quinta-feira, 29 de dezembro de 2016
Licença para morrer – parte 2
O governo fixou a idade mínima em 65 anos para homens, e, para as mulheres que perdem sua aposentadoria especial por dupla jornada de trabalho. O Governo recuou e irá manter o piso da aposentadoria vinculada aos reajustes do salário mínimo, mas, não os benefícios cujos reajustes serão diferenciados e a menor. As pensões serão de 50% para o/a cônjuge e mais 10% por filho (a) menor de 21 anos desde que o/a cônjuge não receba aposentadoria própria, ou terá que fazer a opção por uma. Também perdem a aposentadoria especial os professores que precisam dedicar parte de sua juventude para os estudos preparatórios (curso superior, especialização, mestrado, doutorado) ao exercício da futura profissão. Dessa forma, para cumprir os 49 anos de contribuição necessários para obter a integralidade da aposentadoria, tais profissionais serão penalizados e se aposentarão apenas aos 75 anos (aposentadoria compulsória), pois, estudaram quando deveriam trabalhar. Para a obtenção da integralidade e se aposentar aos 65 anos, é necessário começar a trabalhar com registro e sem interrupções desde os 16 anos. No entanto, o governo deixou os militares fora da reforma, justamente o grupo que menos contribui e que mais desequilíbrio causa à previdência. O motivo segundo Temer é evitar desgastes. Penso que o verdadeiro motivo seja não contrariar o grupo cujo apoio necessita na qualidade de governante ilegítimo.
O absurdo da reforma trabalhista de Temer é que a expectativa de vida do brasileiro é de 75,5 anos (mulheres: 79 anos e homens 72 anos). No entanto, o Brasil apresenta grande desigualdade nesse quesito. A região Sul 77, 8 anos; a região Sudeste 77,5 anos; a região Centro-oeste 75 anos; A região Nordeste 73 anos e a região Norte 72,2 anos. Santa Catarina é o estado com maior expectativa de vida (79 anos) e o Maranhão com a mais baixa (70,6 anos). É importante lembrar que a expectativa de vida é um cálculo médio, e, enquanto alguns indivíduos superarão essa idade, outros morrerão muito antes. Nos estados do Maranhão e de Alagoas, 60% dos óbitos registrados em 2014, foram de pessoas que não chegaram aos 70 anos de idade. No bloco da OCDE que conta com as nações mais desenvolvidas do planeta, a idade média para aposentadoria é também de 65 anos, porém, a expectativa de vida nestes países é mais elevada. No Japão, esta chega aos 84 anos, mas, a idade mínima para aposentadoria que se eleva quatro meses por ano, somente em 2025 será de 65 anos de idade. Além disso, o cálculo HALE, que determina quantos anos de sobrevida após a aposentadoria com saúde e bem-estar (e antes de ser acometidas por doenças graves) as pessoas de cada país terão, demonstra que, tomada a idade mínima de 65 anos, os japoneses terão 12 anos e os brasileiros seis meses.
O aumento do tempo de permanência do trabalhador no mercado de trabalho obrigatoriamente exigirá a criação de um número muito superior de vagas que nossa economia em raros períodos foi capaz de gerar, então, não é necessário ser um gênio para perceber que o número de desempregados se elevará muito. Por outro lado, as pessoas que tiverem interrupções nos seus contratos de trabalho jamais conseguirão obter a integralidade do valor de seus aposentos. E isso, não é algo impensado, pelo contrário, é uma tungagem planejada. Marx, já afirmava que o aumento do “exército de mão-de-obra de reserva” força o valor da “mercadoria trabalho” para baixo, o que empobrece todos os trabalhadores da ativa e enriquece os capitalistas. E isso não é algo que escapa à compreensão dos capitalistas e burocratas, e, não se engane caro leitor, o mesmo empresário que defende que o trabalhador somente se aposente aos 70 anos ou mais, é aquele que demite seu funcionário aos 50 anos de idade por estar “velho”, e contrata em seu lugar, um jovem.
Os defensores da reforma da previdência contra-atacam afirmando que a expectativa de vida não é o fator mais importante a ser levado em conta, pois, segundo eles a sobrevida dos brasileiros que conseguem se aposentar é de 18,3 anos (sem levar em conta a qualidade de vida dos aposentados e os que morrem antes de alcançar a aposentadoria). Essa linha de raciocínio apenas demonstra que o governo e seus defensores apenas se preocupam com o número dos trabalhadores que conseguem sobreviver à exaustão do mercado de trabalho e se habilitam à aposentadoria e seu tempo de sobrevida. Ambos têm a compreensão de que o número de pessoas que não conseguirão se aposentar antes de morrer com a nova proposta de reforma será cada vez maior e por isso acenam com a tungagem nas pensões reduzidas a 50%. Existem cálculos feitos por cientistas atuariais que demonstram que os trabalhadores contribuirão com valores imensamente superiores aos que receberão quando aposentados, isto, se conseguirem alcançar a aposentadoria, o que demonstra que a nova proposta é um roubo legalizado.
Para Temer e seus asseclas golpistas, trabalhadores não são cidadãos que mereçam ser recompensados com a aposentadoria ainda com saúde, por terem doado a melhor parte de suas vidas em benefício do país, pois, os consideram iguais as engrenagens de máquinas que ao final de seu ciclo útil são descartadas nos depósitos de ferro-velho. Aos trabalhadores, convertidos em abelhas operárias, o destino parece ser trabalhar a vida toda, e, ao pressentir o vento gelado da morte, sair do serviço para não dar trabalho aos colegas.
quinta-feira, 22 de dezembro de 2016
Licença para morrer – parte 1
No tempo em que vivi no campo, várias vezes observei abelhas operárias caírem ao chão durante o voo e movido pela curiosidade, ao chegar até elas constatava estarem mortas. Anos mais tarde, já na universidade, pude entender melhor a organização das colmeias e os diferentes papéis dos indivíduos que a compõem ao cursar disciplinas como biogeografia e zoologia. Lembro que entre outras coisas interessantes, soube que a abelha operária anciã sabedora da proximidade do fim de sua vida se retira da colmeia para morrer distante dela, e assim, não dar trabalho às demais quanto à limpeza. O ano de 2016 tem sido péssimo para os brasileiros que defendem a democracia e o combate às injustiças sociais, sendo assim, a costumeira retrospectiva do ano por parte da programação de várias emissoras de TV deveria ser dispensada. Os que se encontram felizes, são os fascistas, medíocres e egoístas que bem sabemos, existem em qualquer sociedade. O pior é observar que dentre os brasileiros que estão perdendo direitos historicamente conquistados, muitos bateram panelas ou apoiaram o golpe de Estado midiático-jurídico-parlamentar levado a cabo neste ano pondo fim à jovem democracia nascida após o fim da ditadura militar em 1985. Tanto os patrocinadores quanto os apoiadores do golpe civil-militar de 1964 novamente ocuparam suas posições combatendo ostensivamente o governo democraticamente eleito, afinal, como é regra, a direita é avessa à democracia como a história fartamente demonstra, pois, todos os golpes de Estado e todas as ditaduras subsequentes se realizaram pela via da direita. Dessa forma, é a direita e não a esquerda a causadora de todo o atraso social, pois, fez deste país, um dos mais injustos do mundo no que tange a distribuição da renda.
O governo ilegítimo de Temer e seus asseclas envergonham qualquer brasileiro (que ainda tenha a capacidade de ruborizar a face) pela simples presença de tão nefastos políticos à frente do país aos olhos do mundo. Isto, sem falar na incompetência de sua gestão que aprofundou a crise econômica e aumentou o déficit fiscal, e, apesar disso distribui benesses para seus apaniguados. O governo anula dívidas ou concede descontos generosos aos grandes devedores da União ou dilata o prazo de pagamento de quem não se portou bem perante o fisco, e, como o dinheiro devido pelos “amigos” de classe falta na hora do fechamento das contas, corta investimentos sociais e direitos historicamente adquiridos. JK teve como lema de governo “50 anos em 5”, ou seja, pretendia fazer o país avançar cinquenta anos em apenas um mandato de cinco anos. Temer, o usurpador, o superou, com seis meses de governo, o país está regredindo mais de setenta anos, ou seja, ao período anterior a Getúlio Vargas cujo governo teve como marcas o nacionalismo e a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Várias das medidas adotadas pelo governo Temer e apoiadas por seus comparsas do Congresso Nacional são lesivas aos interesses nacionais, pois, visam unicamente beneficiar a plutocracia vigente.
Dentre as inúmeras farsas transformadas em verdades absolutas pela Grande Mídia de Massa internacionalmente reconhecida por sua ação tal qual a de um partido político de oposição aos governos progressistas de Lula e Dilma, (os quais, apesar dos muitos erros cometidos) foram os que mais fizeram pela população pobre deste país, está a de que a Previdência Social apresenta um rombo que inviabiliza a própria gestão do governo federal. A professora Denise Gentil do Instituto de Economia da UFRJ comprovou com dados oficiais que a Previdência Social é superavitária e não possui rombo algum. A metodologia desenvolvida para o suprimento da receita necessária ao pagamento dos benefícios foi criada com a parcela de desconto que cabe aos trabalhadores, a contrapartida patronal/governamental e a receita de impostos como COFINS, CSLL, PIS/PASEP, etc. O governo de forma desonesta considera apenas os valores oriundos da arrecadação via trabalhador e empresarial, objetivando se apossar (como é de hábito) de receitas que tem uma finalidade específica e utilizá-la a seu bel prazer. A sonegação fiscal, se combatida, poderia livrar o país do aperto pelo qual passa, mas, Temer não tem estatura para governar em prol do interesse nacional, governa, então em favor de uma elite arcaica, egoísta e cruel, assim, mancomunados ferem de morte a democracia, para preservar privilégios imorais e ilegais em detrimento do desenvolvimento nacional e do bem-estar da população trabalhadora.
sábado, 17 de dezembro de 2016
A Mata Hari de Fidel
Mata Hari (Margaretha Gertruida Zelle) foi uma dançarina exótica dos Países Baixos que teve vários amantes, a maioria militares e políticos. Foi levada a julgamento na França acusada de espionagem como agente dupla em favor da França e da Alemanha. Condenada, foi executada por fuzilamento em 15 de Outubro de 1917. Dentre as várias lendas que se criaram sobre ela, conta-se que os executores tiveram que ser vendados para não sucumbir ao seu charme e também que ela teria jogado um beijo para os executores e se despido sendo fuzilada totalmente nua. Os historiadores nunca conseguiram esclarecer se ela foi realmente uma espiã, talvez tenha sido uma mulher atraente que usou do sexo para obter favores junto aos homens mais poderosos de seu tempo e assim unicamente sobreviver. Sua história virou tema de livros e filmes.
Ilona Marita Lorenz ficou conhecida como a Mata Hari do Caribe, ou se preferir de Fidel Castro. Filha de mãe estadunidense e pai alemão. Morava em Bremen na Alemanha, o pai comandante de navios raramente permanecia muito tempo com a família. A mãe Alice atuou como espiã a serviço dos Estados Unidos. Ilona tinha esse nome em homenagem à irmã gêmea que morreu em virtude de ataque de um cão policial à sua mãe, o que forçou o parto prematuro. Durante a Segunda Guerra Mundial sua mãe foi obrigada a entregar seu irmão mais velho para ser treinado como combatente nas tropas nazistas para poder continuar recebendo o auxílio-alimentação que permitia à família sobreviver. Nessa época, Alice teve que apagar o incêndio resultante de bombardeio aliado que ameaçava consumir sua casa. Também, ajudou militares aliados, escondendo-os ou fornecendo aquilo que precisavam, acabou presa, e, juntamente com Marita foi parar no campo de concentração de Bergen-Belsen conhecendo os horrores característicos daquele ambiente. Ilona dormia abraçada a outras crianças (algumas vezes estas morriam durante a noite) no alojamento destinado às crianças. Ao terminar a guerra foram libertadas, porém, Marita aos sete anos de idade, ao visitar uma amiga sua na vizinhança, foi estuprada pelo pai desta (um sargento dos Estados Unidos da América) que acabou preso por esse e outros fatos semelhantes, inclusive com sua própria filha de quatro anos de idade.
