quinta-feira, 13 de dezembro de 2012
Escalando a montanha
Karl Marx afirmou que “precisamos entender a sociedade como se estivéssemos escalando uma montanha”, e, poucos no mundo levaram tão a sério a busca desse entendimento quanto Oscar Niemeyer. Filho de família abastada, jamais deixou o status herdado de berço lhe impor uma mentalidade burguesa e esnobe. Estudou muito, trabalhou mais ainda, a sua genialidade por muitos é considerada um dom divino, apesar deste se considerar ateu, tem na natureza, nas montanhas e mulheres do Rio de Janeiro, a inspiração para as famosas e maravilhosas curvas que tanto prestígio lhe deu. Oscar escreveu: “Não é o ângulo reto que me atrai, nem a linha reta, dura, inflexível criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual. A curva que encontra no curso sinuoso dos nossos rios, nas nuvens do céu, no corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o Universo. O Universo curvo de Einstein”.
A arquitetura mundial e não apenas a brasileira ficou mais pobre com sua partida na semana passada. Definir Oscar Niemeyer é fácil, bastam duas palavras “vida e trabalho”, e como viveu! Foram quase 105 anos, mas gostaríamos que fosse eterno e enquanto viveu, foi. Não vamos aqui falar de sua partida, mas de sua obra e principalmente do brasileiro solidário que demonstrou ser. Algumas pessoas são insubstituíveis, e nunca “morrem”, pois se imortalizam nas suas obras. Oscar Niemeyer é dessa classe de pessoas que assombram o mundo com tanto talento e generosidade. Generosidade para em sendo grande usar da sua notoriedade para chamar atenção às causas sociais, e, oprimido, denunciar a opressão mesmo com isso tendo que se exilar fora do país natal por conta da ditadura militar (1964 a 1985).
Há uma direita com vocação totalitarista cujos representantes na grande mídia por ocasião de sua passagem se sentiram incomodados pelo fato do genial arquiteto ser comunista e mesmo assim terem que passar flashes de sua obra e pensamento na programação. Houve até um representante dessa direita raivosa que o considerou metade gênio e metade idiota. Ora, o totalitarismo que tal ícone do “pensamento pequeno” burguês tanto diz combater se manifesta justamente no combate raivoso a todo intelectual e/ou artista que ciente de sua liberdade de pensamento e expressão, abre mão de seguir a “mesmice” das ovelhinhas branquinhas guiadas pelo lobo e segue seu próprio caminho, porque embora seja mais fácil ir até onde os outros vão e ver as mesmas coisas, somente quem trilha caminhos diferentes e vai aonde os outros não vão é que faz a diferença e vê o que outros são incapazes. Afirmar que Oscar “é metade gênio e metade idiota” somente demonstra que a pessoa que escreveu/disse isso é “totalmente idiota”. Certa vez assisti uma reportagem sobre um arquiteto estrangeiro mundialmente famoso que veio ao Brasil especialmente para conhecer Niemeyer e estava num estado de êxtase por estar ao seu lado.
O que me incomoda é haver em nosso país um segmento político que de posse da grande mídia, manipula, omite, distorce as informações e parece ter vergonha de o país estar seguindo num bom caminho, de as coisas estarem dando certo, e de haver brasileiros reconhecidos internacionalmente e que para assim o serem considerados, subiram a montanha a partir de um primeiro passo e seguiram em frente sem se abaterem com as dificuldades. Niemeyer escalou a montanha e viu a sociedade de seus patamares mais baixos até o topo e dessa forma constatou a realidade crua e cruel deste país. É essa sensibilidade perante a vida e a sociedade que o faz genial e insubstituível.
sexta-feira, 7 de dezembro de 2012
Enquanto isso, a Educação...Parte 2
No artigo da semana passada lamentamos a decisão da Câmara dos Deputados em recusar a destinação de 100% dos royalties do petróleo do Pré-Sal para a Educação, pois, como sabemos o investimento em Educação neste país está muito aquém do necessário e tais recursos poderiam dar um novo impulso à educação nacional. Acreditamos que não existem gastos com Educação e sim investimentos e, felizes, percebemos que a Presidenta Dilma Rousseff tem esse mesmo raciocínio, pois, ao receber e vetar partes do projeto de lei sobre a destinação dos royalties do petróleo encaminhada pelo Congresso Nacional, afirmou que irá encaminhar Medida Provisória para ser analisada pelos congressistas para destinar SIM à Educação a integralidade dos royalties futuros do petróleo. O Ministro Aloizio Mercadante comemorou a insistência da Presidenta e afirmou: "Só a educação vai fazer com que o Brasil seja uma nação efetivamente desenvolvida. Se o petróleo e o pré-sal são o passaporte para a educação, não há futuro melhor do que investir na educação".¹
Acredito que o leitor já deve várias vezes ter ouvido/lido notícias sobre os maus resultados do Brasil em avaliações internacionais como o PISA realizado pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) que envolve as nações desenvolvidas e alguns convidados, entre eles, o nosso país. O que possivelmente não deve ter ouvido/lido é que dentre os países que participam de tais avaliações, o Brasil é o que menos investe recursos per capita, ou seja, por aluno. Também é possível que não tenha ouvido/lido que as condições de trabalho nos países desenvolvidos são melhores, escolas com turno integral, média de 20 alunos por turma, 50% de hora-atividade para o professor preparar suas aulas, corrigir trabalhos e provas na escola sem realizar o trabalho caseiro, gratuito, portanto, escravo, no momento em que devia estar descansando, curtindo a família e fazendo suas atividades particulares.
Se o caminho para se tornar uma nação desenvolvida passa pela Educação, então porque não há unanimidade dos políticos brasileiros em defesa da Educação Pública, gratuita e de boa qualidade? A unanimidade não existe porque em nosso Congresso Nacional, segundo uma pesquisa, a maioria dos congressistas são representantes da Classe Alta (latifundiários, banqueiros, empresários, etc.), portanto, não são oriundos da classe trabalhadora. Dessa forma, como parte da elite econômica deste país, defendem a manutenção do status quo, ou seja, a continuidade da sociedade tal como é, ou seja, uma das maiores desigualdades sociais do planeta. Tais líderes neoliberais fazem defesas intransigentes do Estado Mínimo, que gasta pouco (investe pouco) e que de preferência tenha olhos, ouvidos e recursos somente para apoiar a produção econômica, ou seja, o capital. Gastar com a Educação é uma forma de corrigir distorções do sistema, mas todo investimento social é considerado pelos neoliberais como populismo.
Há representantes do neoliberalismo tupiniquim que afirmam que o problema da Educação não é falta de dinheiro e desconversam sobre as condições de trabalho dos professores e nestes colocam toda a culpa para a crise reinante, pois, é muito fácil e prático, colocar a culpa nos “professores que não sabem ensinar e nos alunos que não querem aprender”, pois isto os exime da responsabilidade perante este gigante de aço com pés de barro que se produziu chamado Brasil.
FONTE: ¹ http://ultimosegundo.ig.com.br/politica/2012-11-30/dilma-veta-trecho-da-lei-dos-royalties-sobre-campos-em-exploracao.html - acesso em 03/12/2012.
quinta-feira, 29 de novembro de 2012
Enquanto isso, a Educação...
No início deste mês (Novembro) os canais de TV brasileiros davam ampla cobertura às notícias referentes ao mensalão, enquanto isso, na Câmara dos Deputados, em surdina, foi rejeitada pela maioria de nossos “iluminados” representantes, o projeto de lei que visava destinar 100% dos royalties do petróleo para a Educação. A nação investe atualmente 4,6% do PIB em Educação, as agências internacionais consideram que o país deveria investir no mínimo 6% e os estudos demonstram que para fazer frente às necessidades brasileiras são necessários 10%. Sabemos que nenhum país se desenvolve sem ter claro um projeto de país que pretende ser nas próximas décadas ou séculos. O problema é que grande parte de nossos representantes não têm compromissos com a Educação Pública e ao que parece a vêm como um fardo a ser sustentado pelo Estado. É isso que penso com relação à recusa da destinação dos royalties do petróleo para a Educação, uma vez que os nossos representantes estavam mais preocupados em fatiar o bolo entre as Unidades Federativas.
O leitor pode pensar que professor pensa que Educação é sempre o mais importante, e está absolutamente certo, pois, conforme li, “senão houver mais médicos, não haverá saúde; senão houver mais advogados, não haverá Justiça; senão houver mais engenheiros, não haverá construções. Senão houver mais professores, não teremos mais médicos, advogados e engenheiros e não haverá mais nada”. Inclusive este escriba que traça estas linhas nada seria sem os mestres que teve e aos quais deve toda a gratidão. Sabemos como já enunciado pelo saudoso Mestre Paulo Freire que “a Educação sozinha não muda a sociedade, tampouco sem ela a sociedade muda”.
Nenhuma sociedade desenvolvida chegou a tal estágio sem investir em Educação, pois vivemos numa época em que é uma dádiva ter recursos naturais no próprio território, porém, o poder mundial se concentra nas mãos de quem tem o conhecimento científico, o Japão, por exemplo, é um país carente de recursos naturais, mas investiu como poucos países em Educação e formou cérebros que desenvolveram a Ciência, decorrente disso é considerado um país símbolo da Terceira Revolução Técnico-Científica, sendo também a terceira economia mundial apesar de ter sido arrasado com duas bombas atômicas na Segunda Guerra Mundial.
A posse de uma grande reserva de petróleo não nos alça automaticamente ao mundo desenvolvido, observe-se que a maior parte dos países grandes exportadores de petróleo é subdesenvolvida. O Japão por não ser rico em recursos naturais investiu em Educação e Ciência, e como sabemos, cientistas passam pelos bancos de uma sala de aula, a qualidade da Educação, portanto faz toda a diferença. O petróleo é finito e também pertence às futuras gerações, não podemos deixar que estes fabulosos recursos sejam desperdiçados na invisibilidade dos meandros do Poder e deixar aqueles que ainda não se encontram entre nós à mercê da falta de oportunidades. Os recursos do petróleo precisam tornar nosso país um lugar melhor, e para isso, investir em Educação e Ciência é fundamental.
quinta-feira, 15 de novembro de 2012
Notícias de plástico!
Os meios de comunicação têm uma importância fantástica para a efetivação da democracia e da liberdade de expressão, no entanto, quando se tornam gigantescos, tais grupos detêm um poder tão grande que acabam extrapolando a sua esfera de atuação e acabam impondo sua hegemonia sobre o poder político e sobre a sociedade como um todo objetivando a efetivação de interesses corporativistas. Para designar alguns grandes grupos de comunicação que manipulam, omitem e deturpam a informação repassada para a sociedade brasileira de acordo com seus interesses ideológicos e econômicos foi criada a denominação P.I.G. (Partido da Imprensa Golpista). Tal denominação referente a parte da grande imprensa brasileira que deveria exercer um papel imparcial e assim prestar um grande serviço à nação, faz todo o sentido quando observamos que esta se tornou um grande partido político de direita e que assumiu como sua a tarefa de organizar e liderar a oposição ao governo do Partido dos Trabalhadores (PT) e isto ocorre desde que Lula era presidente e continua sendo assim no atual Governo Dilma.
