sábado, 8 de outubro de 2016
O blackout da leitura no Brasil – Parte 2
Há vários artigos na imprensa dando conta de que houve aumento da escolaridade média do brasileiro na última década, e, todos são uníssonos, ante a garantia da universalidade do acesso à educação, agora é hora de se buscar níveis mais elevados de qualidade. No entanto, há enormes desafios a serem superados. O Indicador do Alfabetismo Funcional 2011/2012 (a pesquisa é realizada a cada dez anos) do Instituto Paulo Montenegro mostra que só um em cada três brasileiros com ensino médio completo é de fato alfabetizado (35%), e dois em cada cinco com formação superior (38%) teem nível insuficiente em leitura. A pesquisa ainda mostra que só um em cada quatro brasileiros (26%) é mesmo alfabetizado, idêntico patamar verificado em 2001, quando o indicador foi calculado pela primeira vez. Os analfabetos funcionais representam 27% do país e menos da metade da população (47%) tem nível de alfabetização considerado básico.
A consultora de projetos Fernanda Cury (Instituto Paulo Montenegro) afirma que muita gente nem tem consciência de que a água bateu no seu joelho e ignora a necessidade de melhorar sua capacidade de interpretação e escrita. Manolo Florentino, do Departamento de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) considera impressionante a coerência dos dados: uma formação básica ruim se expressa na graduação, tornando-a, em geral, muito ruim. Afirma ainda que no plano mais amplo da vida, os dados revelam uma enorme incapacidade de expressão. No plano acadêmico, distorcem em cadeia as funções do ensino básico, de graduação e pós-graduação, que tenta tapar os buracos de formação das etapas anteriores. O professor diz ainda que “não somos educados para a leitura, para cultivar o vocabulário e compreensão. Não temos o hábito de frequentar bibliotecas e o livro-mercadoria é caro, um problema sério para um estudante padrão”.
O Ministério da Educação avalia que o resultado é reflexo da exclusão histórica do brasileiro, dos séculos de não investimento no acesso escolar à educação. Os índices mostram a precariedade da alfabetização plena no país pelo ensino público e particular. No entanto, é difícil pensar o analfabetismo como um bloco de problemas homogêneo. O problema parece estar, por exemplo, em vários lugares e contextos (na cultura, na política, na mídia e nas instituições) e o papel da escola mudou na sociedade contemporânea com o acesso à informação ocorrendo em diferentes espaços como a Internet. Embora se espere que já a partir do 4º e 5º anos do Ensino Fundamental o aluno seja capaz de identificar a ideia principal de um texto, no entanto, muitas crianças não ultrapassam a fase de decodificação de símbolos e não usam estratégias para que a compreensão do que leem se dê de forma mais efetiva.
Segundo a professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Luciana Vellinho Corso essas dificuldades podem ser sanadas por uma prática de estudo voltada para estratégias de compreensão de texto. Segundo a professora, os bons leitores realizam uma série de ações, tais como: Ler e checar se entendeu; fazer perguntas sobre o texto; ler novamente quando o texto deixa de ser entendido; destacar as ideias principais; repetir o que foi lido usando suas próprias palavras; grifar termos desconhecidos. Os leitores que encontram mais dificuldade, diz Luciana, não percebem a possibilidade de parar a leitura e avaliar a própria compreensão: teem dificuldade de resumir um texto, pois, não sabem que informação selecionar; não usam o contexto para descobrir o significado de palavras; acreditam que a ideia principal do parágrafo é a primeira frase e que resumir é descrever tudo o que é possível lembrar-se da história. Segundo Anete Abramowicz da Universidade Federal de São Carlos, não há como exercitar a língua senão lendo e escrevendo, pois, o português é uma língua sofisticada. Os livros no Brasil são caros há que se criar uma cultura onde o livro seja importante. O Professor Luiz Antonio da Silva da USP afirma que na atualidade, a boa educação deixou de ser um valor na sociedade. Enquanto isso permanecer, será difícil reverter a situação.
FONTE: Adriana Natali. O apagão da leitura. Revista Língua Portuguesa, ano 8, nº 83. 2012.
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