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terça-feira, 21 de maio de 2024

Dostoievski: vida e obra

 

Imagine, caro leitor, em uma livraria, pousar seus olhos numa estante de livros e encontrar uma obra de um de seus autores prediletos e, ao pegá-lo na mão, constatar que o livro trata da vida e obra de outro de seus escritores preferidos. É essa a sensação que tive ao deparar com o livro "Dostoievski: vida e obra" de Stefan Zweig. Quem acompanha essa coluna, sabe que considero um remédio para a alma a leitura das obras do escritor, romancista, poeta, dramaturgo, jornalista e biógrafo austríaco de origem judaica Stefan Zweig (1881-1942), sendo assim, sua apresentação é meramente uma questão de praxe. Agora, quando a elegância da escrita de Zweig está inserida em um ensaio que mescla aspectos biográficos do escritor, filósofo e jornalista russo Fiódor Mikhailovitch Dostoievski (1821-1881) e teoria literária, porém, sem ser academicista, é a receita para o deleite de um leitor aficcionado por ambos.

            Dostoievski, já apresentado em outras oportunidades neste espaço, por meio de resenhas, aqui publicadas, é o autor russo predileto dos brasileiros, pelo menos, é o que demonstram os números quanto a vendagem de sua obra. Os russos não o consideram o maior de seus grandes escritores,  afinal, a concorrência é fortíssima, com nomes como Tolstoi e Turguêniev, apenas para citar alguns dos grandes escritores daquele país.

            No ensaio, objeto dessa resenha, fica evidente a grande admiração de Zweig pela obra e personagem que Dostoievski representou em seu tempo de vida no então Império Russo. Também não me atrevo a dizer que ele é maior que os autores citados, mas, digo que Dostoievski parece transcrever para as tramas das diferentes personagens de seus livros, toda a tragédia pessoal que marcou a sua vida. Ele escreve sobre as mazelas humanas, aquelas sentidas por quem frequenta o andar de baixo da sociedade, então é como se ao ler suas obras, conversássemos também sobre nossos problemas de gente do povo, muitas vezes ignorados devido à nossa pobreza e insignificância.

            O autor russo, inversamente a Tolstoi e Turguêniev, viveu sempre com dificuldades financeiras, reclamava de ter que escrever a "toque de caixa" para receber o vil metal que lhe possibilitava sustentar a sua família e os parentes que dele dependiam para sobreviver. Sonhava não se preocupar com a sobrevivência como os expoentes autores russos citados e, assim, poder lapidar sua obra com o intuito de fazê-la grandiosa.

             Militante, foi preso, na verdade, era figura pequena dentre os opositores ao regime do czar. Julgado, foi condenado à morte por fuzilamento, recebendo o perdão (comutação) da pena, quando já se encontrava posicionado para ser executado. Foi então enviado à Sibéria para trabalhos forçados. Grande observador e analista da mente humana, registra mentalmente os perfis psicológicos de seus companheiros de cativeiro. Estes, mais tarde, com outros nomes, serão personagens de muitas de suas obras. Dostoievski escreveu "Memória da casa dos mortos" sobre o tempo em que esteve preso na Sibéria, sobre este livro, conta-se que o próprio Czar chorou ao lê-lo.

            A vida de Dostoievski é cheia de altos e baixos, também as tramas de seus livros e, suas personagens que, quando prosperam, comemoram vitórias, em seguida vem o tombo, a mostrar o seu verdadeiro lugar. Dostoievski, que escrevia livros freneticamente para poder sobreviver, não raras vezes, mudou sua residência para fugir dos cobradores. Em sua vida e em sua obra, a humildade foi sempre esculpida em sua alma e em suas personagens pelo cinzel da humilhação.

            Sabemos que todas as pessoas que passam/passaram por grandes sofrimentos na vida, se fazem/fizeram mais fortes, afinal, a vida não dá outra opção, senão fortalecer-se. Stefan Zweig, vê em Dostoievski, um gênio. O escritor austríaco não faz juízo qualitativo entre os autores russos, mas, afirma preferir os derrotados aos vitoriosos, é neste sentido que diz preferir Dostoievski, que cheio de falhas de personalidade, mantém-se em silêncio como quem espera a tormenta passar e, não a nobres como Tolstoi, que se atormentou refletindo se vivia da forma correta como cabe a sua persona pública. Fica a dica! Desta vez, dois grandes autores, em um só livro!

Sugestão de boa leitura:

Título: Dostoievski: vida e obra.

Autor: Stefan Zweig.

Editora: Nova Fronteira, 2021, 152 p.

 

 


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