Costumo dizer que toda pessoa progressista precisa ter a
compreensão da forma de pensar de quem lhe faz a oposição quanto ao modelo de
sociedade. Penso que é preciso estar "dentro da mente do inimigo"
para melhor conhecê-lo e combater sua ação. Dessa forma, leio muitos livros de
autores cujo ideário discordo veementemente. Ao fazê-lo procuro manter o
distanciamento científico/ideológico no processo de síntese (fazendo anotações)
e, apenas num momento posterior exerço a crítica. É importante que eu diga que
uma análise acurada do livro embasada no método científico resultaria num
artigo científico, quiçá uma monografia. Não é o que pretendo, pois, nem este é
o espaço para tal.
O título da obra se refere à forma de pensar dos
neoliberais que afirmam ser o Estado, lento, grande e pesado demais. Pregam,
portanto, o Estado Mínimo. Nenhuma atividade considerada de interesse econômico
da iniciativa privada deve ser executada pelo Estado. Há uma crença exacerbada
e fantasiosa de que a iniciativa privada é a solução para todos os males da
sociedade, o que na obra em questão, beira ao fanatismo, pois não traz
demonstrações científicas de tal fato. É importante dizer que uma obra que tem
a pretensão de "consertar" o país deveria se pautar no método
científico, pois, não se conserta um país com opiniões ou "achismos"
carentes de embasamento teórico. Não há na obra, um campo específico para
citação das referências bibliográficas (fontes) e, embora ao citar algumas
fontes (autores ou instituições) no corpo do texto, não fornece os dados
específicos para a verificação das mesmas. O livro tem muitas simplificações e
generalizações, mas, possui alguns momentos de lucidez. O problema é que após
acertar uma vez no alvo, no parágrafo ou item seguinte, os autores voltam a
apontar para a Lua ao fazer sugestões tresloucadas.
Há muitas obviedades e, em algumas oportunidades os
autores parecem pretender reinventar a roda. Abundam também verdades parciais
resultantes de informações equivocadas ou interpretadas de forma a sustentar
algo como fato, quando se trata de mera interpretação fortemente embasada na
ideologia que povoa a mente dos autores. A obra traz a citação de vários
aforismos (de vários autores) que convergem na direção do ideário que a
fundamenta utilizados como sustentáculos. Melhor seria se houvesse a citação do
pensamento científico de autores que dessem corpo teórico de sustentação ao
ideário defendido na obra por Ostrowiecki e Feder. É importante lembrar que a
obra foi publicada em 2011, quando um partido social-democrata (Partido dos
Trabalhadores) se encontrava no Poder, sendo talvez uma motivação a mais para a
crítica ao Estado de Bem-Estar Social proposto na Constituição Federal de 1988,
apesar de sua esquálida envergadura.
Os autores também demonstram viver numa bolha social e
desconhecer a realidade socioeconômica de grande parte da sociedade brasileira.
Algumas de suas sugestões podem ser constatadas pelas pessoas portadoras de
consciência humanitária, social e de classe como desumanas e elitistas e, não
apenas contrárias ao pensamento politicamente correto. Trata-se de um discurso
panfletário, simplista e generalizante acerca dos supostos males do Estado de
Bem-Estar Social ante a promessa do Paraíso Neoliberal para os capitalistas e
que se constitui no Inferno dos excluídos da dignidade humana e dos meios de
produção. Digo que discordo fortemente do teor de grande parte das sugestões
dos "Carpinteiros da Pátria", mas, que considerei sua leitura de
grande valia, afinal, é bom estar dentro da mente do inimigo do Estado de
Bem-Estar Social brasileiro, esse paliativo tupiniquim, porém, tão necessário
ante a miséria de nosso povo!
Referência
bibliográfica:
Título: Carregando o elefante.
Autor: Alexandre
Ostrowiecki e Renato Feder.
Editora: Hemus, 2011, 1ª edição, 188 pág.
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