Ilona não era estudante dedicada e abandonou os estudos. Passou a viajar de navio com seu pai, não raras vezes, o fez de forma clandestina em que se apresentava ao pai em alto mar, pois, sabia que este não teria como retornar para deixá-la em terra. No início de 1959, logo após o triunfo da Revolução Cubana, a bordo do navio de passageiros “Berlim” comandado por seu pai em passagem por Cuba recebeu a visita de Fidel Castro e alguns revolucionários. E ali mesmo no navio, Fidel Castro começou a flertar com ela, e mais tarde, mandou um avião buscá-la nos Estados Unidos para morar com ele na ilha. Engravidou de Fidel e num episódio obscuro seu filho teria sido retirado num parto induzido (Fidel lhe falava sempre que filhos de pais cubanos “são filhos de Cuba”). Somente conheceu o filho quando este contava vinte anos de idade. Nos EUA foi treinada para matar Fidel Castro com cápsulas envenenadas que deveria colocar em sua bebida ou alimento, fracassou, pois, ainda o amava. Vivendo nos Estados Unidos fez vários trabalhos de espionagem para a CIA e para o FBI. Tal como Mata Hari, atraente, adorava seduzir os homens, afirmava que apenas os usava para obter prazer e caía fora. Teve inúmeros amantes (militares, políticos, espiões e chefões da máfia), sabia que estes apenas a usavam e isso não a incomodava. Como amante, teve uma filha com o ditador venezuelano Marcos Pérez Jimenez. Trabalhou com pessoas que se tornaram personagens centrais da história e que se envolveram em casos como Watergate que ocasionou a queda de Richard Nixon e Lee Harvey Oswald a quem chamavam de “Ozzie” suspeito de ser o assassino de John Fitzgerald Kennedy em Dallas (1963).
Ganhou algum dinheiro, porém, nunca soube administrá-lo, e enquanto seus colegas que sobreviveram à “queima de arquivos” por saber demais (ela própria foi alvo de alguns atentados), se aposentaram com alguma segurança, Marita chegou à velhice com dificuldades financeiras para conseguir a mera sobrevivência. Em um aposento minúsculo, sozinha, passa os dias assistindo TV. Sua história virou tema de livros e filmes.
Sugestão de boa leitura:
Eu fui a espiã que amou o comandante. Marita Lorenz. Ed. Planeta. 2015.
quinta-feira, 8 de dezembro de 2016
Fidel Castro, por Eduardo Galeano!
Texto do saudoso intelectual uruguaio Eduardo Galeano publicado pelo Blog do Gusmão em homenagem ao Comandante Fidel Alejandro Castro Ruz (líder da Revolução Cubana) que faleceu nessa sexta-feira, 25 de novembro de 2016, em Havana. O texto é de 2008 e foi copiado da fanpage do MST no facebook. Sem tirar, nem pôr, a reflexão proposta por Eduardo Galeano representa a opinião do blog do Gusmão (e também do blog A Vista de Meu Ponto!) sobre o líder revolucionário.
Fidel Castro, por Eduardo Galeano.
“Seus inimigos dizem que foi rei sem coroa e que confundia a unidade com a unanimidade.
E nisso seus inimigos têm razão.
Seus inimigos dizem que, se Napoleão tivesse tido um jornal como o Granma, nenhum francês ficaria sabendo do desastre de Waterloo.
E nisso seus inimigos têm razão.
Seus inimigos dizem que exerceu o poder falando muito e escutando pouco, porque estava mais acostumado aos ecos que às vozes.
E nisso seus inimigos têm razão.
Mas seus inimigos não dizem que não foi para posar para a História que abriu o peito para as balas quando veio a invasão, que enfrentou os furacões de igual para igual, de furacão a furacão, que sobreviveu a 637 atentados, que sua contagiosa energia foi decisiva para transformar uma colônia em pátria e que não foi por feitiço de mandinga nem por milagre de Deus que essa nova pátria conseguiu sobreviver a dez presidentes dos Estados Unidos, que já estavam com o guardanapo no pescoço para almoçá-la de faca e garfo.
E seus inimigos não dizem que Cuba é um raro país que não compete na Copa Mundial do Capacho.
E não dizem que essa revolução, crescida no castigo, é o que pôde ser e não o que quis ser. Nem dizem que em grande medida o muro entre o desejo e a realidade foi se fazendo mais alto e mais largo graças ao bloqueio imperial, que afogou o desenvolvimento da democracia a la cubana, obrigou a militarização da sociedade e outorgou à burocracia, que para cada solução tem um problema, os argumentos que necessitava para se justificar e se perpetuar.
E não dizem que apesar de todos os pesares, apesar das agressões de fora e das arbitrariedades de dentro, essa ilha sofrida, mas obstinadamente alegre gerou a sociedade latino-americana menos injusta.
E seus inimigos não dizem que essa façanha foi obra do sacrifício do seu povo, mas também foi obra da pertinaz vontade e do antiquado sentido de honra desse cavalheiro que sempre se bateu pelos perdedores, como um certo D. Quixote, seu famoso colega dos campos de Castela.
(GALEANO, Eduardo. Espelhos. Porto Alegre, RS: L&PM, 2008)
FONTE: http://www.blogdogusmao.com.br/v1/2016/11/26/fidel-castro-por-eduardo-galeano/- acesso em 06 de dezembro de 2016.
sexta-feira, 2 de dezembro de 2016
A grande degeneração do mundo ocidental!
Niall Ferguson é um renomado historiador inglês. É dele o livro “a grande degeneração”, obra na qual discorre sobre a decadência do mundo ocidental. É importante que eu diga que não concordo plenamente com o autor que em sua análise do papel do Estado utiliza uma concepção neoliberal. Mas, a obra nem por isso deve ser desconsiderada, tendo em vista que Ferguson traz importantes questionamentos e apontamentos acerca da degenerescência atual da civilização ocidental. O historiador inglês sustenta sua tese ao abordar aquilo que chamou de “as quatro caixas pretas” da civilização ocidental: a democracia, o capitalismo, o Estado de direito e a sociedade civil.
Na obra, Ferguson discorre acerca do estado estacionário em que se encontram as economias ocidentais, cujo PIB imóvel assiste o galope da China, um país do Oriente. O autor lembra que Adam Smith fez uma análise no século XVIII sobre o estado estacionário chinês comparando sua falta de crescimento com o ocidente que navegava com vento em popa. O autor afirma que se Adam Smith hoje vivesse, veria que os ventos da história passaram a soprar em outra direção. Cita a desalavancagem, ou seja, a iniciativa de redução das dívidas públicas que tende a ser um fator inibidor do crescimento econômico, pois, os Estados buscam acumular superávits primários e reduzem seus investimentos na infraestrutura e também nas áreas sociais. A geração atual paga pelos arroubos da geração passada e a geração futura fica com as duplicatas a serem pagas pelos desvarios de nossos governantes atuais. Nos estados estacionários, os assalariados são chamados a pagar a conta dos excessos da jogatina do mercado financeiro por meio da redução do poder aquisitivo de seus salários com o objetivo de preservar os lucros do patronato e manter a competitividade das empresas.
Niall reclama da rigidez dos organismos reguladores cujos processos retardam a colocação no mercado de novos produtos e inovações, mas, concorda que certo grau de regulação é necessário para que tragédias não sejam efetivadas como a colocação no mercado de produtos maléficos à saúde humana. Na obra também discorre sobre o envelhecimento da população ocidental com a baixa taxa de fertilidade resultante da opção de muitos casais por não terem filhos ou ter apenas um. A não renovação da população traz o problema da falta de mão-de-obra para o mercado de trabalho e uma difícil equação para a Previdência Social em que um número decrescente de trabalhadores contribui para o financiamento de um número crescente de aposentados. O autor também relata o comportamento anti-social da sociedade ocidental, que, em seu ver está cada vez mais doente e imbecilizada com a perda dos valores culturais e religiosos. O autor tem posicionamento contrário ao Estado de bem-estar social e afirma que a sociedade espera que o Estado resolva tudo quando deveria ela agir, seja, ajudando na preservação do meio ambiente, na limpeza pública ou na assistência às pessoas pobres da sociedade. Relata ainda que o desconhecimento ou ignorância acerca da essência das questões fundamentais de nosso tempo leva muitas pessoas imbuídas da ilusão do conhecimento trocar insultos e pensar que com isso estão realizando um debate.
O historiador inglês reconhece que o liberalismo econômico é atualmente uma marca denegrida e que Francis Fukuyama errou quando escreveu a obra “O fim da história” em que apontava a vitória definitiva do capitalismo sobre o socialismo. Ferguson reconhece também que o capitalismo neoliberal implantado no mundo a partir de Washington (Ronald Reagan) e Londres (Margareth Thatcher) aprofundou o fosso das desigualdades sociais ao concentrar excessivamente a renda nas mãos dos 10% mais ricos da sociedade pauperizando ainda mais os miseráveis. Afirma que a discussão sobre as causas desse fenômeno costumam apontar: a globalização econômica, as mudanças tecnológicas, a falta de investimentos em uma educação pública de qualidade e a política fiscal.
Ferguson afirma que o Estado de direito está sendo substituído por um Estado de juristas cuja relativização da interpretação das leis por magistrados (que agem com seletividade) causa grande insegurança jurídica, pois, estes deveriam unicamente aplicar o direito. Relata que parte significativa dos membros dos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário dos estados ocidentais está imiscuída no que há de mais podre na sociedade.
Sugestão de boa leitura:
A grande degeneração. Niall Ferguson. Ed. Planeta, 2012.
quinta-feira, 24 de novembro de 2016
Jornalismo chapa-branca ou de secos e molhados!
É impressionante e deprimente como a grande mídia trata mal o jornalismo em nosso país. Isso é algo que ficou evidente durante o processo de Impeachment contra Dilma Rousseff quando a atenção internacional se voltou para o Brasil e grandes meios de comunicação estrangeiros perceberam que precisavam colocar correspondentes no país, pois, a grande mídia nacional não constituía fonte confiável para obter as informações necessárias para bem informar a população de seus países sobre o que ocorria nestas terras. A grosseira manipulação da opinião pública por meio da distorção e deturpação das notícias publicadas por gigantescas empresas de comunicação constituiu uma poderosa ferramenta a serviço do golpe e da interrupção da democracia em nosso país. Vivemos num estado de exceção e como é comum nesses períodos, a plutocracia e a mídia reacionária irmanadas no golpe pretendem conquistar a hegemonia do discurso. O governo golpista busca a aceitação tácita da população e a grande mídia deseja colher os frutos resultantes de seu “trabalho” prestado em favor dos golpistas e em desserviço à nação.
Durante os governos de Lula e Dilma, a publicidade do governo federal foi realizada por meio de um processo de relativa desconcentração de veículos midiáticos. O governo buscava interiorizar a publicidade governamental e isso favoreceu pequenas e médias empresas de comunicação situadas no interior do país que a receberam. Nos governos anteriores, principalmente na gestão FHC, poucos veículos de comunicação, notadamente os maiores e mais poderosos abocanhavam quase toda a publicidade do governo federal. É interessante observar que essa política dos governos petistas não foi bem recebida pelos mais poderosos meios de comunicação que não pouparam esforços para desestabilizar o governo perante a sociedade, mesmo que para isso os jornalistas chegassem ao ponto de metaforicamente rasgar seus diplomas ao esquecer a teoria aprendida nos bancos universitários sobre o bom jornalismo.
