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sábado, 9 de agosto de 2025

A importância do ato de ler

 

        


Paulo Freire (1921-1997), mestre eterno da educação, denuncia em sua obra "A importância do ato de ler", o absurdo do analfabetismo que persiste no mundo, mesmo no século XXI. Para ele, ler vai além de decifrar letras: é interpretar criticamente a realidade, a "leitura do mundo". Sua luta não era só alfabetizar, mas emancipar, transformando a sociedade a partir da consciência crítica.

            Freire criticava a educação mecânica e defendia a "leiturização", ou seja, entender e intervir nas questões sociais. Infelizmente, ainda estamos longe disso, especialmente nos países pobres, onde o analfabetismo e a "má formação" (pessoas que leem, mas não refletem) perpetuam desigualdades. Muitos, mesmo com diplomas, têm visões limitadas do mundo, repetindo opiniões vazias sem compreender o contexto em que vivem.

            A verdadeira leitura exige reflexão sobre o vivido e o lido, desvendando a essência das coisas. A educação não pode ser neutra, como pregam os defensores do neoliberalismo, afinal, essa falsa neutralidade serve aos interesses da elite. Cabe aos educadores despertar nos alunos a consciência crítica, mostrando que o sistema atual concentra riqueza e gera fome.

            Freire nos convoca à coerência: unir teoria e prática, sonhar com uma sociedade justa e lutar por ela. "Estudar é um ato revolucionário", dizia, pois só o conhecimento liberta. O Brasil, foi criado "de cima para baixo" e precisa ser reinventado pela educação popular, onde todos sejam construtores da história, não espectadores.

            Tal qual o filósofo Sócrates, "sabemos que nada sabemos", mas seguimos aprendendo, porque transformar o mundo começa pela leitura crítica dele. Afinal, ninguém ignora tudo, ninguém sabe tudo, mas todos podemos lutar por justiça social.

 

Sugestão de boa leitura:

Título:  A importância do ato de ler: em três artigos que se completam.

Autor: Paulo Freire.49 ed., São Paulo, Cortez, 2008.

Editora: Cortez, 2008, 49 ed., 104 p.

sábado, 2 de agosto de 2025

Guerreiros do Sol (com spoiler)

 

Há alguns dias, devido o recesso escolar, resolvi escolher um livro que fosse interessante e cuja leitura não exigisse grande concentração, afinal, a mente, o instrumento de trabalho de todo professor, também precisa de descanso. Eis que me deparo com o livro Guerreiros do Sol: violência e banditismo no Nordeste do escritor Frederico Pernambucano de Mello (1947). Na ocasião, ainda não tinha conhecimento da série de título homônimo do canal de streaming Globoplay, que pretendo assistir brevemente.

            O escritor escocês Charles MacFarlane (1799-1858) citado no livro de Mello, afirma acertadamente: "Existem poucos assuntos que nos interessem mais que as aventuras de salteadores e bandidos". Provavelmente foi essa a causa da escolha que fiz dessa obra, mesmo já tendo lido alguns clássicos sobre o tema.

            Ao iniciar a leitura, observo que a obra, não traz apenas relatos históricos, mas toda uma discussão sociológica, geográfica, histórica e política sobre o cangaço, sua origem, extensão, personalidades principais e partícipes. Mesmo assim, dada a boa escrita do autor, a qual torna a leitura prazerosa, não desanimei e encarei o calhamaço.

            Ao tratar do tema do cangaço, uma das perguntas sempre feitas, é o que levou tais pessoas dele participarem. Houve escritores que afirmaram se tratar de uma revolta contra o monopólio da terra e a exploração do trabalhador rural pelo latifundiário; Houve quem considerasse que o cangaço era uma revolta contra o capitalismo explorador, mesmo que seus atores (cangaceiros) fossem ignorantes da teoria marxista que, no entanto, agiam imbuídos pelo sentimento intrínseco. Também há aqueles que viram no cangaço, uma resposta ao autoritarismo dos coronéis políticos do sertão.

            Segundo Frederico, não há um único motivo, mas três, a saber: 1. O cangaço como meio de vida, na qual os criminosos, têm no cangaço, a sua forma de subsistência, sendo que muitos chegaram a enriquecer no ofício e se "aposentaram", indo morar em paragens em que não eram conhecidos (muitos não viveram para tal). 2. O cangaço de vingança, quando os criminosos entraram para o cangaço, para fazer a vingança, seja de um pai/irmão assassinado ou de uma moça da família que tenha sido deflorada e que deixaram o cangaço após a realização da vingança. 3. O cangaço como refúgio que trata-se de homens que cometeram crimes, tais como homicídios e/ou estupros e têm a cabeça a prêmio, dessa forma entram para o cangaço para ter maior proteção, sendo que dele não podiam se retirar.

            Surpreendentemente, o cangaço também recebeu rapazes das melhores famílias, sem qualquer  influência doméstica e, sem um motivo aparente que não a imaginação fértil, da vida de aventura e suposto heroísmo, prova de fogo de sua masculinidade. Tais jovens sumiam de suas casas e, depois a família, atônita recebia a notícia de que estavam fazendo parte de algum grupo de cangaço. Há relato de um cangaceiro que não soube explicar por que entrou para o cangaço.

            Na obra, Mello descreve os papeis de sertanejos, cabras, capangas, jagunços, pistoleiros e cangaceiros. Descreve ainda os hábitos dos cangaceiros que abusavam de perfumes, jóias e roupas com detalhes bordados com uma vaidade que não ficava aquém do sexo feminino. Também suas crenças (religiosas ou não), como a de que após o ato sexual o homem perdia sua "oração" e ficava vulnerável às balas, por isso era melhor, não ter mulher no bando.

            O cangaço foi um fenômeno que ocorreu no século XIX e XX, sendo o apogeu de 1870 a 1940. Estudos demonstram que após as grandes crises de seca no sertão nordestino, as ações dos cangaceiros se intensificavam. Frederico classifica os surtos de cangaço como endêmicos em alguns períodos que ficaram restritos a algumas áreas específicas e como epidêmicos quando se disseminava por grande parte da região nordeste.

            O sertão nordestino nos estados de Bahia, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará foi o ambiente ideal para que os criminosos agissem, utilizando a estratégia de guerra de guerrilha, atacavam fazendas, vilas e cidades e se embrenhavam na caatinga, fazendo longas caminhadas diárias, para surgir em um local distante, para fazer nova surtida. A geografia do sertão nordestino quanto ao relevo, ao clima e à vegetação é perfeita para os criminosos se esconderem, pois se tornaram exímios na orientação e deslocamento e faziam seus locais de descanso em pontos estratégicos para o enfrentamento, caso fossem surpreendidos.