O poder que têm os grandes grupos de comunicação pode ser analisado através do livro “A História Secreta da Rede Globo” de Daniel Herz em que este demonstra como a Rede Globo serviu ao Governo Militar na época da ditadura e como a ditadura beneficiou a emissora neste período. O livro registra o depoimento de Roberto Marinho numa CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito de 1967) em que a Rede Globo recebia correspondências como Time Life Brazil, ou seja, uma empresa estrangeira, sendo que a Constituição Brasileira não permitia empresas de comunicação com capital e administração estrangeira, na época havia dois contratos entre a TV Globo e o Grupo Time-Life dos Estados Unidos, sendo que este tinha direito a 30% dos lucros. O livro mostra como era próxima a relação da Rede Globo com os militares no Poder, e como jornalista da Globo que foi, Herz contou na obra as manipulações exercidas nos noticiários tomados como verdade absoluta pela população. Lembro-me que certa vez li que um general presidente afirmou que adorava ligar a TV na Rede Globo, pois, em outros países havia uma série de problemas e no Brasil tudo era “maravilhoso”!
A BBC de Londres produziu um documentário sobre a Rede Globo e o Brasil intitulado “Beyond Citizen Kane”, (Muito além do Cidadão Kane) que mostra a grandiosidade, a qualidade e o absurdo poder desse gigantesco meio de Comunicação e suas entranhadas ligações com o meio político, além de questionar a qualidade da programação para a formação cultural do povo e principalmente das crianças brasileiras. Durante muito tempo em nosso país, houve uma crença que com Lula foi derrubada de que no Brasil ninguém se elegia ou ficava no poder sem o apoio da Rede Globo e que era sempre prudente ter boas relações com o poderoso grupo. Corajoso foi o falecido político Leonel Brizola, nacionalista, que, com seus “tijolaços”, os artigos e falas em que teve a ousadia de enfrentar o poderoso meio de comunicação, que nunca deixou barato, sempre dando o troco em editoriais, dessa forma, as batalhas que travaram atraíam a atenção da população. Lembro-me de ter assistido Leonel Brizola fazendo um duro discurso contra a Rede Globo no próprio canal como direito de resposta concedido pela Justiça e em seguida um melancólico “boa noite” do apresentador do Jornal Nacional ao final.
Sendo o Brasil, um país que viveu os horrores da ditadura militar, cuja censura foi a tônica deve ter sempre como norte a busca de uma imprensa plural, livre, democrática e responsável com a qualidade do serviço prestado, dessa forma, a regulação é necessária para que alguns grupos poderosos não pautem suas ações como o Quarto Poder, mas não pode ter o caráter de censura. Acredito que a Educação vem contribuindo e pode contribuir muito mais para que o telespectador seja mais exigente e crítico, diminuindo assim as conseqüências do efeito manipulador das notícias de plástico.
Fonte:
Muito além do Cidadão Kane. http://www.youtube.com/watch?v=049U7TjOjSA acesso em 10.11.2012
SUGESTÃO DE BOA LEITURA:
HERZ, D. A História Secreta da Rede Globo. Editora Tchê.
sábado, 10 de novembro de 2012
A presença dos pais: o maior legado
Vivemos numa época em que pais e mães trabalham fora para conseguir dar conta de suprir as necessidades das famílias, poucos são os casos em que um deles pode se dar ao privilégio de acompanhar os filhos diariamente em suas atividades. Como em tudo na vida há as suas conseqüências, os pais que assim procedem pela necessidade ou por vontade, acabam muitas vezes pecando na educação dos mesmos, pois como trabalham fora o dia todo e ficam com eles apenas algumas horas após o final do expediente até o momento em que estes vão dormir, delegam à escola a tarefa de educá-los e esta não é sua função, pois, os professores têm como missão trabalhar o conhecimento científico, algo dificultado pelo fato que em muitos lares os pais não impõem limites aos filhos que entendem que na escola também não deve haver e aí começam os problemas de indisciplina que atrapalham um melhor aproveitamento do tempo escolar.
Ao fim da jornada diária de trabalho, muitos pais tornam-se permissivos quanto à horários e aos programas de TV que os filhos assistem e não são raros os casos de alunos dormindo na sala de aula porque foram dormir muito tarde devido aos filmes da madrugada, o que logicamente contribui para a baixa aprendizagem, pois aprende-se mais estando descansado. Além do horário de descanso, os pais devem estar muito atentos à programação que seus filhos assistem, pois existem muitos programas que em nada contribuem para acrescentar cultura para os mesmos e invertem valores. Há também pais que procuram compensar seus filhos por sua ausência, dando-lhes todo o tipo de mimos materiais, celulares, notebooks, roupas e calçados de marca, até mesmo sacrificando outras necessidades da família para agradá-los e isso é péssimo para a educação destes, pois, uma conversa sobre as dificuldades para sustentar uma família e as necessidades mais prementes da mesma poderiam torná-los mais conscientes sobre o consumismo que é cultural e ecologicamente maléfico.
Nas escolas, infelizmente, nem todos os pais participam das reuniões e nem buscam interagir com professores e direção para alcançar o melhor resultado possível para seus filhos, muitos alegam o cansaço após um dia estafante de trabalho. No entanto, filhos são os maiores investimentos que uma pessoa pode ter e é necessário buscar aquele fôlego a mais para que o resultado esperado se concretize. Outro fato preocupante é que a parte dos pais que acompanhavam seus filhos até a conclusão do Ensino Fundamental parece pensar que no Ensino Médio esta necessidade inexiste e trata-se de um grande engano, pois nesta fase há o aprofundamento do grau de dificuldade das disciplinas e é também um momento de preparação de seus filhos para o vestibular ou exercício de uma profissão. Assim, todo cuidado é pouco, pois as dificuldades existem, e além destas os riscos e as distrações características da idade. Lembro-me que certa vez li a respeito dos bons resultados da Coréia do Sul nos exames internacionais (PISA) que aferem o nível de aprendizagem educacional dos estudantes,tal desempenho, fruto, logicamente de uma política nacional de investimento crescente em Educação, mas havia também na reportagem uma menção ao costume dos pais sul-coreanos no acompanhamento de seus filhos na escola, e, que em casa tais pais atuavam impondo-lhes rotinas de estudos, apoiando-os, mas também cobrando resultados. Penso que isso faz uma grande diferença.
O maior legado que os pais podem dar aos seus filhos é a sua presença em todos os momentos de suas vidas, devem, portanto, se preocupar menos em deixar patrimônio e se preocupar mais em formá-los educacional e culturalmente, dando-lhes condições para que possam buscar seu futuro e formar seu próprio patrimônio. Nada, nada substitui a presença dos pais na vida dos seus filhos.
sexta-feira, 2 de novembro de 2012
100 anos de escuridão! Parte 2
No dia 22 de Outubro de 1912, teve início no Irani (atual Santa Catarina) a Guerra do Contestado, nesta ocasião forças de segurança do Estado do Paraná que até a época tinha suas divisas através do Rio Uruguai com o Estado do Rio Grande do Sul, se confrontaram com os posseiros, as tropas paranaenses foram à região para expulsar aquele ajuntamento de posseiros das terras paranaenses, e na primeira batalha (ganha pelos posseiros) morreram o Coronel João Gualberto das forças paranaenses e o Monge José Maria, líder dos posseiros. As tropas paranaenses buscavam atacar de surpresa quando foram surpreendidas. A esta desmoralização veio nas tropas oficiais o desejo da vingança, e a intervenção federal se fez com a participação de grande parte do efetivo do exército nacional e o que este tinha de mais moderno em armamentos, aviões foram utilizados (em General Carneiro houve o primeiro acidente aéreo militar) contra posseiros, ex-trabalhadores da estrada de ferro desempregados, etc. que tinham como principal arma o conhecimento do terreno, a necessidade de resistir e muita fé, chegando a ser liderados pela virgem Maria Rosa, conhecida como a Joana D’Arc do sertão.
A Guerra durou de 1912 à 1916, milhares de pessoas foram mortas, conta-se que haviam rios cujas águas eram vermelhas devido aos cadáveres caídos. Para evitar que animais consumissem os corpos, que doenças se propagassem e por que não para apagar as marcas do genocídio que se produziu, vários fornos crematórios feitos de taipa foram utilizados para incinerar os corpos de homens, mulheres e crianças mortos nas batalhas. Ainda hoje, há quem ao visitar os sítios onde as batalhas ocorreram, ao passar a mão na terra encontre cartuchos utilizados tamanha fora a violência dos encontros das tropas legais contra os posseiros. Os posseiros sobreviventes, expulsos pelas tropas oficiais e pelos jagunços fortemente armados pela Lumber tiveram que sair das terras e seus descendentes em grande parte encontram-se nas favelas de municípios diversos da região. Tinham uma revolta contra a República, porque a Monarquia se nada fazia pelos mesmos, ao menos não os importunava e permitia que vivessem sua modesta vida naquelas paragens. Houve um tratado assinado entre Paraná e Santa Catarina intermediado pela Presidência da República em que a maior parte das terras contestadas coube ao estado catarinense, porém, a justiça nunca chegou para as maiores vítimas, um povo pouco interessado se fazia parte de Paraná ou de Santa Catarina e que queria apenas e simplesmente viver, ou melhor, sobreviver nas suas terras.
A Região do Contestado é tal como o resto do Brasil, uma área de grande desigualdade socioeconômica, riqueza e pobreza, latifúndios explorando pinus e trabalhadores rurais sem terras, capitalistas e desempregados e subempregados convivendo numa área de solo manchado de sangue, esquecidos pela história oficial deste país e diga-se um esquecimento proposital, pois se no passado as armas de fogo das tropas oficiais transformavam a escuridão em dia, após o fim da trágica guerra para acobertar o genocídio produzido, a estratégia utilizada foi silenciar, nada escrever, nada publicar, nada filmar, até que em meados dos anos 1980, a história passou a ser desenterrada, apesar do muito que se perdeu com o tempo por bravos pesquisadores que não se contentam com versões oficiais e buscam tirar do fundo do solo contestado a verdade de um povo esquecido e que somente foi lembrado pelo Estado para lançá-lo uma vez mais à escuridão, 100 anos de escuridão.
SUGESTÃO DE BOA LEITURA:
FRAGA, N.C.(org). CONTESTADO, o território silenciado. Editora Insular.
sábado, 27 de outubro de 2012
100 anos de escuridão! – Parte 1
A história nada mais é do que a versão contada ou escrita sobre acontecimentos que passaram previamente por um filtro ideológico, dessa forma, costuma-se dizer que a história escrita é a versão dos vencedores, pois a estes coube a oportunidade de contar a sua versão dos fatos, mas como sabemos há sempre dois lados e saber apenas um nos dá uma idéia parcial ou até mesmo equivocada. Não se faz história e dela não se intera sabendo apenas uma versão, isso é um olhar míope, ou seja, vê-se o aparente, mas não o que está oculto na profundidade dos fatos. O filtro ideológico a que me referi pode ser intencionalmente colocado ou de forma subconsciente, embora esta última não pareça ser o caso para entender o esquecimento sobre os fatos envolvendo a Guerra do Contestado, a maior guerra civil camponesa brasileira e o verdadeiro massacre que ela encerra.
