A eclosão da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e o
avassalador avanço das tropas alemãs no palco europeu, levaram o já famoso
piloto-escritor aos Estados Unidos da América na tentativa de convencer suas
lideranças a reunirem forças, sem lograr êxito (os EUA titubearam muito a
entrar no que diziam ser "a guerra dos europeus"). Com o avanço
alemão sobre a França encurralando suas forças de resistência, Saint-Exupéry
apresenta-se para voar caças contra os invasores, porém, devido às suas
sequelas e a idade avançada (para pilotagem de caça) é descartado. Não desiste,
e, ante sua insistência, autoridades militares lhe oferecem posições de comando
afirmando que podem formar bons pilotos às centenas, porém, precisam de bons
comandantes, Saint-Exupéry recusa a oferta, quer voar, e, após a análise de sua
situação médica e de um rápido treinamento habilita-se a voar o P-38 Lightning,
tornando-se o mais velho dentre os pilotos de sua divisão.
A obra trata de um tema pesado (a guerra), no entanto,
sua escrita a suaviza, porém, sem jamais a romantizar, afinal, o autor
considerava a guerra como sendo uma doença da humanidade. Descreve algumas
situações rotineiras de pilotos militares em seu ofício de guerra (a observação
das posições inimigas, o receio do fogo anti-aéreo e do encontro com caças
inimigos). Registra a angústia da espera ante o atraso da volta de uma missão
e, o tempo, após o qual, as esperanças esvaneciam e a tristeza muda caía sobre
todos, especialmente sobre o comandante que escalara os pilotos
(desaparecidos/mortos) e lhes dera pessoalmente as instruções. Também registra
o sofrimento das mulheres, crianças e velhos que não se envolviam diretamente
na guerra, mas, que a sentiam profundamente com o medo, a fome e a exaustão
emocional ante a incapacidade do Estado (ameaçado em sua existência) em
conceder as condições para a sobrevivência digna da população. Na volta de suas
missões, Saint-Exupéry refletia e escrevia sobre a vida e a morte, os motivos
que tornam a vida digna de se viver e os motivos que justificam colocar-se sob
o risco da morte, os quais são exatamente aqueles pelos quais se quer viver.
Em 1944, na parte final da guerra, Saint-Exupéry que já
havia perdido vários de seus amigos pilotos, não retorna após uma missão. As
buscas na rota estabelecida não encontraram o local da queda. Em 1994, foi
encontrado um bracelete com seu nome na praia e uma busca realizada na região
encontrou os destroços do avião. Um piloto alemão declarou ter abatido um avião P-38 Lightning francês naquele local e
lamentou que o destino lhe colocasse frente ao famoso escritor naquelas condições.
As críticas que teceu à forma como o esforço de resistência era conduzido
rendeu a inimizade do General Charles De Gaulle que jamais reconheceu a
importância do aviador, menos ainda do escritor Saint-Exupéry. Aliás, De
Gaulle, quando presidente, homenageou companheiros de Saint-Exupéry (que deram
a vida pela França), mas, não a este. Na obra, o autor critica a literatura
vazia de significado, afinal, bom conteúdo é essencial e demonstra sua verve
humanista e espiritual. Encerro parafraseando Saint-Exupéry em "O pequeno
príncipe" dizendo que o piloto-escritor "levou um pouco de nós
(sociedade humana) consigo e deixou (muito) de si conosco."
Sugestão de boa leitura:
Título:
Piloto de guerra.
Autor:
Antoine de Saint-Exupéry.
Editora:
Penguin Classics Companhia das Letras, 2015, 187 p.
Preço:
R$19,57.
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