Niall Ferguson é um renomado
historiador inglês. É dele o livro “a grande degeneração”, obra na qual
discorre sobre a decadência do mundo ocidental. É importante que eu diga que
não concordo plenamente com o autor que em sua análise do papel do Estado
utiliza uma concepção neoliberal. Mas, a obra nem por isso deve ser
desconsiderada, tendo em vista que Ferguson traz importantes questionamentos e
apontamentos acerca da degenerescência atual da civilização ocidental.
O historiador inglês sustenta sua tese ao abordar aquilo
que chamou de “as quatro caixas pretas” da civilização ocidental: a democracia,
o capitalismo, o Estado de direito e a sociedade civil. Na obra, Ferguson
discorre acerca do estado estacionário em que se encontram as economias
ocidentais, cujo PIB imóvel assiste o galope da China, um país do Oriente. O
autor lembra que Adam Smith fez uma análise no século XVIII sobre o estado
estacionário chinês comparando sua falta de crescimento com o ocidente que navegava
com vento em popa.
O autor afirma que se Adam Smith hoje vivesse, veria que
os ventos da história passaram a soprar em outra direção. Cita a
desalavancagem, ou seja, a iniciativa de redução das dívidas públicas que tende
a ser um fator inibidor do crescimento econômico, pois, os Estados buscam
acumular superávits primários e reduzem seus investimentos na infraestrutura e
também nas áreas sociais. A geração atual paga pelos arroubos da geração
passada e a geração futura fica com as duplicatas a serem pagas pelos desvarios
de nossos governantes atuais.
Nos estados estacionários, os assalariados são chamados a
pagar a conta dos excessos da jogatina do mercado financeiro por meio da
redução do poder aquisitivo de seus salários com o objetivo de preservar os
lucros do patronato e manter a competitividade das empresas. Niall reclama da
rigidez dos organismos reguladores cujos processos retardam a colocação no
mercado de novos produtos e inovações, mas, concorda que certo grau de
regulação é necessário para que tragédias não sejam efetivadas como a colocação
no mercado de produtos maléficos à saúde humana.
Na obra também discorre sobre o envelhecimento da
população ocidental com a baixa taxa de fertilidade resultante da opção de
muitos casais por não terem filhos ou ter apenas um. A não renovação da
população traz o problema da falta de mão-de-obra para o mercado de trabalho e
uma difícil equação para a Previdência Social em que um número decrescente de
trabalhadores contribui para o financiamento de um número crescente de
aposentados. O autor também relata o comportamento anti-social da sociedade
ocidental, que, em seu ver está cada vez mais doente e imbecilizada com a perda
dos valores culturais e religiosos.
O autor tem posicionamento contrário ao Estado de
bem-estar social e afirma que a sociedade espera que o Estado resolva tudo
quando deveria ela agir, seja, ajudando na preservação do meio ambiente, na
limpeza pública ou na assistência às pessoas pobres da sociedade. Relata ainda
que o desconhecimento ou ignorância acerca da essência das questões
fundamentais de nosso tempo leva muitas pessoas imbuídas da ilusão do
conhecimento trocar insultos e pensar que com isso estão realizando um debate.
O historiador inglês reconhece que o liberalismo econômico
é atualmente uma marca denegrida e que Francis Fukuyama errou quando escreveu a
obra “O fim da história” em que apontava a vitória definitiva do capitalismo
sobre o socialismo. Ferguson reconhece também que o capitalismo neoliberal
implantado no mundo a partir de Washington (Ronald Reagan) e Londres (Margareth
Thatcher) aprofundou o fosso das desigualdades sociais ao concentrar
excessivamente a renda nas mãos dos 10% mais ricos da sociedade pauperizando
ainda mais os miseráveis.
Afirma que a discussão sobre as causas desse fenômeno
costumam apontar: a globalização econômica, as mudanças tecnológicas, a falta
de investimentos em uma educação pública de qualidade e a política fiscal.
Ferguson afirma que o Estado de direito está sendo substituído por um Estado de
juristas cuja relativização da interpretação das leis por magistrados (que agem
com seletividade) causa grande insegurança jurídica, pois, estes deveriam
unicamente aplicar o direito. Relata que parte significativa dos membros dos
poderes Legislativo, Executivo e Judiciário dos estados ocidentais está
imiscuída no que há de mais podre na sociedade.
Sugestão
de boa leitura:
Título: A grande degeneração.
Autor: Niall Ferguson.
Editora:
Planeta, 2012, 128 p.
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