O território paranaense e parte do atual estado de Santa Catarina pertenciam à Província de São Paulo até a metade do século XIX, e, Santa Catarina alegava como seu o direito à propriedade das terras ao sul do Rio Iguaçu, anteriormente o território reclamado pelo estado catarinense esteve sob disputa com a Argentina e um dos fatores principais para o arbitramento estadunidense dar ganho de causa ao Brasil foi a presença de posseiros na área que segundo os representantes brasileiros na causa falavam um “bom e fluente” português. Mais tarde, o governo imperial resolveu ceder aos ideais emancipacionistas dos paranaenses por acreditar que assim colocava um pouco de água fria na união entre paulistas e gaúchos que tanto lhe davam trabalho, assim, em 1853, o Paraná ao ser criado herda o problema da questão de limites com Santa Catarina, e esta tendo ganhado judicialmente três vezes a causa não viu sua reclamação ser atendida.
A região do Contestado era uma área abandonada pelo Estado Brasileiro e nela moravam pessoas humildes, em grande parte analfabetas e que apesar de não possuírem o título de propriedade, tinham o direito a elas na qualidade de posseiros. Na época sequer a Igreja se fazia presente na área e por isso tinham grande influência os monges que por lá passaram, curando, benzendo, etc. Para integrar essa região foi projetada a construção da estrada de ferro São Paulo – Rio Grande no fim do período imperial, porém, sua construção ganhou velocidade no início do período republicano. Na época, coube ao mega empresário Percival Farquhar, o mesmo empreiteiro da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré em Rondônia, mais conhecida como Ferrovia do Diabo, em qual se afirmava que para cada dormente assentado havia um trabalhador morto pelas precárias condições de trabalho, em particular pela malária.
Farquhar atuava em vários pontos do planeta com empreendimentos diversos e conseguiu também a concessão para a continuidade das obras em terras do então Paraná e Rio Grande, na negociação além do pagamento com juros fartos conseguiu também ganhar as terras de 15 quilômetros de cada lado da ferrovia. Assim, a ferrovia ganhou muitas curvas e principalmente se dirigia às áreas ricas em mata de Araucária. Além da Brazil Railway Company, Farquhar montou a Southern Brazil Lumber and Colonization Company que se tornou uma das maiores madeireiras do mundo e tudo o que fez foi devastar a área rica em araucárias, imbuias, cedros, grápias, etc. e exportar para vários países do mundo.
No início os moradores viram com bons olhos a vinda da ferrovia para a região, pois representava a vinda do progresso e iria ligá-los ao restante da civilização, e, de fato ela gerou milhares de empregos sendo grande parte, trabalhadores vindos de outras partes do Brasil, mas ao perceber que sua terra estava sendo expropriada, a mata de onde retiravam seu sustento, derrubada, e não tendo para onde ir ou o que fazer para sobreviver, se não lutar, os posseiros resolveram reagir sob a liderança de José Maria, o monge guerreiro.
domingo, 21 de outubro de 2012
Minha visão sobre Lisarb – Parte 2
Os economistas lisarbianos são considerados estrelas midiáticas, assim, são sempre chamados a darem sua opinião sobre o atual momento da economia do país e como estes têm várias tendências, o povo lisarbiano escolhe de acordo com sua ideologia o “horóscopo” para o país que mais lhe convém, assim é comum ver lisarbianos tentando salvar a alma, rezando por que o mundo vai acabar e outros com sorriso largo porque o “horóscopo” ditado pelo seu economista de plantão afirma que tempos de colheita farta vêm pela frente.
Apesar de a política ser algo tão sério, o povo lisarbiano faz piadas sobre a classe política e ao votar em um candidato com ficha suja, afirma: se eu estivesse lá roubava também e é melhor manter os gatos gordos lá que trocar por gatos magros que ainda vão querer engordar. Aliás, política é algo muito estranho em Lisarb, há pobres que são contrários às reformas que os beneficiariam e que somente votam em candidatos que defendem o ideário da classe burguesa. Há entre esses eleitores pobres a crença de que votando nos candidatos ricos, estes não precisam roubar e assim não haverá corrupção, porém, as investigações sobre a corrupção no país apontam em sentido contrário, pois os políticos corruptos nunca pensam serem ricos demais. Em Lisarb se afirma que “política é igual nuvem, você olha está de um jeito, olha de novo e está diferente”. Assim os políticos situacionistas lisarbianos não têm o menor pudor em defender uma coisa diferente do que o faziam quando estavam na oposição e os da oposição em defenderem o contrário daquilo que sustentavam quando estavam no governo.
Nos últimos anos, Lisarb vem ganhando uma projeção internacional cada vez maior, pois, tornou-se uma das maiores economias do mundo, no entanto, contraditoriamente o país tem um péssimo Índice de Desenvolvimento Humano. Os últimos governantes de Lisarb, vêm promovendo programas de transferência de renda que custam muito pouco e que têm dado um novo alento às classes mais pobres que vêm avançando mais rapidamente que a classe média e alta, tornando-se alvo dos comerciantes, cujas vendas evoluíram com a ascensão socioeconômica dessa significativa parcela da população. Dessa forma, a política atual em Lisarb é distribuir a renda para crescer, justamente o contrário do tempo dos militares em que se falava que “era necessário fazer o bolo crescer para depois dividir”. Apesar do reconhecimento internacional pela melhoria da qualidade de vida da população, parte do povo que se julga muito solidário é contra esse auxílio às camadas mais carentes afirmando se tratar de assistencialismo, o que em outros países chamam de solidariedade ou busca da justiça social.
Ainda sobre política, Lisarb é considerado um dos países mais corruptos do mundo e o pior disso tudo é a naturalidade com que parte considerável da população aceita a situação, inclusive solicitando favores de políticos principalmente em épocas eleitorais. Em Lisarb se fala muito em político corrupto, mas pouco no eleitor corrupto(r), que em troca de favores pessoais vende o futuro do país, do estado ou do município. O grande problema de Lisarb é cultural, somente se tornará um grande país quando seu povo deixar de pensar e agir com mentalidade pequena e se propuser a verdadeiramente construir um grande país, somente assim Lisarb se tornará no Brasil que sonhamos ver realidade.
Minha visão sobre Lisarb – Parte 1
Há alguns dias assisti uma entrevista de um famoso economista que se referia à Lisarb e ao seu povo os lisarbianos, como era a primeira vez que ouvia falar deste país, prestei muita atenção à fala sobre Lisarb “o país dos contrários”. Finda a entrevista fiz uma pesquisa na internet e constatei que há muita coisa legal escrita sobre o tema, sem que pudesse descobrir a autoria original. Assim, gostando da temática e influenciado por tais escritos, vou de acordo com meu entendimento discorrer.
“Lisarb fica numa ilha muito grande e os povos vizinhos e também os povos de longe cobiçam suas riquezas. Seus vizinhos vêm até se armando, no entanto, os líderes lisarbianos decidiram não investir mais na defesa, pois estão em tempos de paz, se um dia precisarem, caso haja uma guerra, eles buscam uma solução para a defesa”. Os lisarbianos são grandes exportadores de matérias-primas, orgulham-se dos lucros com as exportações de produtos primários, embora estes lucros sejam muito menores do que o de outros países que processam a matéria-prima de Lisarb adquirida.
Os lisarbianos sentem um enorme prazer ao dizerem ser “mais ou menos” pontuais, assim, tudo começa “mais ou menos” às quinze horas (na verdade sempre é mais) e fazem piadas sobre os seselgni, um povo muito pontual. Os lisarbianos fazem piadas sobre si próprios, porém se alguém faz uma piada ou crítica referente a um país distante chamado Sodinu Sodatse, não é incomum ocorrer uma discussão, pois amam aquele país mais do que a Lisarb, embora ninguém saiba dizer o que tal país fez de tão bom para Lisarb para merecer tal fidelidade dos lisarbianos.
Contam os professores de História de Lisarb que um golpe militar implantou um regime chamado arudatid para evitar que os satsinumoc tomassem o poder em Lisarb, o que poderia desagradar o Sodinu Sodatse e resultar segundo os militares na falta de democracia e até mesmo em violência. Na defesa da democracia, os militares baixaram o “5-IA oterced” para que o país continuasse com “céu de brigadeiro” e os líderes de Sodinu Sodatse ficassem felizes.
Os pais lisarbianos valorizam muito a educação e a têm como principal impulsionadora para o desenvolvimento, estranhamente, seus filhos, principalmente os da classe média e alta, têm buscado cursos que formam para outras áreas profissionais que não o Magistério. Falar de Educação rende votos naquele país, sabedores disso, os políticos daquele país se esforçam em apontar a educação como meta principal de suas gestões caso obtenham êxito nas eleições, muito embora suas posteriores práticas político-administrativas os contradigam. Afirmam, após a eleição que a Educação não precisa de mais recursos, que professores não precisam de hora-atividade, e nem mesmo de salários equivalentes aos de outras profissões com mesmo grau de instrução, pois, afinal, magistério não é profissão, é vocação, assim devem os mestres trabalhar unicamente por amor. Mas como em Lisarb a cada dois anos há eleições, os professores são lembrados e homenageados, sempre com a promessa de que como Lisarb é o país do futuro, um dia os professores terão melhores condições de trabalho.
domingo, 23 de setembro de 2012
A novela dos caças para a FAB - Parte 2
Na Red Flag 2008 realizada nos EUA, os Rafale superaram os F-18 americanos cujos pilotos afirmaram que viam os Rafales quando não dava mais tempo de reagir. O problema está no fato do Rafale ser o mais caro dos três concorrentes. O Brasil precisa aumentar seu orçamento de defesa ou não conseguirá ocupar o papel que almeja entre as grandes nações do mundo e terá sua soberania e consequentemente a posse de suas riquezas ameaçadas. A FAB já afirmou que qualquer dos três caças preenche as necessidades da Força, sabemos que os militares entendem de critérios técnicos, porém, como não se trata apenas da escolha de um avião, critérios técnicos não são suficientes, dessa forma, a decisão será política, pois envolve questões geopolíticas. No entanto o Rafale e o F-18 são disparadamente melhores. O Gripen NG é um avião ainda em fase de protótipo, a proposta é honesta e boa, mas não para o momento, pois o custo de desenvolvimento de um projeto pode se elevar muito e demandar um tempo que o país não dispõe. Prova disso é que tanto o Rafale como o F-18 demandaram duas vezes mais recursos do que o inicialmente projetado, porém, o Gripen como monomotor que é sairá mais barato e terá um custo de hora/vôo mais barato.
O que está em jogo não é a escolha de um avião como se fosse uma mercadoria de prateleira, pois aí seria fácil escolher. O que se pretende é formar uma aliança estratégica e aí fica a pergunta: Seria melhor e mais confiável com os EUA? Com a Suécia ou com a França? No caso dos EUA seria uma temeridade, pois este país não desperta nenhuma confiança em qualquer pessoa que tenha um mínimo de noção de história e geopolítica mundial. A Suécia é um país com pequena expressão política internacional e que busca um parceiro para arcar com as pesadas despesas de desenvolvimento da nova geração do Gripen para que o projeto tenha continuidade. O desenvolvimento de um projeto de caça custa vários bilhões de dólares antes que a primeira aeronave voe, uma aliança com a Suécia possibilitaria a transferência tecnológica e um upgrade no conhecimento nacional para a construção de futuras aeronaves mais avançadas, mas como aliança, pouco acrescentaria ao Brasil no cenário geopolítico mundial. O peso da Suécia no cenário internacional é inferior ao do Brasil. Outro inconveniente é que muitas peças do Gripen NG são estadunidenses, portanto sujeitas a embargos para posteriores vendas a terceiros países, e também no caso de um esforço de guerra em que a posição estadunidense seja contrária à brasileira.
