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sábado, 8 de junho de 2019

Memórias póstumas de Brás Cubas



               
Certa vez ao indagar um professor universitário sobre se havia lido um livro que considerei fantástico, ele me respondeu que devido à escassez de tempo que dispunha dedicava-o todo para leitura de autores mortos, pois, em seu entender, os livros clássicos são aqueles que sobrevivem aos seus autores. Não considerava, portanto, como clássica a obra de um autor vivo. Não posso deixar de constatar quão terrena é a afirmação do mestre em questão. Todos os dias pessoas se despedem deste plano, e, após a passagem se tornam para os que ficam maiores do que foram considerados em vida. Dessa forma, uma pessoa comum se torna uma alma boa que irá fazer falta mesmo para quem não lhe poupava críticas. Se político, a mídia de massa que tanto o combateu louva-o após a morte como um patriota e democrata que fará falta ao país. Tenho um amigo que disse esperar que seus amigos o visitassem, pagassem cerveja e churrasco enquanto ele tem saúde, mas, que por ocasião de sua morte dispensa-os do comparecimento ao velório, afinal cada um tem seus afazeres e também porque não deseja ter velório, quer apenas que a tampa do caixão seja fechada e que este seja sepultado o mais rapidamente possível, afinal, vida que segue para quem fica! O pintor surrealista espanhol Salvador Dalí (1904-1989) foi um gênio, e sabia disso. Humildade e desapego ao aspecto material não eram características de sua personalidade. Os críticos parecem crer que um artista deve ter a humildade e o desapego material de um Francisco de Assis (santo da Igreja Católica). Mas, Salvador Dalí não era franciscano, portanto, não havia feito voto de pobreza para viver na penúria.
Salvador Dalí teve sua obra reconhecida enquanto era vivo, dessa forma também ocorreu com o literato Machado de Assis (1839 -1908). Machado é considerado o maior nome da literatura brasileira. Coube a ele a fundação da Academia Brasileira de Letras (na qual ocupou a cadeira nº 23) e da qual foi seu primeiro presidente. Machado de Assis, neto de escravos, era gago e epilético. Pobre, pouco frequentou a escola regular. Autodidata, fez sua própria instrução para a qual contribuiu seu grande apego à literatura. Trabalhou na tipografia de jornais, nos quais escreveu seus primeiros artigos. Casou-se com Carolina Augusta Xavier de Novais que o resgatou da má-fama quanto à vida que levava. Sua esposa o apresentou à literatura portuguesa e inglesa. Trabalhou no serviço público, aliás, esta é uma situação comum para parte dos escritores brasileiros, afinal, conseguir manter-se por meio de sua obra sempre foi coisa para poucos afortunados, dentre estes, o escritor gaúcho Érico Veríssimo (1905-1975).
Sua obra inicialmente romântica teve uma guinada e trouxe para o país o gênero do realismo exatamente com o livro “Memórias póstumas de Brás Cubas” publicado em 1881. Nele, Machado introduz o narrador, o defunto-autor Brás Cubas que conta a história de sua vida. Brás Cubas nasceu numa família que fez fortuna fabricando cubas (tachos), mas, que ansiava por ter reconhecimento social e frequentar a Corte. Brás Cubas, quando criança subia nas costas do escravo Prudêncio e batia nele sem dó. Mimado, sempre teve tudo o que quis. Na juventude, namorou a bela Marcela (uma prostituta de luxo) por quinze meses os quais lhe custaram onze contos de réis, apesar disso, vaidoso, afirmava que Marcela o amava. Para conseguir o dinheiro para dar os presentes exigidos por Marcela subtraía do pai sem que este soubesse. Ao descobrir isso, o pai mandou-o estudar em Coimbra (Portugal). Seu grande amor foi Vergília, a mulher com quem pretendia se casar, mas, que perdeu para Lobo Neves que se fez deputado na vaga que planejava ser sua. Mais tarde tornou-se amante de Vergília, mas, sem desejar fazê-la sua esposa. Devido os privilégios que o nome e a herança lhe proporcionou tornou-se deputado, mas, sua passagem pela Câmara foi breve devido sua inaptidão para o cargo. Jamais se casou. Sua irmã Sabina tentou arranjar-lhe um casamento, pois, pensava ficar feio perante a sociedade, seu irmão já quarentão não haver ainda se casado, porém, a pretendente morreu de febre amarela quando a data do casamento se aproximava. A morte da namorada trouxe-lhe certo alívio. Rico, viveu uma vida vazia, nunca trabalhou. Vaidoso, achava-se irresistivelmente lindo. Pensava ganhar notoriedade e muito dinheiro, não conseguiu. Somente onze pessoas compareceram ao seu velório. Dentre seus amigos houve quem afirmasse ter sido pela chuva, afinal tantos foram convidados. No velório foi saudado por um amigo como tendo sido um grande homem com uma vida exemplar. Ao final, faz o balanço de sua vida. 
Trata-se de uma crítica mordaz à sociedade do período composto entre o reino unido a Portugal e o período imperial seguinte.

Sugestão de boa leitura:

Memórias póstumas de Brás Cubas – Machado de Assis.

Preços: R$ 10,00 (edição de bolso) - R$ 37,90 (capa comum).

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