Sempre que aqueles que se advogam defensores do
capitalismo (surrealmente, muitos trabalhadores) fazem o enaltecimento das
realizações e jogam na invisibilidade a fome, a concentração da renda, as
várias formas de exclusão, a exploração brutal da mão de obra, a espoliação das
riquezas naturais dos países subdesenvolvidos por grandes transnacionais
estrangeiras amparadas no poderio bélico de grandes potências. A "mão
invisível" do deus Mercado tal como preconizado pelos seguidores de Adam
Smith é a mesma que opera os porta-aviões e os aviões stealth contra aqueles
que se recusam a entregar seus recursos naturais a um preço que seja o mais
próximo possível do custo, pois, o lucro precisa ficar no destino e não na
origem. É necessário dizer que o mundo em que vivemos foi construído pelo
capitalismo, é dele os ônus e os bônus (isso é fato) e, é uma atitude desonesta
intelectualmente tergiversar quanto a necessidade desse debate. O ardoroso
defensor do capitalismo se esconde atrás de falsos discursos meritocráticos que
visam convencer a si próprio (para que sua consciência fique tranquila) da
pseudo-justiça de um sistema extremamente cruel e ineficaz na construção de uma
sociedade verdadeiramente humana.
Vivemos num mundo capitalista, respiramos capitalismo e este
sistema socioeconômico parece impregnado no DNA de muitas pessoas. O
capitalismo é concreto e qualquer proposta diferente é abstração. É difícil
pensar sobre o abstrato, pois exige muita leitura e esforço intelectual. O
capitalismo não é o fim da história como arvorou Francis Fukuyama. História é
movimento e, a linearidade não é sua característica. O designer têxtil, poeta,
romancista William Morris (1834-1896) que tinha como características de sua
personalidade o apreço pela estética e pela ética lançou-se ao ativismo
político (socialismo libertário) na busca de uma sociedade que fosse bela e
verdadeiramente humana, algo que não via na Inglaterra enquanto império capitalista,
industrial e bélico do século XIX. Morris tem na obra "Notícias de Lugar
nenhum" um belo exercício de abstração sobre como seria viver numa
sociedade comunista (estágio posterior ao socialismo). No livro, o narrador
acorda numa Inglaterra comunista e sem entender o que aconteceu começa a
percorrer o país e conversar com as pessoas que lhe explicam o seu modo de vida
e organização social. O narrador apresenta-se como estrangeiro para justificar
o seu desconhecimento sobre a construção do comunismo naquele país. Os
moradores das comunidades (inclusive interioranas) que visita lhe explicam que
foi necessária uma revolução violenta para destituir as autoridades de suas
barricadas estatais e conceder ao povo o poder sobre seu próprio destino. Há
uma passagem em que o escritor usa certo sarcasmo, ao afirmar que o requintado
edifício do Parlamento Inglês agora era utilizado como depósito para estocar
adubo (estrume). O narrador percorre o país, recebe hospedagem nas casas de
locais e conversa sobre as mudanças e questiona sobre o que aconteceu com
coisas e fatos de "sua época". A sociedade que visita vive de forma
simples, mas, é muito feliz e nada parece lhes faltar para ter uma vida digna.
Enfim, não pretendo fazer aqui uma análise da sociedade descrita no romance,
pois, resultaria num artigo gigantesco. Fica a dica!
Sugestão de boa leitura:
Título:
Notícias de lugar nenhum: Ou uma época de tranquilidade.
Autor:
William Morris.
Editora:
Expressão Popular, 2019, 295 p.
Preço:
R$35,00.
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