quinta-feira, 27 de junho de 2013
Telhado de vidro
Há alguns dias a Presidenta Dilma foi vaiada em solenidade de abertura da Copa das Confederações cujas imagens correram o mundo representando um vexame para o país, um significativo constrangimento para a Presidenta e um momento de êxtase para seus opositores. Sobre as vaias teve quem mesmo se declarando opositor ao atual governo achasse falta de educação por se tratar de representante eleita pelo povo e também quem as apoiasse, entre estes, alguns políticos de direita sentiram um prazer orgástico pela vaia, mais tarde foram chamados à luz da razão pelo Senador paranaense Roberto Requião que afirmou: “os políticos da oposição não devem se sentir afagados com a vaia: a vaia foi para os políticos em geral. “sintam-se vaiados”, disse ele, incluindo-se na lista”. Há um velho ditado que afirma: “se você possui telhado de vidro não deve jogar pedras no telhado do vizinho” que por razões obvias irá revidar e também seu telhado será atingido. Em diversas oportunidades assisti políticos que faziam fila para aparecer na TV fazendo discursos contra a corrupção e depois estes paladinos defensores da ética política e da moral societária nacional foram flagrados em atos de corrupção, não sabiam os mesmos que tinham telhado de vidro? Sabiam sim, mas dá Ibope falar contra a corrupção, houve até presidente que se elegeu com o apoio da mídia “Global” fazendo discursos pela caça aos “Marajás” e o fim da corrupção e saiu do Governo no meio do seu mandato caçado por corrupção. Sim, é delle que estou falando.
Penso que além de um momento de reflexão da classe política como um todo, este deve ser um momento em que nós povo brasileiro devemos refletir sobre nossas práticas. Lembrei neste instante do craque da seleção brasileira Gérson que ao protagonizar um comercial de cigarros trouxe grandes prejuízos à sua imagem e cuja infeliz frase por ele proferida virou a famosa “Lei de Gérson”, a frase: “o importante é levar vantagem em tudo”, demonstra a cultura brasileira, assim, parte dos brasileiros, entre várias outras atitudes condenáveis do ponto de vista ético, compram produtos falsificados, CDs e DVD’s piratas, fazem “gatos” para receber o sinal de TV por assinatura sem pagar (cuja empresa não recebe pela prestação de serviços e assim não contribui com impostos ao país), compram produtos no exterior e não pagam os impostos devidos, se recusam a dar nota fiscal ou recibo por serviços prestados, não declaram rendas extras ao imposto de renda, etc. A sonegação em nosso país é tanta que o Sindicato dos Procuradores da Fazenda (Sinprofaz) lançou o “sonegômetro” um placar semelhante ao famoso “impostômetro” (que marca quanto de impostos o país arrecada em tempo real), ao contrário deste, o “sonegômetro” irá marcar em tempo real os valores desviados da arrecadação pelos golpes para fugir de tributos. Sabemos que a carga tributária Brasileira é alta (36%), porém, segundo o presidente do Sinprofaz Alan Titonelli Nunes ela poderia ser reduzida em 20% se houvesse uma diminuição da sonegação. Outro grave problema da tributação brasileira apontado por Nunes é que os mais pobres proporcionalmente pagam mais impostos que os mais ricos pelo fato de a tributação ocorrer sobre o consumo e não sobre a renda, além disso, não são os pobres os que mais sonegam, mas os mais ricos*. Dessa forma, acreditamos que deveria ser aberta a gaveta empoeirada e com teias de aranhas do Congresso Nacional e dela ser retirado o projeto para criação do Imposto sobre Grandes Fortunas, além disso, criar mais faixas de contribuição no Imposto de Renda (10 seria o ideal) de forma a tornar a arrecadação progressiva (mais renda, mais imposto) aliviando a carga tributária da população trabalhadora.
Enfim, se alguém perguntasse tal como na passagem bíblica: “atire a primeira pedra quem nunca “pecou” (utilizou o jeitinho brasileiro)? Muito possivelmente quase todas as pedras (senão todas) seriam soltas ao chão, no entanto, se grande parte dos políticos não estão à altura do povo brasileiro, este também não está à altura da imagem que pretende enquanto povo de país que se espera um dia desenvolvido. Há alguns dias afirmei para alguns colegas professores que desenvolver uma cultura anticorrupção é um exercício diário que implica abandonar o “jeitinho brasileiro”, pois como afirmou o Dalai Lama: “Seja a mudança que quer ver no mundo”! Assim, como telhados de vidro não são exclusividade dos políticos, precisamos verificar constantemente de que material é feito o nosso telhado e substituir as telhas que se fizerem necessárias.
Fonte: * http://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2013/06/05/sonegometro-vai-calcular-quanto-o-brasil-deixa-de-arrecadar-em-impostos.htm - acesso em 22 de junho de 2013.
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