Ao assumir a presidência do Brasil, Michel Temer o fez marcado pela ilegitimidade de um processo que manchou ainda mais o país perante as nações democráticas do mundo. O Congresso Nacional manobrou, manipulou e desobedeceu a Constituição Federal ao levar adiante um processo que deveria ter sido sustado por não conter provas de culpabilidade contra a Presidenta. O Supremo Tribunal Federal ao permitir e avalizar o golpismo travestido de Impeachment “rasgou” a Constituição Federal e legitimou o governo plutocrata ao extinguir o Estado de Direito e colocar em seu lugar, o Estado de Juristas, cuja prática do “decisionismo” com suas interpretações bipolares da lei de acordo com o momento e as cores partidárias envolvidas jogou o país numa nova e triste realidade, a da insegurança jurídica.
A revista Carta Capital em seu artigo “O golpe será televisionado” (de 26/10/2016) destaca a reconcentração das verbas publicitárias por meio do aumento dos valores percentuais destinados aos mais poderosos grupos de comunicação nacionais e que são justamente aqueles que mais batiam/batem em Lula e Dilma. Tais grupos passaram a amenizar as críticas ao momento de crise econômica pela qual passa o país dando a impressão que a crise acabou, quando na verdade ela está se aprofundando. As notícias desfavoráveis ao governo são tanto quanto possível, evitadas, e há um esforço em dar notícias “neutras” ou positivas ao governo ilegítimo. Há uma frase bastante emblemática de Millor Fernandes: “jornalismo é de oposição, o resto é armazém de secos e molhados”. Ricardo Noblat, um dos figurões do jornalismo nacional citou essa frase ao justificar seus artigos em oposição aos governos petistas. No programa Roda Viva cujo entrevistado foi Temer, o referido jornalista por sua ação evidenciou a posição da grande mídia golpista que se tornou chapa-branca, ou se preferir, um grande “armazém de secos e molhados” ao fazer com Temer um programa que segundo os críticos mais parecia uma conversa de amigos leais num churrasco. O ativista estadunidense pelos direitos dos negros Malcom X fez uma declaração que deve ser objeto da reflexão de todos e com ela encerro este artigo: “A imprensa é tão poderosa no seu papel de construção de imagem que pode fazer um criminoso parecer que ele é a vítima e fazer a vítima parecer que ela é a criminosa. Esta é a imprensa, uma imprensa irresponsável. Se você não for cuidadoso, os jornais farão você odiar as pessoas que estão sendo oprimidas e amar as pessoas que estão fazendo a opressão”.
quinta-feira, 17 de novembro de 2016
A classe média brasileira na luta pela manutenção do status quo!
No momento atual não são poucos ideólogos que tentam passar a ideia (que nada tem de ingênua) de que as ideologias deixaram de existir com a queda do Muro de Berlim (infelizmente, para o lado errado) e o fim do Mundo Socialista. Porém, não sou nascido na era pós-moderna e abomino a ideologia que a sustenta. Entendo que a sociedade ontem, hoje, e sempre, será o resultado da luta de classes, e que não ter consciência disso apenas amplia a larga vantagem daqueles que defendem uma sociedade desigual visando manter os privilégios concedidos à minoria que representam. Privilégios que são frutos do suor da classe trabalhadora e dela obtidos por meio de fórceps, ou se preferir da apropriação de mais-valia.
O Brasil é um país em que o Poder sempre foi monopolizado pela direita desde 1500 por ocasião da invasão portuguesa ao território até então pertencente aos indígenas, e, desde então o Brasil foi construído pela elite e para a elite como uma legítima sesmaria repassada hereditariamente do Senhor de escravos, para os Sinhozinhos e Sinhazinhas (seus descendentes). Esse fato é observado ao se analisar historicamente a repetição dos sobrenomes de políticos nas casas legislativas estaduais e federais e também aqueles concernentes às grandes fortunas empresariais, pois, a “meritocracia parece funcionar melhor com os indivíduos nascidos em berço de ouro que tendem a permanecerem ricos ou avançarem mais na escala social tornando-se até mesmo bilionários”. Parte do sucesso meritocrático dos Sinhozinhos e Sinhazinhas está no sistema político e econômico nacional cujos governantes em sua quase totalidade governaram para preservar e ampliar os privilégios da elite à custa do sacrifício dos trabalhadores e, isso ocorre por meio de renúncias fiscais e reduções de impostos para os mais ricos e a adoção de tributação regressiva (que penaliza os mais pobres) o que deu origem a um “gigante” cuja economia figura entre as dez maiores do planeta, mas, cujo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e Índice de Gini (que mede a desigualdade social) o põe com os “pés” cimentados entre os países mais atrasados do planeta no que concerne à qualidade de vida de sua população haja vista a miséria que assola seu povo e a imensa desigualdade social que constitui um abismo imensurável entre os rendimentos dos mais pobres e dos mais ricos.
Nenhum país cuja desigualdade social seja extremada pode-se proclamar uma democracia, o conceito de democracia não se encerra com o fato de seu povo poder participar de eleições periódicas e de seu voto não ser cassado ilegalmente (aqui nem isso). A mobilidade social é importante e embora esta venha sendo reduzida quase no mundo todo como um dos múltiplos efeitos colaterais do neoliberalismo, nos governos progressistas de Lula e Dilma houve uma pequena melhoria, porém, isso foi o bastante para enraivecer parte da sociedade formada por Senhores da Casa Grande, Sinhozinhos e Sinhazinhas e principalmente feitores de escravos (a pequena burguesia) e escravos de confiança (os trabalhadores alienados) que trabalharam com afinco em apoio à concretização do golpe cujo presidente ilegítimo (Temer) adota medidas que aprofundarão a desigualdade social para o aplauso de pessoas pouco inteligentes e sem valores humanitários. É importante que se diga que a classe média não empobreceu nos governos petistas, mas, a sensação de que a distância em relação aos mais pobres encurtou ao vê-los nos aeroportos, frequentando shoppings, financiando automóveis, etc. foi o suficiente para encolerizá-la e ver nisto perda de status social, pois, não lhe basta que viva confortavelmente, a miséria dos demais é necessária para que se sinta especial. Parece-lhe que o prato vazio dos pobres torna seu alimento mais saboroso. Parece exagero, mas, não é! A essência da maldade humana costuma se travestir no falso discurso da meritocracia!
quinta-feira, 10 de novembro de 2016
Um país inteiro para as Excelências e as mordomias!
Claudia Wallin escreveu um livro intitulado “Um país sem excelências e mordomias” que deveria ser leitura obrigatória de cada brasileiro, obra capaz de ruborizar a face de todas as pessoas dignas deste país, falo daquelas que ainda apresentam o rubor facial da vergonha, característica atualmente tão rara a grande parte da classe dirigente do Brasil, especialmente nestes tempos sombrios que vivemos definidos pelo intelectual português Boaventura de Souza Santos como um momento de baixíssima intensidade democrática. Penso que o famoso escritor português foi generoso, pois, um Estado com baixíssima intensidade democrática o Brasil se apresentava antes de 2014, porém, com a quarta derrota consecutiva, a Casa-Grande (a grande burguesia nacional e internacional) apoiada pelos sempre fiéis feitores de escravos (a baixa burguesia) e os escravos de confiança (os trabalhadores alienados) iniciaram um golpe que deu fim à insipiente democracia existente no país e fez do Brasil uma República das Bananas.
Após o golpe de 2016, que alguns escritores coxinhas tentam em vão dizer que foi constitucional, apelando apenas para o fato de que a Constituição Federal prevê o Impeachment, mas, nada dizem quanto ao fato de que esta também afirma que o Impeachment somente deve ocorrer com a comprovação de crime praticado pelo (a) Presidente (a) e isto jamais se comprovou e gravações mostraram que as razões para se fazer o Impeachment/golpe era para salvaguardar o grupo criminoso contra a Operação Lava-Jato. Com o golpe, o Brasil abandonou o protagonismo que vinha tendo ao lado do BRICS, da UNASUL, do G-20, das relações Sul-Sul para voltar a ser aquele primo pobre, indesejável e pidão que os Estados Unidos e demais potências do G-7 se acostumaram a ignorar. É que embora os Estados Unidos digam defender a democracia, preferem uma ditadura amiga em países estratégicos do que uma democracia soberana e independente que não se curve às suas vontades e caprichos. O país está quebrado, dizem os golpistas, e, no entanto o supremo mandatário concedeu 41,5% de reajuste (somente em 2016) aos Magistrados cujos salários anabolizados e turbinados com adicionais eleva-os além do teto salarial constitucional, (numa manobra considerada legal, pois, este é o país do “jeitinho”) fazendo corar de vergonha os magistrados suecos, que não possuem carros oficiais e nem motoristas particulares, nem auxílios-moradia, etc. ou qualquer outro tipo de privilégio e seus salários tal qual os dos políticos são pouco acima daquele recebido por um professor.
Na Suécia, Deputados regionais (equivalente aos nossos Deputados Estaduais) recebem apenas ajuda de custo e, de forma geral, os parlamentares não possuem assessores particulares, estes são fornecidos pelos partidos políticos e cada assessor presta auxílio a três ou quatro parlamentares da legenda. Dessa forma, cada parlamentar organiza sua agenda, prepara os seus discursos e reserva suas passagens para os eventos oficiais sempre tendo o cuidado de utilizar o meio de transporte mais barato para não onerar o Estado. Os parlamentares suecos não aumentam o próprio salário como fazem os parlamentares brasileiros que há muito perderam a vergonha e o fazem até em momentos de corte de investimentos para a Educação, a Saúde, a Assistência Social em atitude de total escárnio com a sociedade. Em Estocolmo é fato comum encontrar parlamentares e magistrados indo para o trabalho ou para casa por meio do transporte coletivo. Houve até o caso de um Ministro milionário que adquiriu uma mansão e teve que pedir demissão por isso, pois, embora a aquisição da casa se fizesse com recursos comprovadamente próprios, a população escandalizada não se julgou representada por um político que não vivesse com o estilo de vida da maioria da população. Na Suécia, a política não é considerada um lugar para se fazer fortunas e nem viver nababescamente inversamente ao Brasil. Outro caso relatado no livro foi de uma Ministra que precisou pedir demissão do cargo, porque a imprensa descobriu e divulgou que ela não havia feito o registro trabalhista formal de sua babá e outra sofreu sério processo judicial que atrapalhou sua carreira política porque comprou um chocolate com dinheiro público. Enfim, a Suécia é do outro lado do mundo, mas, não é em outro mundo, saber que ela existe nos anima a acreditar, e lutar, para que a decência no trato da coisa pública ocorra também aqui, nestes até o momento “tristes trópicos”!
Sugestão de boa leitura:
Um país sem excelências e mordomias. Claudia Wallin. Geração Editorial, 2014.
sexta-feira, 4 de novembro de 2016
A ascensão do resto!
