"A letra escarlate", sua
obra-prima é considerada por seu autor como um romance psicológico. A narrativa
embora tenha traços históricos não pode ser classificada como romance histórico
devido não ser fruto de profunda pesquisa embasada em métodos científicos,
porém, de igual forma não pode ser considerada meramente ficcional, pois,
contém traços históricos e autobiográficos. A obra se inicia com um conto
intitulado "A alfândega" onde o escritor narra sua rotina de trabalho
e descreve a personalidade de alguns de seus subordinados. O autor utiliza esse
conto para levar ao conhecimento de seus leitores o surgimento da ideia da obra
que teria sido quando em uma faxina encontrou um pacote com um pano com uma
letra escarlate bordada junto a alguns documentos muito antigos. Após realizar
uma pesquisa sobre o achado, resolveu escrever um livro para trazer sua
história à luz do sol.
Trata-se de uma obra escrita no
século XIX que narra uma história do século XVII, na qual Hester Pryne, uma
jovem casada com Roger Pryne, um médico culto, porém, muito mais velho. Roger
Pryne enviou sua esposa antecipadamente para a Nova Inglaterra (embrião do
futuro Estados Unidos da América) para adquirir moradia a fim de que ambos lá
se instalassem enquanto ele resolvia assuntos pendentes na Inglaterra. Ela vem
sozinha no navio e, sua forma de ser choca a sociedade puritana ali instalada.
Jovem e linda traja roupas bonitas e luxuosas, culta e sem embaraços se permite
discordar de opiniões masculinas. Ela mesma dirige sua charrete e monta a
cavalo. Faz negócios com os comerciantes locais sem precisar de um
intermediário do sexo masculino. Contrariando as lideranças do povoado, adquire
uma casa em local lindo, porém ermo e vai morar sozinha (enquanto espera o
marido). Sozinha e armada, repele as investidas masculinas.
Passam-se alguns anos e o marido não chega. É
dado como morto em um ataque indígena ao chegar na colônia inglesa. Viúva,
escandaliza a sociedade puritana local, pois, não consegue esconder os
primeiros sinais de gravidez e recusa-se a contar a identidade do homem com
quem se relacionou. Mesmo sem julgamento é presa, porém, nem assim revela o
nome do pai da criança que nasce na
prisão com o auxílio de uma parteira. Levada a julgamento cuja pena padrão para
adultério era o enforcamento de ambos, pois, uma vez que o corpo não havia sido
encontrado, ela somente poderia desposar outro homem após sete anos de seu
desaparecimento (sexo antes do casamento era algo que ninguém deveria cogitar).
As autoridades diante da negativa de Hester em revelar seu parceiro nem mesmo
com a súplica de seu pastor Arthur Dimmesdalle, não consideram de bom tom
enforcá-la sabendo que o homem com quem ela cometeu um pecado mortal
permanecerá vivo e convivendo na sociedade. Resolvem, então lhe impor uma
marca, uma letra "A" escarlate (adúltera) que ela será obrigada a usar sempre que
adentrar espaços públicos. No dia do julgamento aparece na localidade um médico
que se apresenta como Roger Chillingworth. É na verdade, Roger Pryne, marido de
Hester que deseja se vingar do homem com quem ela se relacionou e diz a ela que
o encontrará apesar de seu silêncio.
Chillingworth vive cada dia na busca
da vingança. Hester é humilhada publicamente a cada ida ao povoado, todos dela
se afastam e por onde passa ouve xingamentos. Resiliente, seu castigo a torna
mais forte e consegue manter a moral elevada ante puritanos hipócritas que
falam sobre Deus enquanto destilam ódio. Costureira de mão cheia atende a sociedade
local com as lindas roupas que costura e borda. Faz roupas maravilhosas para a
filha Pearl, porém, usa roupas excessivamente sóbrias (sempre no tom cinza
escuro) evidenciando que vive apenas para a filha. Vive o dilema de não
conseguir se arrepender, pois, arrepender-se é rejeitar a filha (o fruto de seu
pecado) que ama. Do dinheiro que ganha, tira o suficiente para viver com
modéstia, porém, dignamente e, pratica muita caridade, apesar de muitas das pessoas que ajuda lhe retribuir
com xingamentos. Algumas pessoas começam a sentir compaixão por Hester,
porém, ela recusa que dirijam-se a ela
na rua, pois, quer viver sua pena de exclusão (em meio à sociedade). Roger
Chillingworth explorando o fanatismo religioso de seus membros inflama o ódio
na sociedade no intuito de ver sua ex-mulher e amante serem levados à forca.
A obra foi adaptada para a telona,
porém, a adaptação não é fiel à obra escrita, algo comum, pois, para fazer
sucesso na mídia cinema há tempero próprio. A escrita do autor conta com poucos
diálogos e um detalhismo muito grande na descrição de cenários e perfis das
personagens, mas, trata-se de uma grande obra! Fica a dica para a leitura e
para o filme!
P.S. No livro e no filme, o pai da criança é revelado bem
antes do final. Não foi para evitar spoiler que eu não contei, foi por ruindade
mesmo! Será que cometi pecado com isso?
Sugestão de boa
leitura:
Título: A letra escarlate.
Autor: Nathaniel Hawthorne.
Editora: Penguin, 2011, 336
p.
Preço: R$26,89.
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