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terça-feira, 12 de novembro de 2024

Apontamentos sobre a privatização da educação chilena - parte 1

 

        Há alguns dias, assisti uma palestra sobre a privatização da educação no Chile, cuja iniciativa foi do Núcleo Sindical da APP-Sindicato de Laranjeiras do Sul. Eu, de minha parte, resolvi não perder a oportunidade de ouvir alguém que viveu "in loco" aquilo que tomei conhecimento apenas por livros e artigos. A fala foi realizada pelo jovem acadêmico Agustín Ignácio Galaz Polanco da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA). O acadêmico em questão, de nacionalidade chilena, teve sua formação básica naquele país que ficou conhecido como o Laboratório Chileno do Neoliberalismo. Esta é, portanto, uma escrita embasada na fala em questão, não sendo porém uma transcrição "ipsis literis". 

            Na introdução de sua fala, Agustín rememorou aspectos históricos anteriores ao golpe de 1973 que remontam à ascensão de Salvador Allende (1908-1973) à presidência no Chile. O socialista Allende, eleito em 1970, tornou-se uma dor de cabeça para os Estados Unidos da América que encontrava-se envolvido na efervescente disputa pela hegemonia mundial (Guerra Fria) com a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. A costumeira neurose estadunidense, turbinada durante a Guerra Fria, agravou-se ainda mais com a Revolução Cubana de 1959. Os Estados Unidos passaram então a estimular e financiar golpes de Estado e apoiar ditaduras sanguinárias na América Latina, das quais, Chile, Brasil, Argentina, Uruguai, etc. não passaram incólumes, visando manter sob rédea curta as lideranças e os destinos da região que, desde 1823, o presidente estadunidense James Monroe (1758-1831), definiu como seu quintal.

            Salvador Allende, era de espírito constitucionalista, portanto legalista e, sua fidelidade aos preceitos mais caros em que acreditava, levou-o a uma inação que possibilitou o golpe. Agustín afirma que todos lembram das imagens de aviões da Força Aérea Chilena atacando o Palácio de La Moneda, sede do Poder Executivo Chileno, no entanto, o golpe teria verdadeiramente ocorrido nos bairros, nas periferias de Santiago e de outras cidades chilenas. Nas incursões nos bairros, as forças militares selecionavam  pessoas que deveriam ser presas, torturadas e/ou mortas. As forças Armadas têm uma relação imbricada com o Estado, sendo o Estado considerado pelos teóricos marxistas um aparato do Capital, dessa forma, portanto, com raras exceções, os militares costumam se posicionar como guardiães a serviço do Capital, da direita. O Chile não foi exceção à regra.

            Um grupo de vinte e cinco economistas formados na Pontifícia Universidad Católica de Chile estabeleceram vínculos de estudos (pós-graduação) e cooperação com o Departamento de Economia da Universidade de Chicago, conhecido como "Escola de Chicago", tais contatos eram anteriores ao Golpe de Estado de 1973. O Chile já havia sido escolhido para ser cobaia dos experimentos neoliberais dos economistas da The University of Chicago, os Chicago Boys.

 

sexta-feira, 8 de novembro de 2024

Vamos pensar um pouco?

 

A obra "Vamos pensar um pouco?" é destinada ao público pré-adolescente, conta com  ilustrações da Turma da Mônica, fruto de uma parceria entre o famoso professor e palestrista Mario Sergio Cortella e o desenhista Mauricio de Sousa. As lições são curtas, uma página e acompanhadas de ilustrações pertinentes. Grandes pensadores são citados nas lições destinadas às crianças e não se trata de textos maçantes, mas, alguns aforismos discutidos e direcionados a estimular o ato da reflexão entre os/as pensadores (as) mirins. Logo de início o autor mostra que a palavra “um” faz toda diferença entre pensar pouco e pensar um pouco. E que é sinal de grande sabedoria buscar o conhecimento mesmo sabendo que jamais se saberá tudo. Afirma também que mudar de opinião é algo razoável e não denota com isso submissividade.

            Cortella diz: “há quatro espécies de pessoas: as que sabem que sabem, são sábias e podes consultá-las; as que sabem e não sabem que sabem, faze as se lembrarem e ajuda-as a não esquecerem; as que não sabem que não sabem, ensina-as; e as que não sabem e proclamam que sabem, evita-as”! Mario Sergio ensina que as pessoas não devem ter medo de livro grande, pois, desde que não tratemos como tarefa, muitas páginas podem significar mais tempo de prazer na leitura. Numa das lições o autor cita um professor de filosofia numa escola dos Estados Unidos que solicitou aos educandos que fizessem uma redação de forma a retratar verdadeiramente a coragem. Uma menina, um minuto depois de começada a avaliação entregou-a ao professor e nela estava escrito somente: “coragem é isto”! O professor foi obrigado a reconhecer que ela havia retratado muito bem a coragem, ao correr tão grande risco e deu-lhe a nota máxima!

            Cortella também evidencia a sabedoria estradeira quando cita uma frase de pára-choque de caminhão: “na subida “cê” aperta, na descida “nóis” acerta” e discorre sobre a humildade na fase de status elevado da pessoa, pois, a vida tem altos e baixos. Explica também que a origem do termo “puxa-saco” deve-se ao marinheiro encarregado de carregar o saco de roupas do comandante do navio e que o termo bajular vem de “bajulus” que era o carregador de objetos e de pessoas na época do imperador romano Otávio Augusto”. Enfim, é impossível escrever neste limitado espaço, a variedade e a profundidade das lições retratadas de forma leve na obra. Fica a dica!

Sugestão de boa leitura:

Título: Vamos pensar um pouco?

Autor: Mauricio de Sousa & Mario Sergio Cortella.

Editora: Cortez, 2017, 166 p.

quinta-feira, 7 de novembro de 2024

Você também trabalha ou só dá aulas? Série Vale a Pena Ler de Novo!

 

                O título acima causa a revolta dos educadores, pois, se trata de uma situação bem comum pela qual passam em diálogos com pessoas não atuantes na área da educação, e que surpreendentemente assim agem sem qualquer maldade. Isto se explica pelo fato de que somos um país cuja população em seu inconsciente coletivo considera trabalho como sendo apenas o braçal. Este escriba na qualidade de professor certa vez ouviu de um educando: “professor nem trabalha, fica só falando, queria ver por no cabo de uma enxada”. Penso que este educando, por sua pouca idade, repetiu falas que ouviu em sua casa ou meio social. E esse é um pensamento mais comum do que se imagina, tendo em vista que para parte da sociedade parece muito fácil ser professor, afinal como me disse um empresário: “é só ficar jogando conversa fora com os estudantes sem ter grandes preocupações como vender o suficiente para pagar os empregados e os impostos”.

            Se o magistério é uma profissão tão fácil, por que tantas matérias jornalísticas e artigos científicos estão sendo produzidos alertando sobre o risco de um apagão educacional por falta de professores? Se a educação é o paraíso das profissões por que os jovens da classe alta e média não a escolhem como seu futuro profissional? Se professor ganha tão bem como alguns dizem por que os jovens bem nascidos não são incentivados por seus pais a seguir em tão promissora carreira? Se o trabalho de professor é tão suave por que tantas pesquisas científicas mostram grandes índices de adoecimento entre seus profissionais? Se o magistério é uma atividade laboral tão tranquila, por que os educandos que dividem a rotina diária com seus mestres, nas diversas classes, em sua quase totalidade, não a desejam para si? Se o professor é o profissional responsável por formar os trabalhadores das mais diversas áreas, do operário ao empresário; do médico ao cientista; do advogado ao Juiz de Direito por que ele é tão pouco valorizado socialmente?

            Segundo recente pesquisa metade dos professores não recomenda a profissão para um jovem. E se engana quem pensa que os problemas na educação se referem unicamente à questão salarial em que dentre as profissões que exigem igual formação, o magistério continua a ser a menos remunerada, não somente no Brasil, mas, na América Latina. As pesquisas mostram que além dos baixos salários, a falta de autonomia, a sobrecarga de trabalho, a pressão vinda de cima para baixo na busca de resultados, salas superlotadas, indisciplina e desinteresse de estudantes que não raras vezes acabam em violência verbal e física levam ao adoecimento dos profissionais da educação cujas enfermidades mais constatadas são: problemas gastrointestinais, enxaquecas, dores de cabeça persistentes, falta de sono, esgotamento físico e psicológico, varizes, bursites, doenças osteomusculares, perda parcial da audição e da voz, estresse, depressão e a síndrome de Bournout.

  *Originalmente publicado em: 

quinta-feira, 9 de agosto de 2018