O cientista político Fareed Zakaria nasceu em 1964 na Índia, estudou em Yale e doutorou-se em Ciência Política em Harvard. Na orelha de sua obra “O mundo pós-americano” consta que é editor da Newsweek International e que nesta revista mantém uma coluna semanal sobre assuntos internacionais, além de ter um programa da Rede CNN de Televisão. Zakaria seguiu os passos de vários de seus conterrâneos, pois, na Índia como em vários países do mundo subdesenvolvido, a “fuga de cérebros”, ou seja, a ida de jovens promissores dos países pobres para estudar em importantes instituições do mundo desenvolvido, especialmente nos Estados Unidos, e dentre estes, os mais talentosos acabam recrutados a permanecer e desta forma contribuir para o engrandecimento daquela nação que chama a atenção mundial, por vezes, pelo que há de mais odioso e repugnante, noutras, pelo brilhantismo inovador. Zakaria nasceu no país, cuja população à exceção da estadunidense é que mais admira o país iankee. Em nenhum outro país os ideais estadunidenses impostos pelo Big Brother Sam foram tão bem recebidos e assimilados. O sonho de grande parte dos jovens indianos é conseguir uma bolsa de estudos numa grande e famosa instituição estadunidense de Ensino Superior para fazer a graduação ou a pós-graduação. A maior parcela destes jovens retorna à Índia e aplica os conhecimentos adquiridos em benefício do país que juntamente com o Brasil, a Rússia, a China e a África do Sul formam o grupo de países emergentes conhecidos como BRICS.
Apesar do título “O mundo pós-americano”, Zakaria, logo na primeira linha à página 11, esclarece: “este livro não é sobre o declínio dos Estados Unidos da América, mas, sobre a ascensão de todos os outros países”. E em toda a obra o autor, apesar de indiano de nascimento demonstra grande assimilação da cultura e modo de pensar estadunidense e, por vezes, tem-se a impressão de que pensa e escreve como um indiano, noutras, como um estadunidense de nascimento. Como exemplo, e fortemente discordando de sua opinião, Fareed menospreza o poder bélico da China, talvez, pela dupla influência cultural indo-estadunidense ao afirmar que a China não teria poder suficiente para bombardear com artefatos nucleares mais do que a costa estadunidense e que o país asiático teria apenas cerca de 50 mísseis nucleares, esquecendo-se que a China já colocou um astronauta no espaço e que possui submarinos nucleares nas proximidades daquela potência que dispensam os mísseis de longo alcance, porém, mesmo estes, são estimados pelos especialistas em geopolítica em um número entre mil e dois mil mísseis armados com ogivas nucleares de alto poder, quantidade suficiente para riscar a vida humana do planeta. Zakaria também possui uma interpretação nitidamente estadunidense dos fatos acerca da Venezuela e do Irã e coloca ambos os países no status de pária, no entanto, quem conhece a história e a estudou com distanciamento científico entende a razão destas nações nos seus posicionamentos e concorda com a maioria das opções por elas adotadas, mas, isso é algo que não está acessível na Grande Mídia, que nada mais é do que um forte instrumento a serviço do Imperialismo.
Fareed evidencia o grande crescimento econômico de várias nações do planeta nas duas últimas décadas e dá especial atenção aos países emergentes que constituem o grupo de países subdesenvolvidos cujo resgate do anonimato e ascensão ao protagonismo no palco dos debates da governança global se deu pela crescente importância econômica e política, pois, já não é mais possível gerir o planeta sem consultá-los. O autor em sua obra relata feitos grandiosos de tais países na área da educação, da inclusão social, do avanço tecnológico e na construção de uma infraestrutura interna mais elaborada e funcional. Afirma que a história humana é marcada por três mudanças: A ocidentalização do mundo; a ascensão dos Estados Unidos; e, a ascensão do resto. O livro discorre sobre o que esperar deste mundo em gestação e o que esperar dos Estados Unidos e ao se referir à história, aponta que os Estados Unidos podem agir como a Inglaterra que tentou minar o desenvolvimento de novas potências na Europa e reinar absoluta, iniciativa em que fracassou, ou agir como o chanceler alemão Bismarck e fazer alianças e estreitar laços de cooperação. O autor aponta caminhos para a governança estadunidense nesse novo tempo. Penso que somente o tempo dirá, mas, a impressão até aqui (2016) é que os governantes daquele país têm bastante sangue inglês nas veias.
Sugestão de boa leitura:
O mundo pós-americano. Fareed Zakaria. Editora Companhia das Letras, 2008.
quinta-feira, 27 de outubro de 2016
A primavera estudantil paranaense – Parte 2
Os estudantes que ocuparam as escolas estão tendo um aprendizado quanto ao exercício da cidadania maior do que qualquer aula dada pelo mais brilhante professor, pois, como sabemos a teoria sem a prática de nada vale, e, os estudantes nas ocupações conjugam ambas. Os estudantes sabem pelo que estão lutando, ou seja, as falas de indivíduos reacionários da sociedade (políticos ou não) que afirmam o contrário demonstram apenas que não visitaram uma escola ocupada e desejam apenas confundir/manipular a opinião pública. Estranhamente, as pessoas que criticam o exercício da cidadania que os jovens estudantes praticam ao ocupar escolas em protesto contra a arbitrária e autoritária medida provisória 746 que reforma o Ensino Médio e a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) Nº 241 foram favoráveis aos protestos de Junho de 2013, parecem entender que democracia é apenas quando os protestos beneficiam os interesses ou a ideologia que defendem. Penso que as pessoas que se opõem a ocupação das escolas não estão suficientemente esclarecidas sobre a gravidade de tais ações governamentais, pois, se estivessem estariam apoiando os estudantes em sua luta por uma educação pública gratuita e de qualidade evitando o retrocesso que a reforma do Ensino Médio apresenta, ou, então são pessoas que apoiam as medidas governamentais e tudo o que elas implicam, pois, não precisam da Educação e da Saúde Pública e talvez desejem que o governo reduza impostos ou os direcionem para o setor rentista.
O Estatuto da Criança e do Adolescente defende o protagonismo dos jovens na participação na vida política da sociedade em causas de seus interesses garantindo-lhe a manifestação política, neste sentido a lei ampara os estudantes em suas reivindicações contra as famigeradas medidas adotadas pelo ilegítimo governo Temer. E nas escolas ocupadas que visitei atendendo às solicitações dos estudantes para fazer falas de esclarecimento para a comunidade escolar sobre a MP 746 e a PEC 241 encontrei escolas limpas e bem cuidadas. Os estudantes fazem escalas para a realização das atividades e cuidam da limpeza, preparam a alimentação, cuidam das hortas escolares, molham as plantas, estabelecem regras em assembléia que são seguidas pelos ocupantes, e, demonstram ter conhecimento da causa pela qual lutam. Dentre os ocupantes, há líderes que se sobressaem, com falas articuladas que demonstram surpreendente maturidade. Também li que em algumas escolas paranaenses, estudantes estão trocando portas e fechaduras que se encontravam quebradas e também fazendo pinturas em alguns ambientes que se encontravam em estado precário de conservação.
Eu tive a oportunidade de conversar com professores e diretores de escolas públicas de municípios maiores, e, estes me contaram que nas ocasiões em que as escolas realizam belíssimas atividades educacionais ou culturais, as solicitações feitas pelos diretores para que os canais de TV fossem até as escolas para divulgar os eventos por elas realizados mostraram-se infrutíferas, pois, as equipes de TV somente vão às escolas para fazer reportagens pautando aspectos negativos, tais como a violência na escola, drogas, ou as greves, quando contra a vontade dos trabalhadores em educação e também dos educandos as aulas são suspensas, pois, os profissionais da educação precisam lutar por melhores condições de trabalho. Os estudantes estão ocupando escolas há quase duas semanas, e, mesmo tendo ultrapassado a marca de mil escolas ocupadas, a Grande Mídia se mantém praticamente calada quanto ao belíssimo movimento dos estudantes já comparado a outros grandes fatos históricos como as “Diretas Já” ou os “caras-pintadas” que saíram às ruas para protestar contra a corrupção do Governo Collor e tiveram importante papel no desencadeamento das ações que levaram ao Impeachment de Fernando Collor de Mello. Os jovens estavam muito preocupados em manter a ordem e bons comportamentos nas ocupações, pois, sabiam que com quaisquer atitudes indisciplinadas de alguns de seus integrantes seriam recriminados pela sociedade. Ao analisar a preocupação deles quanto à disciplina dos integrantes dou-lhes razão, pois, quem nunca se interessou pela disciplina e bom comportamento dos estudantes durante as aulas ou, mesmo quem nunca deu o devido valor à escola pública agora está vigilante e caso excessos ocorram nas ocupações certamente se tornarão manchetes nos jornais. Os livros daqui a algum tempo, no entanto, retratarão o belíssimo protagonismo desta juventude que é semente de uma sociedade mais humana e menos injusta, cuja palavra cidadania deixará de ser uma palavra exótica do dicionário e se tornará prática inalienável de todos.
quinta-feira, 20 de outubro de 2016
A primavera estudantil paranaense – Parte 1
Em meio à escuridão imposta à sociedade, surge uma luz a trazer esperança de tempos futuros melhores para a tão maltratada nação brasileira, trata-se do movimento estudantil secundarista que está ocupando escolas em protesto contra a MP 746, que promove a reforma do Ensino Médio sem o necessário debate e construção desta junto à comunidade escolar (pais, estudantes, professores e trabalhadores em Educação). Trata-se de uma medida provisória, um instrumento de força, autoritário e arbitrário, resquício da ditadura militar utilizado por poucos países e que dá ao governante poder excessivo. Todo projeto para a Educação tem em seu bojo, o projeto de sociedade e de país pensado para a nação e essa reforma acentua as desigualdades sociais e cimenta o futuro do Brasil junto ao grupo de países subdesenvolvidos. Ao flexibilizar o currículo e empobrecer a Base Nacional Comum dá ênfase à formação para o Mercado de Trabalho e retira o foco na formação humana integral, como demonstra a retirada da obrigatoriedade das disciplinas de Artes, Educação Física, Filosofia e Sociologia. A proposta nas entrelinhas objetiva formar mão-de-obra barata, alienada e adestrada para o mercado de trabalho, e, precariza o Ensino Fundamental, ao retirar deste, os recursos adicionais necessários para o Ensino Médio, na prática, se “descobre um santo para cobrir outro”. Trata-se de uma proposta que não contribui para o desenvolvimento científico, tecnológico e socioeconômico nacional.
Outra reivindicação dos estudantes é a retirada da Proposta de Emenda Constitucional nº 241 (PEC 241) que congela os investimentos sociais (Educação, Saúde, etc.) por vinte anos, sendo que neste período, mesmo, com a retomada futura da economia e o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), os gastos em cada pasta não poderão superar o valor empenhado em 2016 e no máximo poderá ser acrescida a inflação anual. Ocorre que a população aumentará no período e haverá necessidade de mais recursos para estes setores, sendo que, mesmo com o crescimento do PIB, e, consequentemente da arrecadação, o investimento social (congelado) declinará percentualmente em relação ao PIB e ao orçamento da União. A PEC 241 é de uma sordidez tão grande que já está sendo chamada de “PEC da Morte”, pois, como atinge apenas o andar de baixo retira dos pobres para dar aos ricos. Para adequar a governança aos novos tempos de “austeridade” pregada pelo golpista Temer, o Sistema Único de Saúde (SUS) será sucateado ainda mais, com a redução no atendimento de procedimentos (exames, consultas, cirurgias, remédios gratuitos, etc.). Na Educação, a PEC inviabiliza o Plano Nacional de Educação que pretendia em 10 anos estabelecer 10% do PIB para a área e pretendia alocar 75% dos royalties do Pré-Sal para a Educação e 25% para a Saúde visando melhorar o desempenho dessas áreas vitais para a população, porém, a parcela antipatriótica do parlamento votou pela entrega do Pré-Sal às petroleiras estrangeiras, pondo fim ao sonho de uma nação soberana e desenvolvida. O Governo tinha outras opções, poderia fazer uma auditoria da dívida pública e, assim, cortar gastos nos pagamentos de juros e amortizações desta. Também poderia implantar o Imposto Sobre Grandes Fortunas que se encontra arquivado no Congresso Nacional desde 1986. Poderia também combater a sonegação fiscal, item no qual as grandes empresas contam com diversos mecanismos amparados em legislação elaborada por parlamentares cuja eleição foi por elas financiada para legislar em causas estranhas ao interesse nacional. O Governo ilegítimo de Temer prefere derramar o sangue do povo brasileiro a tocar no caviar da elite nacional e estrangeira.
