A obra traz uma análise feminista por parte da autora que se utiliza de hashtag’s para evidenciar/questionar o papel reservado às mulheres no tempo de Madame Curie e atualmente. Marie Curie, nascida Manya Sklodowska e sua irmã mais velha (Bronya) ambicionavam estudar e alcançar reconhecimento profissional, porém, nascidas no seio de uma família pobre, a empreitada era penosa. Marie combinou com Bronya de que trabalharia na Polônia (ocupada pelo Império Russo) onde vivia, para que esta pudesse cursar medicina em Paris e depois, a irmã a sustentaria em seus estudos. Marie foi preterida pela família de um pretendente devido à sua classe social. Desiludida no amor recebeu a informação de que a irmã formada em medicina iria se casar com um francês e a avisava que estava pronta para cumprir sua parte no acordo. Marie ingressou na famosa Universidade Sorbonne, formou-se em física e, em seguida em matemática. Conheceu o físico Pierre Curie (1859-1906) com quem se casou. Pierre percebendo a importância da pesquisa científica da esposa Marie, abandonou sua própria pesquisa (magnetismo) para ajudá-la.
As condições de trabalho eram precárias e os recursos financeiros diminutos. O trabalho do casal em parceria com o cientista Antoine Henri Becquerel (1852-1908) lhes rendeu o Prêmio Nobel de Física de 1903. Mas, a Academia Sueca excluiu Marie por sua condição de mulher e, Pierre indignado, disse que não receberia o prêmio caso sua esposa também não o recebesse, pois, era ela a mentora da pesquisa. A Academia posta contra a parede concedeu o prêmio (reconhecimento) também a ela, mas, não a importância em dinheiro que lhe cabia, e foi Pierre (e não Marie) chamado a discursar na cerimônia. Marie vivia exausta, pois, tinha que cuidar dos afazeres domésticos, e mesmo grávida ou cuidando de bebês dar conta do também exaustivo trabalho de pesquisa sobre radioatividade. Sua pesquisa levou a descoberta do polônio (batismo em homenagem à sua terra natal) e mais tarde do rádio. Então veio a tragédia, Pierre morreu num acidente. Marie escreveu um diário durante um ano registrando a dificuldade da vida sem o companheiro.
Marie preterida por ser pobre e tida como estrangeira pela sociedade francesa. Ao ganhar o Nobel e em sendo casada com o francês Pierre foi tornada “santa francesa”. Viúva, ao se tornar amante de Paul Langevin (a quem ninguém criticava como adúltero) teve a casa apedrejada e sua integridade ameaçada e foi declarada “puta” pela imprensa e sociedade francesa. Com o fim da relação com Langevin, mergulhou no trabalho e, em 1911, ganhou seu segundo prêmio Nobel, desta vez, em Química. Por sua vida pessoal pregressa fartamente retratada na imprensa, a Academia não queria lhe entregar o prêmio para o qual sua descoberta havia sido eleita pela banca de célebres cientistas. Ela então escreveu uma dura carta aos membros da Academia Sueca e nela professorou que a descoberta de fatos científicos não pode ser eclipsada pela moral hipócrita de alguns. Novamente posta contra a parede, a Academia se rendeu, Marie recebeu o prêmio e discursou. A cientista cuja família tinha na longevidade uma característica morreu com apenas 66 anos de idade vitimada pela radioatividade à qual se expôs e cujos efeitos eram desconhecidos. Infelizmente, não viveu para ver sua filha Irène trazer mais um Nobel (descoberta da radioatividade artificial) para a família.
Encerro com uma frase de John Lennon (1940-1980) citada no livro “a vida é aquilo que acontece quando estamos ocupados com outra coisa”. Fica a reflexão e a dica.
Sugestão de boa leitura:
Título: A ridícula ideia de nunca mais te ver.
Autor: Rosa Montero.
Editora: Todavia, 2020, 208 p.
Preço: R$ 42,26.
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