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sábado, 11 de dezembro de 2021

Olga


            Fernando Gomes de Morais (1975) é um jornalista, biógrafo, político e escritor brasileiro cuja obra é constituída por biografias e reportagens. O escritor ao longo de sua carreira se notabilizou pela publicação de biografias de grandes personalidades da política, da cultura e do mundo empresarial nacional além de várias obras de cunho jornalístico investigativo publicadas igualmente aclamadas pelo público leitor. Entre seus biografados estão o escritor Paulo Coelho, Assis Chateaubriand (1892-1968), o ex-presidente Lula e Olga Benário Prestes.

            Olga Gutman Benário (1908-1942) foi uma judia alemã nascida em uma família abastada sendo seu pai um importante advogado da Baviera. Aos quinze anos de idade, Olga começa a participar de movimentos que combatiam o fascismo e defendiam os ideais socialistas. Muito jovem sai de casa e vai morar com o namorado Otto Braun, um militante da causa socialista na Alemanha. Otto vai auxiliar na instrução da jovem Olga nos meandros do mundo revolucionário. Otto é preso e a jovem Olga planeja e executa uma ação audaciosa para libertar o namorado da prisão política. Com documentos falsos, o casal viaja para a União Soviética onde vão receber treinamento de guerrilha e defesa pessoal. Olga começa a se destacar por seu espírito prático e por sua inflamada consciência revolucionária. Otto cobrava que desejava ter uma mulher presente em sua vida, ela no entanto, colocava a revolução comunista acima de qualquer coisa, inclusive de sua vida pessoal. Não estava em seus planos abandonar a causa revolucionária para priorizar a vida familiar. O casal se separa. Olga tem aulas de espanhol e mais tarde de português e é designada para uma missão, acompanhar Luis Carlos Prestes (1898-1990) que desde 1931 estava na União Soviética recebendo guarida e treinamento, e que havia solicitado retornar ao Brasil com o intuito de promover uma revolução socialista no país. Olga Benário e Luis Carlos Prestes voltaram ao Brasil com identidades falsas como se casados fossem. Na viagem, havia grande receio de serem descobertos, principalmente pelo forte sotaque de Olga, que procurou se manter em silêncio tanto quanto pode. Olga era uma mulher independente e, como o casal viajasse em uma cabine para casais, muito conversaram e acabaram por se envolver emocionalmente. Eles se casam oficialmente, apesar de que isso não era algo necessário para a prática Olga. O casamento teve também um elemento importante para a legalização da identidade de Olga no país, despistando o serviço secreto nazista que há muito a caçava. Com o fracasso da Intentona Comunista (1935), nome dado pelas autoridades militares da ditadura Vargas ao movimento liderado por Luis Carlos Prestes que tinha como objetivo retirar Getúlio Vargas (1882-1954) do poder e instalar um governo por ele liderado. O casal é colocado em novos esconderijos, sempre que alguém do grupo de revolucionários é descoberto e preso. Olga descobre estar grávida de Prestes e, apesar dos cuidados que tomavam, Filinto Müller (1900-1973) que comandava a polícia política da ditadura Vargas os encontram.

            Filinto Müller havia militado na Coluna Prestes (1925-1927) e ambos haviam se desentendido. Prestes havia denunciado a atitude desleal de Müller no período. Müller comandando a polícia política no governo Vargas foi muitas vezes denunciado pela prática rotineira de tortura e assassinatos de presos políticos. Olga receava ser enviada para a Alemanha Nazista e, foi exatamente o que aconteceu. A ditadura Vargas entregou a custodiada grávida Olga para o regime nazista a fim de obter simpatia daquele país. O navio que a levou teve o cuidado de não passar por portos onde trabalhadores que combatiam o fascismo e defendiam os ideais socialistas invadiam os navios e libertavam os presos políticos. Na Alemanha, Olga teve sua filha Anita Leocádia Benário Prestes (1936) na prisão feminina do Campo de Concentração de Barmimstrasse. Quando a criança nasceu, Olga foi avisada que ficaria com ela apenas enquanto a estivesse amamentando, depois a criança seria levada para um orfanato onde a prática era dar apenas um número para a mesma, o que tornaria impossível localizá-la depois. Olga temia que seu leite acabasse, tendo conseguido amamentar a criança por catorze meses.

            Luis Carlos Prestes estava preso e, tinha na sua mãe Dona Leocádia e em sua irmã mais nova Lígia, as pessoas que davam suporte a Olga. Elas fizeram uma forte campanha internacional para a libertação de todos os presos políticos. No entanto, não conseguiram obter sucesso na libertação de Olga. Dona Leocádia com o auxílio de um importante advogado alemão conseguiu obter a guarda de Anita. A guarda penitenciária ao retirar a criança do colo da mãe cometeu a maldade de não contar que esta seria entregue para a avó. Olga sofreu muito a separação da filha. Dona Leocádia se apressou em sair da Alemanha e da Europa em plena Segunda Guerra Mundial. Se estabeleceu no México, de lá enviava cartas para o filho preso no Brasil e para Olga presa na Alemanha, nas quais relatava os progressos desta e anexava fotografias. Olga foi enviada a vários campos de concentração. Nestes sempre demonstrou ser proativa, liderando os esforços para o estabelecimento de rotinas de higiene do alojamento em que dormiam. Olga, como milhões de outras pessoas foi enviada à câmara de gás e teve seu corpo incinerado em fornos crematórios do regime nazista que funcionavam 24 horas por dia. Tendo Dona Leocádia falecido, a tia Lígia ficou incumbida de criar a pequena Anita, que do alto dos seus atuais 85 anos é uma historiadora com vários livros publicados. O livro Olga é uma excelente opção por seu aspecto histórico formativo e também como denúncia do caráter repugnante, desumano e sanguinário do regime nazista. Conhecer a história é ter a consciência para impedir que os custosos erros do passado se repitam. Talvez por isso os historiadores e a disciplina sejam tão odiados por aqueles que não apreciam a democracia.

Sugestão de boa leitura:

Título: Olga.

Autor: Fernando Morais.

Editora: Companhia das Letras, 2004, 17ª edição, 263 pág. 

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