O Juiz de Direito Márlon
Reis publicou um livro indispensável para todos aqueles que de fato, se
indignam com a corrupção existente em nosso país e não fazem desta, mera
retórica. Digo isso porque vejo pessoas que denunciam os fatos envolvendo
políticos da esquerda, mas, se calam perante a corrupção de importantes figuras
da direita. De forma surreal, existem críticos da corrupção política que
praticam pequenas corrupções cotidianas, furando filas, subornando policiais ou
agentes públicos, sonegando impostos, colando na prova, plagiando artigos
científicos ou trabalhos escolares, vendendo o voto em troca de benefícios
particulares, ou, fazendo “gato” para ter acesso gratuito à TV por assinatura.
Alguns poderão dizer que isso é nada se comparado ao que
fazem os políticos, porém, a natureza é a mesma, pois, corrupto é todo aquele
que se desvia da ética, não importa, se com pouco, ou com muito. Guimarães Rosa
genialmente afirmou: “Eu quase nada sei, mas desconfio de muita coisa” e foi
com este pensamento que iniciei a leitura do pequeno livro e ao ler coisas que,
a bem da verdade, não constituem novidades, senti profunda decepção ao
confirmar minhas suspeitas.
Márlon Reis entrevistou deputados federais e estaduais de
diversas unidades federativas aos quais se comprometeu mantê-los em anonimato.
Os deputados depoentes esclareceram o modus operandi da corrupção inclusive
afirmando que “a pessoa que entra na política precisa entrar no sistema ou dele
será cuspido fora”. Há relatos de que as eleições são decididas pelo montante
de dinheiro empregado e que é o voto comprado e não o voto idealista que decide
quem será eleito.
Os deputados são caracterizados como vaidosos e que
gostam de afirmar serem trabalhadores a serviço do povo, mas, na realidade não
é assim que vêem de fato a situação. O autor afirma também que há deputados que
lutam ferozmente por emendas para obras públicas para os seus redutos
eleitorais, pois, além de fortalecerem-se perante o eleitorado para a próxima
campanha levam uma porcentagem em torno de 20% referente ao butim de praxe.
Relatou que muitas vezes, as obras são feitas com
materiais de pior qualidade visando economizar para que seja possível fazer os
repasses da comissão do deputado que conseguiu a verba, e, um maior lucro para
o empresário “parceiro” sem esquecer-se dos fiscais cujo parecer favorável é
necessário para a entrega da obra.
As campanhas são realizadas com o reforço do Caixa 2, que
é constituído por dinheiro público (via corrupção) ou de doações ilegais de
empresários que “financiam não somente o potencial vencedor como o possível
perdedor, pois, o perdedor de hoje é o vencedor de amanhã”. E, além disso, no
caso de uma traição do vencedor, o perdedor ficará na oposição e poderá vir a
ser muito útil. Após as eleições, o empresário doador de campanha cobra a
fatura e esta é paga na forma de licitações viciadas com participantes e
orçamentos combinados cujo vencedor está predeterminado. O preço é
superfaturado, e, quando o valor alcançado não é considerado suficiente a
solução é a economia de materiais (baixa qualidade) para propiciar o pagamento
das comissões.
Apesar da frustração de ver confirmadas no pequeno livro
tudo aquilo que o leitor abomina, a obra é imprescindível para entender melhor
os meandros da política por cujos labirintos o dinheiro público se esvai na
forma de corrupção. Também é importante afirmar que não podemos desistir,
desinteressarmo-nos pela política, pensando que nesta seara tudo é joio, pois,
há também o trigo, portanto, importa retirar o joio, que não é pouco, mas, do
esforço de todos virá o pão que sacia a fome de desenvolvimento da população.
Sugestão
de boa leitura:
Título: O Nobre Deputado –
Relato chocante (e verdadeiro) de como nasce, cresce e se perpetua um corrupto
na política brasileira.
Autor: Márlon Reis.
Editora: LeYa, 2014, 120 p.
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