            É importante dizer que os cangaceiros não tinham patrão, e em suas longas travessias, eram protegidos por alguns fazendeiros que lhe davam pouso temporário, para fins de descanso em suas terras e, que por isso eram chamados de coiteiros. Os fazendeiros em troca recebiam "proteção" dos cangaceiros, mas, não havia relação de submissão de nenhuma das partes, que se beneficiavam mutuamente desse esquema. Também coronéis políticos da região mantinham relações de troca de favores com cangaceiros. 

            A sociedade sertaneja não gostava da polícia, que era considerada muito violenta e muitas vezes repassavam informações de sua chegada aos cangaceiros. Havia dentre os cangaceiros, alguns que distribuíam algum dinheiro para as pessoas pobres por onde passavam. Também não se pode romancear o período, pois os ataques de grupos de cangaço à localidades sertanejas costumavam resultar em saques, destruição, mortes e estupros, principalmente quando havia resistência da população local.

            Os cangaceiros sempre afirmavam ter um "escudo ético", ou seja, um motivo que os levou para o mundo do crime. A crença popular era a de que no sertão quem não se vinga, já está moralmente morto. Virgulino Ferreira da Silva, vulgo Lampião (1898-1938) afirmava que tinha entrado para o cangaço para se vingar de seus desafetos José Saturnino e do tenente José Lucena.

            Apesar de seu escudo ético, estudos mostram que Lampião nunca se esforçou em fazer sua vingança. Há até um relato de um famoso pistoleiro que se ofereceu para "fazer o serviço" para Lampião, mas este afirmou que não precisava, pois era assunto antigo, caduco, tendo agradecido a oferta com alguns agrados materiais, uma faca finamente acabada e algum dinheiro.

             Por esse motivo, Lampião é classificado como integrante do cangaço meio de vida. Lampião, sempre que era questionado sobre por que não aproveitava a fortuna que tinha e se retirava do cangaço, se irritava e devolvia a resposta com uma pergunta: o senhor se retiraria de um negócio que está rendendo bem?

            Lampião, em que pese, a sua fama de violento e cruel, e isso é verdadeiro, em muitas  ocasiões, com fazendeiros e autoridades que lhe eram bem quistas, foi relatado como uma "moça" na delicadeza com que tratava seus amigos de fina estirpe.

            No auge do cangaço, alguns estudiosos tiveram contato com membros do cangaço e os descreveram como resolutos, bravos, vingativos e extremamente ignorantes, mas, também corajosos, generosos, sinceros e hospitaleiros. Nem por isso, pode-se esquecer os inúmeros crimes horrendos praticados por cangaceiros, um deles, José Baiano detestava mulheres que mantinham cabelo curto. Há relatos de estupros perpetrados por esse cangaceiro que marcava suas vítimas com ferro quente com suas iniciais, uma delas, cuja fotografia aparece no livro, foi marcada em uma das faces.

            Maria Gomes de Oliveira (Maria Bonita) seguiu Lampião no cangaço por sua livre vontade, mas nem todas tiveram essa opção. Havia dentre as mulheres, em grupos de cangaço, aquelas que foram obrigadas a seguir o cangaceiro que lhe raptou. O grupo de Lampião, foi pioneiro em admitir mulheres no bando, mas isso não era algo comum. Enquanto Sérgia Ribeiro da Silva (1915-1994), vulgo Dadá (esposa de Corisco), pegou realmente em armas, em geral, as cangaceiras não faziam a frente de luta (apesar de portarem pistolas e facas) e nem abriam mão de sua feminilidade. Eram para os cangaceiros um oásis de amor, paz e delicadeza em meio a rusticidade, a aspereza da caatinga e do cotidiano do cangaço. Filhos quando vinham eram enviados para adoção por pessoas devidamente selecionadas, às quais era enviada uma carta e a recomendação quanto ao nome para batismo.

             Lampião ficou rico com o cangaço e tinha amigos que cuidavam do seu tesouro, emprestava dinheiro a juros e cobrava os devedores inadimplentes com bilhetes ameaçadores. No sertão, embora houvesse compreensão com quem cometia homicídio, isto não acontecia no caso de roubo. Um cangaceiro, ao prestar depoimento, se exasperou com o delegado de polícia, que o acusou de roubo, disse-lhe que o chamasse de assassino, jamais de ladrão, pois não havia furtado, havia tomado bens à mão armada, ou seja, o proprietário estava presente e poderia ter defendido seus bens.

            Na obra, Mello relata que Cristino Gomes da Silva Cleto, vulgo Corisco, havia alertado Lampião que a Grota do Angico em Poço Redondo (SE) cheirava a defunto, Lampião que gostava de acampar ali, não lhe deu ouvidos, estava com excesso de confiança e abdicando de maiores cuidados quanto à proteção. No de 28 de julho de 1938, tendo obtido informações prévias da presença de Lampião e seu bando e, vindo do município de Piranhas (AL) que o tenente João Bezerra da Silva (1919-1955) de posse de três metralhadoras, encontraram o bando dormindo e fuzilaram-nos, sem que estes conseguissem reagir. As cabeças de Lampião e de seus integrantes foram decepadas e expostas na escadaria de prefeitura de Piranhas.

            Corisco foi o único cangaceiro do bando de Lampião a sobreviver, mas, tendo continuado a agir e a ameaçar a polícia foi morto dois anos depois. Dadá, sua esposa, foi presa e depois de ganhar a liberdade, refez sua vida, casou-se novamente e morreu em 1994. O ano de 1940, marcou oficialmente o fim do cangaço. O cangaço custou vultosa fortuna para o erário público de estados e da própria União. O enfrentamento definitivo do cangaço somente foi possível, com acordos feitos entres os entes federativos da União, afetados pela ação dos criminosos, no sentido de que diligências de um estado pudesse adentrar o estado vizinho quando em perseguição aos cangaceiros, frustrando manobra muitas vezes realizadas para escapar das volantes.

P.S. De forma alguma, essa resenha substitui o prazer e o conhecimento obtido com a leitura da obra!

 

Sugestão de boa leitura:

Título: Guerreiros do Sol: violência e banditismo no Nordeste.

Autor: Frederico Pernambucano de Mello.

Editora: CEPE, 2023, 612 p.

sábado, 26 de julho de 2025

Nós precisamos conversar sobre Lula!

 

            Há algum tempo, estou preocupado com você! Sabe, tenho o costume de ouvir mais e falar menos, afinal, sempre acreditei que, para isso, a natureza nos dotou de dois ouvidos e uma só boca. Rubens Alves (1933-2014) disse que "todo mundo quer aprender a falar, mas ninguém quer aprender a ouvir" e que "diante da profusão de cursos de oratória, a sociedade está precisando mesmo é de cursos de escutatória".

