O título "Uma confissão" mostra exatamente o
sentido da obra. O autor relembra as várias fases de sua vida, a infância que é
o momento em que é apresentado à Igreja Ortodoxa Russa, mesma religião que mais
tarde o excomungou em 1901. Tal excomunhão ocorreu por suas críticas aos
preceitos da referida igreja e é mantida até hoje. Enquanto criança recebia os
ensinamentos religiosos e não os questionava, mas ao completar dezoito anos já
não acreditava em nada. Nessa fase o autor russo ingressa na Universidade e dá
início à sua vida boêmia na qual passa madrugadas jogando baralho (ganhando e
perdendo dinheiro), bebendo muito e buscando o prazer sem compromisso com as
mulheres. Não obteve êxito na Universidade, pois jamais se dedicou a ela, exceto
no momento de seu ingresso. Tolstói lembra desses momentos e se recrimina por
assim ter agido. Arrepende-se também das pessoas que matou, seja na guerra ou
em duelos.
Tolstói relembra quando amadureceu, abandonou a Universidade
e voltou para Yasnaya Polyana, a fazenda que recebeu em herança de seus pais (que
morreram quando ele era muito jovem). Nessa ocasião, Tolstói se casou, teve
filhos, escreveu suas grandes obras (as quais recebeu a revisão de sua esposa).
O autor russo sempre teve pensamentos de grandeza, desejou ser o maior escritor
russo e estar no topo da literatura mundial superando Shakespeare e outros.
Tolstói observa os servos (mujiques) de sua propriedade e percebe que eles levam
uma vida muito sofrida, seu trabalho é pesado, no entanto, parecem ser mais
felizes do que os ricos cuja vida confortável é constituída de muitas festas e,
quase nenhum trabalho. No entanto, são os ricos que vivem entediados a reclamar
da vida. Tolstói observa que os servos em seus últimos dias possuem uma leveza
de espírito que torna a morte um acontecimento quase feliz. Ele não observa
isso entre os ricos.
A crise existencial pela qual Tolstói passou e que
relatou nesta obra não constitui algo extraordinário. O leitor poderá ao ler,
observar (caso seja jovem há mais tempo) que as indagações e inquietações são
semelhantes as por ele(a) também vivenciadas. Tolstói que não vê sentido na
vida, chega à conclusão que a fé é o que dá sentido à existência, nem por isso
deixa de tecer críticas à Igreja Ortodoxa Russa e aos cristãos que vão à Igreja
e, que no entanto têm sua prática muito diferente de suas falas. Ele também
critica a rivalidade existente entre as religiões e, afirma que no ato em que
cada uma destas igrejas se antagonizam afirmando ser a verdadeira Igreja de
Deus atribuindo a falsidade a outra , provam justamente o contrário. Tolstói
afirma que sempre buscou a verdade, porém para isso precisou separar a mentira e
a verdade presentes no discurso da Igreja. O autor "confessa" na obra
que por várias vezes pensou no suicídio, porém, encontrou na fé o sentido de
sua existência. Ele acreditava que devia haver algo mais, e por isso valia a
pena viver!
Sugestão
de boa leitura:
Título: Uma confissão.
Autor: Liev Tolstói.
Editora: Mundo Cristão, 2017, 128 pág.
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