Não é exagero nenhum afirmar que se existe um país que pode ameaçar os interesses brasileiros de uma maior participação na geopolítica sul-americana e mundial e mesmo a soberania nacional esse país é os EUA, pois o mesmo não deseja que sua influência na região seja enfraquecida pelo fortalecimento exagerado do Brasil (além do que os EUA consideram aceitável). Dos três países, a França é o único que defende a ampliação do Conselho de Segurança com a participação do Brasil. É um canal importante de acesso dos interesses brasileiros (leia-se comércio) junto à União Européia, pois, é um dos países mais importantes daquele bloco. A França detém tecnologias que a Suécia não dispõe e com a parceria poderia transferi-las ao Brasil.
O Rafale é mais caro? É! Mas se queremos o mais barato então podemos continuar garimpando sucatas pelo mundo e reformando-as, enquanto assistimos países vizinhos de menor expressão econômica e política comprando armamentos melhores e assim fazendo cada vez mais bravatas contra o Brasil. O Brasil é um país com tradição pacífica, mas, para assegurarmos a paz e a soberania nacional é necessário que sejamos respeitados e não seremos respeitados se formos fracos. Assim entre EUA, Suécia e França, esta última representa a melhor aliança estratégica para o Brasil.
segunda-feira, 17 de setembro de 2012
A novela dos caças para a FAB – Parte 1
Sou aficionado de longa data pela aviação, quando adolescente costumava comprar revistas sobre aviação de caça e tinha por hábito memorizar dados técnicos de cada aeronave. Sendo assim, no início do ano em uma viagem de moto ao Rio Grande do Sul, aproveitei para visitar a Base Aérea de Santa Maria (BASM), não podia perder a oportunidade, fiquei muito feliz de estar naquele lugar, muito embora como mero visitante não pudesse ficar próximo aos aviões. Apesar disso, visitar a base foi interessante, pois fui gentilmente atendido pelos oficiais e praças e pude ver alguns sobrevôos do helicóptero H-60L Black Hawk e a aproximação de dois A-1 (AMX), além de ouvir o rugir de turbinas de caças em teste. Mais recentemente soube que o Esquadrão de Demonstração Aéreo mais conhecido como “Esquadrilha da Fumaça” se apresentaria em Cascavel e para lá me desloquei para assistir. A apresentação foi algo fantástico, com direito a fotos e autógrafos para o meu filho junto aos T-27 “Tucanos”.
Lembrei-me que há dezesseis anos se arrasta um processo de escolha de novas aeronaves de caça para a Força Aérea Brasileira, as atuais se encontram em final de vida útil, muitas com mais de 30 anos e cujos custos de manutenção se elevam com o passar do tempo. Nesse período, a tônica foi a indefinição e constantes protelações do Governo, pois, FHC deixou para Lula decidir e este para Dilma e no momento a alegação para o pé no freio é a desaceleração econômica. No entanto, essa decisão precisa ser tomada, pois mesmo sendo o Brasil um país pacífico, planeja projetar uma maior envergadura no cenário internacional (ONU), e também devido ao fato de ser detentor de recursos naturais fabulosos, precisa estar em condições de desestimular qualquer ato de cobiça de nossas riquezas ou de desrespeito à soberania nacional por alguma nação hostil.
Mas a tarefa não é fácil, comprar equipamentos militares num país com tantas necessidades encontra oposição de parte considerável da população brasileira, apesar disso, tais compras se fazem necessárias. Há alguns dias li que no caso de um ataque ao Brasil, só poderíamos responder de forma intensa ao fogo inimigo por uma hora. Por que então a demora? A necessidade de muitos e intermináveis estudos técnicos e decisões político-estratégicas, pois, escolha de equipamento militar precisa levar em conta as alianças estratégicas e não pode nunca ser apenas técnica, pois, em caso de necessidade o fornecedor pode decretar embargos como os EUA já fizeram várias vezes com muitos países, inclusive com o Brasil. O F - 18 (um excelente avião seria uma temeridade, pois os EUA não são confiáveis). Não se trata apenas da escolha de um avião, mas de uma parceria, uma possível aliança estratégica com a França ou mais improvável com a Rússia (Sukhoi 35) contrabalançaria a presença geopolítica estadunidense na América do Sul (leia-se Colômbia e Paraguai), embora, no caso dos poderosos aviões russos, teríamos a forte oposição de Washington.
sábado, 8 de setembro de 2012
Três coisas que não entendo! Parte 2
George Walker Bush é o filho mais velho de George H. W. Bush que foi vice-presidente em toda a administração Ronald Reagan (1981-1989) e também presidente dos Estados Unidos (1989-1993). Dessa forma, George W. Bush também conhecido como “Dáblio” cresceu numa família que fez da política um dos seus mais promissores negócios, além é claro do setor petrolífero. A proximidade dos Bush com o poder sempre rendeu ao clã informações privilegiadas que foram sempre muito bem aproveitadas nas suas empresas. Bush pai, foi pupilo de Ronald Reagan que juntamente com Margareth Thatcher (Inglaterra) propagaram o neoliberalismo por todo o planeta. Para tal, utilizaram organismos internacionais como o FMI e o Banco Mundial para pressionar os países subdesenvolvidos a implementarem reformas neoliberais com a clara intenção de garantir o acesso das potências desenvolvidas aos recursos naturais, serviços e empresas lucrativas sob posse de governos de países pobres. O resultado é conhecido de todos, na forma das muitas tragédias econômicas que se abateram pelo mundo.
“Dáblio” durante seu governo dominou a programação humorística dos Estados Unidos, sempre havia produtores de programas humorísticos ou de entrevistas com um olho na pauta e outro nas entrevistas do então presidente à espera de uma nova gafe, e como “Dáblio” cometia gafes! Após se eleger, afirmou em cadeia nacional de TV que todos aqueles que eram maus alunos também podiam ser presidentes dos EUA. Noutra oportunidade afirmou: "Os inimigos dos EUA nunca deixam de pensar em novas formas de prejudicar o nosso país e o nosso povo; tampouco nós” (risos). Certa vez, durante seu governo, um avião espião estadunidense foi capturado em ação em território chinês, sua tripulação foi feita prisioneira. “Dáblio” ameaçou usar todos os meios disponíveis contra a China e seus líderes responderam que podia fazê-lo, que saberiam se defender, então assessores lhe avisaram sobre o poderio militar chinês e este abrandou o tom da fala convidando os chineses para resolver a questão diplomaticamente. Quando enfim, os reféns foram libertados e o avião que os trazia fez uma escala no Havaí (território americano), Bush em rede nacional de TV disse que só ficaria aliviado quando os reféns estivessem em solo estadunidense (risos). Também foi autor de uma gafe sincera: "Você sabe, uma das partes mais difíceis do meu trabalho é conectar o Iraque à guerra ao terrorismo" (risos).
Caso queira ler mais sobre as gafes de Bush, busque na Internet e ria a valer, mas o fato é que Bush, além de mau aluno foi considerado o pior presidente da história dos Estados Unidos da América de acordo com uma pesquisa. Também foi o executor da doutrina Bush em que direitos humanos e o direito internacional foram desrespeitados a pretexto de salvaguardar os EUA de um possível ataque externo ou interno. A equipe de Bush tinha um braço forte para a guerra e outro raquítico para as questões econômicas, não nos esqueçamos que foi durante seu governo que os Estados Unidos quebrou e levou meio, ou mais de meio mundo junto.
Como Bush conseguiu se eleger presidente? A velha questão do berço (clãs), a alienação do povo e um sistema eleitoral ineficiente. Se você pensa ser isto algo longínquo, passe a observar mais os sobrenomes de nossos políticos.
sábado, 1 de setembro de 2012
Três coisas que não entendo! Parte 1
Três perguntas me perseguem e você se engana se pensa serem os tradicionais questionamentos filosóficos: Quem somos? De onde viemos? Para onde vamos? Estas são questões filosóficas que ocupam a mente de pensadores desde que o homo sapiens surgiu na Terra e talvez por todo o “sempre” ocupará. Trata-se de questões outras, a saber: A Teoria da Relatividade, que convenhamos não é nenhuma vergonha não entendê-la, haja vista que pouquíssimos realmente a compreendem, coloco esta questão em terceiro lugar. Para mim o segundo maior mistério é por que Obama ganhou o Prêmio Nobel da Paz de 2009? E na primeiríssima posição como o povo de um país poderoso, desenvolvido, como os Estados Unidos da América escolheu como presidente George Walker Bush, nacionalmente famoso por suas gafes e segundo ele próprio, um dos piores alunos de sua turma?
Segundo a Wikipédia, Teoria da Relatividade é a denominação dada ao conjunto de duas teorias: a Relatividade Restrita (ou Especial) e a Relatividade Geral. A Teoria da Relatividade nos leva a conclusões que nos soam bizarras, como no caso do Paradoxo dos Gêmeos em que um é colocado numa nave, em viagem até um ponto distante do espaço e seu irmão gêmeo fica na Terra, após alguns anos, o gêmeo viajante retorna e observa que seu irmão que permaneceu na Terra está alguns anos mais velho que ele. Há outras situações que tal como esta, dá um nó no cérebro e que me levaram a adiar para a aposentadoria a leitura de um livro sobre tal teoria. Então por falta de conhecimento específico não vou prosseguir escrevendo sobre algo que desconheço!
Vamos à segunda questão, Barack Obama é o primeiro presidente negro dos Estados Unidos e sinceramente torci por sua eleição para a presidência daquela que é a nação mais poderosa do planeta, pensava que seria um tributo à Martin Luther King, à Malcom X, importantes líderes negros que derramaram o próprio sangue lutando por um país onde a discriminação étnico-racial não tivesse vez, algo que sabemos ainda muito distante do atual Estados Unidos da América. O primeiro líder com seu discurso pacifista, certa vez afirmou: "Eu tenho um sonho. O sonho de ver meus filhos julgados pelo caráter, e não pela cor da pele", e o segundo com o discurso inflamado de quem já esperou demais por algo pelo qual sequer deveria estar lutando se não houvesse a intolerância, a prepotência, a arrogância e outros adjetivos mais que caracterizam certas pessoas que em razão de sua forma de ser, não cometemos o erro da redundância.
No entanto, apesar de ter gostado de ver Obama eleito, achei prematura a decisão de conceder-lhe o Prêmio Nobel da Paz por sua iniciativa de reduzir os estoques das armas nucleares, afinal, ter a capacidade de destruir seis ou quatro planetas Terras não muda muita coisa. No entanto se este, unilateralmente, para dar o exemplo, decidisse desativar todas as ogivas nucleares de que seu país dispõe, mereceria os meus entusiásticos aplausos, embora nesse caso, temesse por sua vida, afinal inimigos existem e muitas vezes são internos. E convenhamos muito de que Obama falou com relação à Paz no mundo foi uma mera pirotecnia retórica.
domingo, 12 de agosto de 2012
O “p.f.” da Educação – Parte 1
A abreviatura “p.f.” tem vários significados, aqui nos referimos ao popular “prato feito”, ou seja, o tradicional cardápio dos restaurantes de beira de estrada composto por arroz com feijão, bife, ovo e batata frita. O leitor deve estar estranhando o autor destas linhas abordar tal temática que aparentemente destoa de tudo quanto se publicou nesta coluna. Explico melhor, o “pf” é uma alimentação barata que caiu no gosto do povo brasileiro por seu baixo custo e por dar uma resposta energética satisfatória para o organismo humano.
