O escritor francês fazia parte de um
seleto grupo de intelectuais engajados na construção de uma sociedade menos
injusta e mais solidária e, obviamente era opositor fervoroso da pena de morte,
algo que inúmeras vezes presenciou na França de sua época. Embora esta fosse aplicada
a ricos e pobres, a classe social era levada em conta e, se pobre, humilhações
eram acrescentadas ao espetáculo horrendo. O médico francês Joseph-Ignace
Guillotin (1738-1804) considerava que a pena capital deveria ser igual para
todos os criminosos, independente da classe social e, deveria ser menos
dolorosa para o condenado. Ele criou uma máquina que acabou por levar seu
sobrenome e, como também era parlamentar apresentou a guilhotina ao governo
francês e, por meio dela morreram desde mendigos a reis e rainhas.
O livro é contado a partir do ponto
de vista do narrador, um condenado cujo nome e crime não é revelado ao leitor. Ao
ler, supõe-se que ele tenha assassinado alguém e que o autor tem a intenção de
levar o leitor a refletir sobre a pena capital e não sobre um determinado crime
em si. Mas, algumas pistas são dadas, o condenado tem educação refinada, algo naquele
tempo inacessível à pessoas pobres. A escrita profundamente realista levanta a
dúvida se o escritor usou sua imaginação ou baseou-se em relatos escritos por
algum condenado ao qual teve acesso. O autor também coloca no livro relatos de
jornais sobre crimes hediondos levando o leitor a pensar nas vítimas e em suas
famílias. O condenado parece não se arrepender do crime, mas, tem profunda
esperança em ser absolvido, porém, suas esperanças esvanecem ante as tentativas
frustradas de seu advogado de lhe conseguir a postergação do julgamento, a
comutação da pena e o perdão. A condenação ante o Tribunal do Júri, os jurados (cuja
fisionomia observou atentamente na esperança de compaixão) o mandaram para a
morte, embora ele pense não merecer tal destino. Na prisão, embora tente, não
consegue parar de pensar na morte, a não ser quando consegue dormir.
O condenado que preferia morrer a
ser obrigado a trabalhos forçados, começa a mudar de opinião conforme se
aproxima o dia e o horário de sua execução (conforme lhe fora informado). Ele
pensa na mãe idosa e doente que certamente morrerá de desgosto quando de sua
execução. Pensa na esposa também doente e na filha pequena cujos amiguinhos
terão pai e ela não, também pensa em como elas sobreviverão, pois a ele cabia
sustentá-las. A obra procura mostrar a tortura psicológica pela qual passa o
condenado que possui ciência antecipada da data de execução (embora seja um
criminoso, não deixa com isso de ser humano). O leitor, indiretamente é levado
a pensar nos países que adotaram/adotam a pena capital e nas várias vezes em
que inocentes foram condenados, sendo na
maioria dos casos, pobres e minorias e, de que não há reparação possível à
morte de uma pessoa inocente. E o que pensar quanto aos países que aplicam a
pena de morte sem nunca terem dado condições de vida digna à grande parcela
destas? Enfim, na obra, o leitor sabe de antemão que o condenado será executado
e, esta tem como ponto principal a narrativa detalhada e chocante do último dia
de vida deste, sobre o qual nada direi, para não dar spoiler. Fica a dica!
Sugestão de boa leitura:
Título: O
último dia de um condenado.
Autor:
Victor Hugo.
Editora:
Estação Liberdade, 2002, 192 p.
Preço:
R$36,00.
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