Os estudantes estão sendo acusados por integrantes conservadores da sociedade e da classe política de serem doutrinados pelos professores, tais acusadores agem de má-fé, por entender ser a população facilmente manipulável e pouco esclarecida para compreender o que está acontecendo. Em meio a uma sociedade desinformada pela Grande Mídia Nacional e com adultos doutrinados pela ditadura militar de 1964-1985 (que aprenderam que protestar é atitude feia, coisa de desordeiros e que manter-se neutro e apático é sinal de boa conduta), a juventude estudantil despertou e conscientizou-se que cidadania não é outorgada, mas, conquistada na prática, e, que a democracia não se encerra no ato de votar, mas, na vigilância constante e na ação cidadã de lutar por seus direitos, sempre tendo em mente que os políticos não são patrões, mas, funcionários do povo, e, a serviço do povo devem estar. Penso que se você considera perigosos, os professores, e como doutrinados, os estudantes que exercem a cidadania, cuidado: você foi doutrinado! E está subestimando a capacidade dos estudantes e superestimando o alcance das ações dos professores, em sua maioria, conservadores! O antídoto para esse mal é ler livros de História!
sexta-feira, 14 de outubro de 2016
Tempos sombrios!
Vivemos tempos sombrios, todos os dias novos direitos trabalhistas e sociais são retirados pelo governo golpista de Temer, e, mesmo assim a população permanece apática. Penso que os militares fizeram um bom trabalho na doutrinação de direita, pois, em outros países, especialmente os desenvolvidos, toda a população estaria nas ruas protestando. A alta traição dos parlamentares, que em Brasília aprovaram em primeiro turno a famigerada Proposta de Emenda Constitucional (PEC) nº 241, que, implantada sucateará de vez a Educação e a Saúde Pública em benefício de grupos empresariais que oferecem a Educação e Planos de Saúde privados, que não por acaso patrocinaram as campanhas de muitos deputados e senadores. Coincidentemente ou não, 366 parlamentares votaram contra o povo brasileiro e a aprovaram, e 367 foram os votos na Câmara dos Deputados a favor da cassação de Dilma (prosseguimento da ação), o voto que faltou é o do cassado mega-corrupto traidor da nação Eduardo Cunha (PMDB).
Há uma parte dos “paneleiros” que está feliz, me refiro aos que constituem o grupo de direita que efetivou o golpe de Estado travestido de Impeachment, estes são os reacionários da elite, os demais, constituem uma pseudo-elite, ou seja, são microempresários ou trabalhadores alienados, portanto, sem consciência de classe cujo analfabetismo político levou-os a agir favoravelmente a ascensão ao poder de um governo golpista que implanta a cartilha neoliberal, a qual aprofundará a crise econômica, as desigualdades sociais, a pobreza, o desemprego, o subemprego, o emprego informal e a perda de soberania nacional ao colocar o país de joelhos perante o imperialismo internacional, notadamente aos Estados Unidos. O governo ditatorial de Temer está promovendo um ato lesa-pátria ainda maior do que o praticado por FHC (PSDB), quando levou a cabo a privataria tucana que empobreceu o país ao se desfazer de estatais estratégicas em troca de moedas podres, e, quase sempre com financiamento com prazo alongado via BNDES para pagamentos com juros de “Mãe” para filho”. O Brasil ficou mais pobre, a dívida externa aumentou e quanto ao dinheiro das privatizações, a nação não sabe, a nação não viu. Houve até um processo investigatório com a participação do Juiz Sergio Moro, e, apesar de 124 bilhões de dólares terem sido enviados ilegalmente ao exterior por meio de contas CC5 pelo Banestado concomitantemente com as privatizações Tucanas, a investigação foi anulada, pois, havia provas, mas, faltava “convicção” aos representantes do judiciário envolvidos na investigação, ou talvez, porque “não vinha ao caso”.
O trágico momento que vivemos, no qual a Constituição está sendo rasgada nos coloca no status de República das Bananas. Temos uma classe política no poder que a poucos representa, pois, lá se encontra sem votos, e o processo que lá o colocou é mundialmente reconhecido como golpista. Ninguém dentre as lideranças das grandes nações democráticas quer receber e tirar fotos com o golpista de plantão (Temer), nem mesmo os Estados Unidos, principal beneficiado, que, futuramente, talvez, daqui a uns vinte anos abrirá seus arquivos, como é próprio daquele país, e revelará sua participação no apoio a implantação da anomalia democrática que vivemos cujo motivo é frustrar a leve soberania e papel de pretensa potência regional brasileira, algo que o país ianque não conseguiu engolir. Lula e Dilma erraram ao pensar que podiam viver em Lua de Mel com a Elite arcaica e egocêntrica deste país, e, ao não fazer as reformas estruturais, quais seja a política, a bancária, a tributária, a urbana, a agrária, a universitária e, principalmente, a reforma ou regulação econômica dos meios de comunicação. Também errou feio aquele pessoal da ultra-esquerda que foi tanto à esquerda que acabou na direita, e, que ao defender o “quanto pior, melhor”, hoje é vista pelas pessoas esclarecidas da sociedade como traidores da classe trabalhadora ao não defendê-la visando a revolução socialista, que caso ocorra, se fará talvez daqui a duzentos anos e somente pela força das armas. Karl Marx, em vida, sempre deixou claro, que seus estudos deveriam ser sempre questionados e aprofundados e tinha ojeriza a dogmatismos, portanto, dogmatizar Marx é ser contrário ao que Marx defendia!
sábado, 8 de outubro de 2016
O blackout da leitura no Brasil – Parte 2
Há vários artigos na imprensa dando conta de que houve aumento da escolaridade média do brasileiro na última década, e, todos são uníssonos, ante a garantia da universalidade do acesso à educação, agora é hora de se buscar níveis mais elevados de qualidade. No entanto, há enormes desafios a serem superados. O Indicador do Alfabetismo Funcional 2011/2012 (a pesquisa é realizada a cada dez anos) do Instituto Paulo Montenegro mostra que só um em cada três brasileiros com ensino médio completo é de fato alfabetizado (35%), e dois em cada cinco com formação superior (38%) teem nível insuficiente em leitura. A pesquisa ainda mostra que só um em cada quatro brasileiros (26%) é mesmo alfabetizado, idêntico patamar verificado em 2001, quando o indicador foi calculado pela primeira vez. Os analfabetos funcionais representam 27% do país e menos da metade da população (47%) tem nível de alfabetização considerado básico.
A consultora de projetos Fernanda Cury (Instituto Paulo Montenegro) afirma que muita gente nem tem consciência de que a água bateu no seu joelho e ignora a necessidade de melhorar sua capacidade de interpretação e escrita. Manolo Florentino, do Departamento de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) considera impressionante a coerência dos dados: uma formação básica ruim se expressa na graduação, tornando-a, em geral, muito ruim. Afirma ainda que no plano mais amplo da vida, os dados revelam uma enorme incapacidade de expressão. No plano acadêmico, distorcem em cadeia as funções do ensino básico, de graduação e pós-graduação, que tenta tapar os buracos de formação das etapas anteriores. O professor diz ainda que “não somos educados para a leitura, para cultivar o vocabulário e compreensão. Não temos o hábito de frequentar bibliotecas e o livro-mercadoria é caro, um problema sério para um estudante padrão”.
O Ministério da Educação avalia que o resultado é reflexo da exclusão histórica do brasileiro, dos séculos de não investimento no acesso escolar à educação. Os índices mostram a precariedade da alfabetização plena no país pelo ensino público e particular. No entanto, é difícil pensar o analfabetismo como um bloco de problemas homogêneo. O problema parece estar, por exemplo, em vários lugares e contextos (na cultura, na política, na mídia e nas instituições) e o papel da escola mudou na sociedade contemporânea com o acesso à informação ocorrendo em diferentes espaços como a Internet. Embora se espere que já a partir do 4º e 5º anos do Ensino Fundamental o aluno seja capaz de identificar a ideia principal de um texto, no entanto, muitas crianças não ultrapassam a fase de decodificação de símbolos e não usam estratégias para que a compreensão do que leem se dê de forma mais efetiva.
Segundo a professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Luciana Vellinho Corso essas dificuldades podem ser sanadas por uma prática de estudo voltada para estratégias de compreensão de texto. Segundo a professora, os bons leitores realizam uma série de ações, tais como: Ler e checar se entendeu; fazer perguntas sobre o texto; ler novamente quando o texto deixa de ser entendido; destacar as ideias principais; repetir o que foi lido usando suas próprias palavras; grifar termos desconhecidos. Os leitores que encontram mais dificuldade, diz Luciana, não percebem a possibilidade de parar a leitura e avaliar a própria compreensão: teem dificuldade de resumir um texto, pois, não sabem que informação selecionar; não usam o contexto para descobrir o significado de palavras; acreditam que a ideia principal do parágrafo é a primeira frase e que resumir é descrever tudo o que é possível lembrar-se da história. Segundo Anete Abramowicz da Universidade Federal de São Carlos, não há como exercitar a língua senão lendo e escrevendo, pois, o português é uma língua sofisticada. Os livros no Brasil são caros há que se criar uma cultura onde o livro seja importante. O Professor Luiz Antonio da Silva da USP afirma que na atualidade, a boa educação deixou de ser um valor na sociedade. Enquanto isso permanecer, será difícil reverter a situação.
FONTE: Adriana Natali. O apagão da leitura. Revista Língua Portuguesa, ano 8, nº 83. 2012.
segunda-feira, 3 de outubro de 2016
O blackout da leitura no Brasil – Parte 1
Uma recente pesquisa revelou que houve crescimento do índice de leitores no Brasil que agora chegou a 56% contra 50% no ano de 2011. A média de leitura é de 4,96 livros por ano (2016) contra quatro livros (2011). Dentre os entrevistados na pesquisa 67% afirmaram que ninguém incentivou o hábito da leitura e nos 33% que tiveram estímulo, a mãe e o professor foram respectivamente as principais influências. Segundo a pesquisa, as mulheres leem mais que os homens (59% contra 52%), e, entre as principais motivações para a leitura de um livro aparecem, o gosto pela leitura (25%), atualização cultural (19%), distração (15%), motivos religiosos (11%), crescimento pessoal (10%), exigência escolar (7%), atualização profissional ou exigência do trabalho (7%), não sabe ou não respondeu (5%), outros (1%). Adolescentes entre 11 e 13 anos são os que mais leem por gosto (42%), seguidos por crianças de 5 a 10 anos (40%). Ainda de acordo com a pesquisa, os fatores que mais influenciam na escolha de um livro estão o tema ou assunto (30%), autor (12%), dicas de outras pessoas (11%), título do livro (11%), capa (11%), dicas de professores (7%), críticas/ resenhas (5%), publicidade (2%), editora (2%), redes sociais (2%), não sabe/não respondeu (8%), outros (1%).