Pelo Brasil “adentro” há variações do p.f. de acordo com a culinária local e tal como no caso do alimento, a sociedade guiada por seus líderes, muitos dos quais mais perdidos dos que aqueles a quem conduzem, vivem tentando reinventar a roda no sentido de tornar menos onerosa para os cofres públicos. Não raras vezes questionam se tirar parte dos raios da roda não a tornaria mais barata, esquecendo-se que são justamente os raios que possibilitam a estabilidade no movimento e que não se pode economizar em segurança.
Dessa forma temos entre nossos “iluminados” representantes políticos, aqueles que visam economizar com Educação considerando como “gastos” aquilo que na verdade todo líder inteligente sabe ser INVESTIMENTO. Ainda hoje me revolta lembrar o ardil de alguns de nossos representantes na Assembléia Legislativa, que, quando na oposição ao Governo Requião, votaram pela redução da quantidade de alunos por sala de aula e no início de 2011 quando passaram a ser situação, votaram contra. Lembro-me que certa vez uma palestrante ao visitar Cuba questionou uma professora cubana: é verdade que nas salas de aulas cubanas tem até 15 alunos por classe? E a professora inquirida, revoltada, respondeu: Mentira! Colocam até 20 alunos! (risos e choro ao lembrar nossas classes!).
Essa mesma palestrante afirmou: “me dê a metade de alunos por classe e eu te dou o dobro de resultado”! E disse ainda que entre uma escola com laboratório de informática, com computadores maravilhosos e uma escola com menos alunos por turma, ela opta, sem dúvida alguma, pela segunda opção. Turmas grandes não favorecem a aprendizagem, todos sabem disso. Cuba com poucos recursos e muita vontade política construiu um sistema educacional muito eficiente. No Brasil (Paraná incluído), Educação rende votos, assim, em época eleitoral todo mundo fala de sua importância, no entanto, o discurso não corresponde à prática pós-eleição. A causa da Educação deve ser abraçada pelo povo brasileiro e cobranças devem ser feitas no sentido de que deixe de ser mera retórica eleitoreira e se torne parte inseparável do projeto de país que se pretende construir.
Político comprometido com a Educação não abaixa essa bandeira por que é, ou se tornou governista, pois, o compromisso tem que ir além do Partido ou do Governo.
quinta-feira, 26 de julho de 2012
Sobre lobos e cordeiros
Vivemos uma época complexa, a revolução dos transportes deixou o mundo menor, mas a distância física entre as pessoas só fez aumentar, por sua vez, a revolução das telecomunicações tornou a informação acessível, porém, nunca entendemos tão pouco acerca do mundo. Essa dificuldade afeta até mesmo os líderes e intelectuais que já afirmam não dar conta de entendê-lo tendo em vista a celeridade de suas transformações. Se o rol das pessoas que entendem com clareza o que vem a ser a globalização e o neoliberalismo atual diz respeito à pequena parcela da sociedade, a coisa degringola de vez quando o assunto é o pós-modernismo predominante.
O momento atual é de ruptura, uma crise civilizacional, em que as ideologias (conjunto de idéias, crenças e valores) que sustentam ou sustentaram o período da história humana conhecida como modernidade encontram-se em questionamento e mesmo sendo refutadas. É como alguns palestristas a quem assisti afirmaram categoricamente “é a negação da história”. Já não valem mais as ideologias, ou seja, os valores que sustentaram o mundo nos últimos séculos. O que reina é o caos, a destruição da ordem até aqui conhecida. E neste mundo complexo, em que as pessoas não sabem mais distinguir esquerda e direita na política, seja por alienação e também por dificuldade mesmo, pois, a forma de agir dos partidos políticos e suas estranhas alianças contribuem muito pouco para o entendimento por parte da sociedade. Há até mesmo pessoas que afirmam que os conceitos de esquerda e direita serem coisas ultrapassadas, que na prática isso não existe mais.
Há algum tempo um líder de partido político declarou que o mesmo era “desideologizado” e se engana quem pensa que o político entrevistado era ingênuo, lógico, que a afirmação da desideologização do partido não tem sustentação científica, pois, não existe neutralidade, porém, as pessoas gostam da ilusão de um mundo “desideologizado”, de um partido “desideologizado”, do ensino “desideologizado”, sobre este último há até ONG para defendê-lo. Dessa forma, sendo a neutralidade impossível, as pessoas que a propõem estão longe de serem consideradas ingênuas, só me resta imaginá-las numa sala escura cheia de teias de aranhas, em frente a um caldeirão preparando a receita de como dominar as mentes inocentes que compram esse discurso fantasioso da neutralidade.
A neutralidade é um discurso falso e devemos ter um pé atrás com quem não tem uma ideologia definida, pois não ter uma ideologia definida é a principal característica dos oportunistas, hoje eu digo isso e abraço fulano, amanhã digo o contrário e abraço o ciclano. Ouvi até que o sindicato que representa os trabalhadores da educação deveria ser “desideologizado” e que na sua diretoria não deveria haver pessoas ligadas a partidos políticos, ora quem é engajado na luta da classe trabalhadora, está fazendo a luta econômica no sindicato e a luta política no partido como o afirmou Lenin. Talvez estas pessoas pensem que o sindicato não deveria estar nas mãos de trabalhadores da educação, isso seria entregar os cordeiros para serem cuidados pelo lobo! Não obstante os defensores de uma vida “desideologizada” sou mais fã de Cazuza quando cantava “ideologia, quero uma para viver”.
sexta-feira, 13 de julho de 2012
Paraguai, um passo para trás
A palavra “impeachment” se tornou conhecida entre os brasileiros por ocasião do processo aberto contra o então presidente Fernando Collor de Mello e mais recentemente pelo processo contra o presidente paraguaio Lugo. No entanto, os dois processos são totalmente distintos. Collor eleito como “caçador de marajás” com o apoio fundamental de importantes empresas midiáticas teve seu governo envolvido num esquema de corrupção sem precedentes na história brasileira e teve acesso a um amplo direito de defesa através de um processo demorado assegurando desta forma a legitimidade do mesmo.
O processo contra Collor contou com o apoio da sociedade brasileira, jovens conhecidos como “caras pintadas” saíram às ruas e exigiram a cassação de Collor, na CPI e na imprensa a todo o momento eram apresentadas novas provas da culpabilidade do então presidente, apesar disso, todos os ritos ou passos foram seguidos para que o processo seguisse seu curso e em seu desfecho culminasse com uma resposta para a sociedade baseada na justiça e que acabou por demonstrar ao mundo a maturidade da jovem democracia brasileira. O país saiu do processo de impeachment presidencial fortalecido, dando a todos a impressão de que o país havia consolidado a democracia.
Infelizmente não é a mesma impressão que tenho com relação ao Paraguai, não é possível chamar de processo de impeachment o que lá ocorreu, com um processo relâmpago de menos de 48 horas e que não assegurou ampla defesa, sendo, portanto um arremedo de processo de impeachment, na verdade, um golpe. Para começar, houve oportunismo dos parlamentares daquele país, em sua quase totalidade oposicionistas e fortemente conservadores para derrubar o presidente Lugo, bastante conhecido por apoiar movimentos sociais. Na prática, o apoio do Presidente Lugo aos movimentos sociais foi a principal causa de sua derrubada do poder por um congresso que fez eco aos clamores dos latifundiários paraguaios e brasileiros inclusive, que não querem que um movimento pela reforma agrária prospere naquelas terras.
Lembro-me de ter lido que “se apoiar movimentos sociais é motivo para um processo de impeachment, se deveria então fazer o mesmo com todo presidente que tivesse ligações com os banqueiros”. Penso que é lamentável o que ocorreu no Paraguai, um dos países mais pobres da América do Sul e que gostaríamos de ver avançando na qualidade de vida de seus cidadãos juntamente com todos os demais países latino-americanos. A impressão é a de que o Paraguai deu um passo para trás na sua caminhada no concerto das nações. O ocorrido no Paraguai e algum tempo atrás em Honduras mostra ser a democracia frágil na América Latina como o dizem os autores dos livros de Geografia. Devemos estar vigilantes para que a contaminação reacionária não ocorra por essas bandas de cá, assim, todo fantasma precisa ser urgentemente exorcizado!
P.S. Como latino-americano lamento o ocorrido no Paraguai e me solidarizo com o povo paraguaio que tal como o povo brasileiro é melhor do que a média de seus representantes políticos.
A escrita como um campo de lutas – parte 2
O surgimento da escrita ocorreu provavelmente 4 mil anos antes de Cristo, diante da necessidade do homem em se comunicar e passar para as gerações seguintes o conhecimento acumulado. Foi um longo processo em que diferentes povos desenvolveram signos próprios para expressar graficamente aquilo que transmitiam oralmente e do qual muito se perdia com o tempo. Podemos dizer que da necessidade de democratizar o acesso ao conhecimento para as novas gerações os diferentes povos inventaram e aperfeiçoaram a escrita.
Passados seis mil anos dos primeiros signos registrados para a história, na era do e-book, o livro de papel, o jornal, a revista ainda não são companheiros das horas vagas para boa parte da humanidade, parte por não ter acesso devido à situação de miséria extrema e parte por não ter o hábito e o gosto pela leitura. Sabemos que a leitura é uma questão cultural e que varia de país para país, de regiões dentro de cada país e de um lar para outro. Se quisermos ter filhos leitores, além do incentivo é bom que mostremos ser este um hábito nosso também.
Muitas vezes ouvimos que a história é contada pelos vencedores e ainda que não existe uma história, mas várias histórias e que o historiador apenas narra a sua visão dos acontecimentos históricos que como sabemos está carregada da ideologia que lhe é própria. O fato de olharmos para os acontecimentos históricos e vermos neles uma possibilidade infinita de novas investigações e retirar do quadro mais uma camada de tinta para ver o que se esconde por baixo é algo que fascina a qualquer amante do conhecimento.
A escrita é uma forma de poder e como tal os meios para divulgá-la não é acessível a todos, principalmente nos grandes meios de comunicação de massa, ou você reza a cartilha editorial ou está fora, penso que é uma pena isso, pois nada mais interessante do que ler e refletir sobre diferentes pontos de vista de pessoas ideologicamente contrárias para tomar um posicionamento balizado na comparação. Essa autocracia da escrita vai contra o direito democrático de acesso à informação de qualidade e infelizmente é a promoção da censura por quem mais defende a liberdade de expressão, digo isso, pois conheço pessoas que trabalharam em grandes empresas jornalísticas que vetavam seus artigos, por terem eles a identidade dos mesmos, ou seja, a ideologia.
