Tenho o hábito de utilizar camisetas estampadas com
frases literárias ou críticas de autores e obras. Uma delas dizia o seguinte:
"Era tão pobre, mas tão pobre, que só tinha dinheiro". Alguns
estudantes me perguntaram: "como uma pessoa pode ser pobre, se tem
dinheiro?" Expliquei que uma pessoa pode ter dinheiro, mas, pode ser pobre
de cultura, de educação, de honestidade, de solidariedade, de fraternidade,
etc. Certa vez entabulei uma conversa com um empresário da capital do estado
(Paraná), disse a ele que não tinha uma piscina em minha casa, mas, que tinha
uma biblioteca (o que, em meu ver, é algo muito mais importante) e que nunca
tive e não tenho ambição por dinheiro, basta-me ganhar o suficiente para ter
algum conforto material, mas, não propriamente esbanjar ou viver luxuosamente.
O empresário disse que eu era pobre até nos pensamentos e passou a falar sobre
a piscina que tinha em sua casa e, também sobre as viagens que o dinheiro lhe
proporcionava. Penso que a frase da camiseta é acertada, a pobreza não é apenas
a resultante da falta de recursos financeiros, da mesma forma, a riqueza não se
encontra apenas na acumulação do vil metal. Lembro que uma vez conversei com
uma ex-empresária de minha cidade, a qual largou os negócios e passou a viver
melhor após ter se conscientizado que caixão não tem gaveta (para levar
dinheiro).
Com tais palavras, não digo que ter dinheiro é
desimportante, mas, que viver para acumulá-lo (sem viver) é escravidão e,
escravos costumam ser pobres, de uma forma ou de outra. Mas, como diria Odorico
Paraguaçu de "O Bem Amado" da obra de Dias Gomes (1922-1999),
"Vamos botar de lado os entretantos e partir logo pros finalmentes".
No conto "Do que vivem os homens?" de Liev Tolstói, o humilde
sapateiro Simon, sai para fazer cobranças referentes a trabalhos prestados em
seu estabelecimento e obviamente não quitados. Antes de sair, ele pega o pouco
dinheiro que possui em casa, com a intenção de juntá-lo ao que arrecadar com as
cobranças e, comprar peles para que sua esposa faça casacos, com os quais
possam suportar melhor o duro inverno russo. Simon, não tem tido dias fáceis,
com seu trabalho, tem conseguido apenas o suficiente para comprar alimentos. As
roupas de frio dele e de sua esposa estão em estado deplorável. Ela vive
reclamando da falta de dinheiro para fazer frente a outras necessidades. Ocorre
que os devedores também estão passando por dificuldades financeiras e, Simon
não consegue juntar o valor necessário. Aborrecido e humilhado pela situação de
pobreza, sem coragem de voltar para a casa e dar a má notícia para a esposa.
Antevendo as reclamações desta, ele entra num bar e se embriaga e, ao sair
observa que volta para casa com menos dinheiro do que quando saiu. No caminho,
já na madrugada, encontra um homem (quase congelado) deitado no chão e praticamente
sem roupas, imediatamente, passa para ele seu casaco puído e o leva para casa,
não sem imaginar as broncas da esposa, quanto ao fato de levar um estranho para
dar hospedagem e alimentação num lar onde o alimento que há é pouco até para os
que nele habitam. Paro aqui, para não dar spoiler! Fica a dica!
Sugestão de boa leitura:
Título: Do que vivem os
homens?
Autor: Liev Tolstói.
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