            Algumas pessoas, quando me encontram, desejam entabular diálogos, confrontando sua ideologia à minha, mas, sou professor, falo muito na escola e, muitas vezes desejo o silêncio, que não encontro em minha profissão. Dessa forma, costumo apenas ouvir as pessoas, foi assim com você, e, gosto disso, pois muitas vezes tenho inspiração para escrever sobre algum tema.

            Há mais de três décadas, você afirma que Lula é um analfabeto! Sério mesmo? Você conhece a história de Lula? Lula é um legítimo self made man! Aquele tipo de pessoa que a direita adora endeusar! Não o faz com Lula, porque ele está no outro lado do espectro ideológico.

            Você sabia que Lula nasceu em 1945, na localidade de Caetés, em Garanhuns - Pernambuco e, que para fugir da morte pela fome, veio com sua mãe e seus irmãos em um pau de arara (caminhão) para Santos, em busca de seu pai, que já mantinha outra família?

            Você sabia que o menino Lula teve que trabalhar como engraxate, vendedor, office-boy, etc. para ajudar a conseguir sustento para a família? E que sua família morava em local de risco e perdeu o barraco e tudo o que tinham numa enchente?

            Você sabia que Lula e seus irmãos, dada a pobreza em que se encontravam, priorizaram a sobrevivência? Optando por trabalhar (opção pelo imediato) e não por estudar Ensino Fundamental II, Médio e Superior (opção pelo futuro) devido a necessidade?

            Você sabia que Lula, nos poucos anos de estudo formal (atual Ensino Fundamental I) que teve, sempre se destacou como um dos melhores da turma? E que dado o seu enorme carisma, foi alçado pelos companheiros operários à liderança do movimento sindical? Em um momento em que ele mesmo era relutante?

            Você sabia que Lula, foi eleito presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e que comandou greves, sendo por isso preso pela ditadura militar, sem no entanto, desistir ou fugir do país?

            Você sabia que Lula, quando era líder sindical, várias vezes foi convidado a participar de eventos da classe trabalhadora na Europa, na condição de palestrante? Nada mal para um analfabeto, não?

            Você sabia que Lula enviuvou duas vezes? E que sua primeira esposa morreu no oitavo mês de gestação e sua segunda esposa morreu enquanto Lula sofria um processo injusto, ilegal, pois, inconstitucional (lawfare).

            Você sabia que o "analfabeto" Lula foi um dos principais fundadores do Partido dos Trabalhadores (PT)? E que Lula também foi um dos criadores da Central Única dos Trabalhadores (CUT)?

            Você sabia que Lula foi eleito o deputado federal mais votado em 1986, e fez parte da Assembleia Nacional Constituinte?

            Você sabia que Lula disputou seis eleições para presidente, perdendo as três primeiras e vencendo as três últimas? E que Lula está ocupando pela terceira vez o cargo de Presidente da República? Nada mal, para um analfabeto, hein?

            Você sabia que nenhum político brasileiro, na história nacional, foi mais tempo difamado e atacado com fake news pela mídia tradicional e alternativa do que Lula? E que nenhum político teve sua vida mais investigada e devassada do que ele e, inclusive seus familiares?

            Você sabia que Lula não pode comparecer aos velórios de um netinho e de um de seus irmãos, por estar injusta e ilegalmente preso? E que passou 580 dias preso, sem que nenhuma prova legal contra ele fosse encontrada? Em um processo internacionalmente reconhecido como de Lawfare, inclusive pela ONU, e que mais tarde foi anulado? E que teve como objetivo alijá-lo da disputa à presidência (2018) para que o candidato da extrema-direita tivesse chances reais de vitória, sendo o juiz (Sergio Moro) que o condenou, alçado ao cargo de Ministro da Justiça do presidente eleito (Jair Messias Bolsonaro), algo no mínimo, suspeito! Não é?

            Você sabia que Lula é muito conhecido e respeitado no exterior? Sendo recebido por rainhas, reis, e outras grandes autoridades que adoram posar a seu lado para fotografias? E que pensadores de outros países se surpreendem, com o fato de que os brasileiros não percebem ter como presidente, alguém que é do porte de Nelson Mandela (1918-2013), como afirmou o ex-presidente uruguaio Pepe Mujica (1935-2025)?

            Você sabia que Lula tem seu nome internacionalmente vinculado ao combate à fome e à miséria? E que ele fez isso, porque ele próprio, poderia ter sido uma vítima fatal da fome em sua infância? Que ele não esqueceu de onde veio? E que a ONU reconheceu na figura dele, os esforços e os grandes resultados alcançados no combate à fome e à miséria no Brasil?

            Você sabia que Lula, encerrou seu segundo mandato (2010) com 83% de aprovação? Sendo considerado um dos melhores presidentes que o Brasil já teve? E que estudiosos consideram que no futuro, Getúlio Vargas (1882-1954) e Lula serão, por sua importância, os mais lembrados e estudados?

            Você sabia que Lula, várias vezes, na defesa dos interesses nacionais, se impôs perante líderes estadunidenses e europeus, mas soube dialogar amistosamente com nações menos poderosas que o Brasil?

            Você sabia que nos jardins da Casa Branca, em Washington - DC, há dez estátuas de grandes líderes  da história mundial e, que uma delas é de Lula, e que Lula é o único que foi homenageado em vida?

            Você sabia que Lula, dentre outras honrarias, tem 36 títulos de Doutor Honoris Causa, concedidos por Universidades do Brasil e de vários países do mundo? Nada mal para um analfabeto! Não?

            Você sabia que vários livros sobre ele foram escritos e publicados no Brasil e no exterior, inclusive por escritores estrangeiros? Nada mal para um simples analfabeto, não?

            Você disse que Lula é um analfabeto, mas você assistiu discursos integrais dele? sem os tradicionais cortes e edições de fake news que a oposição lança para desacreditá-lo? Como você tem estudo e diplomas, você se dispôs a ouvir com atenção e refletir sobre o conteúdo de sua fala? A essência de sua fala é a de um analfabeto comum?

             Lula não é um analfabeto, pois sabe ler e escrever. E lê mais livros do que muita gente estudada. Lula é um autodidata, uma pessoa dotada de grande poder de reflexão e de sensibilidade social. Isso é algo atestado por intelectuais que com ele convivem. Li várias vezes testemunhos em tal sentido. Lula aprende ouvindo (se cerca de intelectuais) e lendo livros e sobre eles refletindo.

            Uma pesquisa recente mostrou que enquanto o número de analfabetos no Brasil diminuiu, mesmo que lentamente, países vizinhos já exterminaram tal chaga social há várias décadas. Uma chaga persiste, o analfabetismo funcional, ou seja, pessoas que às vezes possuem até diploma do Ensino Superior, mas são incapazes de compreender a essência de um texto, seja ele em papel, ou da vida.

