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sábado, 3 de outubro de 2020

A necessidade dos serviços públicos e o ódio ao servidor

         

            O Brasil é um dos países mais injustos do mundo. O índice de Gini utilizado para comparar a desigualdade social nos coloca na vergonhosa 7ª colocação atrás apenas de seis países africanos. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) também não é motivo de orgulho, muito pelo contrário, somos o 79º melhor país em qualidade de vida. Tendo em vista que estamos num país que é a 9ª economia do mundo, algo obviamente está errado e, há muito tempo. E se a condução da economia nacional historicamente produziu esse gigante com pés de barro, obviamente, não pode ser obra do acaso, mas, de um projeto. É um grande erro dizer que o país nunca vai dar certo, para uma minoria ele sempre deu certo. Falo dos bilionários que aumentaram em número e capital durante a pandemia, sem que haja críticas contundentes da sociedade para tal fato, como há (e sempre há) quando uma categoria de trabalhadores luta (por meio de greve) na manutenção de seus direitos e pela reposição de salários defasados visando garantir sua mera sobrevivência de forma digna. Sobre isso, Simone de Beauvoir (1908-1986) já alertava: "o opressor não seria tão forte se não tivesse cúmplices entre os próprios oprimidos". O trabalhador alienado é algoz de seu semelhante e, por consequência de si mesmo.

             Em um país com tamanha desigualdade social, a oferta de serviços públicos é vital para a sobrevivência da população pobre (trabalhadora). Sim, se você é trabalhador assalariado, você é pobre. No entanto, surrealmente vemos pessoas trabalhadoras, portanto, pobres (é importante repetir) que sem dinheiro para pagar, pregam a total privatização dos serviços públicos. Que os ricos desejem o Estado Mínimo é compreensível, não lhes falta dinheiro para pagar por tais serviços e, também vêm na privatização dos serviços públicos uma grande possibilidade de ganhar dinheiro, ofertando-os, mas, você que é trabalhador (pobre) não poderá pagar por eles, quer um exemplo? Quanto custa um tratamento prolongado em UTI? E uma cirurgia cardíaca? (É bom ter SUS). Precisa melhorar, mas, é bom ter! E quanto custa para formar o filho em um curso de medicina numa universidade privada? (É bom ter universidades públicas). Precisa melhorar o acesso da classe trabalhadora a esses cursos, mas, é bom ter!

            Nessa sociedade onde indivíduos sem terras defendem latifundiários, pobres votam em milionários para legislar sobre o destino do país (e de suas vidas) e criticam raivosamente quem tem consciência de classe chamando-os de comunistas, como se chamar alguém de comunista constituísse ofensa, quando na verdade é elogio, inclusive, esse escriba acha graça quando assim o chamam, porém, (dotado de honestidade intelectual) sabe não merecer, mas, que envaidece, envaidece. Dentre os trabalhadores (pobres) que defendem a total privatização dos serviços públicos, há os que fazem por seu estado de alienação e, outros por nutrir profundo ódio ao funcionalismo público. Há quem pense que todos os funcionários públicos recebem super-salários, quando muitos sequer recebem o salário mínimo regional. Os super-salários estão reservados a magistrados, políticos e seus assessores em cargos comissionados. A precarização das condições de trabalho (salarial, inclusive) do servidor público não resultará em melhoria do serviço público e, tampouco, a oferta por agentes não concursados resultaria.

            Existem políticos e não são poucos que gostariam que os servidores públicos não fossem concursados, pois, assim poderiam fazer das repartições públicas seu curral eleitoral e nelas alocar os apoiadores de campanha. Cada novo governante, trocaria os servidores, em prejuízo para a população, mas, em benefício dos bajuladores (apadrinhados políticos). Um trabalhador concursado teve méritos (a tão defendida meritocracia dos liberais) ao passar no concurso público (aberto a todos), o bajulador, não. Um servidor concursado pode se negar a fazer algo ilegal, o bajulador, sob medo de perder seu ganha-pão, faz. Quanto a muitos serviços que foram privatizados, basta lembrar que muitos investimentos estrangeiros em plantas industriais estão evitando o Brasil devido ao alto custo da energia elétrica, das telecomunicações e dos transportes e que na Europa, muitas privatizações estão sendo desfeitas devido a má qualidade dos serviços prestados. Digo ainda que um estado de bem-estar social (social democracia) tal como proposto na Constituição Federal de 1988 não é comunismo, aliás, comunismo no Brasil é como a lenda do bicho-papão, porém, usado para causar medo em adultos que não amadureceram.

 

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