Margaret escreveu sobre aquilo que estava muito vivo
junto à sociedade e com o qual ela tinha intimidade, as cicatrizes
remanescentes, as lembranças de um tempo que se foi para nunca mais devido ao
conflito ocorrido durante o governo do republicano Abraham Lincoln (eleito
majoritariamente pelo norte). O livro foi revisado durante dez anos para depois
ser publicado (1936). A obra vendeu milhões de cópias e teve seus direitos
vendidos para o cinema. O filme de título homônimo foi lançado em fins de 1939,
teve treze indicações para o Oscar e levou oito estatuetas. A estrela do filme
foi o galã Clark Gable (1901-1960) no papel de Rhett Butler e a bela atriz
inglesa Vivien Leight (1913-1967) interpretou a personagem Scarlet O'Hara. O
filme é até hoje um dos maiores sucessos de bilheteria e de renda. O dinheiro
que Margaret ganhou a tornou milionária e, assim, não escreveu nenhum outro livro. Passou
a dedicar-se integralmente à filantropia, porém, morreu jovem (48 anos), vítima
de atropelamento. Há uma continuação da obra com o título "Scarlet",
nome da protagonista de "E o vento levou", mas, que não logrou o
mesmo sucesso e, que foi escrita (com a benção de Margaret Mitchell) por
Alexandra Ripley.
É tarefa impossível resenhar a contento tal obra nestas
poucas linhas. Trata-se de um calhamaço, um livro que exige coragem e fôlego do
leitor, mas, que o gratifica imensamente pelo tempo despendido. A obra relata o
faustoso modo de vida (embalado pelo alto valor do algodão) da aristocracia
escravocrata da região sul dos Estados Unidos e o período da Guerra de Secessão
e de reconstrução da região atingida pelo conflito. Não espere na obra rigor
científico e imparcialidade quanto a relação dos senhores com seus escravos
(romantizada) e quanto à interpretação do conflito em si, pois, a autora tem
suas raízes familiares naquele local e coloca a história desta sob o prisma
sulista. A personagem principal é Scarlet O'Hara, filha de uma rica família
escravocrata, garota linda, mimada, egocêntrica e acostumada a ter todos os
homens disputando seu amor, ela somente encontra dificuldades com o
controvertido Rhett Butler, que até se torna seu terceiro marido, mas, sem que
ela jamais tivesse controle absoluto sobre ele (algo que sempre buscou em seus
relacionamentos). A obra discorre sobre várias famílias tradicionais do Condado
de Clayton e, as cidades e localidades citadas na obra realmente existem e
foram palco de guerra. Em Jonesboro há uma casa típica de fazenda algodoeira
convertida em museu com modelos de roupas utilizadas na época e até mesmo no
filme. A arrogância sulista e o menosprezo aos yankees (estadunidenses da parte
norte) impediu que vislumbrassem que a campanha não teria outro final, que não
o fracasso. Com a derrota, a economia local foi arrasada, as fazendas tiveram
sua infra-estrutura incendiada, os negros libertados, os cultivos destruídos e
os campos salgados, pois, os fazendeiros locais forneciam recursos financeiros
para as tropas confederadas. A obra retrata ainda o horror da guerra (seus mortos
e inválidos), a corrupção dos administradores ianques nas áreas sulistas controladas,
o abismo cultural entre o povo do norte e do sul estadunidense, a soberba das
famílias tradicionais sulistas e seu pouco apreço ao trabalho, o preconceito
contra os negros e o nascimento da famigerada Ku Klux Klan, enfim, e não de
forma menos brilhante, a dura realidade daqueles que continuaram acreditando em
valores temporais de uma sociedade que desapareceu, como se levada pelo vento!
Sugestão de boa leitura:
Título: E o
vento levou.
Autor:
Margaret Mitchell.
Editora:
Record, 1ª edição, 2015, 1477 p.
Preço: R$
79,99 (Ed. Nova Fronteira, 1ª edição, 2020).
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