Alguns artigos, que no
passado publicamos, merecem e devem ser republicados e relidos, é o caso de "Os
fantasmas do Sr. Scrooge", especialmente nesta época natalina, eis-lo:
Algumas pessoas tiveram o privilégio de assistir à bela apresentação da escola
Ballerina de Laranjeiras do Sul, no ano de 2017, inspirada em “Um Conto de
Natal” de Charles Dickens (1812-1870). Muitos, porém, conhecem a história pelo desenho da Disney, onde o
protagonista Ebenezer Scrooge é o Tio Patinhas.
Na obra de Dickens, Scrooge é um homem rico e endurecido,
que explora seu empregado e rejeita o espírito natalino. Tudo muda quando o
fantasma de seu sócio morto o alerta sobre as consequências de sua vida vazia.
Visitado pelos fantasmas do Natal Passado, Presente e Futuro, ele revive sua
trajetória e, ao testemunhar o sofrimento de seu funcionário e do filho doente
deste, transforma-se profundamente.
Hoje, ainda há muitos Scrooges entre nós. Eles celebram o
Natal pelo comércio, pelos lucros, mas não pela reflexão. Declaram-se cristãos,
mas defendem tortura, prisões arbitrárias e pena de morte, práticas que o
próprio Cristo sofreu e rejeitou. Ele, que acolheu a todos, inclusive os
marginalizados, propunha um reino de justiça aqui e agora, não apenas no além.
Alguns Scrooges comandam igrejas como negócios, outros
usam a política para servir a interesses contrários ao bem comum. Apaixonados
pelo dinheiro, acumulam fortunas muitas vezes manchadas por injustiças,
enquanto rejeitam políticas sociais, chamando-as de “comunismo”. Precisam da pobreza
para fazer atos de caridade nas épocas festivas, para dessa forma parecerem
generosos e sentirem-se seres humanos especiais.
Enquanto isso, em muitos lares, o Natal será sem
presentes ou sequer um prato de carne. Pais desempregados ou subempregados, com
salários miseráveis, famílias na pobreza extrema, cortes de auxílios, realidades
que, como disse Milton Santos, não são acidentais: “A fome é uma decisão
política”.
Termino com palavras que ecoam Paulo Freire: "sonho com o
dia em que a justiça social venha antes da caridade". Que este Natal nos
incomode, nos mobilize e nos lembre que um outro mundo é possível, mais humano,
mais justo, mais fraterno.

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