É, portanto a escrita um campo de lutas dominado pela elite econômica, assim, a classe trabalhadora muitas vezes não tem como divulgar seu pensamento e assim contribuir para a gestação de uma nova sociedade planetária que esperamos, seja justa, solidária e fraterna.
domingo, 24 de junho de 2012
A escrita como um campo de lutas – parte 1
Nada mais indissociável da escrita do que a leitura, mesmo o maior dos gênios da humanidade sem o auxílio da leitura de obras de autores que o precederam nada seria, dessa forma faz todo o sentido a frase: "Gigantes são os mestres nos ombros dos quais eu me elevei." (ISAAC NEWTON (1642 - 1727), físico, astrônomo e matemático inglês). A verdade é que sem a incrível capacidade do ser humano de repassar o conhecimento para as gerações seguintes a humanidade permaneceria estacionada na idade da pedra lascada, habitando cavernas e comendo carne crua. Costumo falar aos educandos que sem o “inventor da escola” (o qual alguns planejavam matar se o encontrassem! (risos)) esse seria o destino da humanidade.
Todo professor vê em cada ex-aluno um pouquinho de si e carrega deste um pouco consigo, ensinamos muito, mas aprendemos também, a interação é muitas vezes dolorosa, mas gratificante como poucas profissões. Todo ex-aluno carrega dentro de si ecos de palavras de incentivo e inevitavelmente também de descrença de professores em sua capacidade e reage diferentemente, tive professores que me incentivaram a ler e a escrever e fiz disso um passatempo prazeroso. Também recebi palavras de desconfiança sobre a autoria de alguns trabalhos que fiz quando estudante e carrego comigo a lição: o meu educando pode sim ser acima da média por mim esperada, coisa que alguns professores que tive ignoraram. Com o tempo percebi que a desconfiança na autoria daqueles artigos é porque estes foram considerados muito bons e passei a considerar aquelas situações que me chatearam como elogios.
As pessoas podem ter determinados dons naturais, mas isto não os dispensa da tarefa de aprimorá-los, certa vez ouvi que minha forma de escrever era muito poética, no entanto como amante da poesia que sou, tomei como elogio aquilo que estava sendo colocado num sentido negativo, não acho que ser excessivamente técnico e fazer uma escrita burocrática e fria traga prazer a quem lê. Também ouvi várias vezes que quem lê demais se torna uma pessoa sem idéia própria e fica apenas citando o que outros escreveram, penso e não estou enganado neste sentido que quem lê organiza seu pensamento e o constrói a partir da construção de outro, ou seja, vai além do senso comum. Se não houvesse a possibilidade da leitura estaríamos confinados na Pré-história.
Escreve bem quem lê bastante e o faz com obras de boa qualidade, um povo culto é a pedra angular para um país desenvolvido e sustentáculo da democracia, da liberdade de expressão e da intolerância frente à corrupção, a miséria, a fome, enfim, o subdesenvolvimento, verdadeira praga no seio da humanidade. Um povo culto lê, escreve, debate e se interessa pelas questões locais, nacionais e mundiais. Por mais que seu ofício seja de apertar ou vender parafusos, isso não o exime da necessidade enquanto ser humano de ser sempre melhor. E melhor nos tornamos entrando em contato com a genialidade das pessoas que escrevem obras para matar a fome da alma daqueles que têm ânsia de conhecer e que buscam na leitura viajar sem sair do lugar onde estão!
segunda-feira, 21 de maio de 2012
Soprando a poeira!
Dentro de alguns dias completarei quatro anos à frente do espaço “A Vista de Meu Ponto!” e, posso dizer ao fazer um balanço que é com grata satisfação que chego à constatação de ter colhido mais elogios do que críticas, no entanto, elogios e críticas são úteis, pois, se os elogios nos dão o estímulo para continuar, as críticas nos apontam direções as quais após reflexão podemos ou não tomar. Lembro-me daquele Maio de 2008, em que após muito pensar resolvi criar o blog, tinha vontade de conversar sobre temas que as pessoas torciam o nariz nas conversas informais e também queria fazer um contraponto à importantes figurões da grande mídia. Lógico que sabia o meu lugar no mundo e que o alcance de minhas reflexões e questionamentos jamais chegaria a tal patamar, mas eu precisava mostrar mesmo que para poucos que certa revista não era a “bíblia” da notícia, que nela crer com uma fé inabalável cheirava à Idade Média. Nessa revista havia um colunista que após anos lendo seus artigos, lembro-me que UMA vez eu concordei com a sua argumentação e o estranho é que não lembro qual a temática que uma vez nos uniu, talvez não tenha ido além do senso comum.
Outro fator que me levou a escrever foi o Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) do Governo do Paraná, do qual fiz parte já na sua primeira edição, aliás, através do PDE me senti motivado a escrever, a perder o medo de participar de debates e de auxiliar na condução de cursos de formação. Também contribuiu para tal as minhas leituras, penso que uma pessoa é como um dínamo que vai carregando a bateria da máquina, como sabemos há a necessidade da liberação dessa energia, assim, buscar a luz é uma obrigação, mas, também o é repassá-la para os outros. Algumas pessoas têm me abordado e elogiando os artigos, afirmam que os levo a pensar, fico muito feliz com isso, pois, como o próprio nome da coluna já afirma, é a minha visão das coisas e não a verdade suprema, e também não tenho outra intenção que não a de provocar a reflexão.
Uma professora de outro município, por e-mail, deu-me os parabéns pelos artigos e elogiou-me pela coragem ao publicá-los, pensei: por que coragem? E após alguma reflexão cheguei à constatação que tal como o prego que se destaca leva martelada, ser discreto e não chamar a atenção conduz a uma vida mais simples e tranqüila. Quem expõe seu pensamento está sujeito a ganhar simpatizantes de um lado e opositores de outro, também está sujeito a ganhar rótulos como o de radical, por que para algumas pessoas qualquer um que defenda posições em contrariedade ao que estas pensam é um radical. Radical vem de raiz, penso que ir à raiz dos fatos é um bom início para uma reflexão e discussão de uma determinada temática. Acontece que muitas vezes a colocação de radical se faz na forma de adjetivo, ou seja, se rotula a pessoa tal como arrogante, prepotente, “ditador” de idéias, etc.
Como já o afirmou o Príncipe Philip, duque de Edimburgo, consorte da rainha Elizabeth: “É impossível soprar a poeira sem que um bom número de pessoas comece a tossir”, sabemos que muitas questões não se resolvem pela observância do certo ou errado, mas pelo aspecto moral e ético, ou seja, ideológico, assim, muitas vezes agradamos parte de nossos leitores e desagradamos outro tanto, mas, continuaremos a cumprir nosso papel, soprando a poeira enquanto a saúde nos permitir e a observação nos mostrar que estamos contribuindo mesmo que minimamente para a reflexão sempre com vistas a uma sociedade mais justa, solidária e fraterna.
Pão, pão! Queijo, queijo!
Era o mês de julho de 2011, mais especificamente às 15 horas do dia 8, encontrava-me numa clínica em Curitiba, tendo pela frente uma cirurgia oftálmica; na parte da manhã deixei no mural de recados na sala do curso de formação político sindical que fazia, a seguinte mensagem: “Amigos: Obrigado pela força! Espero “vê-los” em breve!” (risos). E de fato, apesar do erro de ver alguns dias antes no site You Tube como a cirurgia é feita, estava muito confiante, pois, após ter muito hesitado estava convencido dos avanços da medicina oftalmológica, e, até havia escolhido na antevéspera um livro leve para ler após a recuperação (que eu sabia era questão de alguns pares de horas) que tinha por título “Quem mexeu no meu queijo?”.
Os leitores que fazem parte da Educação com certeza já assistiram o vídeo que pode ser acessado no referido site, trata-se da história de quatro personagens, dois ratos e dois humanos, sendo estes últimos do tamanho dos roedores e leva à reflexão sobre a necessidade de observar o ambiente à procura de mudanças e adaptar-se rapidamente a elas, pois muitas vezes as coisas mudam e nunca mais serão as mesmas. Como grande parte das pessoas tem medo de mudanças e têm em si cristalizada a ideia de que mudança é algo ruim, ficam paralisadas num momento em que deviam agir. O medo pode ser algo bom quando evita que a pessoa corra perigos, porém, não pode ser um medo paralisante que a impeça de se movimentar em busca de novos horizontes, para que uma vez vencido o medo, se torne verdadeiramente livre. Trata-se de uma obra que convida à reflexão e que nos provoca a todo o momento a descobrir em qual personagem nos encaixamos, ou seja, percebemos instintivamente as mudanças? Adaptamo-nos rapidamente? Somos resistentes às mudanças? Somos capazes de sacrificar o conforto atual em busca de uma recompensa maior, mas para a qual não há garantia da conquista?
O livro nos instiga a procurar um “novo queijo”, que podemos interpretar como “novos horizontes” ele coloca que este “novo queijo” pode estar em outro lugar ou onde você está, bastando que você mude, para que as coisas mudem, pois, se você está fazendo algo da mesma forma há anos, com certeza não obterá resultados diferentes daqueles habituais. “O maior obstáculo à mudança está dentro de você mesmo e nada muda até você mudar”, assim, o “novo queijo” pode estar em seu atual ambiente de trabalho, bastando que você mude comportamentos improdutivos, ou em outro lugar, outra empresa ou quem sabe abrindo um negócio próprio. Também se refere aos relacionamentos em que o “novo queijo” não necessariamente é um(a) novo(a) companheiro(a), mas uma nova postura quanto a este relacionamento. Segundo o livro há pessoas que nunca mudam e pagam um preço alto por isso, pois elas pensam que não precisam mudar e têm como certa a recompensa de seu “merecido queijo”, são estas pessoas que se irritam se algo acontece e repentinamente ficam sem “queijo”.
A obra é um convite à reflexão, mas, não espere nela encontrar respostas para suas questões existenciais, para estas siga sua intuição, leia-a, ela pode ajudar a tornar claros alguns de seus anseios mais profundos, porém, saiba, nem o autor do livro e nem eu temos qualquer responsabilidade por suas decisões, por isto o título: Pão, pão! Queijo, queijo! Uma coisa é uma coisa! Outra coisa é outra coisa!
ATENÇÃO: A leitura desse livro, apesar de leve, traz o inconveniente de causar água na boca! (risos)
Sugestão de boa leitura:
JOHNSON, Spencer. Quem mexeu no meu queijo? Rio de Janeiro, Editora Record, 2010.
domingo, 6 de maio de 2012
Os Órfãos e o Filho Pródigo
Aos 28 anos de idade, naquele fatídico dia 9 de Novembro de 1989 ele se foi para nunca mais. Falo acerca do Muro de Berlim que separava a capitalista Berlim Ocidental (República Federativa da Alemanha ou Alemanha Ocidental) da socialista Berlim Oriental (República Democrática da Alemanha ou Alemanha Oriental). O muro de Berlim mais do que a separação de uma cidade em duas partes, simbolizava a divisão bipolar do mundo (capitalismo x socialismo) liderada por EUA (capitalista) e União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (socialista). Era o maior símbolo da Guerra Fria (1945-1991) que ruiria por completo com o fim da URSS em 1991. Muitos aclamaram aquele momento histórico como o início de uma nova era, onde enfim haveria paz, sendo que a fome, a miséria e o analfabetismo seriam erradicados do planeta e a prosperidade seria levada aos mais longínquos rincões deste planeta.
