beleza e nenhum conteúdo. Algum tempo atrás um projeto piloto, ou seja, um ensaio para a realização de um Big Brother em certo país europeu formado por integrantes intelectuais foi abortado, a explicação: as pessoas que assistiram o ensaio acharam muito chato ouvir os intelectuais falando sobre coisas sérias, as quais muitas vezes não as entendiam. Assim, não pretendemos endemonizar a TV, pois há excelentes programas e canais, mas estes não são os de maior audiência, assim, podemos dizer que a escola e os bons programas de TV navegam num barco a remo contra a correnteza, enquanto os BBB’s, Pânicos na TV, etc. navegam com potentes motores de popa em águas favoráveis.
No caso do Computador, não é pequena a parcela da população que o utiliza principalmente para bate-papo, troca de mensagens e busca de sites pornográficos, etc.. Essa poderosa ferramenta para a pesquisa acaba sendo subutilizada, pois mesmo que o fosse utilizada de forma adequada, é preciso fazer análises e sistematizar a informação mentalmente para haver crescimento cognitivo e muitas pessoas simplesmente não sabem como buscar e menos ainda trabalhar com a informação.
No entanto, a TV e o computador são poderosos instrumentos e que podem ser ainda mais incorporados na prática escolar do professor em classe, mas com a consciência que jamais darão aos alunos o encanto que eles encontram nos programas de baixa qualidade, pois em educação se trabalha com conhecimento útil e bons valores, exatamente o contrário daquilo que faz brilhar seus olhos na programação televisiva. Encanto mesmo em sala de aula quem faz é o bom professor, algumas vezes apenas com “quadro de giz e cuspe”!
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