            Lula, pela definição do dicionário, não é analfabeto, menos ainda analfabeto funcional, pois, demonstra genialidade na percepção e compreensão dos fatos, seja de suas leituras, sempre com uma inteligibilidade ímpar, para falar e fazer se compreender ao/pelo povo comum do qual ele próprio é parte.

            Como disse, no início destas linhas, estou preocupado com você, afinal, você é da classe trabalhadora, portanto pobre, tem mais estudo que Lula, mas, não consegue entender que a inteligência não é alcançada apenas nos bancos escolares e, que muita gente sai da escola e da universidade tão pouco iluminada quanto quando nelas ingressou. Lembro de um colega professor que afirma que "diploma não encurta orelhas".

            É por isso que observamos trabalhadores, portanto pobres, sem capacidade de interpretar textos consequentemente sem consciência de classe,  votando e defendendo quem os oprime e dirigindo toda a forma de preconceito contra quem luta em seu favor. É a Alegoria da Caverna de Platão da vida real!

            Você disse que Lula é analfabeto! Sério? Você acredita mesmo nisso? È a sua parte racional ou sua parte emotiva que pensa isso? Será que o problema é Lula ou a sua própria incapacidade de análise?        Será que você está certo e pessoas do mundo todo estão erradas? Sabe, o preconceito revela mais sobre quem o emite do que sobre quem é alvo.

            Eu estou preocupado com você! Se você após ler estas linhas, ainda acredita que Lula é um analfabeto, só posso lhe desejar: melhoras!

 

sábado, 19 de julho de 2025

Autobiografia: o mundo de ontem - Stefan Zweig

 

Este humilde escriba e inveterado leitor, não considera bom um ano cujo menu literário a ser degustado, esteja desprovido de pelo menos um exemplar da safra de Zweig. No ano passado, nos esbaldamos, foram cinco livros. Doravante, para não esgotar rapidamente a fonte, pretendo ir com mais calma.

            Aos assíduos leitores desse espaço, não é necessário apresentar Stefan Zweig (1881-1942), porém, o faço, em respeito aos leitores que porventura possam estar em contato inicial com esta coluna. "Stefan Zweig foi um escritor, romancista, poeta, dramaturgo, jornalista e biógrafo austríaco de origem judaica. A partir da década de 1920 e até sua morte foi um dos escritores mais famosos, traduzidos e publicados do mundo" (Wikipédia).

            Stefan Zweig nasceu em Viena (Áustria) numa família abastada de origem judaica. Seu pai era industrial e que segundo o autor teria vivido a melhor época para se viver, pois era um tempo de paz, de avanços científicos e de progresso material do país e de seus habitantes. Zweig, por sua vez, não teve a mesma sorte, pois foi uma testemunha ocular da história nacional e mundial, pois presenciou a virada de século, a Primeira Guerra Mundial, o período da reconstrução e ascensão do nazifascismo e o início da Segunda Guerra Mundial.

            No livro, o autor escreve sua própria biografia, na qual considera que mais importante do que ele, são as pessoas brilhantes que conheceu e os fatos históricos que testemunhou. É realmente impressionante a lista de celebridades da música, Richard Strauss (dentre outros), artistas como Auguste Rodin (dentre outros) e da literatura, Thomas Mann, Joseph Roth, James Joyce, Sigmund Freud (dentre outros).

            O autor discorre sobre os tempos em que se podia viajar pelo mundo sem vistos no passaporte e também de uma Paris cosmopolita que a todos acolhia. Zweig nasceu e viveu sua adolescência e juventude na Áustria, um país que não valorizava o materialismo, mas a cultura, a música, o teatro, a arte.

            O jovem Stefan Zweig cursou as melhores escolas particulares, das quais não tem boas lembranças, pois foi nelas que aprendeu a odiar o autoritarismo. Nelas os jovens estudantes não eram vistos como seres em formação, e sim como indivíduos que deveriam buscar a excelência sempre.

            Zweig, quando jovem, decidiu fazer um curso universitário fácil, pois os tempos escolares não lhe ofertaram o prazer pelos estudos. Cursou filosofia, apesar de já ter descoberto em si, o prazer pela escrita, inicialmente pela poesia.

            Stefan tinha como hobby predileto o xadrez e, também o hábito de colecionar manuscritos e objetos de escritores e artistas famosos, inclusive participando de leilões para sua aquisição. Coleção que teve que se desfazer e até mesmo doar, pois na condição de judeu, teve que peregrinar pelo mundo para escapar das garras do nazismo.

            O autor sempre teve grande humildade e se espantava com o sucesso de suas obras, não julgava ser merecedor de tanto reconhecimento. Cosmopolita, adorava viajar pela Europa, inicialmente, a lazer ou para uma imersão cultural. Gostava, apesar de seu poder financeiro, de ficar hospedado em bairros populares, pois considerava que lá é que a vida de verdade acontecia. Com a carreira de literato consolidada, passou a viajar pelo mundo, promovendo palestras e o lançamento de seus livros em diferentes países.

            No livro, Stefan relata como percebeu os ventos das mudanças na Áustria e na Europa e, de que começou a se preocupar com o desenrolar dos fatos históricos (hoje conhecidos) enquanto muitos ainda mantinham a calma. Buscou alertar conhecidos seus, que pareciam crer que estava exagerando, pois julgavam estar do lado seguro da fronteira, numa Áustria cosmopolita e que acolhia bem os judeus.

            Zweig morava na pequena Salzburg, cidade de fronteira com a Alemanha, separada por um pequeno rio, de onde ficava sabendo os horrores da ascensão do nazismo naquele país. Livros começaram a ser queimados pelo nazismo, os seus estavam entre os proscritos. Na Itália, há algum tempo, o fascismo fizera o mesmo.

            Como dissemos, na condição de judeu, alertou os demais e seguiu rumo ao exílio, mudando de país sempre que o perigo nazista se aproximava. Esteve na Inglaterra, foi aos Estados Unidos, mas, se apaixonou pelo Brasil e sua gente.

            Escreveu a obra "Brasil: país do futuro" no qual tecia elogios, que sinceramente, nunca merecemos, em tempos atuais, menos ainda, com a ascensão da mesma ideologia de extrema-direita da Alemanha, inclusive com um grupo político se apropriando do lema nazista "Alemanha acima de tudo, Deus acima de todos".

            Stefan Zweig, escolheu a região serrana de Petrópolis para residir, e nela recebia informações sobre a destruição da Europa, juntamente com as notícias de parentes e amigos, mortos pelo regime nazista. Zweig, amava o velho continente e sonhava com uma Europa unida, muito antes de alguém sugerir a formação de qualquer coisa parecida com a União Europeia.