Mas (sempre há um mas!), o mundo não se tornou mais seguro, a violência ainda prolifera, bem como as guerras e a onipresença de um inimigo silencioso chamado terrorismo. No campo da alimentação, nunca se produziu tanto alimento e apesar disso a fome permanece, é que alimento é mercadoria e quem tem mercadoria quer vender, o problema é que há pessoas que precisam do alimento mas não têm dinheiro para pagar por ele. Na área da educação, em muitos países, o analfabetismo (sobrevivente da Guerra Fria) faz parceria com o analfabetismo funcional produzido com a política de baixo investimento em educação via neoliberalismo e engordado com a política de resultados (mera estatística publicitária) em que mais importante que a boa qualidade da formação é a quantidade de formados para compor a multidão de excluídos na vida. A era de progresso para toda a humanidade não passava de ilusão nas mentes ingênuas de boa parte da população e jamais chegará. O Capitalismo por muitos considerados a única alternativa após o fim do socialismo real vide queda do muro de Berlim vive a mais severa crise desde 1929, porém, esta crise é mais complexa, pois é econômica, política, social (civilizacional) e ambiental.
Há na sociedade, muitas pessoas que preocupados com o destino do Titanic que se tornou o sistema econômico mundial abalroado pelo iceberg imobiliário estadunidense se vê à beira de um abismo, não podendo retornar, pois todas as pontes e viadutos na estrada percorrida desabaram por falta de manutenção e o caminho alternativo (socialismo real) não existe mais com o fim da URSS e do socialismo no leste europeu. Essa geração de pensadores anônimos e intelectuais notórios se sente órfã da única experiência alternativa ao capitalismo, o socialismo que ruiu prematuramente ante a estratégia estadunidense via corrida armamentista para determinar seu ocaso. Além de órfãos, assistem passivamente as farras do Filho Pródigo (Capital) que se aventura na jogatina do Mercado, buscando os prazeres mundanos que o dinheiro (seu e alheio) proporciona e que em tempos de vacas gordas privatiza os lucros para uma minoria deixando aos seus irmãos de sangue o mero sobreviver à custa de muito trabalho e pouco resultado, para em tempos de vacas magras e após torrar todos os recursos nas mais inimagináveis orgias financeiras, retornar, não com a humildade que a ocasião exigiria, mas com a arrogância que lhe é própria, determinando que o Pai (Estado) cubra os cheques sem fundos e salde todas as dívidas contraídas por ocasião das festanças.
Ocorre que a volta do Filho Pródigo a que me refiro não é a da passagem bíblica, portanto, não é a volta de um filho que se perdeu, mas que retornou ao lar e ao bom caminho, mas de um filho ou irmão que vive os prazeres mundanos à custa de nosso sacrifício, pois, nós contribuintes através dos impostos fornecemos ao Estado o dinheiro para bancar a farra dos grandes capitalistas que somente reconhecem o valor do Estado nos momentos de vacas magras e que são cíclicas e rotineiras. As crises cíclicas do capitalismo são de sua própria natureza e não algo externo, portanto demonstram que o mesmo está funcionando em sua “normalidade”. As crises do capitalismo são o momento da distribuição dos lucros para alguns e da socialização dos prejuízos para muitos, que o sistema espera sejam cobertos pelo Estado via mais impostos, menos Saúde, Educação, infraestrutura, etc. Dói ver esse “Filho Pródigo” de maus costumes fazer festa com o dinheiro dos irmãos e o Pai (Estado) bancá-lo nos momentos de apuros, afirmando, talvez com razão, ser o melhor para todos, nesse momento sentimos o quanto somos órfãos de um outro mundo possível.
domingo, 29 de abril de 2012
Casa Grande e Senzala
No final do ano de 2011 o PIB do Brasil superou o PIB da Toda Poderosa Inglaterra e alcançou, portanto o sexto lugar entre as nações que mais produzem riquezas. O PIB é o Produto Interno Bruto, ou seja, a soma monetária dos bens e serviços finais produzidos por um país num prazo determinado que pode ser como no caso, anual (o ano de 2011). Não sabemos se o país manterá a posição conquistada, e nem mesmo se as projeções de que o Brasil futuramente se tornará a quinta potência econômica se confirmarão. No entanto, sabermos que o país no IDH 2011 (Índice de Desenvolvimento Humano) da ONU encontra-se apenas no 84º lugar atrás de países muito mais pobres faz com que coremos de vergonha. Seria melhor que não constássemos entre os 10 maiores PIB’s e estivéssemos entre os 10 países melhor colocados na lista de desenvolvimento humano. É o que acontece com a Noruega, o melhor país do mundo em IDH e cujo PIB (1/5 do PIB Brasileiro) encontra-se no 24º lugar (FMI 2011).
Se acrescentarmos à análise a posição brasileira no Índice de Gini cujo coeficiente verifica a desigualdade na distribuição da renda de países, estados e municípios e os classifica num ranking, chegamos à constatação de que vivemos num país extremamente desigual, portanto, perversamente injusto. Somos o terceiro pior colocado segundo a ONU (2010). Há no Brasil um Apartheid¹ social, uma diminuta parcela da população (os 10% mais ricos) com nível de vida e renda que supera em apropriação da riqueza nacional a parcela correspondente nos demais países desenvolvidos e na outra ponta da corda, os 10% mais pobres, fadados à miséria e ao não recebimento de sua justa fatia no bolo da riqueza nacional e que não lhe permite uma sobrevivência digna. Durante a Ditadura Militar se tornou famosa a frase de um Ministro da Fazenda que sempre ao ser questionado sobre a desigualdade social afirmava: “É necessário fazer o bolo crescer para depois dividir!”, pois bem, o bolo cresceu, mas a divisão não ocorreu, pois, aos verdadeiros ricos (os 10%) no período se destinou aproximadamente a metade do bolo e migalhas aos 10% mais pobres. Após a criação do Plano Real e, sobretudo a partir do Governo Lula (2003 -2010) a desigualdade social começa a declinar lentamente, através da política de Estado de aumento real do poder aquisitivo do salário mínimo e de programas de transferência de renda, porém, continua sendo destinado uma fatia gigantesca da renda nacional (42%) para os mais aquinhoados tupiniquins.
Os programas sociais de transferência de renda e a política de valorização do salário mínimo fazem com que haja uma percepção pela sociedade de que parcela da população (os mais pobres) avança mais rapidamente na participação na renda nacional como se tivessem índices de crescimento do PIB comparáveis aos da China e índices oficiais para os demais. A parcela mediana da sociedade fica então com a impressão de que seu status social se encontra em queda ao entrar no avião e verificar nele embarcados pessoas de classes sociais mais baixas. Sim, as classes C e D estão em ascensão e entraram para valer no mercado de consumo e isso é ótimo para toda a população, pois, a economia de um país é como um organismo, se um órgão está doente, todo o organismo funciona mal. Se observarmos a distribuição da renda nos países desenvolvidos, verificamos que a desigualdade social é muito menor, como também menor é a mendicância, a violência, o analfabetismo, a mortalidade infantil, etc.
Precisamos entender que há uma grande diferença entre ser uma potência econômica e um país desenvolvido, o Brasil caminha a passos largos consolidando cada vez mais sua posição como uma das nações mais importantes do mundo no que tange à economia, porém, se queremos ser um país desenvolvido devemos refletir seriamente sobre uma frase de Augusto Cury que afirma: “No meu mundo os mais fortes servem os mais fracos, diferentemente do seu mundo onde os mais fracos servem aos mais fortes. Qual é o mais justo?”
*1. Foi um regime de segregação racial adotado de 1948 a 1994 pelos sucessivos governos do Partido Nacional na África do Sul, no qual os direitos da grande maioria dos habitantes foram cerceados pelo governo formado pela minoria branca. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Apartheid - acesso em21/04/2012.
domingo, 22 de abril de 2012
Arcabouço ou calabouço teórico?
Sócrates, famoso filósofo grego, real ou criado por Platão, não importa, “vive” ainda hoje, através de seus inestimáveis ensinamentos e certa vez enunciou: "A vida não examinada não vale a pena ser vivida", nada mais verdadeiro, pois sabemos, o conhecimento amadurecido e bem utilizado pode libertar uma pessoa e inversamente torná-lo seu prisioneiro. Durante nossa efêmera existência, na escola, na coletividade e na individualidade estamos o tempo todo construindo um arcabouço teórico que dita a forma como pensamos e agimos em sociedade. Este conjunto de valores, crenças e idéias nos dão a individualidade que ora nos aproxima, ora nos afasta de outros indivíduos da sociedade. Esta individualidade tem um caráter enriquecedor quando agrega à coletividade valores que auxiliam a dar ao grupo majoritário a definição de um rumo na busca da evolução societária, portanto, um indivíduo pode mudar toda a forma de pensar e agir de uma coletividade, mas nem sempre a coletividade pode mudar a forma de pensar e agir de um indivíduo, principalmente quando este se arraigou ao conhecimento que desenvolveu de tal forma que transformou seu arcabouço teórico num calabouço teórico.
O arcabouço teórico de um indivíduo é construído através da experiência de vida e principalmente das inúmeras leituras realizadas sobre os ensinamentos deixados por grandes pensadores e que possibilita ao mesmo conseguir analisar o mundo e a sociedade de uma forma racional, compreendendo a realidade em suas particularidades, superando dessa forma o senso comum. No entanto, o arcabouço teórico de um estudioso não é algo imutável, pois o mundo está em constante evolução e as informações se acumulam de forma titânica e delas não damos mais conta, se ontem estávamos atualizados, hoje, podemos estar defasados perante a capacidade do mundo e da sociedade de se reinventar, porém, precisamos manter um Norte, não podemos ser tragados pela evolução dos acontecimentos que nem sempre levam ao melhor, é necessário que preservemos um conjunto de idéias, valores e crenças para sabermos se os rumos tomados pela coletividade levam a algum lugar ou a lugar nenhum.
Vivemos um momento em que as ideologias caem por chão, a atual sociedade neoliberal, globalizada e pós-moderna nivela a todos por baixo e não há teoria para sustentar o arranha-céu de cartas que se construiu, dentro desse cenário é muito difícil para um indivíduo abandonar idéias, valores ou crenças que por muito tempo considerou corretas, mas, que aparentemente não correspondem mais à realidade diante da mutação societária em curso, este se vê algemado a um conjunto de pensamentos que se tornaram seu calabouço. Não poucas pessoas encontram-se neste estágio, penso que evoluir não significa abandonar a sua causa e abraçar a bandeira do momento, isso é alienação, mas também, não é algemar-se a uma estratégia, que com o tempo, mostrou-se ineficaz, infrutífera. Como o conhecimento verdadeiro é libertador, há que se pensar a realidade com as ferramentas necessárias para tal. Preservar sua individualidade, ou seja, aquilo que lhe dá identidade e que o torna único numa sociedade doente como a que vemos tornou-se uma atitude heróica, pois, pensar a realidade é fazer o que nem todos desejam. Para grande parte da sociedade, seguir o curso do rio causa menos exaustão, remar contra o rumo dos acontecimentos para quê? E eu fico aqui pensando se tudo aquilo em que acredito constitui um arcabouço teórico para a minha libertação ou se estou preso em um calabouço de idéias que jamais me levarão a lugar algum.
sexta-feira, 13 de abril de 2012
Com que livro eu vou?
