O leitor certamente deve ter conhecimento do conto que
narra a conversa entre pai e filho no qual o primeiro ao ouvir o barulho de uma
carroça antecipa ao filho de que ela está vazia, pois, afirma: “carroça vazia
faz mais barulho do que quando carregada”. Nada mais adequado para caracterizar
Bolsonaro e o desenho que faz de seu futuro governo cujas primeiras indicações
para o Ministério constituem traições à parcela ingênua do seu eleitorado,
pois, nada mais sinaliza que o velho jeito de fazer política. Nisso, não há
nenhuma surpresa, afinal, Bolsonaro está na política há trinta anos e nesse
período foi um dos parlamentares mais ineficientes de todo o Congresso Nacional,
pois, consta que apenas três projetos de sua autoria foram aprovados. Bolsonaro
parece ainda estar em campanha, pois, continua a jogar para a sua torcida
fazendo falas ao gosto dela: declarações pouco inteligentes, insensatas e que
dão a impressão que ele vive na época da Guerra Fria (1945-1989) e em plena
ditadura militar.
A impressão que dá é que os conhecimentos de Bolsonaro na
área da política externa são os rudimentos recebidos enquanto militar, porém,
hoje o mundo é outro! É necessário conhecimento e sensibilidade, e na falta
destes, um de seus estragos ocorreu quando numa atitude lambe-botas dos Estados
Unidos declarou que vai mudar a embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém
contrariando a própria ONU, pois, Jerusalém no plano de partilha da Palestina
de 1947 constava como uma cidade internacional de livre visitação para judeus,
árabes e cristãos, por constituir um nó górdio. Ao tomar partido em favor de
Israel, os países árabes ameaçam retalhar boicotando produtos exportados pelo
Brasil, o que afetaria não somente, mas, duramente, o setor do agronegócio
(frigoríficos) com prováveis repercussões em nossa região. O Egito chegou a
cancelar uma agenda com o Ministro das Relações Exteriores Aloysio Nunes (PSDB)
por causa da fala desastrada de Bolsonaro.
Bolsonaro na condição de parlamentar foi um ferrenho
opositor à criação do Programa Mais Médicos durante o governo da presidenta Dilma.
Programa este, que tinha a intenção e levou a termo a antiga e frequente reclamação
da população da falta de atendimento médico em municípios interioranos, apesar
dos enormes esforços de inúmeros prefeitos em atraí-los. Embasado numa
mentalidade doentia, obcecada pelo confronto Leste x Oeste, Bolsonaro conseguiu
a proeza de implodir o acordo que o país tinha com Cuba. Bolsonaro que sempre
afirmou que não se tratavam de médicos, mas, de agentes da ditadura cubana,
tendo inclusive comparado os médicos cubanos a açougueiros (pedindo perdão aos
açougueiros), pois, em seu ver não teriam conhecimento da medicina para atender
a população brasileira (algo que vai à contramão de inúmeros relatos de pacientes
atendidos pelos médicos cubanos no Brasil e em sessenta e cinco países do mundo).
Bolsonaro que em campanha promoveu inúmeras falas depreciativas aos médicos
cubanos e a Cuba, conseguiu o que pretendia, a OPAS (Organização Pan Americana
da Saúde) numa atitude de preservação da dignidade ante as falas estereotipadas
de Bolsonaro rompeu o acordo com o Brasil e os médicos cubanos estão se
retirando do país. Para substituir os médicos cubanos, o Governo Temer (pressionado
pelos prefeitos, e estes pela população) abriu inscrições para candidatos
brasileiros, mas, as primeiras inscrições indicam que eles querem trabalhar nas
capitais, e não em locais com pouca infraestrutura. Tal como Bolsonaro
assegurou, o Brasil vai voltar a ser como era a quarenta ou cinquenta anos
atrás: Isso para quem é rico não constitui problema algum. A questão é: você
que é trabalhador assalariado, portanto, pobre, está preparado?
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