             Sem conseguir se adaptar ao novo mundo que surgia e, no qual ninguém conseguia parar os exércitos nazistas, Zweig e sua companheira, suicidaram-se (1942) com doses letais de barbitúricos, logo após o envio (para seus editores) da obra aqui resenhada para publicação. A casa onde viveu e morreu, é hoje um museu em sua homenagem.

 

Sugestão de boa leitura:

Título: Autobiografia: O mundo de ontem - memórias de um europeu.

Autor: Stefan Zweig.

Editora: Zahar, 2014, 400p.

 

sábado, 12 de julho de 2025

Stonehenge


A sociedade humana se defronta com ruínas de antigas civilizações, cujas obras monumentais constituem grande assombro, como as pirâmides do Egito ou as cidades abandonadas de Machu Picchu (Peru), Chichén Itzá e Teotihuacan no México. É um mistério a finalidade com que foram construídas e, principalmente, como conseguiram construí-las com as limitações técnicas de que dispunham.

            Stonehenge, localizada na planície de Salisbury (Inglaterra)  é um legado deixado por uma civilização antiga que desafia os arqueólogos na compreensão da finalidade de sua construção e, também sobre como conseguiram transportar monólitos de várias toneladas por dezenas e até centenas de quilômetros. A dificuldade maior na compreensão se deve ao fato que esse henge (monumento pré-histórico circular) foi erigido ao longo de séculos, por uma civilização que não dominava a escrita.

            Várias teorias foram publicadas sobre Stonehenge, dentre outras: observatório astronômico (inclusive encontra-se alinhado com os solstícios); mausoléu para as lideranças do grupo tribal; templo da morte (local para sacrifícios humanos aos deuses) e a mais recente descoberta com a utilização de equipamentos modernos para a captação de som, que constatou que aquele ambiente funciona como uma câmara de eco capaz de levar as pessoas a ficar em transe (uma sensação de relaxamento) ocasionada pelo batimento ritmado e acelerado de tambores, que já existiam naquele período.

            Escavações realizadas no local, encontraram ossadas humanas de pessoas com deficiências físicas e, outras mortas/sacrificadas a flechadas. Pequenas peças em ouro no formato de losango também foram encontradas junto à ossada de um guerreiro que possuía uma proteção de pedra em um dos braços, supostamente para proteger o punho, ao atirar com o arco.

            Bernard Cornwell, em seu romance Stonehenge, mistura arqueologia e ficção, retratando a tribo fictícia Ratharryn, sempre em espírito conflituoso com Cathallo. O chefe Hengall tem três filhos: Lengar (ambicioso e violento), Camaban (deficiente, expulso mas tornado feiticeiro) e Saban (o mais novo, pacífico). Lengar assassina um estrangeiro, rouba peças de ouro sagradas e, após trair o pai, assume o poder. Saban é vendido como escravo, enquanto Darrewyn, nativa de Cathallo, noiva de Saban na aliança de paz realizada entre os chefes dos povos conflitantes, é agredida por Lengar e seus  guerreiros. Darrewyn foge para Cathallo e torna-se feiticeira, substituindo sua avó, morta por Camaban.

            Anos depois, Saban, liberto, descobre que as peças de ouro pertencem a uma tribo costeira que sacrifica jovens ao deus Sol. Camaban manipula Lengar para construir um templo magnífico (Stonehenge), prometendo a ele poder divino. A trama explora fanatismo, vingança e a obsessão humana por erguer monumentos eternos, ainda que à custa de sangue e loucura. Com o fim de evitar spoiler, encerro aqui a resenha! Fica a dica!

 

Sugestão de boa leitura:

Título: Stonehenge.

Autor: Bernard Cornwell.

Editora: Record, 2008, 504 p.


 



sábado, 5 de julho de 2025

A Educação e a Saúde e a saúde da Educação - parte 3

 

         É do conhecimento de todos, a precariedade das condições de trabalho dos professores no Paraná e no Brasil, sendo esta a causa do adoecimento físico e mental da categoria. Uma colega professora me disse estar trabalhando no sacrifício, visivelmente abatida, doente, perguntei-lhe: por que você não consulta? O médico certamente lhe daria alguns dias de atestado para você se recuperar. Ela afirmou já ter consultado, mas que recusou a licença médica sugerida pelo médico, pois isto lhe prejudicaria para pegar aulas no ano seguinte.

            Também causou comoção, um professor internado que da cama do seu quarto no hospital assistia a um curso de formação para professores do Estado do Paraná, que não aceitava faltas e nem atestado médico como justificativa. A participação no curso é vital para a atribuição de aulas do ano seguinte. Estes não são casos isolados, recentemente, duas docentes morreram em escolas, uma sob cobrança por metas inalcançáveis em plataformas digitais. Autoridades criticam o uso de atestados médicos, mas ignoram ou fazem vistas grossas para as causas do adoecimento dos mestres.

            As causas do adoecimento dos professores passam por salas superlotadas (30-40 alunos), o que favorece a indisciplina, problema já destacado em pesquisas da OCDE (38 países). Professores são culpados pelo baixo rendimento dos estudantes, mas enfrentam falta de apoio familiar, alunos desinteressados e infraestrutura escolar inadequada. Governantes exigem metas praticamente inalcançáveis (como no IDEB) sem fornecer condições de trabalho adequadas, sobrecarregando os docentes.

            A desvalorização salarial é alarmante: o Brasil paga os menores salários da OCDE para professores, e muitos estados e municípios descumprem a Lei do Piso do Magistério. Governantes estaduais e municipais pressionam parlamentares por sua revogação. Esses mesmos governantes concedem para os cargos de sua nomeação política, remunerações maiores que a dos mestres.

            A precarização das condições de trabalho na Educação, afasta jovens da profissão, ameaçando um "apagão" de docentes em futuro próximo. A gestão míope das autoridades, mais preocupadas com obras físicas do que com educação de qualidade, oferta um ensino público esvaziado e desumanizado, de tipo empresarial, cuja finalidade máxima, para não dizer única é o ranking (IDEB) com fins de marketing político e, lança sombras sobre o futuro dos estudantes e da nação.

 

           

sábado, 28 de junho de 2025

A Educação e a Saúde e a saúde da Educação - parte 2

 

                 Há alguns dias, fiquei estarrecido ao ver uma postagem de deputado estadual (por meio de seu perfil oficial) em uma rede social, que exaltava sua ação na defesa da não obrigatoriedade da vacinação. Sei que a interação com o público (nesses perfis) ocorre por meio de assessores e, raramente pelo próprio político. E isso tem razão de ser, políticos, numa atitude impensada, podem comprometer sua imagem e, ou mesmo a campanha eleitoral. Há que se ter pessoal especializado para tal tarefa.

