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sábado, 24 de fevereiro de 2024

Vidas palestinas importam!

 

        Retorno a este tema, apesar da série de artigos aqui publicados com o título "O sionismo e o apartheid na Terra Santa: do holocausto judeu ao holocausto palestino". Sou chamado pela minha consciência a fazê-lo, tendo em vista a continuidade do massacre de vítimas inocentes em Gaza e a polêmica gerada em torno da fala do presidente Lula. A polarização que dividiu o país em "Nós" e "Eles" fez com que a sociedade brasileira ficasse dividida entre os que aplaudem Lula por sua fala corajosa e, aqueles que acreditam que o Brasil se tornou um pária internacional, por não apoiar Israel em sua campanha militar na Faixa de Gaza.

            Li, reli a fala do presidente Lula e, não vi nela nada mais que a verdade. Lula fez o que as lideranças do mundo desenvolvido, por covardia e conveniência, se omitiram. Nenhuma das grandes lideranças mundiais criticou Lula, mas, romperam o silêncio e exigiram que cessem os assassinatos de civis inocentes. Lembro que o apartheid na África do Sul somente acabou com forte pressão internacional e, que os Estados Unidos, o Reino Unido e o Estado de Israel apoiavam o governo segregacionista de minoria branca. A então primeira ministra do Reino Unido Margaret Thatcher (1925-2013) se recusou a adotar sanções contra a África do Sul e fez pronunciamentos nos quais acusava Nelson Mandela (1918-2013) de ser um terrorista. A história colocou Mandela num patamar muito acima de Thatcher dentre as grandes personalidades mundiais.

            Há um Estado de apartheid em Israel, no qual os palestinos estão confinados em seu próprio território (tal como os bantustões sul-africanos) sem a liberdade de ir e vir, pois passam por constrangimentos e humilhações diárias nos vários checkpoints instalados nas terras palestinas ocupadas por Israel. A África do Sul, cuja ferida do apartheid ainda não cicatrizou, foi certeira em denunciar Israel ao Tribunal Penal Internacional. Em pleno século XXI, Israel, que desrespeita e desobedece a ONU, é um dos países onde mais se descumpre os direitos humanos. O holocausto não pode servir de salvo-conduto para o Estado de Israel impunemente cometer crimes contra a humanidade.

            Criticar o governo Netanyahu por sua política de genocídio contra o povo palestino, não é desrespeitar a memória das vítimas do holocausto judeu, nem mesmo o presidente Lula fez a comparação quanto à magnitude do genocídio praticado pelos nazistas alemães com o genocídio que Israel pratica contra o povo palestino, afirmar o contrário é cometer desonestidade intelectual. Toda reação a um ato hostil deve ser balizado na proporcionalidade. Israel já passou longe da resposta equivalente que lhe caberia dar, e ataca civis inocentes, pois cerca de trinta mil civis (grande parte formada por mulheres e crianças) já foram mortos desde sete de outubro de 2023.

            Genocídios não deveriam ocorrer e comparar genocídios é absurdo! Mas, quantas pessoas devem morrer para que seja considerado um genocídio? Precisa chegar a seis milhões? Nesse caso, o genocídio contra os povos indígenas supera em muito tal número, 57 milhões, mas Benjamin Netanyahu insiste que o ocorrido com os judeus não tem comparação com nada na história mundial. A vida dos indígenas vale menos? A vida dos africanos escravizados, torturados e mortos no cativeiro em terras distantes valem menos? Toda vida humana importa! As vidas indígenas e negras importam! As vidas palestinas importam! Genocídio não é assim qualificado por um número absoluto de vítimas, mas pela sua natureza, ou seja,por ser uma política sistemática de limpeza étnica, de extermínio total ou parcial de um povo em situação de fragilidade. Lula acertou quando disse que em Gaza há o ataque de um dos mais preparados exércitos do mundo contra civis inocentes, vitimando em grande parte mulheres e crianças indefesas.

