O Brasil é um dos países mais injustos do mundo. O índice
de Gini utilizado para comparar a desigualdade social nos coloca na vergonhosa
7ª colocação atrás apenas de seis países africanos. O Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH) também não é motivo de orgulho, muito pelo contrário, somos o 79º
melhor país em qualidade de vida. Tendo em vista que estamos num país que é a
9ª economia do mundo, algo obviamente está errado e, há muito tempo. E se a condução
da economia nacional historicamente produziu esse gigante com pés de barro,
obviamente, não pode ser obra do acaso, mas, de um projeto. É um grande erro
dizer que o país nunca vai dar certo, para uma minoria ele sempre deu certo.
Falo dos bilionários que aumentaram em número e capital durante a pandemia, sem
que haja críticas contundentes da sociedade para tal fato, como há (e sempre
há) quando uma categoria de trabalhadores luta (por meio de greve) na
manutenção de seus direitos e pela reposição de salários defasados visando
garantir sua mera sobrevivência de forma digna. Sobre isso, Simone de Beauvoir
(1908-1986) já alertava: "o opressor não seria tão forte se não tivesse
cúmplices entre os próprios oprimidos". O trabalhador alienado é algoz de
seu semelhante e, por consequência de si mesmo.
Em um país com
tamanha desigualdade social, a oferta de serviços públicos é vital para a
sobrevivência da população pobre (trabalhadora). Sim, se você é trabalhador
assalariado, você é pobre. No entanto, surrealmente vemos pessoas
trabalhadoras, portanto, pobres (é importante repetir) que sem dinheiro para
pagar, pregam a total privatização dos serviços públicos. Que os ricos desejem
o Estado Mínimo é compreensível, não lhes falta dinheiro para pagar por tais serviços
e, também vêm na privatização dos serviços públicos uma grande possibilidade de
ganhar dinheiro, ofertando-os, mas, você que é trabalhador (pobre) não poderá pagar
por eles, quer um exemplo? Quanto custa um tratamento prolongado em UTI? E uma
cirurgia cardíaca? (É bom ter SUS). Precisa melhorar, mas, é bom ter! E quanto
custa para formar o filho em um curso de medicina numa universidade privada? (É
bom ter universidades públicas). Precisa melhorar o acesso da classe
trabalhadora a esses cursos, mas, é bom ter!
Nessa sociedade onde indivíduos sem terras defendem latifundiários,
pobres votam em milionários para legislar sobre o destino do país (e de suas
vidas) e criticam raivosamente quem tem consciência de classe chamando-os de
comunistas, como se chamar alguém de comunista constituísse ofensa, quando na
verdade é elogio, inclusive, esse escriba acha graça quando assim o chamam,
porém, (dotado de honestidade intelectual) sabe não merecer, mas, que
envaidece, envaidece. Dentre os trabalhadores (pobres) que defendem a total
privatização dos serviços públicos, há os que fazem por seu estado de alienação
e, outros por nutrir profundo ódio ao funcionalismo público. Há quem pense que
todos os funcionários públicos recebem super-salários, quando muitos sequer
recebem o salário mínimo regional. Os super-salários estão reservados a
magistrados, políticos e seus assessores em cargos comissionados. A
precarização das condições de trabalho (salarial, inclusive) do servidor
público não resultará em melhoria do serviço público e, tampouco, a oferta por
agentes não concursados resultaria.
Existem políticos e não são poucos que gostariam que os
servidores públicos não fossem concursados, pois, assim poderiam fazer das repartições
públicas seu curral eleitoral e nelas alocar os apoiadores de campanha. Cada
novo governante, trocaria os servidores, em prejuízo para a população, mas, em
benefício dos bajuladores (apadrinhados políticos). Um trabalhador concursado
teve méritos (a tão defendida meritocracia dos liberais) ao passar no concurso
público (aberto a todos), o bajulador, não. Um servidor concursado pode se
negar a fazer algo ilegal, o bajulador, sob medo de perder seu ganha-pão, faz.
Quanto a muitos serviços que foram privatizados, basta lembrar que muitos
investimentos estrangeiros em plantas industriais estão evitando o Brasil
devido ao alto custo da energia elétrica, das telecomunicações e dos transportes
e que na Europa, muitas privatizações estão sendo desfeitas devido a má
qualidade dos serviços prestados. Digo ainda que um estado de bem-estar social
(social democracia) tal como proposto na Constituição Federal de 1988 não é
comunismo, aliás, comunismo no Brasil é como a lenda do bicho-papão, porém,
usado para causar medo em adultos que não amadureceram.
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