“Trago-lhes caros leitores uma republicação de
um artigo que saiu neste espaço no distante dia 28 de agosto de 2014. Artigo
que me rendeu algumas críticas que conquanto fossem desprovidas de fundamento
não lhes faltava maldade. Talvez devido à proximidade das eleições majoritárias
e a polarização que a marcava visando atingir-me por conta de meu
posicionamento ideológico por todos conhecido. O tema agora exaustivamente
debatido na Assembléia Legislativa do Paraná (ALEP), a qual por unanimidade,
acima de quaisquer bandeiras partidárias e para o bem do meio ambiente e da sociedade
paranaense aprovou em primeira discussão a proibição da exploração do gás de
xisto pelo método de fracking. O projeto de lei é de autoria dos deputados Evandro Araújo (PSC), Goura (PDT),
Cristina Silvestri (PPS) e Márcio Pacheco (PDT), aos quais parabenizo
pela iniciativa. Ainda não é definitivo, mas, encaminha-se para bom termo dada
a consciência daquela casa quanto aos riscos que tal exploração acarreta. Sei
que algumas vezes minhas palavras são duras, porém, dura é a realidade. Pode-se
amar o conhecimento, mas, para produzi-lo ou levá-lo adiante não se pode
fazê-lo de forma amadora. Algumas pessoas podem me achar arrogante, mas, não se
pode titubear quando convicto. Há um provérbio português que dita: o tempo é o
senhor da razão! E ele acaba de provar isso”!
O canto da Sereia!
Penso que o leitor
certamente já ouviu falar ou então leu a respeito do mito das sereias cujos
corpos eram parte mulher e parte peixe. Elas habitavam rochedos e ao
avistá-las, os marinheiros eram por elas atraídos devido à sua beleza
estonteante e por seu belíssimo e doce canto, assim, guiavam suas embarcações
até elas e acabavam colidindo com os rochedos e naufragando. Os gregos relatam
que apenas duas pessoas conseguiram escapar ilesos ao encanto das sereias,
Orfeu que era o deus mitológico da música e da poesia e que para salvar a si
próprio e aos que lhe acompanhavam na viagem de barco cantou mais divinamente
do que as sereias superando-as com seu talento e sua voz. O outro vitorioso foi
Ulisses que por não possuir o talento musical de Orfeu colocou cera de abelha
em seus ouvidos e pediu que lhe acorrentassem ao mastro do navio e deus ordens
que se caso implorasse para libertá-lo apertassem ainda mais as cordas que o
prendiam. Ulisses quase enlouqueceu gritando para ser liberto e assim poder ir
ao encontro das sereias, mas, passou ileso pela grande provação a que fora
submetido. No primeiro caso Orfeu foi vencedor porque teve espírito de
superação, autoconfiança e coragem de fazer ainda melhor e no segundo caso,
Ulisses sobreviveu porque teve a consciência de sua fragilidade e tomou
atitudes sábias para evitar o feitiço visual e musical das sereias.
Mitologia
é sempre um assunto interessante, muitos livros e filmes se produziram com tal
temática, no entanto, neste artigo serve apenas para introduzir neste espaço a
discussão que precisa ser feita por todos
antes que seja tarde demais e não dê tempo para preparar a voz daqueles que talento possuírem ou na inexistência
de tal dom para tapar os ouvidos com cera. Este escriba que redige estas linhas
adotará por não haver outra possibilidade a estratégia de Ulisses. Há um debate
que precisa ser urgentemente realizado, trata-se da exploração através do
sistema de “fracking” do gás de xisto, na verdade, o termo correto seria gás de
folhelho betuminoso. O Folhelho betuminoso é uma rocha sedimentar que se
aquecida num processo antieconômico vira óleo e é possível obter dela os
combustíveis normalmente obtidos do petróleo. O Brasil possui uma das dez
maiores reservas de folhelho do mundo e há a intenção da Copel de explorar
inicialmente uma região localizada no terceiro planalto paranaense entre
Pitanga, Cascavel, Toledo e Paranavaí.
O
fracking, ou fraturamento hidráulico consiste numa nova técnica em que água com
aditivos químicos cuja fórmula não é revelada por constituir segredo
empresarial é injetada sob altíssima pressão por um furo vertical até atingir a
camada de folhelho e após são feitas perfurações horizontais para liberar o gás
presente na rocha que tem a mesma utilidade do gás natural obtido pelo método
de perfuração tradicional com máquinas perfuratrizes de petróleo para libertar
o gás do bolsão em que se encontra. Tanto o petróleo como o folhelho é encontrado
em áreas sedimentares e no Terceiro
Planalto Paranaense se encontra em profundidades de mil a dois mil metros.
Lembro-me de ter lido certa vez um livro sobre os Estados Unidos da América que
relatava os graves danos ambientais nas regiões de exploração por tal método,
onde as compensações financeiras que alguns fazendeiros receberam foram
insuficientes para cobrir os prejuízos, pois, tiveram que abandonar a prática
da agropecuária porque a carne e os alimentos naquela região produzidos estavam
contaminados e impróprios para o consumo, aliás, a saúde dos moradores da
região também se deteriorou gravemente e a água de lençóis freáticos e rios
contaminados não puderam mais ser utilizados para consumo humano. Atualmente
não há como evitar a contaminação porque é impossível saber onde os gases podem
ser liberados uma vez que as rochas do subsolo apresentam fraturas pelas quais
as águas infiltram até camadas mais profundas. Nos EUA ocorreram casos de rios
pegando fogo, e mais bizarro ainda, fogo saindo pela torneira. Há também
registros naquele país de terremotos em áreas inusitadas que estão sendo
investigados por sua possível relação com o método do fracking. A Argentina
também enfrenta os problemas ecológicos e econômicos de tal exploração
resultantes.
Na
atualidade, o canto da Sereia diz respeito a uma proposta extremamente
vantajosa e que depois se mostra um engodo. As autoridades da Cantuquiriguaçu,
os professores e estudantes do Ensino Básico e Superior, especialmente a UFFS, os
agricultores, os pecuaristas, enfim, todo o povo paranaense precisa debater o
tema e em meu ver combater essa monumental tragédia ecológica que se prenuncia,
a possível morte por envenenamento do Aquífero Guarani e inviabilidade
econômica da agropecuária nas regiões de exploração e circunvizinhas.
P.S. Parabéns aos
cidadãos de Toledo e Cascavel que resistem brava e heroicamente ao canto da
Sereia!
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