Claudia Wallin escreveu um livro intitulado “Um país sem excelências e mordomias” que deveria ser leitura obrigatória de cada brasileiro, obra capaz de ruborizar a face de todas as pessoas dignas deste país, falo daquelas que ainda apresentam o rubor facial da vergonha, característica atualmente tão rara a grande parte da classe dirigente do Brasil, especialmente nestes tempos sombrios que vivemos definidos pelo intelectual português Boaventura de Souza Santos como um momento de baixíssima intensidade democrática. Penso que o famoso escritor português foi generoso, pois, um Estado com baixíssima intensidade democrática o Brasil se apresentava antes de 2014, porém, com a quarta derrota consecutiva, a Casa-Grande (a grande burguesia nacional e internacional) apoiada pelos sempre fiéis feitores de escravos (a baixa burguesia) e os escravos de confiança (os trabalhadores alienados) iniciaram um golpe que deu fim à insipiente democracia existente no país e fez do Brasil uma República das Bananas.
Após o golpe de 2016, que alguns escritores coxinhas tentam em vão dizer que foi constitucional, apelando apenas para o fato de que a Constituição Federal prevê o Impeachment, mas, nada dizem quanto ao fato de que esta também afirma que o Impeachment somente deve ocorrer com a comprovação de crime praticado pelo (a) Presidente (a) e isto jamais se comprovou e gravações mostraram que as razões para se fazer o Impeachment/golpe era para salvaguardar o grupo criminoso contra a Operação Lava-Jato. Com o golpe, o Brasil abandonou o protagonismo que vinha tendo ao lado do BRICS, da UNASUL, do G-20, das relações Sul-Sul para voltar a ser aquele primo pobre, indesejável e pidão que os Estados Unidos e demais potências do G-7 se acostumaram a ignorar. É que embora os Estados Unidos digam defender a democracia, preferem uma ditadura amiga em países estratégicos do que uma democracia soberana e independente que não se curve às suas vontades e caprichos. O país está quebrado, dizem os golpistas, e, no entanto o supremo mandatário concedeu 41,5% de reajuste (somente em 2016) aos Magistrados cujos salários anabolizados e turbinados com adicionais eleva-os além do teto salarial constitucional, (numa manobra considerada legal, pois, este é o país do “jeitinho”) fazendo corar de vergonha os magistrados suecos, que não possuem carros oficiais e nem motoristas particulares, nem auxílios-moradia, etc. ou qualquer outro tipo de privilégio e seus salários tal qual os dos políticos são pouco acima daquele recebido por um professor.
Na Suécia, Deputados regionais (equivalente aos nossos Deputados Estaduais) recebem apenas ajuda de custo e, de forma geral, os parlamentares não possuem assessores particulares, estes são fornecidos pelos partidos políticos e cada assessor presta auxílio a três ou quatro parlamentares da legenda. Dessa forma, cada parlamentar organiza sua agenda, prepara os seus discursos e reserva suas passagens para os eventos oficiais sempre tendo o cuidado de utilizar o meio de transporte mais barato para não onerar o Estado. Os parlamentares suecos não aumentam o próprio salário como fazem os parlamentares brasileiros que há muito perderam a vergonha e o fazem até em momentos de corte de investimentos para a Educação, a Saúde, a Assistência Social em atitude de total escárnio com a sociedade. Em Estocolmo é fato comum encontrar parlamentares e magistrados indo para o trabalho ou para casa por meio do transporte coletivo. Houve até o caso de um Ministro milionário que adquiriu uma mansão e teve que pedir demissão por isso, pois, embora a aquisição da casa se fizesse com recursos comprovadamente próprios, a população escandalizada não se julgou representada por um político que não vivesse com o estilo de vida da maioria da população. Na Suécia, a política não é considerada um lugar para se fazer fortunas e nem viver nababescamente inversamente ao Brasil. Outro caso relatado no livro foi de uma Ministra que precisou pedir demissão do cargo, porque a imprensa descobriu e divulgou que ela não havia feito o registro trabalhista formal de sua babá e outra sofreu sério processo judicial que atrapalhou sua carreira política porque comprou um chocolate com dinheiro público. Enfim, a Suécia é do outro lado do mundo, mas, não é em outro mundo, saber que ela existe nos anima a acreditar, e lutar, para que a decência no trato da coisa pública ocorra também aqui, nestes até o momento “tristes trópicos”!
Sugestão de boa leitura:
Um país sem excelências e mordomias. Claudia Wallin. Geração Editorial, 2014.
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