Olga Gutman Benário (1908-1942) foi uma judia alemã
nascida em uma família abastada sendo seu pai um importante advogado da
Baviera. Aos quinze anos de idade, Olga começa a participar de movimentos que
combatiam o fascismo e defendiam os ideais socialistas. Muito jovem sai de casa
e vai morar com o namorado Otto Braun, um militante da causa socialista na
Alemanha. Otto vai auxiliar na instrução da jovem Olga nos meandros do mundo
revolucionário. Otto é preso e a jovem Olga planeja e executa uma ação
audaciosa para libertar o namorado da prisão política. Com documentos falsos, o
casal viaja para a União Soviética onde vão receber treinamento de guerrilha e
defesa pessoal. Olga começa a se destacar por seu espírito prático e por sua
inflamada consciência revolucionária. Otto cobrava que desejava ter uma mulher
presente em sua vida, ela no entanto, colocava a revolução comunista acima de
qualquer coisa, inclusive de sua vida pessoal. Não estava em seus planos abandonar
a causa revolucionária para priorizar a vida familiar. O casal se separa. Olga
tem aulas de espanhol e mais tarde de português e é designada para uma missão,
acompanhar Luis Carlos Prestes (1898-1990) que desde 1931 estava na União
Soviética recebendo guarida e treinamento, e que havia solicitado retornar ao
Brasil com o intuito de promover uma revolução socialista no país. Olga Benário
e Luis Carlos Prestes voltaram ao Brasil com identidades falsas como se casados
fossem. Na viagem, havia grande receio de serem descobertos, principalmente
pelo forte sotaque de Olga, que procurou se manter em silêncio tanto quanto
pode. Olga era uma mulher independente e, como o casal viajasse em uma cabine
para casais, muito conversaram e acabaram por se envolver emocionalmente. Eles
se casam oficialmente, apesar de que isso não era algo necessário para a
prática Olga. O casamento teve também um elemento importante para a legalização
da identidade de Olga no país, despistando o serviço secreto nazista que há
muito a caçava. Com o fracasso da Intentona Comunista (1935), nome dado pelas
autoridades militares da ditadura Vargas ao movimento liderado por Luis Carlos
Prestes que tinha como objetivo retirar Getúlio Vargas (1882-1954) do poder e
instalar um governo por ele liderado. O casal é colocado em novos esconderijos,
sempre que alguém do grupo de revolucionários é descoberto e preso. Olga
descobre estar grávida de Prestes e, apesar dos cuidados que tomavam, Filinto
Müller (1900-1973) que comandava a polícia política da ditadura Vargas os
encontram.
Filinto Müller havia militado na Coluna Prestes
(1925-1927) e ambos haviam se desentendido. Prestes havia denunciado a atitude
desleal de Müller no período. Müller comandando a polícia política no governo
Vargas foi muitas vezes denunciado pela prática rotineira de tortura e
assassinatos de presos políticos. Olga receava ser enviada para a Alemanha
Nazista e, foi exatamente o que aconteceu. A ditadura Vargas entregou a
custodiada grávida Olga para o regime nazista a fim de obter simpatia daquele
país. O navio que a levou teve o cuidado de não passar por portos onde
trabalhadores que combatiam o fascismo e defendiam os ideais socialistas
invadiam os navios e libertavam os presos políticos. Na Alemanha, Olga teve sua
filha Anita Leocádia Benário Prestes (1936) na prisão feminina do Campo de
Concentração de Barmimstrasse. Quando a criança nasceu, Olga foi avisada que
ficaria com ela apenas enquanto a estivesse amamentando, depois a criança seria
levada para um orfanato onde a prática era dar apenas um número para a mesma, o
que tornaria impossível localizá-la depois. Olga temia que seu leite acabasse,
tendo conseguido amamentar a criança por catorze meses.
Luis Carlos Prestes estava preso e, tinha na sua mãe Dona
Leocádia e em sua irmã mais nova Lígia, as pessoas que davam suporte a Olga.
Elas fizeram uma forte campanha internacional para a libertação de todos os
presos políticos. No entanto, não conseguiram obter sucesso na libertação de
Olga. Dona Leocádia com o auxílio de um importante advogado alemão conseguiu
obter a guarda de Anita. A guarda penitenciária ao retirar a criança do colo da
mãe cometeu a maldade de não contar que esta seria entregue para a avó. Olga
sofreu muito a separação da filha. Dona Leocádia se apressou em sair da
Alemanha e da Europa em plena Segunda Guerra Mundial. Se estabeleceu no México,
de lá enviava cartas para o filho preso no Brasil e para Olga presa na
Alemanha, nas quais relatava os progressos desta e anexava fotografias. Olga
foi enviada a vários campos de concentração. Nestes sempre demonstrou ser
proativa, liderando os esforços para o estabelecimento de rotinas de higiene do
alojamento em que dormiam. Olga, como milhões de outras pessoas foi enviada à
câmara de gás e teve seu corpo incinerado em fornos crematórios do regime
nazista que funcionavam 24 horas por dia. Tendo Dona Leocádia falecido, a tia
Lígia ficou incumbida de criar a pequena Anita, que do alto dos seus atuais 85
anos é uma historiadora com vários livros publicados. O livro Olga é uma excelente
opção por seu aspecto histórico formativo e também como denúncia do caráter
repugnante, desumano e sanguinário do regime nazista. Conhecer a história é ter
a consciência para impedir que os custosos erros do passado se repitam. Talvez
por isso os historiadores e a disciplina sejam tão odiados por aqueles que não
apreciam a democracia.
Sugestão
de boa leitura:
Título: Olga.
Autor: Fernando Morais.
Editora: Companhia das Letras, 2004, 17ª edição, 263 pág.
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