domingo, 22 de abril de 2012
Arcabouço ou calabouço teórico?
Sócrates, famoso filósofo grego, real ou criado por Platão, não importa, “vive” ainda hoje, através de seus inestimáveis ensinamentos e certa vez enunciou: "A vida não examinada não vale a pena ser vivida", nada mais verdadeiro, pois sabemos, o conhecimento amadurecido e bem utilizado pode libertar uma pessoa e inversamente torná-lo seu prisioneiro. Durante nossa efêmera existência, na escola, na coletividade e na individualidade estamos o tempo todo construindo um arcabouço teórico que dita a forma como pensamos e agimos em sociedade. Este conjunto de valores, crenças e idéias nos dão a individualidade que ora nos aproxima, ora nos afasta de outros indivíduos da sociedade. Esta individualidade tem um caráter enriquecedor quando agrega à coletividade valores que auxiliam a dar ao grupo majoritário a definição de um rumo na busca da evolução societária, portanto, um indivíduo pode mudar toda a forma de pensar e agir de uma coletividade, mas nem sempre a coletividade pode mudar a forma de pensar e agir de um indivíduo, principalmente quando este se arraigou ao conhecimento que desenvolveu de tal forma que transformou seu arcabouço teórico num calabouço teórico.
O arcabouço teórico de um indivíduo é construído através da experiência de vida e principalmente das inúmeras leituras realizadas sobre os ensinamentos deixados por grandes pensadores e que possibilita ao mesmo conseguir analisar o mundo e a sociedade de uma forma racional, compreendendo a realidade em suas particularidades, superando dessa forma o senso comum. No entanto, o arcabouço teórico de um estudioso não é algo imutável, pois o mundo está em constante evolução e as informações se acumulam de forma titânica e delas não damos mais conta, se ontem estávamos atualizados, hoje, podemos estar defasados perante a capacidade do mundo e da sociedade de se reinventar, porém, precisamos manter um Norte, não podemos ser tragados pela evolução dos acontecimentos que nem sempre levam ao melhor, é necessário que preservemos um conjunto de idéias, valores e crenças para sabermos se os rumos tomados pela coletividade levam a algum lugar ou a lugar nenhum.
Vivemos um momento em que as ideologias caem por chão, a atual sociedade neoliberal, globalizada e pós-moderna nivela a todos por baixo e não há teoria para sustentar o arranha-céu de cartas que se construiu, dentro desse cenário é muito difícil para um indivíduo abandonar idéias, valores ou crenças que por muito tempo considerou corretas, mas, que aparentemente não correspondem mais à realidade diante da mutação societária em curso, este se vê algemado a um conjunto de pensamentos que se tornaram seu calabouço. Não poucas pessoas encontram-se neste estágio, penso que evoluir não significa abandonar a sua causa e abraçar a bandeira do momento, isso é alienação, mas também, não é algemar-se a uma estratégia, que com o tempo, mostrou-se ineficaz, infrutífera. Como o conhecimento verdadeiro é libertador, há que se pensar a realidade com as ferramentas necessárias para tal. Preservar sua individualidade, ou seja, aquilo que lhe dá identidade e que o torna único numa sociedade doente como a que vemos tornou-se uma atitude heróica, pois, pensar a realidade é fazer o que nem todos desejam. Para grande parte da sociedade, seguir o curso do rio causa menos exaustão, remar contra o rumo dos acontecimentos para quê? E eu fico aqui pensando se tudo aquilo em que acredito constitui um arcabouço teórico para a minha libertação ou se estou preso em um calabouço de idéias que jamais me levarão a lugar algum.
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