Powered By Blogger

sábado, 24 de outubro de 2020

A letra escarlate


 Nathaniel Hawthorne (1804-1864) é considerado um dos maiores escritores dos Estados Unidos da América. Oriundo de uma família puritana, era bisneto de um dos juízes do célebre e vergonhoso julgamento das bruxas de Salem. O autor ficou conhecido por meio de suas obras como sendo o puritano mais anti-puritano da história, isso porque suas obras em que pese a crítica contra o puritanismo histórico é dotada de grande pudor  e tem a moral como tema recorrente na qual considera ser a salvaguarda contra a crueldade humana. O escritor teve vários amigos ilustres, tais como o presidente Franklin Pierce (1804-1869) e os escritores Ralph Waldo Emerson (1803-1882), Henry David Thoreau (1817-1862) e Herman Melville (1819-1891) entre outros. Em 1842 casou-se com Sophia Peabody (1809-1871) com quem teve três filhos. Em 1845, voltou com a família para Salem onde trabalhou como Inspetor da Alfândega. Em 1849, a oposição vence a eleição presidencial e ele é demitido do cargo passando a dedicar-se exclusivamente à escrita, na qual sabia ter grande talento e queria ser reconhecido por ela. No ano seguinte lança "A letra escarlate", obra com a qual pretendia ganhar fama e dinheiro. A primeira edição esgotou-se rapidamente, mas, embora tenha ganho dinheiro e fama, em vida, estes não alcançaram a dimensão que projetara.

            "A letra escarlate", sua obra-prima é considerada por seu autor como um romance psicológico. A narrativa embora tenha traços históricos não pode ser classificada como romance histórico devido não ser fruto de profunda pesquisa embasada em métodos científicos, porém, de igual forma não pode ser considerada meramente ficcional, pois, contém traços históricos e autobiográficos. A obra se inicia com um conto intitulado "A alfândega" onde o escritor narra sua rotina de trabalho e descreve a personalidade de alguns de seus subordinados. O autor utiliza esse conto para levar ao conhecimento de seus leitores o surgimento da ideia da obra que teria sido quando em uma faxina encontrou um pacote com um pano com uma letra escarlate bordada junto a alguns documentos muito antigos. Após realizar uma pesquisa sobre o achado, resolveu escrever um livro para trazer sua história à luz do sol.

            Trata-se de uma obra escrita no século XIX que narra uma história do século XVII, na qual Hester Pryne, uma jovem casada com Roger Pryne, um médico culto, porém, muito mais velho. Roger Pryne enviou sua esposa antecipadamente para a Nova Inglaterra (embrião do futuro Estados Unidos da América) para adquirir moradia a fim de que ambos lá se instalassem enquanto ele resolvia assuntos pendentes na Inglaterra. Ela vem sozinha no navio e, sua forma de ser choca a sociedade puritana ali instalada. Jovem e linda traja roupas bonitas e luxuosas, culta e sem embaraços se permite discordar de opiniões masculinas. Ela mesma dirige sua charrete e monta a cavalo. Faz negócios com os comerciantes locais sem precisar de um intermediário do sexo masculino. Contrariando as lideranças do povoado, adquire uma casa em local lindo, porém ermo e vai morar sozinha (enquanto espera o marido). Sozinha e armada, repele as investidas masculinas.

             Passam-se alguns anos e o marido não chega. É dado como morto em um ataque indígena ao chegar na colônia inglesa. Viúva, escandaliza a sociedade puritana local, pois, não consegue esconder os primeiros sinais de gravidez e recusa-se a contar a identidade do homem com quem se relacionou. Mesmo sem julgamento é presa, porém, nem assim revela o nome do pai da criança que  nasce na prisão com o auxílio de uma parteira. Levada a julgamento cuja pena padrão para adultério era o enforcamento de ambos, pois, uma vez que o corpo não havia sido encontrado, ela somente poderia desposar outro homem após sete anos de seu desaparecimento (sexo antes do casamento era algo que ninguém deveria cogitar). As autoridades diante da negativa de Hester em revelar seu parceiro nem mesmo com a súplica de seu pastor Arthur Dimmesdalle, não consideram de bom tom enforcá-la sabendo que o homem com quem ela cometeu um pecado mortal permanecerá vivo e convivendo na sociedade. Resolvem, então lhe impor uma marca, uma letra "A" escarlate (adúltera)  que ela será obrigada a usar sempre que adentrar espaços públicos. No dia do julgamento aparece na localidade um médico que se apresenta como Roger Chillingworth. É na verdade, Roger Pryne, marido de Hester que deseja se vingar do homem com quem ela se relacionou e diz a ela que o encontrará apesar de seu silêncio.

            Chillingworth vive cada dia na busca da vingança. Hester é humilhada publicamente a cada ida ao povoado, todos dela se afastam e por onde passa ouve xingamentos. Resiliente, seu castigo a torna mais forte e consegue manter a moral elevada ante puritanos hipócritas que falam sobre Deus enquanto destilam ódio. Costureira de mão cheia atende a sociedade local com as lindas roupas que costura e borda. Faz roupas maravilhosas para a filha Pearl, porém, usa roupas excessivamente sóbrias (sempre no tom cinza escuro) evidenciando que vive apenas para a filha. Vive o dilema de não conseguir se arrepender, pois, arrepender-se é rejeitar a filha (o fruto de seu pecado) que ama. Do dinheiro que ganha, tira o suficiente para viver com modéstia, porém, dignamente e, pratica muita caridade, apesar de  muitas das pessoas que ajuda lhe retribuir com xingamentos. Algumas pessoas começam a sentir compaixão por Hester, porém,  ela recusa que dirijam-se a ela na rua, pois, quer viver sua pena de exclusão (em meio à sociedade). Roger Chillingworth explorando o fanatismo religioso de seus membros inflama o ódio na sociedade no intuito de ver sua ex-mulher e amante serem levados à forca.

            A obra foi adaptada para a telona, porém, a adaptação não é fiel à obra escrita, algo comum, pois, para fazer sucesso na mídia cinema há tempero próprio. A escrita do autor conta com poucos diálogos e um detalhismo muito grande na descrição de cenários e perfis das personagens, mas, trata-se de uma grande obra! Fica a dica para a leitura e para o filme!

P.S. No livro e no filme, o pai da criança é revelado bem antes do final. Não foi para evitar spoiler que eu não contei, foi por ruindade mesmo! Será que cometi pecado com isso?

Sugestão de boa leitura:

Título: A letra escarlate.

Autor: Nathaniel Hawthorne.

Editora: Penguin, 2011, 336 p.

Preço: R$26,89.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário