O Estado Totalitário, ou
seja, o regime ditatorial, sempre tem na inteligência seu principal adversário,
afinal é fácil enganar as pessoas alienadas e/ou omissas, mas, não aquelas
dotadas de inteligência e criticidade. Dessa forma, toda ditadura derrama o
sangue entre os intelectuais insubmissos. Não foi diferente no Chile do ditador
Augusto Pinochet. Agustín afirma que cento e setenta e três professores
encontram-se entre os desaparecidos políticos, sem contar as milhares de mortes
reconhecidas/elucidadas dentre aqueles que ousaram empunhar a bandeira da
democracia.
Agustín disse que, ao longo do regime, houve uma
doutrinação em massa da sociedade chilena que, aliada às reformas neoliberais,
resultaram na mudança de sua própria cultura. O consumismo, os shopping
center's inaugurados às dezenas, o dinheiro, enfim, fizeram a cabeça do
chileno. Houveram reformas visando a descentralização da política nacional, os
municípios adquiriram maior protagonismo, porém, os recursos não eram
distribuídos de forma equânime. A reforma havia municipalizado a administração
da gestão dos recursos para a educação, porém, assim como haviam municípios
mais ricos e outros pobres, também os investimentos nas escolas eram maiores ou
menores conforme o município. No Chile, 85% das escolas são privatizadas e
apenas 15% são públicas. Segundo Agustín, há escolas particulares melhores que
as públicas, como também escolas particulares de pior qualidade que as
públicas.
Os municípios repassavam mais recursos para as escolas
públicas ou privadas (subvencionadas) que obtinham maiores índices de
frequência dos estudantes, bem como melhores resultados nas avaliações
oficiais. As escolas do centro e bairros nobres, onde estudavam os jovens
oriundos da classe média e alta, obtinham os melhores resultados e
consequentemente mais recursos/investimentos. As escolas de bairros (periferia),
onde estudavam os jovens oriundos da classe baixa e média-baixa, com piores
índices de frequência e de resultados, recebiam menos recursos/investimentos. O
governo neoliberal chileno teoricamente entendia, tal como se a escola fosse
uma empresa, e que as leis de mercado se aplicassem ao fazer pedagógico, que as
escolas submetidas à concorrência, superariam suas precárias condições e se
alçariam à patamares equivalentes aos das melhores escolas públicas ou
privadas.
Não foi o que ocorreu, pois a política neoliberal chilena,
na prática, acabou introduzindo, a dualidade da oferta educacional, qual seja,
uma escola de boa qualidade para a classe média e alta no centro e bairros
nobres e, uma escola precarizada para os jovens dos bairros periféricos, estes
oriundos da classe baixa, ou seja, os filhos dos trabalhadores.
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