quinta-feira, 15 de setembro de 2016
Cristovam Buarque: de patriota a golpista - Parte 1
Dentre os políticos que apoiaram o golpe parlamentar-jurídico-midiático de 2016, não há nenhum que tenha causado maior decepção aos setores progressistas da sociedade do que Cristovam Buarque, inclusive porque construiu sua carreira política em meio a estes e também porque tendo uma biografia tão interessante a preservar, preferiu bisonhamente jogá-la no limbo da história a que estão destinados todos aqueles que violentam a democracia. Cristovam cometeu não apenas suicídio político, mas, também suicídio biográfico. Penso que sua trajetória política merece uma breve reflexão, porém, é uma aposta de enorme risco, pois, certamente nos levará a percorrer o caminho entre a psiquiatria e a fisiologia política tentando encontrar o rumo de seus passos, que certamente um dia a história revelará em livros ou nas páginas de jornais e blogs.
Há mais de uma década tive contato com um artigo que descrevia a fala patriota e genial de um brasileiro, o ex-reitor da UNB (1985-1989), ex-governador do Distrito Federal pelo PT (1995-1998) e Senador da República eleito/reeleito nos pleitos (PT-2002) e (PDT-2010) Cristovam Buarque que ocupou também o cargo de Ministro da Educação do Governo Lula (PT) entre os anos de 2003 e 2004. Não tenho vergonha em reconhecer que me emocionei e li sua fala aos educandos e demais colegas professores da escola em que lecionava. Na época, Buarque cujo currículo registra ser engenheiro mecânico, economista e professor ao ser questionado durante um debate numa Universidade estadunidense por um universitário sobre o que pensava acerca da internacionalização da Amazônia, e, antes mesmo de atender ao jovem, este ainda emendou que esperava a resposta de um humanista e não de um brasileiro.
Assim respondeu Cristovam Buarque: "De fato, como brasileiro eu simplesmente falaria contra a internacionalização da Amazônia. Por mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse patrimônio, ele é nosso. Como humanista, sentindo o risco da degradação ambiental que sofre a Amazônia, posso imaginar a sua internacionalização, como também de tudo o mais que tem importância para a humanidade. Se a Amazônia, sob uma ética humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro. O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazônia para o nosso futuro. Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extração de petróleo e subir ou não o seu preço. Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser internacionalizado. Se a Amazônia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono, ou de um país. Queimar a Amazônia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais. Não podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação. Antes mesmo da Amazônia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo. O Louvre não deve pertencer apenas à França. Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas pelo gênio humano. Não se pode deixar esse patrimônio cultural, como o patrimônio natural Amazônico, seja manipulado e destruído pelo gosto de um proprietário ou de um país. Não faz muito, um milionário japonês, decidiu enterrar com ele, um quadro de um grande mestre. Antes disso, aquele quadro deveria ter sido internacionalizado. Durante este encontro, as Nações Unidas estão realizando o Fórum do Milênio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos na fronteira dos EUA. Por isso, eu acho que Nova York, como sede das Nações Unidas, deve ser internacionalizada. Pelo menos Manhattan deveria pertencer a toda a humanidade. Assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, cada cidade, com sua beleza específica, sua historia do mundo, deveria pertencer ao mundo inteiro. Se os EUA querem internacionalizar a Amazônia, pelo risco de deixá-la nas mãos de brasileiros, internacionalizemos todos os arsenais nucleares dos EUA. Até porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando uma destruição milhares de vezes maiores do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil. Defendo a idéia de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida. Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do Mundo tenha possibilidade de comer e de ir à escola. Internacionalizemos as crianças tratando-as, todas elas, não importando o país onde nasceram como patrimônio que merece cuidados do mundo inteiro. Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo. Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro lutarei para que a Amazônia seja nossa. Só nossa”!
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