Há alguns dias soube que
algumas pessoas se demonstraram interessadas no livro “A Arte da Guerra” após
lerem o artigo “Leia antes que seja tarde” veiculado por este jornal no qual
teço comentários sobre a obra de Sun Tzu. Porém, fiquei particularmente feliz
ao conversar com uma Professora de Educação Física que é também minha amiga que
afirmou ter adorado o referido livro, e, que dele estava extraindo importantes
ensinamentos para a prática desportiva. Disse que comprou o livro após dele
tomar conhecimento através desta coluna. Segundo a professora algumas vezes ela
quer ler algo diferente daquilo que está na onda do momento, os tradicionais
Best Sellers (livros mais vendidos) ou da área específica e gosta de minhas
sugestões. Então sempre que gostar muito de uma obra vou indicá-la aqui como
“Sugestão de Boa Leitura”.
Lembrei-me de Noel Rosa
quando compôs o famoso samba “Com que roupa?” no qual entoava: (...) “E eu
pergunto: com que roupa? Com que roupa que eu vou?” e, parafraseando-o criei o
título do presente artigo, pois, saber que livro comprar é algo muitas vezes
difícil, é necessário ver se o livro em questão agradará ao seu “paladar
literário”, e, mesmo agradando existe a questão do momento, eu sou muito atento
a isso, compro muitos livros, sem ligar para a classificação dos mais vendidos,
mas apenas aqueles que tenho real interesse, algo não muito difícil,
pois, sou bastante eclético, leio sobre quase tudo e não apenas obras da minha
área de formação, costumo ler ao mesmo tempo dois e até três livros, intercalando-os
conforme meu estado de espírito, sublinho e faço anotações naquilo que acho
importante e que possa me ser útil noutro momento.
No entanto, ter vários
livros empilhados para ler, não te dispensa da tarefa de analisar seu momento
para escolher a leitura adequada, nesse instante penso no dilema das mulheres
para escolher a roupa e tento decidir o livro que vou ler. Penso tal como
Monteiro Lobato que “um país se faz com homens e livros”, infelizmente nós
brasileiros lemos muito pouco, e, esta é a causa para o preço “salgado” do
livro, eterna reclamação de muitos leitores e também nem tão leitores assim.
Segundo pesquisa que fiz, mais uma vez a explicação está no Capitalismo, como o
mercado é pequeno, a produção se realiza numa pequena escala o que encarece o
exemplar, se a procura fosse grande a escala de produção seria maior e o preço
por exemplar seria mais baixo.
Para mim livros são como
troféus, leio-os e talvez não os releia, mas adoro vê-los em minha estante,
emprestar somente sobre juramento (de tratá-lo bem, com lealdade, retidão de
caráter, gratidão, etc.) com a mão sobre a Bíblia e com entrega de cópia
autenticada em cartório da certidão de bons antecedentes (criminais)...
(risos), sou realmente ciumento, já perdi livros que não me foram devolvidos e
tive de readquirir e também já recebi livros com manchas que inexistiam. Não
gosto de fotocópias e até o momento resisto ao modelo digital, sei das
vantagens do e-book (livro digital) e das desvantagens da versão tradicional,
porém, penso que a alma do livro está nas folhas de papel que manuseio.
Ao ler sinto grande prazer, esqueço dos problemas, das chateações e viajo
nas linhas e entrelinhas que vislumbro a cada página virada, fazendo as
inter-relações do que leio com leituras anteriores e ao concluir a leitura de
um livro jamais sou o mesmo de antes e a satisfação é tal como se conquistasse
mais um troféu e estivesse diante de um novo amigo de cuja amizade sempre vou
poder contar, pois, livros são amigos eternos.
Nesta
semana, 14/15 de Abril ocorre o centenário do choque com iceberg/naufrágio do
famoso transatlântico Titanic, aproveitando o ensejo, deixo a dica:
Sugestão de Boa Leitura:
FARACO, S. O
Crepúsculo da arrogância, RMS TITANIC minuto a minuto. L&PM editores,
Porto Alegre, 2006.
segunda-feira, 19 de março de 2012
Os caminhos da Educação brasileira
Os caminhos da Educação brasileira
Há alguns dias fiz uma fala para os novos professores PDE do NRE de Laranjeiras do Sul e lhes desejei que o caminho que leva ao sucesso fosse mal sinalizado e também com muitos buracos e pedras, mas, não se espantem, não estou adotando o estilo de alguns oradores estrangeiros que falam mal do Brasil e depois são contratados a peso de ouro por alguns mega-empresários conterrâneos para palestrar em terras “tupiniquins” sobre o infortúnio de não termos as competências que conduzem celeremente ao desenvolvimento de que estes julgam serem portadores, esquivando-se de fazer uma auto-análise crítica das atitudes historicamente tomadas e que os conduziram ao centro do sistema e relegaram à periferia os demais.
Acredito que a estrada que conduz ao sucesso e, portanto ao crescimento, não é uma pista duplicada, bem sinalizada e com paisagens de tirar o fôlego; pelo contrário, é um caminho daqueles que muitas vezes parece levar do nada ao lugar nenhum e com paisagens que não parecem na maior parte do tempo nenhum pouco animadora, é preciso ter perseverança. Não há entre os professores um que durante sua graduação ambicionasse um elevado padrão de vida e excelentes condições de trabalho; porém, a maioria costuma encontrar dificuldades no transcurso de sua carreira bem maiores do que esperava, sem no entanto desistir do ideal de vida abraçado. Ao contrário do que alguns pensam, professores não gostam de fazer paralisações, greves, etc. se o fazem é por necessidade, pois, como sabemos desde que o capitalismo é capitalismo, professores não podem trabalhar apenas “por amor” como o afirmou certo político de outro estado, eles também precisam pagar suas contas, sim, aquela da farmácia (do remédio para combater a depressão) o magistério segundo pesquisa recente está entre as profissões mais estressantes, juntamente com policiais, médicos, etc. e disso resultam doenças psicológicas, psicossomáticas e físicas (LER – Lesão por Esforço Repetitivo).
Dos professores se cobra que sejam pensantes, mas ao mesmo tempo, que não ousem pensar por conta própria algo que destoe daquilo que lhes foi reservado como classe trabalhadora de país subdesenvolvido. Mas, professores pensam e ainda acreditam em utopias de uma sociedade mais justa e em ver a Educação ser tratada como I-N-V-E-S-T-I-M-E-N-T-O e não como despesa obrigatória por conta de uma lei que “amarra” os recursos. Nada do que os professores digam terá valor se não comprovado pelos seus próprios exemplos, não poderá, por exemplo, ensinar aos educandos a serem verdadeiros cidadãos se ele próprio não for um cidadão, consciente de seus deveres, mas incansável lutador por seus direitos e nesse sentido ir à luta em busca de melhores dias para a educação brasileira.
A Educação é algo tão importante para o desenvolvimento de uma nação, que sem um projeto sério de Educação, não há um projeto de país, pois pela sala de aula passam os cientistas, os inventores de novas tecnologias, os médicos, os advogados, os professores, etc. Todos tiveram a ajuda do professor, inclusive os políticos, e estes, se dividem em duas categorias os que apóiam a Educação (conscientes da importância da mesma para a sociedade e país) e aqueles que votam contra projetos para a melhoria da mesma (provavelmente levaram “bomba”, repetiram a série e querem mostrar que ninguém precisa da Educação de qualidade, como o afirmou o ex-presidente George W. Bush “Vocês que tiveram desempenho fraco como alunos também podem ser presidentes (dos EUA)”. Isaac Newton afirmou certa vez “gigantes são os mestres nos ombros dos quais me elevei”, entre o exemplo de Bush e o de Isaac Newton, fico com Newton, pois este humilde escriba nas horas vagas e professor na maior parte do tempo, nada seria sem os mestres que teve.
Educação... teus caminhos sempre foram poeirentos ou lamacentos, buracos e pedras ferem os pés no caminhar, mas como acreditar em utopias é a nossa profissão de fé, que a sinalização de dias melhores venha na forma de 10% do PIB para a Educação, Piso Salarial cumprido, 1/3 de hora-atividade, fim das salas superlotadas e o principal, o reconhecimento justo do professor por parte da sociedade como “pedreiro” da grande construção chamada BRASIL!
quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012
"Mas será o Benedito?"
“Mas será o Benedito?”
A expressão “mas será o Benedito”? É utilizada por muitas pessoas, no entanto, boa parte delas sequer sabe a origem da mesma, que costuma surgir em momentos nos quais alguma surpresa lhes é desagradável, e, mesmo naqueles em que a indignação é a tônica. Na verdade, não há uma certeza absoluta, mas a hipótese mais provável é a de que o então Presidente Getúlio Vargas precisava nomear um interventor para o Estado de Minas Gerais e um dos postulantes ao cargo tinha o nome de Benedito Valadares. Com a demora de Getúlio em fazer a dita nomeação, os opositores de Valadares começaram a perguntar “será o Benedito”? E, foi! E mais tarde até se tornou nome de cidade, Governador Valadares¹.
Existem outras hipóteses, mas esta é a mais aceita para uma expressão que faz parte do convívio social de qualquer brasileiro, afinal, quem num momento de contrariedade, não disse ou pensou: “mas será o Benedito”? Nesse ofício de escrever ou de lecionar, muitas vezes passei por tal situação, pois há pessoas que não aceitam que outras tenham sua própria leitura de mundo e de sociedade, as quais não necessariamente coincidem com as suas e às vezes de forma ferina nos criticam ou tiram satisfações como se fossem autores da verdade suprema, sendo que nem sempre o contrário de uma verdade é a mentira, algumas vezes há a questão ideológica, em que não se pode falar de certo ou errado, mas sim, do mais justo, correto, moral e ético.
Essa coluna possui o nome “A Vista de Meu Ponto!”, pois é a forma como eu vejo o mundo e nem por isso penso ser o dono da verdade suprema, tenho um único objetivo que é instigar a reflexão, no entanto, apenas forneço subsídios para o seu pensar. Como Nelson Rodrigues já o afirmou: “toda a unanimidade é burra”!² Assim é no confronto de idéias que há o crescimento, não se trata de uma ou várias disputas interpessoais, até por que não considero cultas as pessoas que competem para ser mais que o(s) outro(s) e sim, aquelas que buscam a cada dia serem melhores do que o foram no dia anterior. Uma pessoa sábia é aquela que sorve do outro tudo aquilo que pode para crescer mais e vê nos argumentos contrários uma possibilidade de crescimento intelectual, espiritual, moral e ético.
A interpretação é algo por si só muito complexo, não raras vezes, num grupo de pessoas, cada um chega a uma conclusão diferente de um mesmo texto ou fala, o que somente é esclarecido com várias releituras e discussões. Algumas vezes escrevo algo e alguém me interpela contrariado afirmando o mesmo que eu dissera, ou ainda algo que jamais intencionei fazê-lo e eu em silêncio recapitulo minha fala ou releio o texto procurando entrelinhas que jamais planejei e penso: “Mas será o Benedito”?
REFERÊNCIAS:
1. http://noticias.terra.com.br/educacao/vocesabia/interna/0,,OI3476337-EI8403,00.html - acesso em 21 de fevereiro de 2012.
2. http://livroseafins.com/toda-unanimidade-e-burra/ - acesso em 21 de fevereiro de 2012.
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