Questionados sobre as razões de não terem lido nenhum livro inteiro ou em partes nos três meses anteriores à pesquisa, os não-leitores responderam: falta de tempo (32%), não gosta de ler (28%), não tem paciência para ler (13%), prefere outras atividades (10%), dificuldades para ler (9%), sente-se muito cansado para ler (4%), não há bibliotecas por perto (2%), acha o preço de livro caro (2%), tem dinheiro para comprar (2%), não tem local onde comprar onde mora (1%), não tem um lugar apropriado para ler (1%), não tem acesso permanente à internet (1%), não sabe ler (20%), não sabe/não respondeu (1%). A principal forma de acesso ao livro é a compra em livraria física ou internet (43%). Depois aparecem presenteados (23%), emprestados de amigos e familiares (21%), emprestados de bibliotecas de escolas (18%), distribuídos pelo governo ou pelas escolas (9%), baixados da internet (9%), emprestados por bibliotecas públicas ou comunitárias (7%), emprestados em outros locais (5%), fotocopiados, xerocados ou digitalizados (5%), não sabe/não respondeu (7%).
A leitura ficou em 10º lugar quando o assunto é o que gosta de fazer no tempo livre. Perdeu para assistir televisão (73%). Em segundo lugar, a preferência é por ouvir música (60%). Depois aparecem usar a internet (47%), reunir-se com amigos ou família ou sair com amigos (45%), assistir vídeos ou filmes em casa (44%), usar WhatsApp (43%), escrever (40%), usar Facebook, Twitter ou Instagram (35%), ler jornais, revistas ou noticias (24%), ler livros em papel ou livros digitais (24%) – mesmo índice de praticar esporte. Perdem para a leitura de um livro: desenhar, pintar, fazer artesanato ou trabalhos manuais (15%), ir a bares, restaurantes ou shows (14%), jogar games ou videogames (12%), ir ao cinema, teatro, concertos, museus ou exposições (6%), não fazer nada, descansar ou dormir (15%). A triste realidade nacional de baixo interesse pela leitura não exclui sequer os professores, pois, a pesquisa perguntou aos mestres qual tinha sido o último livro que leram e 50% responderam não ter lido nenhum (nos três últimos meses) e 22%, a Bíblia.
FONTE: http://cultura.estadao.com.br/blogs/babel/ - 44% da população brasileira não lê e 30% nunca comprou um livro, aponta pesquisa Retratos da Leitura - Disponível em: http://cultura.estadao.com.br/blogs/babel/44-da-populacao-brasileira-nao-le-e-30-nunca-comprou-um-livro-aponta-pesquisa-retratos-da-leitura/ - Acesso em 26/09/2016.
quinta-feira, 22 de setembro de 2016
Cristovam Buarque: de patriota a golpista! Parte 2
Cristovam Buarque fez carreira política no PT (1990-2005) e no PDT (2005-2016) e no ano em curso ingressou nas fileiras do Partido Popular Socialista (PPS) que representa apenas mais uma bizarrice da política tupiniquim onde nomenclaturas partidárias muitas vezes nada têm a ver com a prática política de seus representantes, sendo assim, o PPS é tão socialista e de esquerda quanto o neoliberal PSDB é social democrata e isso fica evidente nas estranhas alianças políticas com a extrema direita. Sua ação como Ministro da Educação no Governo Lula foi muito contestada sendo que recebeu por telefone o comunicado de sua demissão do cargo, algo que jamais perdoou. É verdade que uma demissão dessa forma está longe de ser considerada polida, mas, a justificativa governamental é de que seu desempenho frente ao Ministério foi pífio e de que viajava demais (não era fácil encontrá-lo no Ministério) e se dedicava pouco na busca de soluções para os problemas da pasta. Seu desempenho frente ao Ministério fica totalmente ofuscado quando comparado ao de Fernando Haddad (PT).
Apesar de seu desempenho insatisfatório na pasta da Educação contrariando a esperança popular, pois, sempre se declarou defensor da Educação, e, esta como o caminho viável para o desenvolvimento, Cristovam manteve sua biografia sem grandes arranhões, sendo convidado para palestras no país e também no exterior onde suas falas sempre foram bem acolhidas. Entre seus feitos está a criação do programa “Bolsa-Escola” no governo do Distrito Federal, depois encampado por FHC cuja propaganda de governo direta ou indiretamente tomou para si a paternidade. Em 2005, ano em que estourou o escândalo do Mensalão, Buarque se retirou do PT e ao ser questionado por tal ato afirmou: “Não fui eu que saí do PT, mas, o PT que saiu de mim” e emendou que “o partido é formado por gente honesta, mas, acomodada e a corrupção é de alguns petistas”. Na época, muitas pessoas viram na atitude de deixar o PT, a mágoa de Buarque com as lideranças do Partido, outros, viram a atitude de um rato que abandonou o navio tão prontamente ele começou a fazer água, não ficando nem mesmo para ver se as bombas de sucção resolveriam o problema. Mas, é importante que se diga, nem isto afetou fortemente sua biografia, pois, continuava fazendo seu discurso em defesa da Educação e dos professores, e recebendo deles seu reconhecimento.
Em 2006, lançou-se candidato à presidência pelo PDT, ficou em quarto lugar. Em 2014, apoiava o candidato Eduardo Campos (PSB) que veio a falecer na queda misteriosa de um avião misterioso. Com a morte de Campos, apoiou a substituta Marina Silva, e, como esta não logrou passar ao segundo turno, apoiou, pasmem, Aécio Neves (PSDB) contra Dilma Rousseff (PT). A derrota do tucano nas urnas, e o “mimimi” interminável deste e as ações antidemocráticas de uma oposição delinquente levou o país a uma crise política somente comparável a 1954 e 1964. Em 2016, ingressou no PPS após o PDT receber a filiação de Ciro Gomes apontado como o provável candidato da legenda para 2018 contrariando sua pretensão de ter a indicação. Os desdobramentos da crise política de um Congresso Nacional considerado o pior desde o fim da ditadura militar, o qual fez avançar celeremente pautas conservadoras e religiosas que aos poucos estão demolindo a salvaguarda de proteção aos trabalhadores e o Estado laico. Seu posicionamento frente à arbitrariedade com que foi tratado o processo de Impeachment, um golpe de Estado mundialmente reconhecido como tal, provoca graves danos à sua biografia e coloca em xeque seu discurso de defesa da democracia, da classe trabalhadora e da Educação considerado agora mera hipocrisia eleitoreira, pois, ao ajudar a derrubar uma presidenta honesta deu um golpe de punhal na democracia nacional e traiu mais de 54 milhões de eleitores que votaram em Dilma e que esperavam do Senador uma atitude coerente com sua biografia.
A esquizofrênica visão de Buarque sobre o processo de Impeachment justificando seu voto condenatório de uma presidenta inocente, apenas, se baseando no fato de que o rito foi cumprido, e, ignorando a absoluta falta de provas, demonstra que Cristovam precisa de apoio psicológico ou mesmo psiquiátrico, pois, perdeu a noção de realidade, de democracia e de sua própria biografia. Ao ajudar o que há de pior na política a chegar ao Governo Federal, todas as ações decorrentes em prejuízo dos direitos trabalhistas, da soberania nacional e da Educação passam a ter também a sua chancela. Cristovam deixa a história para fazer parte da lata de lixo da política!
quinta-feira, 15 de setembro de 2016
Cristovam Buarque: de patriota a golpista - Parte 1
Dentre os políticos que apoiaram o golpe parlamentar-jurídico-midiático de 2016, não há nenhum que tenha causado maior decepção aos setores progressistas da sociedade do que Cristovam Buarque, inclusive porque construiu sua carreira política em meio a estes e também porque tendo uma biografia tão interessante a preservar, preferiu bisonhamente jogá-la no limbo da história a que estão destinados todos aqueles que violentam a democracia. Cristovam cometeu não apenas suicídio político, mas, também suicídio biográfico. Penso que sua trajetória política merece uma breve reflexão, porém, é uma aposta de enorme risco, pois, certamente nos levará a percorrer o caminho entre a psiquiatria e a fisiologia política tentando encontrar o rumo de seus passos, que certamente um dia a história revelará em livros ou nas páginas de jornais e blogs.
Há mais de uma década tive contato com um artigo que descrevia a fala patriota e genial de um brasileiro, o ex-reitor da UNB (1985-1989), ex-governador do Distrito Federal pelo PT (1995-1998) e Senador da República eleito/reeleito nos pleitos (PT-2002) e (PDT-2010) Cristovam Buarque que ocupou também o cargo de Ministro da Educação do Governo Lula (PT) entre os anos de 2003 e 2004. Não tenho vergonha em reconhecer que me emocionei e li sua fala aos educandos e demais colegas professores da escola em que lecionava. Na época, Buarque cujo currículo registra ser engenheiro mecânico, economista e professor ao ser questionado durante um debate numa Universidade estadunidense por um universitário sobre o que pensava acerca da internacionalização da Amazônia, e, antes mesmo de atender ao jovem, este ainda emendou que esperava a resposta de um humanista e não de um brasileiro.
Assim respondeu Cristovam Buarque: "De fato, como brasileiro eu simplesmente falaria contra a internacionalização da Amazônia. Por mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse patrimônio, ele é nosso. Como humanista, sentindo o risco da degradação ambiental que sofre a Amazônia, posso imaginar a sua internacionalização, como também de tudo o mais que tem importância para a humanidade. Se a Amazônia, sob uma ética humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro. O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazônia para o nosso futuro. Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extração de petróleo e subir ou não o seu preço. Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser internacionalizado. Se a Amazônia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono, ou de um país. Queimar a Amazônia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais. Não podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação. Antes mesmo da Amazônia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo. O Louvre não deve pertencer apenas à França. Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas pelo gênio humano. Não se pode deixar esse patrimônio cultural, como o patrimônio natural Amazônico, seja manipulado e destruído pelo gosto de um proprietário ou de um país. Não faz muito, um milionário japonês, decidiu enterrar com ele, um quadro de um grande mestre. Antes disso, aquele quadro deveria ter sido internacionalizado. Durante este encontro, as Nações Unidas estão realizando o Fórum do Milênio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos na fronteira dos EUA. Por isso, eu acho que Nova York, como sede das Nações Unidas, deve ser internacionalizada. Pelo menos Manhattan deveria pertencer a toda a humanidade. Assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, cada cidade, com sua beleza específica, sua historia do mundo, deveria pertencer ao mundo inteiro. Se os EUA querem internacionalizar a Amazônia, pelo risco de deixá-la nas mãos de brasileiros, internacionalizemos todos os arsenais nucleares dos EUA. Até porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando uma destruição milhares de vezes maiores do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil. Defendo a idéia de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida. Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do Mundo tenha possibilidade de comer e de ir à escola. Internacionalizemos as crianças tratando-as, todas elas, não importando o país onde nasceram como patrimônio que merece cuidados do mundo inteiro. Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo. Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro lutarei para que a Amazônia seja nossa. Só nossa”!
sexta-feira, 9 de setembro de 2016
A ditadura dos sem votos
Há alguns dias vi uma propaganda do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre a fantástica inovação brasileira que foi a introdução da urna eletrônica nas eleições, a qual dificulta enormemente a fraude, algo comum no tempo da cédula de papel, além de acelerar a apuração dos resultados. No entanto, ela tem críticos que duvidam de sua segurança, e, estes se encontram na direita ideológica ante a supremacia do PT nas quatro últimas eleições presidenciais (2002, 2006, 2010, 2014). O estranho é que tais críticos nada falavam quando o PSDB/DEM era hegemônico nos tempos de FHC, e, mais estranho ainda, é o tucanato exigir auditoria em urnas que deram a vitória nas eleições majoritárias à Dilma e se calar quanto ao fato de que as urnas paulistas estão dando vitórias consecutivas aos candidatos tucanos há mais de duas décadas naquele estado. Devem pensar que a não preferência por seus candidatos (muitos deles, envolvidos em escândalos de corrupção) e pelo seu programa de implantação do neoliberalismo predatório dos direitos trabalhistas, entreguista dos recursos naturais às empresas estrangeiras em detrimento dos reais interesses nacionais e do povo brasileiro constitui uma anomalia que somente pode ser explicada pela alteração do software das urnas. A urna eletrônica constitui uma maravilha tecnológica nacional e chamou a atenção do mundo, inclusive dos Estados Unidos da América na época da primeira eleição de George Walker Bush (Partido Republicano) em 2000, ocasião em que Al Gore (Partido Democrata) tinha reais motivos para continuar na Justiça questionando os resultados de uma eleição que se constituiu numa fraude amplamente noticiada pelos meios de comunicação, investigada e documentada a fundo por autores de livros (sim, os EUA também tiveram um golpe moderno), mas, Al Gore desistiu visando não prejudicar a nação com o longo processo que haveria pela frente e com o vazio de poder em que a nação se encontraria!