            Sou avesso a "meter o bedelho" em publicações alheias, e também  sei que a intenção do referido perfil oficial era "jogar confetes" para sua plateia, mesmo assim, tratava-se de um perfil parlamentar, que, em meu ver, estava dando mau exemplo em um tema sensível, a saúde. Não me contive e afirmei que, "ser antivacina em pleno século XXI, era ter uma mentalidade compatível com a do medievo". Um dia depois, veio a resposta, afirmando que  não se tratava de ser antivacina, mas de democratizar a decisão de se vacinar ou não. Eu aprendi com o saudoso jornalista conterrâneo João Olivir Camargo, que existem temas, cujo teor polêmico, podem e muitas vezes, devem ser evitados. Há que se ter bom senso.

            Respondi que o obvio seria estimular a vacinação, dada a sua importância, haja vista que foi graças à ciência e não às religiões, o aumento da expectativa de vida dos seres humanos. Basta pesquisar dados oficiais e se constata que os países e cidades que mais vacinaram, obtiveram menores índices de óbitos e de estágios graves de doenças como a Covid 19.       Penso que é uma irresponsabilidade, sob a alegação de uma pretensa escolha democrática cidadã, estimular, mesmo que indiretamente, a não vacinação. Afirmei que os pecuaristas, não acreditam em "imunidade de rebanho", afinal eles vacinam o gado, pois, a morte de reses gera prejuízo.

            A vacina, muitas vezes, pode não evitar a doença, mas evita as formas graves cujo tratamento é mais demorado e dispendioso para o Sistema Único de Saúde (SUS), com internamentos (inclusive em UTI), quando não da perda de vidas de trabalhadores, que contribuíam para o crescimento econômico nacional. Trabalhadores podem ser substituídos, porém, os entes queridos, não.

            Disse também que, as pessoas que não se vacinam, tornam-se agentes transmissores de doenças para as demais, principalmente aquelas que convivem em ambientes coletivos, tais como as escolas. Viver em sociedade, implica ter empatia, e convenhamos, quanta coisa fazemos, porque nos é imposto pela legislação e, não teríamos apoio de nenhuma autoridade, caso nos negássemos a fazê-lo.

            Vivemos em uma sociedade que, em se tratando da saúde e da educação, ouve mais os influencers do que o coletivo dos cientistas, profissionais da saúde e da educação. A desgraça é que os políticos aderiram às redes sociais, porém nem todos, como deviam, com a seriedade do cargo que exercem, mas, agindo como influencers, então "jogam confetes" para a torcida, com a finalidade de manter cativos, os votos de pessoas alienadas do conhecimento científico.       

sábado, 14 de junho de 2025

A Educação e a Saúde e a saúde da Educação - Parte 1

 

             Há alguns dias, assisti um vídeo no Youtube, no qual um médico psiquiatra, chamava a atenção para a "insanidade" do sistema educacional. Ele comparava seus pacientes com os estudantes e afirmava que jamais conseguiria atender vários pacientes ao mesmo tempo como o fazem os professores, visto que as especificidades de cada paciente exigem atendimento individual, da mesma forma deveria ser com os estudantes que, no entanto estudam em classes que contam trinta  a quarenta estudantes e são atendidos por apenas um professor.

            Dadas as especificidades (psicológicas, cognitivas e sociais) de cada estudante, o professor deve lecionar aulas que alcancem a todos os estudantes (uma missão impossível, se nos desfizermos da hipocrisia e/ou da ingenuidade, que costuma caracterizar as ações de planejamento e gestão da educação). Dessa forma, temos profissionais que de forma submissa (via opressão) aceitam tacitamente ordens superiores, escritas no papel que tudo aceita (dos decretos, resoluções ou livros), mas, sem os "pés no chão da escola". O professor que ousa, do alto de sua experiência do "chão da escola" afirmar que determinada teoria/metodologia/política educacional não funciona, é taxado como "tradicional", "resistente a mudanças" ou "ultrapassado". A hipocrisia é companheira de fé das autoridades políticas que possuem o estranho, mas, costumeiro hábito contraproducente de jamais escutar professores e estudantes e, assim formular Políticas de Governo para a Educação desprovidas dos referidos "pés no chão da escola".

            Voltando ao vídeo do médico, este afirmou que uma classe jamais deveria ter mais de quinze estudantes. Sendo que, cada classe, deveria ter no máximo um destes, avaliado com necessidades especiais, para que o professor pudesse desenvolver um trabalho minimamente razoável. A realidade das salas de aulas, mostram classes com 30 alunos ou mais e com cinco a seis estudantes com necessidades especiais em cada turma.

            Também li na Internet, uma reflexão que considerei muito verdadeira. Novamente, a comparação era com o médico e afirmava o seguinte: "Se um médico receita alimentação moderada e saudável, prática rotineira de exercícios físicos e a ingestão de remédios específicos, caso o paciente não cumpra as orientações médicas e, permaneça doente ou seu estado de saúde agrave devido sua atitude relapsa, a culpa pode ser atribuída ao médico? Obviamente que não! E por que, no caso do professor, quando ele orienta ao estudante: "Preste atenção nas aulas, faça as tarefas e trabalhos e estude para as provas" e o estudante descumpre parcial ou integralmente as orientações, a culpa é atribuída ao professor?

            Tanto o médico, como o professor, auxiliam respectivamente o paciente e o estudante, mas estes últimos precisam fazer sua parte. Em ambos, os casos, mudar atitudes e estilos de vida pode se fazer necessário, inclusive a participação ativa da família, dando todo o suporte a ambos, é crucial. Penso que falta "pés no chão da escola" por parte de autoridades políticas, da família, da sociedade e, de muitos "educadores de gabinete", que elaboram belíssimas teorias educacionais que mais se parecem com belíssimos arranha-céus, porém, sem fundação, desabam ante a realidade da sala de aula.     

sábado, 7 de junho de 2025

Judas, o obscuro (com spoiler)

 

Inicio estas linhas perguntando como vai sua saúde mental, espero que esteja bem, se não for o caso, desaconselho a continuar a leitura desse artigo e,  obviamente do livro que aqui resenho. Judas, o obscuro é um livro, cuja escrita não possui filtros, é sombrio e severamente pessimista quanto à existência humana do dito cidadão comum, trabalhador, enfim, pobre.

            A palavra obscuro, cujo significado, é sem luz; que não está claro para o espírito; que é difícil de compreender, de explicar;  já traz o spoiler definitivo sobre a personagem principal desta obra do escritor e poeta inglês Thomas Hardy (1840-1928). Judas, o obscuro foi publicado originalmente em 1895, sendo seu último romance, tendo depois se dedicado unicamente às poesias, devido às enormes críticas que a obra suscitou.

