A polícia vai à Vladimir (cidade de residência de
Aksionov) e questiona várias pessoas sobre ele e, ouve de todos que é uma
pessoa honesta e boa, mas que na juventude bebia muito e costumava arranjar
confusões. Iván Dimitríevitch (Aksionov) vai a julgamento pelo roubo de vinte
mil rublos e assassinato e é condenado ao chicoteamento e ao desterro na
Sibéria onde passaria o resto dos seus dias prestando serviços forçados. Sua
esposa e seus filhos (crianças) vêm lhe ver e o encontram com roupa de
prisioneiro, abatido e com vários fios de cabelos grisalhos. Aksionov pede à
esposa que recorra ao Tzar, ela afirma que fez isso, mas, que a carta não
chegou até ele. Sua esposa deixa transparecer que duvida da palavra do marido
quando este afirma não ter matado o mercador. Aksionov, após recuperar-se das
chibatadas é enviado à Sibéria. Ao adentrar a penitenciária de serviços
forçados passou a rezar para Deus para que a verdade fosse revelada e ele fosse
libertado. Não conseguia conceber que Deus permitisse que um inocente fosse
castigado por um crime que não cometeu. Seus cabelos tornaram-se grisalhos, sua
postura tornou-se curva, seu olhar, triste, não conseguia mais sorrir,
tornara-se calado. Quando lhe perguntavam porque estava ali, dizia que devia
ser para pagar seus pecados. Não contava mais o que lhe ocorrera, afinal quase
ninguém acreditava que ele era inocente.
Ia sempre às missas na penitenciária e fazia parte do
coral, ainda conservava sua bela e afinada voz. Sempre que havia uma confusão
entre os presos era chamado para decidir quem estava com a razão e aconselhar
os envolvidos. Os demais presos gostavam dele e o chamavam de vovô (estava
preso há vinte e seis anos e aparentava ter mais idade do que tinha). Também o
diretor e os guardas da penitenciária gostavam dele por seu bom comportamento.
Nesse tempo em que esteve preso jamais recebeu qualquer carta ou notícias de
sua família. Sempre que chegavam novos prisioneiros, os demais se reuniam em
redor destes, para saber quem eram, de onde vinham e por que foram condenados.
Em certa ocasião, chegou um preso de nome Macar Semionóvitch vindo da cidade de
Vladimir e Aksionov lhe pergunta se conhece a família de um mercador chamado
Iván Dimitríevitch, este lhe afirma que o mercador fora preso há muito tempo, e
que sua esposa já havia falecido, mas que seus filhos eram mercadores ricos.
Macar conta que considerava sua prisão injusta, mas, que deveria ter vindo para
a Sibéria há muito tempo, pois matou um homem, mas a polícia não descobriu e
prendeu o homem errado, então ele não tinha culpa se a polícia não fora capaz
de o achar. Macar conta a Aksionov que pretendia roubar e matar também aquele
homem, mas, que com a chegada de alguém precisou fugir e escondeu a faca nos
pertences dele (Aksionov). Aksionov ouve e tomado pela raiva, passa duas
semanas sem dormir, rezando o tempo
todo. Em certo dia, flagra Macar abrindo um túnel para fugir e, Macar o avisa
que deixa ele fugir junto, mas que se contar o matará. Aksionov diz a Macar que
este o matou há vinte e seis anos. Diz também que não tem porque fugir, afinal
não tem para onde ir, sua esposa está morta e seus filhos não se lembram dele. Diz
ainda que vai pensar se contará ou não. A polícia descobre o buraco e questiona
os detentos, porém ninguém fala. Os policiais vão até Aksionov (sabendo ser ele
uma pessoa correta) e lhe perguntam, mas ele responde: Não vi e não sei. O
assassino implora por seu perdão e Aksionov lhe diz: Deus vai perdoar você,
talvez eu seja cem vezes pior do que você, por isto estou aqui. Aksionov passa a
viver seus dias em extrema paz. Macar (arrependido) contraria Aksionov e confessa
o crime aos policiais. Quando enfim chega a ordem judicial para a soltura de
Aksionov, encontram-no morto.
Sugestão de boa leitura:
Título: Senhor e servo e
outras histórias.
Autor: Liev Tolstói.
Editora: L&PM, 2009, 128 pág.
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