O autor de Guerras Híbridas: das Revoluções
Coloridas aos Golpes (Andrew Korybko) afirma que o Brasil se tornou alvo dos
Estados Unidos desde a eleição de Lula em 2002 por seu movimento em direção à
multipolaridade e também pela descoberta de substanciais reservas de petróleo
no Pré-Sal. A participação do Brasil no bloco BRICS (Brasil, Rússia, Índia,
China e África do Sul) em contraponto à hegemonia estadunidense no sistema
financeiro internacional também causou irritação em Washington que temia ver
acelerada sua perda hegemônica que se faz gradual. Segundo Korybko, uma intensa
guerra híbrida foi travada em território brasileiro desde 2013 com o objetivo
(à época) de desestabilizar o governo Dilma e de inviabilizar o Partido dos Trabalhadores
com vistas à eleição de 2018. E Bolsonaro, há muito foi visto como um candidato
mais palatável aos EUA1. O leitor atento e bem informado certamente
lembra-se das denúncias veiculadas pela Folha de São Paulo envolvendo o então
candidato Bolsonaro sobre um suposto esquema de caixa 2 financiado por
empresários, o qual teria pago os disparos de Whatsapp que chegaram a milhões
de eleitores com postagens contra o Partido dos Trabalhadores, em grande parte,
fake news2.
Agências especializadas como a NSA, ou ainda, prestadoras
de serviços como a Cambridge Analytica, de posse dos dados de milhões de
usuários das redes sociais e de estudos de seus perfis ideológicos, nadaram de
braçadas na Internet trabalhando o lado psicológico de uma população desinformada
e/ou cega de ódio ao PT e que ansiosamente buscava um salvador da pátria. Segundo
o jornalista argentino Marcelo Falak3 de No Ámbito (de Buenos
Aires), uma importante autoridade das Forças Armadas teria lhe dado uma entrevista
em 2014 e afirmado que as Forças Armadas previam que haveria polarização em
2018, e que Bolsonaro era o candidato ideal para enfrentar o PT. Na ocasião, os
militares sugeriram a Bolsonaro abandonar o nacionalismo econômico e adotar o
liberalismo. O oficial das Forças Armadas disse que os militares tinham
profundo ressentimento quanto ao fato de serem considerados cidadãos de segunda
classe, pois, mesmo graduados, não podiam assumir ministérios e que ansiavam
por uma nova democracia. Os militares brasileiros há algum tempo conhecem a
estratégia das guerras híbridas. Esse conhecimento, se utilizado, pode ter sido
útil na campanha de Bolsonaro. Durante a campanha, o General Villas Boas
(Exército) se manifestou publicamente contra a possibilidade da concessão do habeas corpus à Lula4. Recentemente
Villas Boas afirmou que os militares “estavam no limite”. Afirmava “não aceitar
a impunidade, e exigia o respeito à Constituição Federal”, porém, se isso fosse
feito, obviamente Lula teria que ser solto, pois, isto é o que determina a
Constituição Federal (Art. 5º Inciso LVII). Ora, sabendo que Bolsonaro era
candidato das Forças Armadas desde 2014, como afirma o jornalista argentino que
entrevistou o oficial das Forças Armadas, a interpretação que se faz em
respeito à racionalidade, é que o movimento no tabuleiro de xadrez executado
pelos militares nunca foi contra a impunidade, mas, sim para manter preso quem
traria dificuldades à eleição do seu candidato (Bolsonaro), tendo em vista que
os militares mantiveram-se em silêncio quanto à impunidade de Aécio Neves
(PSDB), e outros.
Não pretendo aqui discutir um terceiro turno das eleições
de 2018, afinal, sórdidas ou não, as estratégias do staff de campanha de
Bolsonaro funcionaram, e nada indica que o TSE tenha coragem de caçar a chapa.
Ele é o presidente! Manipulada ou cega de ódio ao PT, foi a vontade da maioria
do povo brasileiro. E nisso, a esquerda é melhor do que a direita, pois, não
deseja a destruição do país em troca do Poder como fez Aécio Neves (PSDB) e
apaniguados. O governo Bolsonaro vai tensionar fortemente as instituições, ou
elas resistem, e lhe impõem o freio do Estado Democrático de Direito ou o
Brasil viverá anos obscuros! À esquerda cabe vigiar as ações de um governo
ultraliberal, e que contraria a soberania nacional e o projeto de uma sociedade
menos desigual e lhe fazer oposição. À Bolsonaro cabe entender o significado da
democracia, aprender economia e política externa, algo que em seus quase trinta
anos de vida parlamentar não foi capaz ou teve preguiça. Ele também precisa
entender que não somos os Estados Unidos da América e que nem sempre o que é
bom para o país ianque é bom para o Brasil! E que no posto de presidente do
país deve deixar de falar asneiras, mesmo, que para isso precise evitar os
microfones, tal como fez ao fugir dos debates para não perder votos!
FONTES:
1. Disponível em: https://tutameia.jor.br/brasil-e-alvo-de-guerra-hibrida/
- acesso em 12 de Novembro de 2018.
2. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/10/empresarios-bancam-campanha-contra-o-pt-pelo-whatsapp.shtml.
– acesso em 12 de Novembro de 2018.
3. Disponível em: https://jornalggn.com.br/noticia/jornalista-argentino-revela-como-as-forcas-armadas-construiram-a-candidatura-de-bolsonaro-para-chegar-ao-poder
- acesso em 12 de Novembro de 2018.
4. Disponível em: https://congressoemfoco.uol.com.br/judiciario/lula-solto-poderia-tirar-militares-do-controle-diz-comandante-do-exercito-estavamos-no-limite/
- acesso em 12 de Novembro de 2018.
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