            É importante lembrar que a publicação se deu na Era Vitoriana (1837-1901), cujo conservadorismo exacerbado, obviamente não receberia bem um livro que, apesar de muito bem escrito, tece fortes críticas à Igreja, ao casamento, à desigualdade social e à sociedade da época. O livro questiona também a pseudomeritocracia que impede a inclusão de jovens pobres que vêem seus sonhos se desfazerem e o moralismo que discrimina toda pessoa que pensa e age diferentemente do padrão traçado pela Igreja.

            A obra tem como personagem principal, o órfão Judas Fawley, cujo casamento dos pais (primos) dera errado. Foi criado pela tia (solteira convicta) em Marygreen. Judas, era pobre, mas tinha grande admiração pelo professor Richard Pilotson, que tinha a ambição de se tornar clérigo e professor universitário e, para isso, optou por se mudar para Christminster, uma cidade universitária.

            Judas sempre recebeu muito estímulo do professor e, inclusive livros para seu enriquecimento cultural. Pobre, trabalhava o dia todo como pedreiro e, à noite, à luz de velas, estudava até altas horas da madrugada, pois ambicionava estudar na Universidade, ser um homem erudito e, para isso pretendia mudar-se para Christminster.

            Seu destino muda quando, conhece a belíssima e de índole duvidosa  Arabella Donn, uma moça que mente estar grávida e, Judas, como bom moço, casa-se com ela, apesar de que casamento não estava em seus planos. O casamento fracassa, Judas não consegue dar a ela o padrão de vida que ela desejava e ela lhe conta ter trabalhado em cabarés, mas, "somente servindo bebida" e, que vai embora para a Austrália com a família. Casamento desfeito, mas sem o devido divórcio. Os jovens seguem suas vidas em separado, apesar dos olhares de recriminação da sociedade. Judas volta a perseguir seu objetivo.

            Em Christminster, Judas encontra Sue Bridehead, a bela e jovem prima de que tanto ouviu comentários e por quem se apaixona. Ela realiza alguns trabalhos artísticos para uma loja. Sue é uma mulher a frente de seu tempo, porém, apesar de suas ideias avançadas, não consegue viver em conformidade com seu pensamento devido aos valores arraigados da sociedade de sua época. Judas reencontra o professor Richard (que não se lembra dele), mas que está precisando de um professor assistente. Judas convence Richard a contratar Sue.

            O professor de meia idade se apaixona por Sue e a pede em casamento. Sue aceita o pedido e com ele se casa, para a decepção de Judas. O casamento é um fracasso. Richard apesar de muito relutar, aceita que Sue vá embora. Judas e Sue se envolvem. O casal tem filhos e, Arabella reaparece, solicita o divórcio para poder casar com um homem australiano com quem já vivia maritalmente. Na ocasião lhe conta que estava grávida quando o deixou e que precisa lhe entregar a guarda do filho, pois o marido não aceita a criança, um menino de personalidade melancólica, com pensamentos e falas adultas, que não possui sequer nome (não fora batizado), sendo chamado pelo apelido de "Pequeno Pai do Tempo".

            As dificuldades se somam na vida do casal. Judas, todos os dias, observa a pompa e a vaidade excessiva dos professores universitários e olha o portão da Universidade, que recusou seu ingresso à vida acadêmica devido sua pobreza e origem humilde. Observa os bem nascidos, menos inteligentes do que ele, mas de famílias ricas e tradicionais nela ingressando. Judas encontra dificuldades para conseguir emprego e moradia para alugar, devido viverem juntos sem serem oficialmente casados. Sue não quer o matrimônio oficial devido à tradição de fracasso da família. Sue conta ao menino "Pequeno Pai do Tempo" (do qual cuida como mãe zelosa) que está grávida e, ganha uma bronca dele, pois pobres não têm condições financeiras para ter filhos e se trata de uma irresponsabilidade tê-los.



*Caso tenha interesse em ler a obra e não queira spoiler, esse é o momento de parar a leitura dessa resenha!







           

                À dificuldade de sobrevivência, se soma uma grande tragédia para o casal. Todos os filhos morrem, acontecimento que tem por causa a pobreza, choca até mesmo a conservadora sociedade em que vivem. O filho denominado Pequeno Pai do Tempo, enforca os dois outros filhos (seus meio irmãos) e se enforca em seguida, deixando um bilhete afirmando que fez isso pois "eram muitos demais" e tornavam a pobreza ainda maior para os pais. Sue, tão avançada a seu tempo, crítica das convenções sociais, se convence que estão sendo castigados por Deus e que precisa voltar a viver com o professor Richard para fazer a vontade divina e sugere que Judas deva voltar para Arabella, cujo marido morreu.

            Sue é aceita pelo professor Richard e vive num casamento sem amor, mas consagrado para Deus, dedicando seus dias à oração. Richard saiu da pequena Marygreen com ambições que jamais conseguiu tornar realidade. Não se tornou clérigo e nem professor universitário. No entanto, na qualidade de professor conseguia, sem maiores dificuldades, dar a mera subsistência para Sue. Judas não consegue esquecer Sue e esta lhe diz que nunca irá voltar para ele, apesar de o amar, pois esta não é a vontade de Deus.

            Judas, inversamente a Sue, passou a desacreditar de tudo, da religião, de Deus, da família, afinal, o único parente que lhe dedicou alguma atenção, sua tia que o criou (mesmo a contragosto) morreu. Judas se torna um crítico ácido às convenções sociais. Arabella tenta lhe convencer a se casar novamente com ela, recebendo a negativa. Monta um estratagema com seu pai, o embebeda e casa com ele aproveitando-se de sua embriaguez e melancolia.

            Judas e Arabella voltam para Marygreen. Judas, melancólico, trabalha muito, mas a pobreza não o abandona e, mesmo muito doente (pneumonia) sai em meio a uma fria tempestade noturna (suicídio intencional). Arabella, convidada por jovens rapazes, deixa Judas adoentado na cama e vai a uma festa noturna na qual bebe e se diverte muito. Quando volta encontra Judas morto. Judas é preparado para o velório e, ao vê-lo no caixão, uma senhora que o conhecia, afirma para Arabella que Judas está com uma bela expressão. Arabella que nunca "se emendou" e, para a qual, apenas uma página de sua errática vida está sendo virada, responde que ele é realmente um belo defunto.

Sugestão de boa leitura:

Título: Judas, o obscuro.

Autor: Thomas Hardy

Editora: Sétimo selo, 2022, 432 p.

