A Internet surgiu no
contexto da Guerra Fria (Arpanet) e tinha como objetivo conectar computadores
militares dos Estados Unidos da América. Porém, é após o fim da Guerra Fria que
ocorre seu boom. Na atualidade, em que a Guerra Fria oficialmente não mais
existe, mas, as tensões entre os velhos protagonistas persistem, a Internet é
onipresente e tornou-se uma arma de guerra e o ciberespaço, juntamente com o espaço,
a terra, o ar e o mar contam com doutrinas militares específicas da
superpotência estadunidense para propagar o seu poderio. As pessoas se expõem
na Internet e apesar de ser possível apagar o histórico de navegação nos
celulares ou nos computadores, isto não ocorre de forma plena, pois, toda a
navegação (páginas visitadas e postagens) permanece registrada nos Data Center
de empresas como o Google, Facebook, etc. que sabem mais sobre as pessoas do
que elas próprias.
De posse dos dados de navegação na Internet e postagens
nas redes sociais, agências especializadas estadunidenses como a Agência de
Segurança Nacional (NSA) contam com um conhecimento profundo das sociedades de
quase todo o planeta. Entendem a fundo a psique das sociedades alvo e conseguem
explorar os seus problemas identitários. Andrew Korybko é o autor do livro
“Guerras Híbridas: das Revoluções Coloridas aos Golpes” lançado no Brasil no
mês de Outubro de 2018. A obra originalmente publicada em 2015 tem atualizações
que visam deixar ainda mais explícito o mecanismo de funcionamento das Guerras
Híbridas. O conceito de Revolução Colorida consiste em utilizar as redes
sociais (Facebook, Whatsapp, etc.) para estimular e organizar campanhas de
desestabilização de governos que contrariam os interesses estadunidenses. No
livro, o autor discorre sobre a Primavera Árabe de 2011, que consistiu numa
onda de protestos e revoluções populares no Oriente Médio, o barril de pólvora
era a crise econômica e a falta de democracia, mas, cujo gatilho foi acionado
por agentes ligados ao governo estadunidense e robots (programas de
inteligência artificial) que interagem e estimulam os protestos fazendo
inclusive postagens (muitas vezes “fake news”) nas redes sociais, multiplicando
as mensagens e empoderando os revolucionários virtuais. O autor faz uma dissecação dos casos que
envolveram a Síria e a Ucrânia e que ocorreram no contexto da desestabilização
do eixo Rússia, China e Irã, alvo estratégico da geopolítica dos EUA, ou seja,
impedir a concretização da nova Rota da Seda que é estratégica para a China;
desestabilizar a periferia da Rússia para tornar mais próximo o dia da
derrocada desta; isolar e enfraquecer o Irã com vista à deposição do regime e a
substituição por um governo fiel aos interesses estadunidenses.
Quando
a Revolução Colorida fracassa, os EUA lançam mão da Guerra Não Convencional, ou
seja, estimulam e financiam grupos locais a pegar em armas com vistas a
derrubar o governo alvo. Os EUA não toleram que países estratégicos aos seus
interesses mantenham relações próximas com a China, a Rússia e o Irã. A
superpotência ianque também se utiliza da Guerra Híbrida que pode ser a
Revolução Colorida e/ou a Guerra Não convencional para derrubar governos que
impeçam seu acesso a recursos estratégicos importantes como o petróleo. O autor
afirma que a defesa contra as Guerras Híbridas é difícil. O país pode
restringir ou monitorar as mídias sociais, mas, isso pode soar como censura e irritar
a população. O cidadão, por sua vez, precisa desenvolver sua criticidade e
criar o hábito de checar a veracidade das informações. Os partidos políticos e
lideranças atingidas precisam entender o mecanismo das Guerras Híbridas para
saber delas se defender, de preferência utilizando-se da verdade, pois, embora
os ataques sofridos visem à destruição de suas reputações com o uso de fake
news, caso as vítimas também recorram ao mesmo expediente, podem ser
desmentidas, e com isso terão sua credibilidade destruída. As Guerras Híbridas
e as fake news vieram para ficar. É uma forma de guerra mais barata e causa
menos desgaste junto à opinião pública mundial do que as guerras convencionais,
além disso, o país promotor, no caso, os EUA, pode fazer à surdina. A opinião
pública mundial pode desconfiar dos EUA, mas, não terá sua confissão. O
Ciberespaço é palco de guerra. Matrix é aqui!
Sugestão
de boa leitura:
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