Há uma discussão entre os
bibliófilos (amantes ou colecionadores de livros) sobre a existência ou não de
uma alta literatura. Sobre tal questão como disse, não há consenso. No entanto,
há obras e autores que são expoentes da literatura mundial. Nesse quesito a
literatura russa é muito rica. Há diversos autores russos entre os maiores do
planeta e como não poderia ser diferente, a literatura russa ocupa um lugar de
destaque no coração e nas mentes de grande parte da humanidade, obviamente,
refiro-me àquelas/àqueles que fazem da leitura uma atividade imprescindível. O
autor russo Lev Tolstói (1828-1910) é um dos grandes nomes da literatura
mundial. Não por acaso, suas obras são presença constante nas estantes dos
bibliófilos. É de Tolstói a célebre obra Guerra e Paz, a qual foi retratada em
filmes e séries sempre com grande sucesso de público. Outra obra de Tolstói
adaptada com sucesso para o cinema foi Anna Kariênina.
Ontem concluí a leitura de "Infância, adolescência e
juventude" de Lev Tolstói. Trata-se de uma obra que traz em único volume
três livros do autor, sendo "Infância" publicado originalmente em
1852, "Adolescência" (1854) e "Juventude" de 1856. Tais
publicações são difíceis de serem classificadas, mas penso que pertencem ao
gênero romance autobiográfico, no qual o autor produz uma ficção baseada em
fatos por ele vivenciados. Não se pode tomar tais produções como biografias e
nem considerá-las puramente ficcionais. O volume é dividido em três partes
(infância, adolescência e juventude) e o autor foi muito cobrado por seu editor
para que fizesse novo volume sobre a velhice, no entanto, por motivos
ignorados, Tolstói não deu prosseguimento ao projeto.
Em "Infância" o escritor retrata a vida de
Nikolai Irtêniev (alter ego de Lev Tostói). Tal como o autor, o menino é
nascido em uma família da elite rural do Império Russo. Sendo a família
abastada (proprietária de grandes fazendas e com imóveis em diferentes lugares
da Rússia), o menino Nikolai têm privilégios inalcançáveis para grande parte da
população russa. Nesta parte da obra, o autor relata histórias da infância,
amizades e brincadeiras demonstrando grande saudosismo daquela que ele define
como a melhor fase da vida de uma pessoa. O menino Nikolai (tal como Tolstói)
perde a mãe muito cedo e embora não relate qual a doença que a levou à morte,
fica nítida o amor que nutria pela mãe e a saudade que desta sentia. Criança,
Nikolai era muito atento aos adultos e procurava imitá-los. Quando enfim se
tornou adulto, gostaria de voltar a ser criança.
Na parte referente à "Adolescência", a obra
prossegue exatamente do ponto em que terminou em "Infância", dando a
impressão de ter sido escrita em contínuo, porém as datas das publicações
desmentem tal fato. Com a morte da mãe, a família passa a residir na casa da
avó materna que não se conforma com a morte da filha. A avó faz alterações na
educação dos netos, substituindo o preceptor (tutor ou professor encarregado da
educação e/ou instrução de uma criança ou de um jovem na casa deste). Nikolai
não gosta da troca do preceptor e passa a odiar o substituto. Nikolai como todo
adolescente pensa que as pessoas (inclusive da família) não gostam dele e,
somada à sua baixa auto-estima, há ainda o fato de seu irmão mais velho
sobressair-se nos exames escolares. Nikolai aparenta (pela descrição feita pelo
autor) possuir depressão, pois quando o tempo não está bom fica melancólico. O
menino se interessa por conversas mais adultas e pensa que mudar o mundo não é
difícil, basta ter vontade para que a sociedade seja consertada. Ao final dessa
parte a avó também falece.
Em "Juventude", Nikolai (Tolstói) tenta entrar
para a Universidade e a prova de admissão é oral sobre um tema sorteado na hora
e sobre o qual terá que apresentar perante uma banca de professores. Nikolai
consegue entrar com méritos para a Universidade. Nesta parte da obra, a vida
universitária, as amizades e as farras dos colegas são relatadas. Nikolai não é
muito popular, mas, tenta se inserir no círculo de amigos, embora não frequente
muito as festas regadas a álcool. Alguns de seus colegas passam a se envolver
com mulheres, porém, Nikolai, também não
leva muita sorte no amor e algumas de suas paixões juvenis são frustradas. O
jovem possui muitas amarras (sociais e religiosas) e preocupa-se muito em fazer
o que é certo e estar à altura de sua posição social. Sua preocupação com a
auto-imagem é grande. Buscando se relacionar melhor com as mulheres aprende a
tocar piano, embora não seja bom nisso e nem mesmo aprecie tanto assim, mas
quer impressioná-las. Nessa fase da vida, Nikolai fala sobre as obras
literárias que lê e relata a sua vida universitária, na qual tal como o autor
não era dedicado. Ao fazer sua primeira prova sobre Cálculo Diferencial e
Integral (disciplina que desperta ódio ou paixão, jamais indiferença para o
pessoal da área de Ciências Exatas) leva bomba. Psicologicamente abalado e com
sua imagem arranhada, seu pai lhe sugere fazer nova tentativa em outra
instituição. A personagem do pai de Nikolai (alter ego de Lev Tolstói) é
ficcional, pois o escritor perdeu a mãe e também o pai muito cedo, dessa forma
a passagem em que este tendo ficado viúvo, resolve se casar com uma jovem que
não é bem recebida pelos irmãos não corresponde à história da família. Na fase
de juventude, Nikolai demonstra ser uma pessoa narcisista e pouco afeita à
amizades com pessoas que não estejam no mínimo em igualdade quanto à sua
condição social. Paro aqui. Fica a dica!
Sugestão de boa leitura:
Título: Infância,
adolescência e juventude.
Autor: Liev Tolstói.
Editora: L&PM, 2013, 400 pág.
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