Penso que de nada adianta termos a moderna urna eletrônica, quando aqui não temos uma oposição responsável como a realizada pelo Partido Democrata liderado por Al Gore, pois, a oposição irresponsável liderada por Aécio Neves (PSDB), um político de alma pequena, que jamais aceitou a soberania popular exercida pelos mais de 54 milhões de eleitores que votaram em Dilma e a elegeram, dessa forma, Aécio em conluio com outras criaturas das sombras, dentre as quais, Michel Temer (PMDB), José Serra (PSDB), Eduardo Cunha (PMDB), Aloysio Nunes (PSDB), etc. nunca deram um dia de sossego para que Dilma pudesse governar e fizeram uso de pautas bombas e dos mais variados artifícios para paralisar as ações governamentais. Não agiram apenas contra Dilma, agiram contra a nação e seu sofrido povo. Foram antipatriotas e antidemocráticos e ao dar o golpe na democracia colocaram o país numa situação de anormalidade democrática ao fazer o Brasil retornar ao seu histórico status habitual, pois, em nosso país, a democracia incipiente nunca amadurece, e, tal como os frutos da árvore doente, apodrece e cai. A Constituição Federal foi violentada e vilipendiada em casa pública (Congresso) e os golpistas impuseram ao voto da maioria dos eleitores, e, portanto, à democracia, um ato de violência tão hediondo que somente pode ser comparado ao estupro, seguido de morte e esquartejamento.
O Brasil se apequenou perante as nações democráticas do mundo, também se apequenaram as pessoas, políticos e partidos que apoiaram esse golpe ao não reconhecer a soberania popular expressa nas urnas e ao não entender que a democracia pode não ser perfeita, mas, que não há nenhum sistema melhor. Vivemos tempos sombrios, aquele que se apresenta como presidente da nação tem a maior rejeição da história e não tem legitimidade sequer nas fileiras conservadoras da população, menos ainda nas fileiras da população progressista. De nada adianta termos a moderna urna, quando um golpe midiático-parlamentar-jurídico solapa a frágil confiança do povo na jovem democracia brasileira ante a um passado de golpes de Estado rotineiros promovidos por uma direita representante dos interesses de uma elite arcaica, atrasada, egoísta, cruel e antipatriota e o povo brasileiro, a ampla maioria da população, alienada e apática, parece pensar não ser problema dela, mas, não tardará a sentir as consequências das ações levadas a cabo pelos golpistas liderados pelo interventor Michel Temer. A moderna urna eletrônica não é antídoto contra a ação velhaca da antiga forma de fazer política do grupo “dos sem votos” que tomou em assalto o poder, dessa forma, não basta que o voto consciente seja depositado na urna eletrônica, pois, precisa ser ardorosamente defendido em todos os espaços públicos, principalmente nas ruas!
quinta-feira, 1 de setembro de 2016
Coitadinhos e malandrões e a indústria da comunicação!
A releitura de um
livro permite um reexame com novas constatações e a elaboração de novas
indagações ante o objeto de análise, pois, com o passar do tempo, nosso
arcabouço teórico nos coloca em novo patamar de conhecimentos, e, leituras
consideradas complexas se tornam mais acessíveis. Pensando assim, retomei o livro
“Quem manipula quem?” de Ciro Marcondes Filho. O livro em questão foi publicado
em primeira edição em 1986 e adquirido por mim em 1991, já na quarta edição. Na
obra Ciro argumenta que há no país uma grande oposição à invasão cultural
estadunidense, a qual estaria prejudicando a cultura nacional e que seus
críticos parecem ver na cultura dos EUA a figura de um estuprador que violenta
a cultura popular brasileira tida como uma jovem e inocente donzela. Afirma que
os críticos cometem um grave erro ao supor ser a cultura estadunidense algoz da
cultura nacional, quando, na verdade é a cultura capitalista a causadora de
grandes impactos no imaginário da sociedade. Também afirma que a cultura recebe
contribuições de elementos culturais de outros países e que mesmo nossa cultura
não é a perfeição para ser de todo preservada, pois, contém traços de machismo,
preconceito étnico e socioeconômico, etc
O modo capitalista de pensar se impõe
na sociedade e gera o individualismo, o narcisismo, e principalmente, o
consumismo. No capitalismo, tudo se transforma em mercadoria pronta para ser
consumida, não é diferente com as pessoas, que vendem sua mão-de-obra nas
máquinas de moer seres humanos que conhecemos por empresas capitalistas, ou
mesmo seu corpo, seja para o desfrute do olhar nas revistas masculinas ou para
o prazer do cliente. Dessa forma, os meios de comunicação privados somente
sobrevivem pela busca incessante do lucro e isso remete ao título da obra em
que o autor argumenta que os críticos costumam atribuir grande poder de
manipulação aos meios de comunicação (TV, rádio, jornais e revistas) e
consideram os receptores de tais artigos e programas como ingênuos e indefesos,
visão em seu ver, equivocada.
O autor argumenta que os meios de comunicação,
especialmente a TV precisa de audiência sendo esta a moeda com que o
telespectador paga pelos seus programas e que o índice de audiência
possibilitará à emissora de TV estabelecer o preço pelos anúncios publicitários
que renderão recursos financeiros que custearão as despesas e possibilitarão o
lucro que toda empresa capitalista busca. Ciro afirma que o público somente
pagará com a moeda audiência se a programação estiver de acordo com os anseios
deste, do contrário, mudará de canal até encontrar a programação que lhe
agrade. Sob este prisma, penso que a qualidade de parte da programação da TV
aberta brasileira, a qual é bastante discutível e constitui verdadeiro lixo
televisivo, e mesmo assim, ao obter grande audiência leva a crer que seus
receptores estão sendo supridos do que desejam, talvez devido ao seu baixo
nível cultural. Portanto, sexo, palavrões, violência, piadas preconceituosas,
etc. geram audiência porque inúmeros telespectadores se veem ali, o efeito danoso
fica por conta do fato de que ocorre a naturalização da estupidez, pois, ao ver
cenas de pessoas rudes, egocêntricas e desonestas, os espectadores que
correspondem a esse perfil, tomam como normal essa forma de ser e assim agem.
A relação entre o telespectador e o meio de comunicação é
uma via de mão dupla, no entanto, penso que Ciro exagera ao supor que em geral
as pessoas têm capacidade crítica para entender que nem tudo o que os programas
de TV e rádio divulgam corresponde a uma visão de mundo e não a verdade em si.
As pessoas de menor nível instrucional são as que mais utilizam unicamente a TV
e o rádio para se informar e este segmento social costuma tomar como verdade
notícias que foram tratadas nas redações e que alteram ou omitem a verdadeira
informação. O autor também afirma que os meios de comunicação privados são
uníssonos na defesa da liberdade de expressão e condenam veementemente a
censura, mas, esquecem ou fazem questão de não reconhecer que guardam para si a
prerrogativa de exercer a censura, ao não dar liberdade ideológica para seus
jornalistas nas redações e ao não dar espaço para a defesa do contraditório por
parte dos grupos políticos que defenestram. Uma análise aprofundada do livro
resultaria muito longa, deixo então, a dica.
Sugestão
de boa leitura:
Título: Quem manipula quem?
Autor: Ciro Marcondes Filho.
Editora Vozes, 1987, 162 p.
Preço: R$ 7,90 – R$ 22,80
(Estante Virtual).
quinta-feira, 25 de agosto de 2016
A TV Globo e os faraós do Egito!
Li um artigo em que o jornalista criticava a Senadora Gleisi Hoffmann (PT) afirmando que ela delirava ao atribuir o sucesso das Olimpíadas a Lula e a sua sucessora Dilma, cujo governo desempenhou importante papel nas ações de planejamento e suporte necessárias à realização do evento. Caso as Olimpíadas fossem um fracasso certamente culpariam Lula e Dilma, porém, exitosa, excluem ambos dos méritos. Penso que algumas pessoas têm um ódio tão profundo à classe trabalhadora e aos partidos que a representam que acabam por abandonar o equilíbrio, a sensatez e a honestidade. Negar o reconhecimento à Lula do importante papel que exerceu na indicação e escolha do Rio para a sede das Olimpíadas, mesmo com a imensa repercussão midiática à época, sendo que o próprio presidente Lula fez parte do vídeo enviado ao Comitê Olímpico Internacional discursando sobre os motivos pelos quais o Rio deveria ser escolhido não constitui ato de desinformação e sim de má-fé. No entanto, é possível entender a lógica de tal ação, visto que vivemos tempos pós-democráticos, e os inimigos da democracia procuram apagar todo vestígio de ações levadas a cabo por seus adversários políticos, especialmente, aquelas que abonam no todo, ou em parte, a boa governança destes. Assim, agiam alguns faraós no Egito Antigo, que movidos por divergências políticas e mesmo por inveja, apagavam dos monumentos públicos, as referências aos antecessores que defenestravam, alterando dessa forma a história oficial, condenando importantes figuras políticas daquele país ao limbo do esquecimento.
É dessa forma que vejo a ação de jornalistas e de importantes meios de comunicação, especialmente, a Rede Globo que ao relembrar a conquista do Rio para ser a sede das Olimpíadas de 2016 teve o cuidado de não mostrar Lula nas imagens, ao contrário do que fez à época da escolha, quando exibiu Lula e Pelé abraçados com Nuzman (COB) comemorando a conquista e entrevistando-os. O motivo da exclusão de Lula, bem ao estilo dos faraós do Egito é próprio do modus operandi do Grupo Globo que constitui um império, e, segundo Paulo Henrique Amorim, seus proprietários, são desprovidos de brilho pessoal, inversamente ao pai e fundador do Grupo Globo, o jornalista Roberto Marinho, que também protagonizou ações incompatíveis com o espírito democrático ao se aliar à ditadura militar e ao utilizar a sua poderosa emissora para manipular a opinião pública em benefício dos candidatos que apoiava quase sempre visando interesses particulares. Não faltam artigos e livros mostrando o caráter perverso das organizações Globo para a democracia e a soberania nacional, pois, os ideais defendidos por tal império midiático costumam ser em benefício de grupos econômicos nacionais e estrangeiros e contrários aos interesses genuinamente nacionais e do povo brasileiro. A TV Globo, tal como o Oráculo de Delfos da mitologia grega, acredita proferir por meio das imagens e das falas de seus jornalistas e comentaristas a verdade universal, a única verdade possível. A voz da TV Globo é a “voz de Deus” e não pode ser contestada sob pena de heresia. Penso que as pessoas que acreditam no jornalismo da TV Globo teem uma fé inabalável, pois, é preciso muita fé e pouquíssima racionalidade.
