Fiódor Dostoiévsk (1821-1880) é um dos grandes nomes da
prestigiada literatura russa. Seu nome está ao lado de Liev Tolstoi, Ivan
Turguêniev e outros que facilmente formam um dream team da literatura a ponto
de deixar com inveja grande parte dos países do mundo. Dostoiévski viveu na
época do Império Russo e foi escritor, filósofo e jornalista. Seu pai (Mikhail
Dostoiévski) era médico militar e sua mãe era dona de casa. A profissão do pai
não era valorizada financeiramente e a família que tinha origens nobres
encontrava-se em plena decadência, mesmo com dificuldades, seu pai mantinha
seis serviçais para manter as aparências de um passado que se mostrava cada vez
mais distante. A mãe morreu de tuberculose, uma doença que ceifava muitas vidas
à época, na ocasião Dostoiévski contava quinze anos de idade. Seu pai que era
alcoólatra e depressivo morreu três anos mais tarde, e, existem duas versões
para a sua morte, sendo a primeira de que teria sido vítima de acidente
vascular cerebral e a segunda de que teria sido assassinado por seus servos
revoltados por conta dos maus tratos que lhes impunha. O jovem Fiódor também
desejou a morte de seu pai por conta dos maus tratos que sofria, porém,
conta-se que a morte do pai lhe trouxe remorsos por ter alimentado tais
pensamentos.
Dostoiévski serviu o exército russo no qual obteve a
patente de tenente e se formou em engenharia em 1843. Fiódor estava sempre às
voltas com dívidas resultantes de seu envolvimento com jogos e mulheres. Trabalhou
como tradutor de obras do escritor francês Honoré de Balzac e isso o estimulou
a experimentar-se no campo da literatura. Fez isso após deixar o exército em
1844, ano em que lança seus primeiros livros. Dostoiévski fazia parte de um
grupo clandestino intitulado Círculo de Petrachévksi, no qual liam e discutiam
textos proibidos. O mentor do grupo (Petrachévksi) era adepto do socialista
utópico Charles Fourier. Descoberto, foi condenado à morte por fuzilamento. No
último instante (mesmo), por ordem do Czar Nicolau I a pena foi convertida em quatro
anos de prisão na Sibéria com a imposição de trabalhos forçados e outros cinco anos
de pena nos quais deveria servir como soldado raso no exército. No exílio
conheceu e se apaixonou por sua primeira esposa (Maria Dmítrievna), o detalhe é
que ela era casada, porém, como enviuvou, casou-se com ela três meses depois.
Em 1864, morreram sua primeira esposa (tuberculose) e também seu irmão. Além de
seus filhos, precisava sustentar a viúva e os filhos de seu falecido irmão além
de outro irmão alcoólatra. Várias vezes escreveu obras “a toque de caixa” para
pagar dívidas contraídas junto a agiotas que o importunavam cobrando-lhe, dos
quais algumas vezes fugiu temporariamente mudando de endereço. Aos quarenta e
seis anos conheceu e contratou a estenógrafa (taquigrafa) Anna Grigórievna
Snítkina de vinte e quatro anos de idade com quem se casou. Dostoiévski
publicou várias obras de sucesso, dentre elas: Crime e castigo e Os Irmãos
Karamazov, sendo esta sua última obra. Faleceu em decorrência de enfisema
pulmonar.
O escritor não gostou de sua obra “O eterno marido”, no
que foi contrariado pelo público e pela crítica que a aclamaram. A obra trata
dos “eternos maridos”, homens que suportam as traições de suas esposas e cujos
chifres parecem lhes cair bem, e também de um tipo muito específico de esposas,
as quais se casam virgens, mas, que utilizam desculpas referentes aos defeitos
do marido para dar vazão a toda sua volúpia, sem ter com isso nenhum sentimento
de culpa ao traí-los. No afã de situar o leitor na trama, o primeiro capítulo traz
uma leitura um pouco burocrática, mas, depois se torna envolvente. A trama
conta com dois personagens principais Aleksei Ivánovitch Veltchanínovch, um playboy,
arrogante e hipocondríaco que em sua juventude considerava ainda mais
interessante ser amante de mulheres casadas. A outra personagem (Pável
Pavlóvitch Trussotski) é o marido traído, que em plena madrugada,
espantosamente bate à porta de Veltchanínov. Na trama, Veltchanínov conhece a
filha de dez anos de Pavlóvitch (doente e maltratada pelo pai), o qual após a
morte da esposa adúltera se tornou alcoólatra, violento e passou a assustá-la
ameaçando suicidar-se. Veltchanínov desconfia que a filha (adoentada) pode ser
sua tendo em vista a época dos relacionamentos que teve com a sua mãe, mas,
somente tem a confirmação por Pavlóvitch após a morte da menina. Em certa
noite, Pavlóvitch cuida de Veltchanínov (hipocondríaco) fazendo-o melhorar,
porém, quando este adormece tenta matá-lo. Mais forte, Veltchanínov frustra o plano.
Anos mais tarde, em uma viagem de trem, Veltchanínov reencontra Pavlóvitch
casado com uma bela e rica jovem, e constata que nada mudou: Pavlóvitch
continua a ser o eterno marido e forma com sua esposa e um cadete um triângulo amoroso.
Sugestão
de boa leitura:
Obra: O eterno marido (1870) – 211 páginas.
Autor: Fiódor Dostoiévski.
Editora: Penguin Companhia, 2018.
Preço: R$ 26,90.
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