sábado, 8 de junho de 2013
É muito pano para a manga!
Quando jovem acadêmico, este humilde escriba, assistiu na Universidade a palestra de um médico a qual rememorou por ocasião do debate que se desenvolveu nos últimos dias, opondo de um lado pessoas que se pronunciam favoravelmente à vinda de médicos estrangeiros para suprir a falta destes tão necessários profissionais, e, de outro, os que à vinda destes se opõem. Recordo-me que o palestrista em questão, afirmou ser o curso de medicina que frequentou muito materialista e que os próprios professores incutiam isso em seus alunos como ordem primeira da profissão. Este médico discordava desta visão extremamente capitalista e durante as aulas debatia com professores e colegas exaltando o caráter humanitário acima de qualquer outra coisa, era por isso chamado de “comunista” chegando a ganhar o apelido de “Fidel Castro”. Este profissional afirmou que na porta de seu consultório colocou a palavra “Médico”, pois era contra a elitização da profissão e por entender que “Doutor” era quem fazia doutorado. Durante a sua fala declarou que além do trabalho rotineiro de consultório e hospital, reservava parte de seu tempo para atender gratuitamente pacientes em comunidades carentes, como nos acampamentos de sem terras. Isto é o que me lembro da referida palestra, mais, com certeza havia, mas perdeu-se nas brumas do tempo que corrói a memória.
Como professor não aceito que a Educação seja considerada missão, pois isto enfraquece a luta por melhores condições de trabalho, assim, incoerente seria, se o fizesse de outra forma com a medicina, penso que médicos devem ser bem pagos, pois, sob suas mãos está uma grande responsabilidade, a vida humana. No entanto, muitos municípios do interior oferecem bons salários e mesmo assim fracassam na tentativa de suprir tais vagas, pois, os profissionais da área reclamam das condições de trabalho no interior e preferem trabalhar no setor privado (clínicas particulares) e em grandes cidades, onde a clientela pode arcar por tais serviços. Sabemos que neste país as questões sociais, dentre as quais se inclui o acesso dos pobres à medicina foi sempre relegado a um segundo plano, e, não é possível esperar mais, até que as condições de trabalho no interior sejam tão boas quanto nas capitais, pois, a doença não espera, e, comparando com a Educação, se professores esperassem por boas condições de trabalho e alunos ideais, a quase totalidade da população brasileira seria ainda hoje analfabeta. A vinda de cerca de seis mil médicos estrangeiros pouco mexeria na extrema carência destes profissionais estimada em cerca de 54 mil no setor público, além disso, defender a reserva de mercado à custa do sofrimento, doença e/ou da morte de pessoas necessitadas é algo que certamente vai contra a ética médica e ao juramento de Hipócrates que todo profissional faz por ocasião de sua formatura. Concordo que os médicos estrangeiros passem por um exame para comprovar a qualidade de sua formação (Revalida), porém, não estamos livres da formação deficitária que alguns alegam haver apenas longe das terras tupiniquins, pois, já há inclusive discussões para a implantação de exames de proficiência em Medicina, ao qual o recém-formado se submeterá, para se aprovado, exercer a profissão.
Depois de tudo isso, o leitor poderia supor que a solução é criar mais cursos de medicina, não necessariamente, o Brasil possui mais cursos de medicina do que os EUA ou a China, o ingresso de médicos no mercado de trabalho vem aumentando nos últimos anos, e o número de médicos no país é razoável (1/511 habitantes). Mas, então porque toda essa gritaria de falta de médicos? A explicação é uma só: a má distribuição dos profissionais pelo país, pois há uma forte concentração nas capitais e nas regiões Sudeste e Sul e uma grande carência principalmente no interior das Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. O país possui quase 400 mil médicos, destes apenas cerca de 55% atuam pelo SUS, pois muitos preferem trabalhar no setor privado, talvez fosse o caso de criar uma lei em que o médico formado por curso de Universidade Pública teria que obrigatoriamente exercer parte de sua carga horária no setor público por alguns anos. O Estado Brasileiro não pode, porém, fugir à responsabilidade urgente de levar a medicina para todos os rincões deste gigantesco país, seja com profissionais brasileiros ou estrangeiros, o que não pode continuar é a situação em que pacientes doentes se deslocam centenas de quilômetros para realizar consultas e internamentos. De qualquer forma, sei que tal temática necessita uma longa pesquisa e reflexão maior ainda, e, resultaria numa monografia, o que está muito além do alcance das minhas sempre contadas palavras.
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