Ao excluir Lula e Dilma dos méritos a mídia golpista visa não solapar o golpe à democracia parcialmente arquitetado e operado nas salas de seus executivos, pois, não lhes convém elogiar adversários. O golpe à democracia tem como objetivo fazer o parto por meio de fórceps de um projeto político que jamais passaria pelo crivo das urnas, afinal, menos educação, menos saúde pública, redução da soberania nacional, extinção de direitos trabalhistas e entrega do Pré-Sal e da Petrobrás à iniciativa privada, especialmente estrangeira, não tem apelo popular. Porém, se nossas elites teem uma mente colonizada e não se sentem confortáveis com o país conduzido de forma soberana e o preferem sob a tutela das nações imperialistas, principalmente dos EUA, o povo brasileiro, por sua vez, possui uma apatia considerada incompreensível para os jornalistas estrangeiros que cobrem o golpe de Estado aqui desferido em pleno século XXI e que rebaixa o Brasil ao status de “República das Bananas”. O país ainda vive o espírito da Casa Grande e da Senzala, nossas elites ainda não conseguiram assimilar a Lei Áurea e envidam esforços para acabar com tantos direitos trabalhistas quanto possível, e o povo inerte, alienado pelas novelas e o jornalismo manipulado da TV Globo não reage. O Brasil somente vai ser um país soberano, e, portanto, com um projeto nacional, quando a Senzala (classe trabalhadora) perceber que os Senhores da Casa Grande (elite econômica) jamais lhe chamará para o banquete e passar a agir em consonância com seus reais interesses de classe, então, neste dia utópico (de difícil realização, mas, de imprescindível porvir), serão senhores de seus destinos!
quinta-feira, 18 de agosto de 2016
O insustentável discurso da legitimidade do impeachment!
Na semana passada o processo contra Dilma avançou mais um passo e isso merece algumas considerações. Com a derrota nas urnas, a oposição, tendo à frente o candidato derrotado Aécio Neves (PSDB) tentou ganhar no tapetão, a eleição vencida democraticamente por Dilma com mais de 54 milhões de votos. A Grande Mídia nacional que age como um partido político de oposição não deu um dia sequer de sossego à Dilma, e fatos não checados ou não suficientemente investigados, e, até manipulados, foram divulgados na expectativa de criar o caos econômico e social para desestabilizar o governo na busca de incapacitar a ação governamental ou nas palavras de Aloysio Nunes (PSDB), “fazer Dilma sangrar até o último dia de sua gestão”. Para a mídia golpista e para a oposição importava não deixar Dilma governar, não deixar o governo semear e se semeasse não deixar que colhesse os frutos. A Grande Mídia adotou a pauta negativa e amplificou a crise anunciando-a como o “Fim dos tempos”, e, embora a crise fosse mundial atribuiu a culpa unicamente a má-gestão do governo de Dilma. Penso que “Fim dos tempos”, foi aquele em que o PSDB no poder, nos levou ao apagão energético, a perpetuação do caos social, do desemprego, da miséria, da fome e da submissão ao FMI quando por três vezes FHC passou o boné pedindo ajuda para que o país pudesse pagar seus compromissos. “Fim dos tempos” foi aquele com a privatização de estatais em troca de moedas podres e múltiplas denúncias de corrupção não apuradas e cujo destino de parte dos recursos oriundos da venda das estatais constitui uma caixa preta enterrada com o estranho e precoce encerramento das investigações do caso Banestado.
Outra prova do golpismo é a participação da oposição ao Governo PT/PMDB no governo interino, principalmente o PSDB/DEM e assemelhados. Temer conseguiu seus intuitos, com o auxílio do mega-corrupto Presidente da Câmara Eduardo Cunha. O STF e o Procurador Geral da República Rodrigo Janot participaram do golpe devido a leniência e covardia com que trataram o caso envolvendo Cunha, que, mesmo sendo um criminoso, era pela oposição considerado necessário na condução do processo. O espetáculo de horrores protagonizado por parlamentares em grande parte medíocres e ignorantes do papel que representam para a sociedade foi transmitido em rede nacional e o país virou piada no planeta. A Câmara que conta 513 parlamentares, tem 303 deputados com problemas com a Justiça e no Senado a situação não é diferente, 49 senadores de um total de 81, esses são os “probos” parlamentares que julgam Dilma. É importante lembrar que o sistema eleitoral está falido e grande parte dos parlamentares se elegem por meio de caixa 2 financiados por grandes empresas das quais se tornam representantes de interesses escusos. Alegou-se que Dilma praticou as chamadas pedaladas fiscais, que FHC (PSDB) quando presidente também utilizou e nada se falou à época e, neste quesito, 17 governadores de estado também pedalaram (o Paraná, inclusive), como não houve abertura de processos contra estes governadores fica mais uma vez evidente o sistema de dois pesos e duas medidas instaladas no país. Pasmem, os/as senhores (as) leitores (as) que o Senador Anastasia (relator do processo em que Dilma é acusada de pedalada fiscal) quando de seu governo em Minas Gerais foi adepto da pedalada, porém, em nível avançadíssimo, um verdadeiro ciclista de ponta. Dilma já foi inocentada pelo MPF e não há nenhuma prova de crime imputado a ela, e segundo o Ministro Marco Aurélio Mello (STF), sem a comprovação de crime praticado por Dilma, configura-se então um golpe de Estado.
Comparar o Impeachment de Collor e Dilma e declarar similaridade de ambos tem o objetivo de confundir a opinião pública e é um ato de má-fé, ou no mínimo de desinformação. O fato de a Senadora Ana Amélia (PP/RS) afirmar que se sente à vontade como golpista ao lado do STF, demonstra apenas sua ignorância quanto à história, pois, o STF também apoiou o golpe de 1964. A observância do rito processual não é prova de sua legitimidade, esta se encontra na produção de provas de crimes praticados pela Presidenta e isto não se conseguiu comprovar, também, não faltam queixas de cerceamento da defesa de Dilma que agora recorre à OEA. A lógica do processo de Impeachment de Dilma, julgada por grande parcela de corruptos, inclusive com o grampo de Jucá (PMDB) comprovando que pretendiam afastá-la para interromper a operação Lava-Jato e alcançar a impunidade e o fato de Michel Temer (PMDB), um traidor de carreira (pois, já havia traído Itamar Franco) ter realizado ainda em 2015, o lançamento do plano “Ponte para o Futuro”, base para as maldades praticadas em sua interinidade contra a classe trabalhadora, e que jamais seria aprovado numa eleição confirmam o golpe, cuja maior vítima não é Dilma, e, sim, a classe trabalhadora e o Brasil como projeto de nação soberana.
sexta-feira, 12 de agosto de 2016
Pimenta no Moro dos outros é refresco!
O Juiz Sergio Moro passou por maus momentos no dia 04 de Agosto na audiência pública na Câmara dos Deputados que debatia o combate a corrupção. O deputado Wadih Damous (PT) e ex-presidente da OAB/RJ, disse “ser um homem do tempo em os Juízes falavam apenas pelos autos dos processos, mas, que vivemos tempos pós-democráticos e há juízes que se portam como celebridades, num protagonismo indevido”. O deputado afirmou também “não reconhecer em ninguém o poder de oráculo na defesa da corrupção” numa alusão ao juiz paranaense. Moro defendeu a adoção de leis estadunidenses no Brasil quando despertou a oposição do Deputado Federal Paulo Pimenta (PT) que argumentou que tal como a Lava-Jato é parcial e seletiva, também a importação da lei estadunidense que o Juiz defendia é seletiva e afirmou: porque não importar toda a lei, inclusive aquela que trata do abuso de autoridade? E disparou: “o que aconteceria com um Juiz de Primeira Instância nos Estados Unidos que ousasse captar a conversa telefônica entre o Presidente Obama e o ex-presidente Bill Clinton e a jogasse nas redes de televisão? Qual teria sido a atitude da Justiça americana”? E nesse item, acrescento: o que a Justiça estadunidense faria com um Juiz de Primeira Instância que tentasse de forma ilegal conduzir coercitivamente o ex-presidente Bill Clinton?
Pimenta ainda lamentou a impunidade existente no país e a relacionou com a seletividade do Judiciário brasileiro em que o rigor não é aplicado a todos independentemente do partido. Ao criticar a seletividade da Justiça brasileira lembrou o caso Banestado, em que Sergio Moro também atuou, mas, que estranhamente foi encerrado sem um maior aprofundamento da investigação e sem a necessária punição dos corruptos. Na ocasião a agência Banestado de Foz do Iguaçu foi utilizada para enviar bilhões de dólares para o exterior e acredita-se que grande parte desse dinheiro era resultante da corrupção do processo de privatizações realizado no governo FHC. O deputado ainda criticou a falta de instrumentos para punir juízes e procuradores corruptos que vendem sentença e o fato de que atualmente a maior punição para um juiz ou procurador que vende sentença é a aposentadoria com recebimento integral de seu salário. Sergio Moro, visivelmente constrangido, se recusou a comentar “casos concretos” e se retirou.
Penso que em nosso país, nenhuma pessoa suficientemente esclarecida e honesta, consegue afirmar não haver na operação Lava-Jato e em amplos setores do Judiciário brasileiro uma ação parcial, seletiva e orquestrada com a Grande Mídia com o claro objetivo de assassinar a reputação de importantes figuras políticas da esquerda como o ex-presidente Lula. Lembro que na Itália, com o receio de que os comunistas chegassem ao Poder, a população aplaudiu uma sequência de arbitrariedades e assistiu passivamente Mussolini se estabelecer no poder e implantar uma ditadura que por seu caráter levou o país a se aliar à Alemanha Nazista na Segunda Guerra Mundial. Na Alemanha Nazista, o governo de Hitler elegeu os judeus como bode expiatório de todos os problemas da sociedade alemã, embora não somente estes fossem perseguidos, pois, também o foram, os ciganos, os negros, os homossexuais e os deficientes físicos. Mas, a propaganda ideológica nazista do Ministro Goebbels bombardeava a população sobre os supostos males que os judeus, suas atividades e suas empresas causavam à sociedade alemã e logo a população internalizou o fato de que, os judeus, eram a culpa de todos os seus problemas e passaram a odiá-los, a agredi-los e a informar às autoridades nazistas sobre a localização de famílias judaicas que então eram levadas aos campos de extermínio.
Não vivemos mais numa democracia, direitos civis e políticos têm sido desrespeitados e a Grande Mídia age tal como se seguisse à risca o ideário de Goebbels e elegeu a esquerda e, mais, especificamente o PT, como bode expiatório da corrupção que aqui se instalou quando aportou a primeira caravela portuguesa. Gilmar Mendes ao pedir somente a extinção do PT e não de outros partidos que incorreram em idênticos erros, demonstra a mediocridade e a seletividade de um Judiciário que envergonha o país perante o mundo, a ponto de um parlamentar estadunidense perguntar: “A lei ainda vale para alguma coisa no Brasil”? A população em grande parte acrítica e pouco culta é manipulada pelo pensamento único da Grande Mídia (em especial, a Rede Globo e a Revista Veja) que representa os interesses do grande capital nacional e estrangeiro. A mente colonizada de nossa elite é tal qual a dos negros alçados ao cargo de feitores de escravos, e que não viam na libertação destes, a redenção de sua própria gente, julgavam-se brancos e assim agiam como algozes de seu próprio povo. A elite nacional é o atual feitor de escravos do povo brasileiro, pois, considera-se anglo-saxônica, e faz o serviço sujo para os senhores de escravos que são as potências dominantes e suas empresas, notadamente, os Estados Unidos da América.
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