            Concordo com o assessor chefe da Presidência do Brasil Celso Amorin, quando disse "Israel não deve desculpas ao Brasil, mas que as deve à humanidade". Penso também que Netanyahu deve pedir desculpas à memória das vítimas do holocausto, pois, tenho certeza que elas, não gostariam que seus líderes fizessem com outras pessoas aquilo que lhes impuseram. Benjamin Netanyahu se irrita quando é acusado de praticar uma política de genocídio, porém, não há como classificar de forma diferente sua política de governo. Lembro do saudoso político Leonel Brizola (1922-2004) quando afirmou "tem focinho de jacaré, rabo de jacaré, patas de jacaré, corpo de jacaré...então como que não é jacaré? Essa frase cabe bem na caracterização do governo de Netanyahu e sua política genocida.

            É bizarro que um povo que sofreu nas mãos da extrema-direita nazista alemã tenha em sua história vários governos de extrema-direita. Penso que em memória às vítimas do holocausto, o povo judeu não deveria permitir que isso acontecesse. Ter a direita no poder é do jogo político, mas não a extrema-direita. Um exemplo disso é a Alemanha que repudia tal ideologia e vigia de perto os atos de grupos de extrema-direita no país, afinal, o nazismo deixou profundas cicatrizes na sociedade alemã. Infelizmente, uma das maiores infâmias da história mundial, colocou os judeus como vítimas, o holocausto. A ONU sob a liderança do Brasil (Oswaldo Aranha) na sessão da ONU (1947), criou o Estado de Israel e, na atualidade, a liderança sionista de Israel coloca o quarto exército mais poderoso do mundo como algoz de um povo, os palestinos. No entanto, sou sabedor que, assim como vacas às vezes vão parar em telhados e, nos perguntamos como isso aconteceu, tragédias também ocorrem na política, e sei que grande parte do povo judeu não compartilha do pensamento das lideranças que governam o país, dadas as notícias sobre os protestos de judeus contra a política de extermínio levada a cabo por Netanyahu.

            Em 1948, os judeus, Albert Einstein (1879-1955) e Hannah Arendt (1906-1975) que dispensam apresentações e, na companhia de uma centena de proeminentes personalidades judaicas em uma carta publicada no jornal estadunidense The New York Times já denunciavam que a extrema-direita (Partido da Liberdade) de Israel que mais tarde veio a formar o Likud, o partido de Benjamin Netanyahu, tinha por sua organização e metodologia, caráter semelhante ao nazifascismo. Sob a luz do sol, há muito pouco no planeta que se pareça tanto com o nazismo quanto a atual política governamental da liderança sionista de Israel para com a questão palestina. Netanyahu em uma fala até "passou pano" para Hitler quando disse que o líder nazista apenas queria expulsar os judeus e não pretendia fazer o Holocausto. O presidente da Turquia já havia comparado Netanyahu a Hitler e, não teve a mesma resposta irada dada a fala de Lula. É que Netanyahu sabe que a posição do Brasil perante o mundo e a fala de Lula tem um grande peso internacional, capaz de constranger as lideranças do mundo desenvolvido, tirando-as da omissão covarde ante o genocídio contra a população palestina em que se encontram. 

            Reafirmo o que disse em meu artigo, essa liderança sionista de Israel é o principal entrave para a paz na palestina, pois, jamais permitirá a criação do Estado Palestino independente, afinal os sionistas anseiam pela criação do Grande Israel (Eretz Israel) e, para isso é necessária a ampliação das fronteiras até alcançar os limites históricos e bíblicos. Para atingir tal objetivo, muitas guerras para ampliação do território e de limpeza étnica serão promovidas. Aproveito o ensejo, para explicar o subtítulo do artigo científico que produzi, "[...] do holocausto judeu ao holocausto palestino", afinal, alguém disse "vivemos um tempo em que afirmar o óbvio é necessário"! Estudioso da questão, jamais quis comparar a magnitude do holocausto judeu ao genocídio praticado sistematicamente desde 1948 e, mais especificamente após 1967 contra o povo palestino, mas, chamar a atenção para a natureza que é a mesma, uma guerra de limpeza étnica, de genocídio.

             A ONU e as lideranças internacionais não podem ficar omissas ante o genocídio contra a população palestina, nem por simpatias religiosas ou ideológicas, nem mesmo por conveniências estratégicas. A sociedade mundial não pode se furtar ao dever moral e humanitário de chamar as lideranças israelenses à razão, pois Israel rapidamente está se convertendo em um Estado pária. Vidas palestinas importam!

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