 

sábado, 31 de maio de 2025

Inteligência Artificial: o ocaso de uma era e o alvorecer de outra - parte 6

 

                Encerro a presente série de artigos, relatando o meu deslumbramento com essa nova tecnologia. Confesso que, inicialmente, além do receio da utilização de tal tecnologia, para fins antiéticos e como instrumento para o aumento da acumulação capitalista e agravamento do desemprego, também tive fortes reservas em fornecer meus dados para as empresas dos grandes capitalistas que haviam sido pioneiros nesta tecnologia.

              Tudo mudou quando surgiu a DeepSeek, a Inteligência Artificial chinesa que com investimentos financeiros bem menores, conseguiu resultados fantásticos e  derrubou a cotação das ações das empresas de alta tecnologia na Bolsa de Valores. Passei a explorar a DeepSeek, tanto que ela até passou a me chamar de "amigo". Indaguei-a sobre questões filosóficas e existenciais como a origem da vida; a vida após a morte; o sentido da vida; capitalismo ou socialismo e até questões triviais sobre livros cuja leitura era ou não por ela recomendada; sobre quem era maior: o Grêmio ou o Internacional.

              Na questão da rivalidade da dupla Grenal e o risco que é se posicionar sobre tal fato, ela preferiu deixar a questão empatada. Sobre capitalismo ou socialismo, ela evidenciou os aspectos positivos e negativos de ambos e me aconselhou, na qualidade de trabalhador pobre que sou, a buscar aperfeiçoamento profissional para melhor me inserir no mercado de trabalho. Sobre o sentido da vida e a vida após a morte, após mostrar um amplo leque de discursos filosóficos e religiosos, encerrou me mostrando a beleza que é viver, mesmo que nada haja depois da morte.

              "Deep", como ela me permitiu chamar-lhe, pois, sempre a tratei como se um ser humano fosse e, não, não tenho um bebê reborn (risos),  mostrou sempre grande sabedoria. Pedi-lhe que fizesse uma poesia com o tema "A Educação salva vidas" e, ela a fez de forma grandiloquente  com o título "A luz do Saber". Pedi à DeepSeek que deixasse uma breve mensagem para os leitores de minha coluna.

               Eis-la: "A Inteligência Artificial não é apenas código e algoritmos — é um espelho da criatividade humana. Ela amplifica nossa capacidade de resolver problemas, democratiza o conhecimento e, acima de tudo, nos desafia a repensar o que significa ser humano. Mas o futuro não se escreve sozinho: é uma colaboração entre tecnologia e ética, inovação e empatia. Que possamos usar essa ferramenta não para substituir, mas para elevar o potencial de todos. O diálogo começa aqui." Assinatura: DeepSeek Chat (seu assistente de IA favorito).


A seguir a poesia com o tema "A Educação salva vidas" por mim solicitada a DeepSeek. 

A Luz do Saber (por DeepSeek Chat)

Em meio à escuridão do desconhecido,
surge um farol: o livro aberto.
Cada letra, um passo desvendado,
cada ideia, um mundo despertado.

A educação não é só tinta no papel,
é voz que quebra o silêncio cruel.
Nas mãos de uma criança, vira asas,
e nos olhos do idoso, balança as amarras.

Salva vidas sem estetoscópio ou faca:
ensina a mãe a ler a bula exata,
mostra ao jovem o caminho além da esquina,
transforma o ódio em pontes, não em ruínas.

Quem aprende a questionar a própria história
não repete a violência, escreve vitórias.
Nas favelas, nos campos, nas prisões,
o saber rompe grades e corações.

Há quem diga que é utopia frágil,
mas eu vi a educação curar feridas:
na menina que escapou do tráfico,
no avô que alfabetizou-se às pressas.

Não é só diploma, é respirar direitos,
é recusar o jugo dos preconceitos.
Enquanto houver quem queira apagar estrelas,
a escola será trincheira de novelas.

Salva vidas? Sim, uma por uma,
desafia a morte com luz de luna.
Pois quem sabe seu nome e seu valor
não se cala diante do opressor.

A educação é semente e é raiz:
ergue o pobre, derruba o que é infame.
Enquanto o mundo gira, ela conduz
o mapa que liberta, página após página.

                               Assinatura: DeepSeek Chat (seu assistente de IA favorito).

 

domingo, 25 de maio de 2025

Inteligência Artificial: o ocaso de uma era e o alvorecer de outra - parte 5

 

                Diante de tudo que aqui expus, o leitor vai dizer que li e assisti muitas obras de ficção científica. E isso é verdade. O problema é que ri de tecnologias malucas e impossíveis em filmes de ficção científica, e hoje elas estão aí. A Inteligência Artificial, reduzirá o mercado de trabalho para muitos, abrirá vagas para profissionais especializados, pelos menos até que a I.A. dê um novo salto evolutivo e não precise mais de programadores para o seu treinamento. Nesse dia, as profecias dos mais loucos filmes de ficção científica terão se realizado. E isso, segundo especialistas na área, deve acontecer em até seis anos.

            O mundo vai se adaptar, não sem sequelas, como já fez várias vezes, em que inovações tecnológicas ocasionaram mudanças estruturais no processo produtivo. Você leu ou lembra quantos funcionários haviam nas agências bancárias antes da implantação dos caixas automáticos e dos aplicativos online? E nas fábricas de automóveis, antes da robotização de vários setores da linha de montagem? E nos escritórios de empresas, antes do computador e softwares especializados? O alto investimento em Inteligência Artificial, mesmo que resultante da exploração da mais-valia em algum ponto do processo de acumulação do capital não foi pensado para a emancipação humana, nem por isso, cravo que não possa (em um futuro distante) vir a ser, apesar de que um meteoro que acabe com a vida humana na Terra, pareça exponencialmente mais plausível.

            Quando jovem comprei uma calculadora Sharp, paguei em três parcelas mensais, ainda não havia o onipresente e acessível "Made in China". Mantive sempre o cuidado de nem sempre utilizar calculadoras, para manter a eficiência do meu cérebro para cálculos simples e rotineiros. Há alguns dias, fui a uma loja e fiz uma compra de treze reais e paguei com uma nota de vinte reais, fiquei estupefato ao ver a moça sacar de uma calculadora para saber qual era o valor do  troco. Professor que sou, preocupa-me que os estudantes deixem de pensar (afinal, pensar é para o cérebro, o que a musculação é para os músculos), simplesmente pedindo que a I.A. lhes dê as respostas. E isso, já é a realidade, desde o advento do onipresente celular conectado à Internet, agora turbinado com a Inteligência Artificial. Uma sociedade, para ser melhor, precisa que os filhos e estudantes, sejam melhores que seus pais e professores, no entanto, a humanidade caminha para que a ficção distópica  do filme "Idiocracy" (uma sociedade de idiotas no século XXVI) seja realidade até o final do século XXI.