A mãe de Tami lhe deu à luz com apenas quinze anos de
idade, por essa razão, Tami foi criada pela avó, afinal sua mãe não tinha
maturidade suficiente para a empreitada materna. Apesar disso, Tami sempre teve
contato com sua mãe. Após cursar o Ensino Médio (High School) nos Estados
Unidos, Tami contrariando sua mãe, resolveu não ingressar na Universidade,
optando, por virar mochileira e, juntamente com uma amiga saiu à deriva, ou
seja, sem rumo certo em uma kombi usada, por ela adquirida. Tami e sua amiga
foram até uma praia onde acamparam. Nesta praia tomou conhecimento de uma
oferta de emprego de um veleiro cujo proprietário precisava de tripulantes e
não exigia experiência. Após uma conversa franca onde ela deixou claro que sua
relação com ele seria apenas profissional, aceitou a função de cozinhar e fazer
vigia, fez uma viagem de teste de dois dias e, feito isto, velejou com Fred (o
proprietário do barco) rumo à Polinésia Francesa. Segundo a autora, Fred foi
sempre um cavalheiro.
O termo à deriva ou, nas palavras de Zeca Pagodinho:
"Deixa a vida me levar, vida leva eu" resume a vida de Tami. Sempre
se inserindo em veleiros como tripulante, sem um rumo certo para ir mas, com o
único objetivo de não voltar para casa, pois, embora ocasionalmente falasse com
sua mãe, a relação entre elas não era muito boa. No Taiti, Tami conhece o velejador inglês
Richard e, eles se apaixonam à primeira vista. Iniciam um namoro, porém, após
alguns dias Richard recebe uma tentadora proposta financeira de um casal de idosos
que pretende voltar para os Estados Unidos de avião e precisa que alguém
conduza o veleiro de volta. Ante a recusa de Tami, em seguir junto, Richard
cogita desistir da missão, porém, em troca de duas passagens aéreas de volta
para o Taiti e dinheiro suficiente para navegar com Richard durante um ano, ela
acaba cedendo.
O casal, apesar dos esforços, para fugir, acaba sofrendo
a ação de um furacão de nível 4 que produz sérias avarias no veleiro, inclusive
quebrando o mastro. No filme, como também no livro, há a intercalação de
momentos anteriores à tragédia e aqueles em que a única preocupação era
conseguir chegar a algum lugar e sobreviver. O livro traz relatos diários das
atividades e pensamentos da autora determinada a não morrer por sede ou fome no
gigantesco Oceano Pacífico. A aparelhagem do veleiro estava estragada, não
havia como se comunicar. A parte interna do barco havia se convertido em uma
piscina, Tami teve que bombear manualmente a água para fora do barco. A
velejadora improvisou uma vela e, com os instrumentos de navegação rudimentares
que tinha à mão, sextante e relógio, tentava chegar ao Havaí. A cada novo dia,
calculava onde estava e corrigia a rota. Olhava o horizonte com binóculos e
nada encontrava. Os dias iam passando (foram quase cinquenta dias à deriva).
Quando, enfim, passou um navio, seus tripulantes não viram os sinais de
localizador por ela disparados. O motor do veleiro (sim, veleiros
transoceânicos têm motor para situações de emergência, porém, para trajetos
curtos) também não funcionou.
Tami, que era vegetariana, se viu obrigada a comer carne
de peixes (crus), os quais teve que conseguir por meio de caça submarina. Isso
se deu quando as provisões de enlatados (para situações de emergência)
acabaram. O drama por ela vivido, no livro prende a atenção e leva o leitor a
querer saber o que acontecerá a cada novo amanhecer. No filme não funcionou tão
bem, pois, apesar de não ser um filme ruim, não empolga. Nas páginas finais do
livro, a autora fala para uma de suas filhas uma frase emblemática: "A
vida é como velejar, algumas vezes com vento a favor, noutras com vento
contrário". Movido pela curiosidade, fui procurar como os barcos à vela
navegam com vento contrário e aprendi que precisam ajustar as velas e fazer
manobras, ora para estibordo (lado direito do rumo da embarcação), ora para
bombordo (lado esquerdo). Assim é a vida, muitas vezes traçamos uma linha reta
para atingir nossos objetivos, mas, os ventos contrários podem nos fazer
desistir ou, usar da persistência, manobrando e mesmo que lentamente alcançar a
meta! Fica a dica!
Sugestão de boa leitura:
Título: Vidas à deriva: A
história real que deu origem ao filme.
Autor: Tami Oldham Ashcraft.
Editora: Astral Cultural, 2018, 271 pág.