quinta-feira, 27 de outubro de 2016
A primavera estudantil paranaense – Parte 2
Os estudantes que ocuparam as escolas estão tendo um aprendizado quanto ao exercício da cidadania maior do que qualquer aula dada pelo mais brilhante professor, pois, como sabemos a teoria sem a prática de nada vale, e, os estudantes nas ocupações conjugam ambas. Os estudantes sabem pelo que estão lutando, ou seja, as falas de indivíduos reacionários da sociedade (políticos ou não) que afirmam o contrário demonstram apenas que não visitaram uma escola ocupada e desejam apenas confundir/manipular a opinião pública. Estranhamente, as pessoas que criticam o exercício da cidadania que os jovens estudantes praticam ao ocupar escolas em protesto contra a arbitrária e autoritária medida provisória 746 que reforma o Ensino Médio e a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) Nº 241 foram favoráveis aos protestos de Junho de 2013, parecem entender que democracia é apenas quando os protestos beneficiam os interesses ou a ideologia que defendem. Penso que as pessoas que se opõem a ocupação das escolas não estão suficientemente esclarecidas sobre a gravidade de tais ações governamentais, pois, se estivessem estariam apoiando os estudantes em sua luta por uma educação pública gratuita e de qualidade evitando o retrocesso que a reforma do Ensino Médio apresenta, ou, então são pessoas que apoiam as medidas governamentais e tudo o que elas implicam, pois, não precisam da Educação e da Saúde Pública e talvez desejem que o governo reduza impostos ou os direcionem para o setor rentista.
O Estatuto da Criança e do Adolescente defende o protagonismo dos jovens na participação na vida política da sociedade em causas de seus interesses garantindo-lhe a manifestação política, neste sentido a lei ampara os estudantes em suas reivindicações contra as famigeradas medidas adotadas pelo ilegítimo governo Temer. E nas escolas ocupadas que visitei atendendo às solicitações dos estudantes para fazer falas de esclarecimento para a comunidade escolar sobre a MP 746 e a PEC 241 encontrei escolas limpas e bem cuidadas. Os estudantes fazem escalas para a realização das atividades e cuidam da limpeza, preparam a alimentação, cuidam das hortas escolares, molham as plantas, estabelecem regras em assembléia que são seguidas pelos ocupantes, e, demonstram ter conhecimento da causa pela qual lutam. Dentre os ocupantes, há líderes que se sobressaem, com falas articuladas que demonstram surpreendente maturidade. Também li que em algumas escolas paranaenses, estudantes estão trocando portas e fechaduras que se encontravam quebradas e também fazendo pinturas em alguns ambientes que se encontravam em estado precário de conservação.
Eu tive a oportunidade de conversar com professores e diretores de escolas públicas de municípios maiores, e, estes me contaram que nas ocasiões em que as escolas realizam belíssimas atividades educacionais ou culturais, as solicitações feitas pelos diretores para que os canais de TV fossem até as escolas para divulgar os eventos por elas realizados mostraram-se infrutíferas, pois, as equipes de TV somente vão às escolas para fazer reportagens pautando aspectos negativos, tais como a violência na escola, drogas, ou as greves, quando contra a vontade dos trabalhadores em educação e também dos educandos as aulas são suspensas, pois, os profissionais da educação precisam lutar por melhores condições de trabalho. Os estudantes estão ocupando escolas há quase duas semanas, e, mesmo tendo ultrapassado a marca de mil escolas ocupadas, a Grande Mídia se mantém praticamente calada quanto ao belíssimo movimento dos estudantes já comparado a outros grandes fatos históricos como as “Diretas Já” ou os “caras-pintadas” que saíram às ruas para protestar contra a corrupção do Governo Collor e tiveram importante papel no desencadeamento das ações que levaram ao Impeachment de Fernando Collor de Mello. Os jovens estavam muito preocupados em manter a ordem e bons comportamentos nas ocupações, pois, sabiam que com quaisquer atitudes indisciplinadas de alguns de seus integrantes seriam recriminados pela sociedade. Ao analisar a preocupação deles quanto à disciplina dos integrantes dou-lhes razão, pois, quem nunca se interessou pela disciplina e bom comportamento dos estudantes durante as aulas ou, mesmo quem nunca deu o devido valor à escola pública agora está vigilante e caso excessos ocorram nas ocupações certamente se tornarão manchetes nos jornais. Os livros daqui a algum tempo, no entanto, retratarão o belíssimo protagonismo desta juventude que é semente de uma sociedade mais humana e menos injusta, cuja palavra cidadania deixará de ser uma palavra exótica do dicionário e se tornará prática inalienável de todos.
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